The Bifröst escrita por Luana Almeida


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos!Como vão?
Há muito escrevi este, não tinha a intenção de postar, mas gosto muito dele e espero também que gostem!



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A chuva surrava a janela do apartamento acompanhada de trovoadas incessantes. Era o primeiro dia do inverno e ele nunca fora tão regrado.

A água dentro de uma panela borbulhava em cima do fogão. Seria melhor se houvesse uma chaleira para fazer o chá, mas o apartamento alugado para a estadia de poucos dias não possibilitava este tipo de luxo. 

 

Muriel olhava pela janela tentando imaginar porque o pessoal do hotel não cedia guarda-chuvas aos manobristas. A julgar por ter manobristas, o hotel deveria ter pelo menos três estrelas e a julgar também a condição financeira da pobre garota aquilo era o auge de sua vida. 

 

Não era difícil para os hóspedes do hotel saberem o motivo do andar 13 estar totalmente fechado. Por mais discreto que deveria ser, o representante franzino e de pouca idade fazia questão de exigir favores e obrigações, como ele mesmo dizia a atendente do balcão, aos berros e usando a frase ‘’São nossos novos heróis, como ousa deixá-los esperando?’’ 

 

—O quarto 131 precisa de novas toalhas - ele dizia com um sorriso tosco nos lábios. O franzino se gabara com os amigos que seria responsável pelos novos pupilos do Governo.

—Sim senhor - a atendente dizia sem muita paciência - Quem estiver no quarto 131 pode ligar para fazer as solicitações.

—Todos são minhas responsabilidades querida - Jason, o franzino, se debruçou sob o balcão - Não pagamos caro para esta desfeita da parte de vocês - desdenhou.

‘’Não pagou nada’’ - a atendente pensou, o Diretor do Hotel cedera o espaço ao governo em troca de uma dívida de hipoteca. 

 

Uma carta havia chego pelo correio informando que estavam convidados a participarem da primeira etapa de seleção que consistiam em um teste habitual de perguntas e respostas. Muriel estranhara de início, não fazia sentido uma garçonete de uma cafeteria escondida nos becos da cidade fazer um teste de inteligência para a Governo. Como em tudo, ligara para se certificar que aquilo era verdadeiro e depois de um bom tempo na linha de espera, uma atendente dissera que ela estava mesmo convocada para uma espécie de entrevista. Como se não fosse o bastante, e talvez não fosse, mandou um e-mail para o contato que a empresa disponibilizava em seu site. Depois de três dias recebera a resposta alegando que sim, Muriel Walker estava convidada a participar de um treinamento qual selecionaria possíveis candidatos para um projeto. 

 

—Isso é loucura - Dolores disse assim que ouviu a leitura da carta.

—Parece não é? Ou uma brincadeira de mal gosto - a garota estava sentada no chão mediante pilhas de jornais velhos.

 

Muriel Walker era uma boa cidadã. Nunca havia cometido crimes, se orgulhava de boas notas na escola e mantinha alto Q.I. por mais que não soubesse disso. Aprendia todo dia um pouco mais apesar de não frequentar a faculdade. 

 

Trabalhava das oito horas da manhã até o meio dia, na biblioteca pública da cidade. Era quase uma voluntária se não fosse pelos míseros 200 dólares que tirava ao mês e depois ia para Le Bom Café onde ganhava mais que isso.

 

Naquele mês fora entregue caixas de jornais que variavam entre novos e antigos retirados de um depósito da prefeitura. Haviam as salvações, mas alguns cheiravam a cocô de rato. Por pouco interessantes que fossem, sua obrigação ali era lê-los e classificar as notícias entre plausíveis e não plausíveis, e este último era enviado para a sessão infantil onde as crianças poderiam fazer recorte e colagem.

 

Entre os jornais, livros de todos tipos eram entregues naquela sala a qual chamavam de triagem. Ela era a única a trabalhar ali, pois o setor era novo. A indicação do trabalho fora feito por Dolores, sua vizinha de porta, qual sabia que somente a renda do café não estava sendo suficiente para a garota e quisera ajudar. Por mais que pouco tempo a sobrasse, nunca deixava de levar pelo menos livros de diversos assuntos para devorar nas suas pequenas horas vagas.

 

—Não acho que seja verdade - Dolores espiava pela porta da sala de triagem as pessoas que estavam espalhadas em mesas. Ali, ela era secretária e também fiscal.

—Dolly, liguei no lugar, mandei e-mail diretamente do site, confirmaram informações sobre mim, sobre os orfanatos que morei. 

—E você vai? - Dolores ainda era descrente. 

