Entre Galáxias escrita por Biax


Capítulo 10
Reconquistar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781143/chapter/10

— I-isso não é um hospital, né...? — indagou Beto, apreensivo.

— Não igual ao de vocês.

— Eu... Eu estou em uma nave? Naquela nave que apareceu?

— Sim.

— Por quê?

— Porque você foi escolhido. Por mim.

— Você estava me observando?

— Estava.

— E a Ana? Ela também está aqui?

— Está.

— Onde?

— Na sala ao lado.

— Posso vê-la?

— Pode. Venha comigo.

Beto, com cuidado, saiu da cama e seguiu o ser, descalço, para um corredor extenso.

— Qual seu nome?

— Você não saberia dizer meu nome — respondeu com um pequeno sorriso. — Me chame de... Zui. É a pronúncia mais parecida que você conseguirá falar.

Concordando, seguiu Zui para a sala ao lado, que era exatamente igual a que estavam antes. Assim que entrou, Beto viu Ana deitada sobre a cama e correu até lá com certo desespero. Rapidamente relaxou, notando que ela estava respirando, apenas dormindo.

Algumas cenas vieram à tona em sua mente e, em uma delas, lembrou que Ana havia lhe pedido desculpas, como se soubesse de algo que ele não sabia.

— Por quê... ela me pediu desculpa? — perguntou, baixinho.

— Eu pedi desculpas a você, não ela.

— Como assim? — Ele virou-se para encarar Zui.

Zui aproximou-se da cama, dando a volta, e observou Ana com um ar maternal. — Eu estava no corpo dela. O tempo todo. Ela não estava consciente em nenhum momento.

— Q-quer dizer que...

— Sim, ela não sabe que vocês estão namorando. Aliás, não sabe de nada.

— Mas por quê?! Por que você...

— Nós somos de um planeta de uma galáxia muito, muito distante da Terra. Somos responsáveis por cuidar de certos planetas além do nosso, e isso inclui povoar ou repovoar um sistema novo ou velho. Nas últimas tentativas, pegávamos seres de outros planetas e os relocávamos ao planeta vazio, mas ele sempre era... destruído rapidamente. Os recursos naturais eram esgotados rapidamente, os animais nativos eram mortos rapidamente... e os planetas ativavam suas proteções naturais para acabar com seus hospedeiros. Em algumas reuniões, conversamos sobre tentar usar humanos, entretanto, sabíamos que seria muito difícil a adaptação, com toda a questão biológica. Resolvemos começar alguns testes com... o que vocês chamam de clones. Apenas de humanos avaliados e selecionados.

— Mas, espera, por que vocês escolheriam humanos? Vocês não sabem que nós também destruímos nosso planeta? Também usamos todos os recursos naturais...?

— Claro que sabemos. Por isso resolvemos começar com clones, para serem criados no planeta escolhido desde o nascimento e assim aprenderem a lidar com as informações necessárias. O que você precisa entender é que somos responsáveis por repovoar planetas e escolhemos alguns humanos.

— Você... me escolheu? E a Ana?

— Sim. Eu conheci a Ana através de um parente dela que eu havia escolhido. Minha primeira escolha. Ela foi a segunda, eu ainda estava aprendendo como lidar com o organismo humano. Cada um reage de uma forma.

— E ela nunca soube?

— Não. Seria perigoso para ela. Nós usamos uma espécie de sedativo para que o humano não acorde enquanto estamos em seu corpo. Isso poderia gerar um colapso em seu cérebro e aí o perderíamos.

— Hm... Uau... E... por que ela?

— Escolhemos humanos de acordo com sua personalidade. Ana é uma menina doce, gentil, muito criativa e organizada. Você é comunicativo, ativo e cuidadoso. Precisamos manter o equilíbrio e adquirir humanos de diversas personalidades que se complementam.

— Então... você estava no corpo da Ana para... me pegar?

— Basicamente, sim. Sempre que entramos no corpo de um humano, vemos em sua mente possíveis alvos. Haviam algumas pessoas na mente da Ana, e você foi a que mais me chamou atenção.

— E... o que fizeram comigo? Ou vão fazer...?

— Já fizemos, pode relaxar. Pegamos amostras do seu sangue e medula óssea. Talvez você sinta um incômodo na lombar mais tarde.

— Ah... Tudo bem... E... Ela já me conhecia?

— Sim. Desde que chegou, ela reparou em você e até começou a ter sentimentos platônicos. Quando entrei em seu corpo, descobri o máximo que pude sem me aproximar antes da hora.

Beto voltou a observar o rosto adormecido de Ana, sentindo uma mistura de decepção e preocupação.

— Eu sinto muito por ter te enganado, mas saiba que eu não fui eu enquanto estava nela. Ela é exatamente do mesmo jeito que você conheceu e se apaixonou.

— Bom... E agora? Você vai... usar o meu corpo?

— Não. E nem mais o dela. Já usei o suficiente e não quero causar danos.

— E por que me contou tudo isso?

— Achei que valeria a pena, já que você queria tanto saber se havia vida fora da Terra. Agora já sabe que tem. Porém, como eu disse, eu quebrei algumas regras, e uma delas é ter te acordado, e outra, te contato sobre nós. Se alguém descobrir, fará você esquecer tudo. — Zui suspirou. — Deixo em suas mãos.

— Quê? Eu escolho se vou me lembrar ou esquecer?

— Se você acha que é melhor esquecer, eu te darei uma injeção que fará você se esquecer das últimas dez horas. Se quiser manter suas lembranças, te levarei de volta ao acampamento se prometer que nunca contará a ninguém sobre o que viu hoje.

