Entre Galáxias escrita por Biax


Capítulo 4
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Com certo desespero, Ana observou os alunos saírem da sala quando o sinal do intervalo soou, e apenas um permaneceu em seu lugar, dando desculpas aos seus amigos que estava procurando dinheiro na mochila e que logo desceria. Ela continuou virada para frente, com a cabeça baixa, já que estava lendo, o que não a impediu de ouvir as conversas alheias.

Ao sentir um movimento ao seu lado, virou o rosto, encontrando Beto puxando a cadeira da carteira à sua direita, se sentando e colocando um caderno em sua mesa.

— Bom dia, Ana — desejou ele, com seu típico sorriso largo. Como a garota apenas fez uma careta amedrontada, Beto olhou rapidamente para trás. — Ninguém vai ver a gente aqui, garota. Relaxa. Eu só quero tirar uma dúvida que fiquei ontem à noite.

— Você continuou estudando sozinho? — perguntou, surpresa.

— Sim. Por que a surpresa? Você não coloca fé em mim de jeito nenhum, né? — Riu, divertido.

— Não, só não achei que continuaria estudando — argumentou. Pigarreou, tentando ignorar o rosto quente. — Qual a dúvida?

Beto deu seu típico sorriso, como se tivesse conseguido uma conquista. — Aqui, ó.

A dúvida do garoto acabou tomando o restante do tempo do intervalo, até que o sinal tocou e Ana o enxotou do lugar de sua amiga, hoje vazio, já que ela faltara. Assim que ele pegou seu caderno, aproximou-se rapidamente e lhe deu um beijo na bochecha, erguendo-se e voltando ao seu lugar. Usando seus cabelos como uma cortina, Ana escondeu o rosto, não conseguindo segurar um sorriso que acabou permanecendo em seus lábios até o final da aula.

Como não havia Valentina para lhe acompanhar, tratou de guardar seu material rapidamente e caminhou apressada para a saída. Enquanto caminhava pela rua, ouviu passos apressados se aproximando e não precisou se virar para ver quem era.

— Será que seria pedir muito se a gente estudasse hoje de novo? — perguntou Beto, agora andando ao seu lado.

— Não sei. O que eu ganharia com isso?

— A felicidade de saber que está ajudando um garoto a passar de ano.

Ela riu. — Ah, sei.

— Eu posso te dar uns bombons. Uma barra de chocolate... Um pão de mel. Sei lá. Algo como pagamento. Do que você gosta?

Ana parou para olhá-lo. — Hm... Por que você não tenta adivinhar?

— E se eu errar?

— E se não?

— Você aceitou?

Com um pequeno sorriso, voltou a andar. — Descobre hoje à tarde.

— Eu posso fazer uma pergunta? — indagou Ana, observando Beto copiar um pequeno trecho da matéria de geografia.

— Pode.

— Beto é um apelido, não é? — E ele afirmou brevemente, um tanto hesitante. — Qual seu nome?

Ele suspirou e deu um sorriso forçado. — Felisberto. Pode rir.

— Por que eu riria?

— Porque todo mundo ri. É um nome horrível. Até hoje não consigo entender o que meus pais tinham na cabeça quando escolheram esse nome.

— Não é horrível. Só é...

— Velho, esquisito e nada a ver.

Ana deu de ombros. — É diferente. Achei legal.

Beto sorriu. — Valeu. Você é a primeira pessoa que me diz isso. Além dos meus próprios pais — acrescentou, fazendo uma careta.

— De nada. — Sorriu.

— Você não vai comer? — indagou, apontando com a caneta para a barra de chocolate sobre a mesa.

— Tem algum problema se eu comer mais tarde?

— Não... Mas por quê? Você não tem problemas com seu peso, tem?

— Não. Por que teria? — Ana soou confusa.

— Eu escuto algumas garotas da minha sala falarem sobre dietas, sobre não comerem doces ou frituras...

— Ah... Acho que é normal adolescentes ficarem tão preocupados com seus pesos. Não, eu não tenho problemas com o meu peso.

Ele sorriu, parecendo aliviado. — Que bom. Você não precisa de nada disso. É bonita do jeito que é.

Com o rosto quente, Ana levou seu olhar até o caderno. — Valeu.

Alguns segundos de silêncio se instalaram. Beto voltou a escrever na folha, sendo o único som do ambiente por algum tempo, até que sua voz voltou a soar.

— Sabe, eu estava pensando... Será que podemos fazer esses dias de estudos sempre?

— Sempre?

— Não sempre, mas podemos pegar alguns dias. Tipo de segunda, quarta e sexta. Eu tenho a impressão que aprendo mais com você, aqui, no silêncio, do que na sala, com aquele monte de gente que não cala a boca.

Ana considerou, tocando a ponta do lápis em seu caderno repetidas vezes. — Não sei. E se alguém da escola nos ver alguma vez?

— Você acha mesmo que alguém viria até aqui? Tendo internet em casa? — Beto acabou rindo, tamanho a incredulidade. — Impossível, acredite.

— Eu vou pensar. Mas em todo caso, podemos nos ver na sexta-feira.

— Na sexta você me dá uma resposta? — Inclinou a cabeça para o lado, fazendo uma carinha pidona.

Ela sorriu. — Sim.

— Se você quiser, posso te pagar cada aula com uma barrinha de chocolate e...

— Não, não precisa. Você se esforçando já é o suficiente.

— Que fofa. Tudo bem, vou me esforçar. Você vai ver.

A menina ignorou o pequeno elogio, e Beto voltou a fazer sua lição, em silêncio.


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