—Vamos Alicia, desce logo antes que eu considere isso uma desistência. – Era o professor falando, visto que o Steve já estava na arena esperando

É, vai ter que ser o jeito né, comecei a descer a arena e o encarei de frente. Steve parecia ter cerca de 15 ou 16 anos, mais velho que eu, como os outros alunos. No geral, ele parecia um cara bem normal, tinha estatura mediana, cabelos castanhos claros e lisos, olhos castanhos claros também, pijama verde escuro. O seu maior diferencial era um piercing no canto da boca, mas nem isso parecia tão estranho.

—Vamos começar, sem enrolações. – O professor, como sempre, não muito paciente – Três, dois, um, VALENDO!

Steve parecia me estudar com cautela, não que fosse surpresa, eu sou demais. Eu não sabia bem o que ele podia fazer, então apenas avancei em sua direção, quem ataca primeiro... ataca melhor? Era algo assim. Apesar de me aproximar rapidamente, Steve continuava se afastando, acompanhando o entorno da arena enquanto pensava no que fazer. Aparentemente, ele já havia se decidido, pois com um movimento rápido de sua mão direita, senti um corte no meu braço esquerdo.

Estava completamente surpresa, não fazia ideia do que havia sido. Parei de o perseguir e tentei me concentrar no que havia acontecido. O corte não era uma ilusão, o meu braço realmente estava sangrando e doendo. Com outro movimento dele, pude ver o que ocorreu: uma fina lâmina de água passou rapidamente e fez outro corte no mesmo braço. Finalmente entendi, ele estava controlando água, não estava apenas me estudando esse tempo todo, mas tirando água do ar para usar como arma, muito esperto.

Quando percebi o que ele podia fazer, apenas tracei uma linha reta até ele para poder derrotá-lo e vencer sem mais problemas. Infelizmente para mim, suas habilidades não eram só usar lâminas de água para atacar de longe, ele também podia utilizar a água de outras formas. Quando cheguei perto o bastante para dar um soco, ele congelou o meu pé, fazendo com que eu não conseguisse alcançá-lo mais. Ele aproveitou o momento para juntar a água que havia juntado e começar a congelar o meu pulso também, com o seu toque.

—Vamos menininha, desista logo, não quero te machucar. – Ele disse, enquanto segurava o meu pulso, fazendo com que o gelo se espalhasse.

—Você me chamou de menininha? – Eu olhei para ele, com os meus cabelos e olhos vermelho escarlates, quase como se fossem ficar incandescentes.

—É, você é bem pequena, nem deveria estar aqui lutando. – Ele aparentemente não se assustou muito com o brilho repentino.

—É o que veremos... – Em contrapartida, eu segurei o seu pulso com minha mão livre, que imediatamente também começou a congelar.

Ele deu uma risadinha, como se eu não estivesse esperando algo do tipo. Quase senti pena, pois eu estava esperando sim, apenas não me importava, estava com tanta raiva que nesse momento não me importei com nenhum dos cortes ou com o gelo.

Segurei firmemente seu braço, impedindo-o de soltar também. Eu não percebi quanta energia estava liberando, mas pequenas rachaduras começaram a aparecer no chão aos meus pés. O gelo que estava no meu pulso e nos meus pés evaporou-se imediatamente, assim como toda a água que ele havia reunido para lutar contra mim. Os ferimentos no meu braço pararam de sangrar e já estavam cicatrizados, como se tivessem sido feitos a muito tempo.

—Okay, eu desisto. – Ele falou, começando a se preocupar. Era óbvio que se não tivesse água, ele não conseguiria lutar. – Pode me soltar, você venceu.

Não escutei o que ele falou. Na realidade, não escutava mais nada, apenas um zumbido de raiva nos meus ouvidos. Comecei a apertar mais o seu pulso e as rachaduras no chão foram se aumentando, se espalhando pela arena.