—Não tenho nada a perder - Muriel deu de ombros - Eles disseram que não terei problemas no trabalho, pois é um pedido oficial. 

—Não acho certo - Dolores era teimosa. Uma senhora de 60 anos que portava gota em um dos pés e dizia aos filhos que onde morava era um ótimo lugar para se viver, às vezes mentia para si mesma, mas via em Muriel a atenção que nunca teve dos três filhos homens, em muitas vezes se via responsável pela menina.

—Soube que o aluguel irá aumentar em dez por cento - Muriel estalou o pescoço.

—Também soube - Dolores sentiu pena - Posso ajudar você se quiser.

—Obrigada, mas acho terei que procurar algum lugar mais em conta - ela sorriu confiante. 

 

Na maioria das vezes órfãos que residem dentro do orfanato até atingirem a maioridade acabam indo para as ruas e se metendo em encrencas. Poucos eram aqueles que procuravam viver de forma digna procurando um emprego e fazendo faculdade. Os amigos que habitaram em Lemon Citty junto com Muriel variavam entre os que foram definitivamente adotados, os que mudaram de cidade em busca de algo melhor e os que se tornaram parte da estatística dos moradores de rua.  Não era difícil acreditar que algumas crianças guardavam rancor dos verdadeiros pais que os haviam abandonado. O sentimento de vingança corroía a mente não os deixando seguir em frente e grande parte caía no mundo das drogas no primeiro dia de ‘’liberdade’’. 

 

O orfanato de Lemon Cittu mantinha crianças de zero a dezoito anos sob sua guarda. Como um bom lugar que era, enviava as crianças para as famílias dispostas a recebê-las e também adotá-las para uma breve adaptação. Muriel passara por muitas famílias, algumas a marcara mais que outras e sua definitiva chegou quando tinha 16 anos e por ela já não havia esperança.

 

Os Walkers eram uma boa família. O pai Stephen era um senhor mais velho que abrigava poucos fios de cabelo em sua cabeça e a mãe Patrícia alguns anos mais nova, tinha pernas roliças e vestidos recatados. Haviam dois irmãos Leonard e Arthur com 16 e 14 anos respectivamente, quais acolheram Muriel como se ela realmente fosse da família. Com a casa pequena de dois quartos, os três agora irmãos, tiveram que se adaptar a uma beliche qual Arthur escolheu ficar em cima e Leonard, sem opção, embaixo, enquanto Muriel dormia no outro extremo do pequeno quarto. A ideia era que Patricia e Stephen pintassem o quarto metade rosa metade azul, mas isso nunca acontecera.

 

—Pai, o que faremos no verão? - Arthur uma vez perguntara olhando o calendário.

—Faremos coisas extraordinárias - Stephen sorria enquanto piscava para Muriel. 

—Como todo o verão - Leonard debochou - Pescar no lago e jogar pedras contando quantas vezes quica enquanto o pai da visão turva imagina que foi o dobro - o deboche era totalmente direcionado a Arthur que usava óculos fundo de garrafa.

 

Era a primeira vez que Muriel pescava em um lago de verdade com peixes de verdade. Totalmente diferente de pescar peixes de plástico em uma piscina de plástico cobertos de lascas de madeira que fediam guardado nas quermesses da igreja qual seus antigos acolhedores iam.

 

O pneu amarrado por uma corda na árvore de entrada da casa de veraneio possibilitava que quase tocasse no céu como disse ao explicar a sensação. Leonard fazia questão de empurrá-la mais ao alto quando ouvia a meia irmã rir gostosamente. 

 

—Abre as asas e sai voando - Arthur gritava lá de baixo - Do chão não passa.

 

Patricia repreendia Arthur da cadeira de praia que estendera para esticar as pernas enquanto Stephen não se incomodava lendo seu livro preferido. Era o primeiro verão com os Walkers e por mais tempo que tivessem passado juntos uma mudança de hábito na família poderia causar algum tipo de trauma ou receio no jovem encaminhado. Acontecera mesmo um trauma, mas fora no braço de Arthur que quebrou depois que ele caiu da pequena tirolesa que Stephen havia construído.

 

Não era a melhor família, e pode ser que não houvesse a melhor, porém era boa o suficiente para abrigar Muriel e ela abriga-los e isso soava tão bem em sua cabeça que não hesitou quando Stephen e Patricia se ofereceram depois de alguns meses para adotá-la legalmente. 

 

Ela ainda olhava pela janela quando o telefone do quarto tocou interrompendo seu pensamentos daquele verão.

 

—Olá - ela aproveitara o primeiro e último dia de estadia para relaxar, portanto depois de um belo banho de banheira, acompanhada de sua playlist preferida ‘’Para clipes imaginários’’ vestiu o fofo roupão que o banheiro oferecia. 