— Eu prometo. Juro. Não quero esquecer disso.

Zui sorriu, mostrando dentes pequenos e quadradinhos. — Tudo bem. Já está na hora de vocês voltarem. Vá para sua sala e deite na cama, logo te buscarei.

Assim, Beto voltou e deitou, tentando memorizar cada detalhe daquela sala bem iluminada. Não demorou para que Zui viesse e o levasse, ainda deitado. Ele precisava fingir estar desacordado, então manteve os olhos fechados, mesmo que quisesse muito olhar ao redor. Em menos de cinco minutos sentiu o ar fresco da noite tocar sua pele e pôde voltar a enxergar. Já estavam no acampamento, e Zui deitou Ana dentro da barraca.

— Lembre-se que ela não tem lembranças de você, e eu me desculpo por isso. Você terá que conquistá-la aos poucos novamente — disse ela, erguendo-se.

— Tudo bem. Acho que vale a pena. Ela vai demorar para acordar?

— Não. No máximo daqui a meia hora. E é melhor você dizer que veio fazer caminhada ou algo assim. Junte suas coisas e fique por perto.

— Sim, pode deixar.

— Então aqui me despeço, Felisberto. Fico feliz que tenha entendido.

Ele sorriu. — Eu agradeço por ter me deixado manter minha memória... Vou te ver de novo algum dia?

— Talvez. Quem sabe.

Zui se afastou, indo para a passarela da nave que, conforme ela andava, se retraía, até que chegou na entrada, desaparecendo ao mesmo tempo que as portas se fechavam. Beto assistiu a nave se afastar cada vez mais, até sumir completamente no céu escuro.

Ainda um pouco atordoado com tudo, recolheu suas coisas e se distanciou alguns passos, fingindo estar acampando sozinho e até fez uma pequena fogueira com alguns galhos secos e palitos de fósforo. Exata meia hora depois, ouviu sons vindo da barraca e sentiu o coração martelar, temendo a reação de Ana. Se ela não tinha lembranças dele, também não se recordava de como foi parar ali ou o que fez durante o tempo que hospedou Zui.

Ana saiu da barraca de forma desesperada, olhando ao redor, totalmente perdida. Ela olhou para a fogueira automaticamente, e rapidamente notou Beto ali, sentando em uma pedra pequena. Pareceu se envergonhar pela súbita saída e começou a vasculhar suas coisas.

Sem saber como ou quando fazer algo, Beto aproveitou a situação e se aproximou.

— Tá tudo bem? — indagou, não muito perto para não assustá-la ainda mais.

Ela o observou, provavelmente o reconhecendo da escola. — É... Sim. Tudo bem. Eu... cheguei aqui antes ou depois de você?

— Quando eu cheguei, você já estava aqui.

— Ah... — E Ana coçou os olhos, esfregando o rosto em seguida. — Estou com dor de cabeça... Eu... não me lembro como cheguei aqui.

— Você quer ir para o hospital? Posso te levar, se quiser.

— Desculpe, mas... por que você está aqui?

— Eu... vim acampar. Nunca tinha feito algo assim antes, então vim.

— Seu nome é Beto, não é? Você é da minha sala...

— Sim, somos colegas de sala, Ana. Engraçado como tivemos a mesma ideia de acampar hoje, não?

— É, acho que sim... — Soou confusa. — Acho que eu aceito sua oferta de ir ao hospital. Eu realmente não consigo me lembrar o que fiz.

— Tudo bem, vou recolher minhas coisas.

Rapidamente, ambos guardaram tudo. Já eram cinco e quarenta da manhã, e o céu começou a clarear preguiçosamente. Ana e Beto tomaram o trem e depois um ônibus, onde desceram próximo ao hospital. Ele a acompanhou até os pais dela chegarem, e depois foi para casa.

Na segunda-feira, ao entrar na sala de aula, a viu sentada em seu típico lugar e sorriu, como se nada estranho tivesse acontecido com eles. Segurou aquele sorriso e se sentou na carteira ao seu lado.

— Oi... Como você está?

Ana deu um sorrisinho tímido. — Bem.

— O que disseram no hospital?

— Bom... Meus exames estão normais... O médico disse que pode ter sido uma perda de memória devido ao estresse da mudança, escola nova, amigos novos... Coisas assim.

— E você não se lembrou de nada?

— Não, nadinha. Mas tudo bem, eu estou bem e é o que importa.

Ele sorriu. — Que bom. Fico feliz. Por acaso você... quer tomar sorvete comigo depois da aula?

As bochechas de Ana coraram com o convite repentino e ela desviou o olhar brevemente. — Ah... Por que não?

— Legal! Nos falamos depois, então.

Ela concordou, Beto levantou e foi para o seu lugar, contente. Agora estava ansioso para conquistá-la e voltar a rotina que havia se acostumado ao seu lado.

Sem perceber, ao longo dos dias, suas memórias sobre o ocorrido desapareceram, e o que restou foi somente suas lembranças sobre Ana, o mais importante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, espero que vocês tenham gostado da curta saga da Ana, Beto, e Zui xD

Me diz aí, essa história te surpreendeu? Eu queria mesmo fazer algo que começasse com um clichê e mudasse depois. A ideia inicial era mais agressiva, mas ao longo dos capítulos peguei carinho por todo mundo e desisti, acabei deixando fofinho HAHA.

Enfim, nos vemos nas próximas histórias! o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Galáxias" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.