Eu não percebi quando o senhor Fierce se aproximou, mas ele conseguiu de alguma forma soltar a minha mão do pulso do Steve, que apenas ficou parado me encarando assombrado.

—A luta já acabou, Alicia. – Ele falou, encarando meus olhos e me tirando do transe que estava. – Você venceu garota, pode parar.

Eu não percebi exatamente o que estava fazendo, mas as rachaduras no chão pararam de avançar. Me dirigi ao meu lugar perto da Dandara e do G.

—É, acho que eu vou ganhar mais pudim, eu completamente DE-TO-NEI. – Anunciei cada sílaba separada, muito orgulhosa de mim mesma.

Enquanto isso, o professor apenas ajudava Steve a chegar às enfermeiras, para que tivesse o pulso tratado. Seus olhos constantemente voltavam a mim, mas sua cara não parecia apresentar prazer pela minha vitória, mas um pouco de decepção talvez.

—Ótimo, os próximos lutadores serão G e Lina. – Ele disse, olhando para a lista novamente – Sinceramente, vocês poderiam escolher nomes melhores quando foram fazer suas inscrições aqui. – Ele completou, enquanto os dois desciam à arena.

—Vai G, você consegue, detona ela para a gente ficar juntos no mesmo rank. – Óbvio que eu ia torcer para ele, já até conhecia um pouco do poder que ele tinha.

—Vamos começar. Três, dois, um, COMECEM! – O professor falou, assim que chegaram à arena e se encararam.

O poder da Lina parecia completamente insano, em questão se segundos, ela deu uma investida para o lado para ganhar tempo e diversas formações pontiagudas apareceram de seus braços. Ela estava fazendo lanças de ossos com uma velocidade incrível, enquanto os olhos do G apenas brilhavam. Bom, é claro que eu estava torcendo para o G, mas ele parecia incrivelmente descontraído quando se considera que ela estava produzindo lanças de ossos do braço.

Ela rapidamente fez um movimento de catapulta e arremessou 4 ossos, mas, apesar de o G estar parado, ela errou todos por mais de um metro. Okay, talvez ela tenha achado que ele ia se desviar para lá, tudo bem, acontece. Entretanto, não para por aí, ela estendeu as mãos para os lados e grandes ossos saíram das palmas, formando coisas parecidas com espadas que ela usou para começar a golpear o ar. Seus movimentos estavam completamente estranhos, como se estivesse lutando com um fantasma ou algo assim, sempre recuando um pouco para um dos lados da arena.

Ao olhar para o G, percebi que a roupa dele estava rasgada na altura da barriga, com uma linha tênue de sangue escorrendo. Em seu rosto, apareceu um corte que não estava ali antes, junto com um dos movimentos de Lina. Não sei o que ele estava fazendo, mas ela parecia completamente louca, girando como um demônio de luta.

Mas, infelizmente para Lina, ela estava indo para a direção errada. Os olhos do G pararam de brilhar assim que ela pisou para fora da arena, indicando sua vitória imediata. Todos ficaram incrivelmente confusos com o que aconteceu, pois não estavam prestando atenção nele, apenas em Lina. G, não querendo chamar as atenções para ele, apenas caminhou de volta para o seu lugar na arquibancada, trocando um soquinho comigo quando se aproximou. É óbvio que ele tinha feito alguma ilusão para fazer ela sair da arena, eu tinha certeza.

Apesar dos alunos não aceitarem aquilo muito bem como uma vitória, Lina pareceu concordar e o professor também, definindo aquele como o resultado definitivo da batalha. Bom, as batalhas anteriores não tinham sido nem um pouco entediantes, mas eu teria que perder as próximas pois precisava ir ao banheiro. Para a minha sorte, tinha um pequeno corredor em uma das laterais da arena que levavam para um. Aproveitei que estava lá para ajeitar o meu cabelo. Que estava um pouco volumoso depois de me irritar na minha própria briga. Admito, eu também enrolei na frente do espelho para cantar algumas músicas, eu sou completamente demais e tenho certeza que se um estúdio me encontrasse, eu iria virar uma pop idol ou coisa do tipo.