—Senhorita Walker? - a voz do outro lado falava calmamente.

—Eu mesma - nunca pensou em sua vida em ser chamada de senhorita, mas naquele dia tinha sido a terceira vez.

—Podemos levar sua refeição? - a voz não parecia tão interessada assim em conversar - Pode comer somente até às 20 horas - não se passava das 19 da noite.

—Claro - não saiu com certeza - Por mim tudo bem.

 

Não demorou para o garçom bater na porta do quarto 135 entrando com o carrinho e pedindo licença formalmente. 

 

—Desculpe senhorita… - ele havia esquecido o nome da hóspede, pigarreou e olhou nos olhos castanhos quase pretos da garota.

—Sou Muriel - ela sorriu, o garçom pareceu soltar o mundo de suas costas - Obrigada por ter vindo - continuou sorrindo.

—Tudo bem - ele continuou olhando em seus olhos.

 

Qualquer garçom não era de significância nenhuma naquele hotel. Era mais um, entre outros, que só se tinha valor quando por algum motivo faltava fazendo a cadeia de organização do maître ficar totalmente bagunçada. 

 

—Não se esqueça de me ligar - dissera Dolores enquanto colocava toalhas novas na mochila de Muriel - Quero saber onde você está a cada minuto.

—Claro - ela riu sem Dolores ver.

 

Mas ela esquecera de ligar. Na verdade não avisara nem seus pais adotivos que estava indo para uma viagem para um teste do governo. Não parou para pensar muito naquilo até o momento.

 

Como assim largara tudo para participar daquilo? Mal sabia do que se tratava. Era maluquice, das grandes. Nem sempre ela mantinha fixo um pensamento para não se frustrar com ele, porém naquele minuto todos os pensamentos possíveis a bombardearam.

 

Como uma garota dos arredores do Washington poderia estar em um programa de alto nível? Qual seria o motivo de sua ida se mal havia terminado o ensino médio? Tudo bem, ela respirou fundo. Não era tão burra assim e já havia passado em algumas faculdades e bem, as provas não eram lá tão fáceis. 

 

Nunca aceitara que Stephen e Patricia pagassem sua faculdade, achava injusto para com os dois irmãos que também gostariam de seguir suas tão sonhadas carreiras. Medicina para Leonard, que mesmo assim fez empréstimo com o governo e Engenharia para Arthur que sempre fora um gênio com números escrevendo ideia com acento.

 

Deitada na cama, Muriel olhava todas as cloches que o garçom trouxera, fechadas e ainda intocadas. Fechou seus olhos procurando uma boa noite de sono por mais que o estômago começasse a doer. Uma suave canção tocava em sua mente, a mesma de sempre quando estava em crise consigo mesma. 

 

‘’Quando o céu escurecer e surgir o primeiro clarão, 

Logo então poderemos ver, o martelo em sua mão…’’ 

 

A voz suave que cantava não era a dela, era daquela qual herdara sua marca de nascença. Uma mecha branquíssima entre o cabelo castanho escuro, bem escondida sob os cachos onde quase não se podia ver. 

 

O sono de Muriel fora interrompido com um toc toc incessante na porta do quarto. Já era de manhã, mas a noite passara tão rápido que parecia que ela tinha acabado de fechar os olhos. 

 

Colocou os pés para fora da cama e sentiu o estômago enjoar. Devia ter jantado.

 

—Bom dia - ela abriu a porta tentando sorrir.

—Está bem? - do outro lado um homem negro e alto usando um tapa olhos. Era difícil não prestar atenção naquilo.

—Uhum - ela engoliu o ácido que subiu em sua garganta.

—Sou Nick Fury - ele estendeu a mão para um aperto - Preciso que confie em mim e venha comigo.

 

Da forma como o tal Nick falava, inspirava mesmo confiança, mas o estômago de Muriel somente embrulhou ainda mais o que a fez correr para o banheiro e vomitar apenas o suco gástrico das tantas horas vazio. 

 

—Muriel? - Nick parecia perto - Tudo bem? - o tom soou como paternal.

 

Sua garganta queimava e um uhum foi suficiente para fazer Nick se sentar no pé da cama e esperar. Alguns minutos depois, Muriel saiu quase recuperada. 

 

—Você é do Governo? - ela perguntou o olhando.

—Quase isso - Nick ponderou - Não estou aqui pelo programa do governo e sim para tirá-la deles.

—Não posso confiar em você sem ao menos conhecê-lo - ela encostou no batente da porta, nessa altura do campeonato nem medo mais sentia. 