Quando saí do banheiro, a última luta estava terminando. Pelo que vi, alguns objetos voando e alguma coisa de eletricidade, mas não me importei muito. O professor Fierce anunciou um dos ganhadores e começou a rabiscar algo em sua prancheta.

—G, o que aconteceu durante sua luta? A menina estava girando igual um pião lá e você nem mexendo estava. – Era Dandara perguntando, aparentemente bem confusa.

—Ah, é que eu tenho um poder de fazer ilusão e tals, umas coisas assim, nada demais – Ele não queria falar muito dos detalhes do seu poder, o que era bem esperto. – E você? No começo parecia que você era um humano normal, mas de repente começou a aguentar uns golpes e ficar bem mais rápida, era um truque para confundir ele?

—Nah, eu tenho um poder adaptativo, sabe? – Ela parecia bem orgulhosa de si mesmo quando falou. – Ele é bem legal, eu... bom, eu me adapto, é um poder adaptativo, é bem autoexplicativo.

Os dois me encararam por um instante, o G parecendo não muito surpreso pelo que eu tinha feito e a Dandara um pouco impressionada.

—Mas você que me surpreendeu mais, Alicia. De onde que veio aquele negócio todo que você estava fazendo? – Ela parecia curiosa.

—Ué, que negócio? Eu só segurei a mão dele com muita raiva até ele desistir – Eu entendia que tinha liberado um pouco de energia quando estava lutando, mas não tinha feito nada complicado.

Ela trocou um olhar com o G, que apenas balançou a cabeça negativamente. É, acho que eu era mais ignorante aos meus poderes que as pessoas ao meu redor. Que pena, eu não me importava tanto.

O professor acenou para que nos aproximássemos:

—Tá, eu tirei alguns minutos para avaliar vocês, todo mundo conseguiu se encaixar em algum rank, e vou falar para vocês agora. – Ele encarou a prancheta cheia de rabiscos e começou a falar nomes em ordem aleatória, falando os ranks. Todos os ranks falados estavam entre o G e o H, o que me deixou bem decepcionada.

—Spike, você é um H – O menino apenas fez cara feio e olhou para o nosso grupinho com raiva, mas não disse nada – Dandara, você é rank G.

Considerando que estávamos apenas tirando H e G, ela tinha ido bem para as avaliações iniciais. Sinceramente, eu esperava que ficássemos entre o B e o H, mas entre G e H apenas mostrava que éramos bem mais fracos que o esperado para se lutar lá fora.

—G, você é rank... G, que surpresa, quase uma piada. – O professor falou, completamente sério – Lina é G também, tem habilidades relativamente decentes. Steve é G também.

Ele continuou descendo a lista, falando nomes, até que chegou em mim. Puff, era óbvio que eu era no MÍNIMO um D, comparada aos outros, eu tinha vencido um cara rank G com uma mão só, fácil demais.

—Alicia... Rank H. – Ele me encarou por um instante e preparou-se para prosseguir- O próximo é...

—Espera aí, H? Como assim rank H? Eu venci o Steve, que era rank G, como que eu posso ser H? – Eu estava completamente perplexa, óbvio, não fazia sentido nenhum eu ser rank H.

—Você tem que aprender a se controlar menina, esquentadinhos só servem para atrapalhar no campo de batalha. Além disso, Steve estudou bem seus movimentos e soube retroceder quando percebeu que não poderia mais ganhar. Apenas aceite seu rank.

Eu ia opinar mais, mas o G apenas cutucou meu braço e fez que não com a cabeça. Realmente, não adiantaria nada discutir mais sobre isso. Após o professor terminar de distribuir os ranks entre os alunos, ele nos dispensou. Segui G até os corredores dos nossos quartos, tomei banho e preparei-me para almoçar. O dia estava longe de acabar, mas já tinha começado de forma bem interessante.