—Está confiando no governo e nem os conhece - Nick somente a fez levantar os ombros e ponderar, mas não mudar sua opinião. Ela continuou esperando -  Bom - ele a olhou fixo com o olho que podia - Trabalho para a S.H.I.E.D. já ouviu falar?
—Não - um riso preso na garganta a fez guinchar, era irreal demais o que estava acontecendo.

—Nós somos uma agência de Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão - Nick falava formalmente - Cuidamos da segurança e interesses daqui e do mundo todo. Não costumamos aparecer em mídia, somente quando algo é realmente dos nossos cuidados.

—E por qual motivo mesmo estão atrás de mim? - Muriel cruzou os braços sobre o peito.

—Na verdade a S.H.I.E.L.D. não está, eu estou - aquilo sim dava medo.

 

Outro toc toc a porta foi acompanhado do ‘’Senhorita Walker, desceremos para o café em quinze minutos’’.

 

—Tem que confiar em mim, o governo não a quer por qualquer motivo - Nick olhou em tom de súplica.

—E porque eu iria com você a qualquer lugar? - Muriel se sentia desconfortável, mas ao mesmo tempo não conseguia acreditar que Nick era uma pessoa ruim.

—Já ouviu falar dos Vingadores? - Nick se levantou olhando no relógio.

—Claro - o guincho quis sair, mas ela o prendeu - Desculpe senhor Nick, preciso que saia do meu quarto.

—Peço somente uma chance - Nick se aproximou segurando a mão de Muriel em súplica.

 

Naquele instante seus olhos se fixaram em Nick e ela soube que poderia confiar nele. Imagens de sua infância passaram em sua mente. Eventos isolados como um ralado qualquer e a montanha russa do parque de diversões que fora com Dolores. Ela engoliu em seco qualquer coisa que pudesse dizer no momento e assentiu com a cabeça aceitando.

 

Fora uma sensação estranha, como se estivesse tendo uma visão. Eram fatos isolados, porém específicos de sua vida. Era como se já tivesse visto Nick nela, ou que de alguma forma ele estivesse sempre lá o que era engraçado para si mesma.

 

—Precisamos sair daqui - Nick a interrompeu - Preciso que vista isso - ela não percebera a mochila de Nick nas costas - O andar está sendo vigiado, porém após meu comando teremos 5 minutos para sair do prédio.

—Nick qual o motivo de tudo isso? - Muriel ponderou mais uma vez se deveria ir.

—Explico no caminho - Nick ofereceu uma capa preta. O material parecia resistente e se não fosse couro, era algo parecido. 

 

Ouvi se um estrondoso trovão e Muriel ficou atônita com aquele barulho. Não era como se fosse uma trovoada que indicava chuva, era como uma explosão. A janela quebrou fazendo o tilintar dos vidros ecoar pelo quarto. Um raio seguido de um homem alto e grande entrou pelo que restara da janela. 

 

—Desculpe - Thor teve que se desenrolar da cortina, ela enroscara em sua longa capa vermelha - Não temos mais tempo. Stark está tentando invadir o sistema de segurança do governo. Banner e Natasha já entraram. 

—Banner? - Nick estava preocupado.

—Banner, ainda Banner - Thor olhou diretamente para a garota. 

 

A porta se abriu e Muriel viu uma ruiva de cabelos curtos entrar no quarto olhando diretamente para Nick.

 

—Precisamos sair daqui agora - Natasha, a ruiva, olhou para trás se certificando de estar sozinha.

 

Nick jogou a capa envolvendo Muriel. Thor se aproximou estendendo a mão com um pequeno sorriso no canto dos lábios. Ele estava feliz. 

 

—Nick - Muriel olhou a mão estendida de Thor e depois para Nick.

—Confie nele - Nick assentiu.

 

Thor a puxou. Agarrou tão forte que ela imaginou que em breve não poderia respirar. Ele a tirou do chão enquanto se movia em direção a janela com muita facilidade. Naquele momento ela sentiu medo, mas não era igual ao medo que tinha de aranhas. Muriel sentiu o movimento do braço de Thor enquanto girava Mjölnir, seu martelo, e os tirava dali. 

 

A capa tapara seu rosto e ela mal podia ver para onde estava indo. Uma luz amarela invadia as poucas frestas que ficara no tecido, seu corpo parecia ser impulsionado para cima e sua cabeça começava a doer.

 

—Thor? - Muriel ouviu a voz masculina assim que sentiu seus pés tocarem ao chão - Não acredito - o tom era mesmo de descrença.

 

Muriel descobriu seu rosto e viu outro homem, este trajava uma roupa de couro e também usando uma capa diferente da de Thor. Era Loki o Deus da Trapaça. 


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