Apenas mais uma noite quente na cidade. Ela olha pela janela do quarto e encontra os edifícios imponentes e nas minúsculas luzes a distância; as minúsculas pessoas que lá habitam. Ela nunca deixaria de admirá-las. Ela sorri, um pouco cansada nos lençóis frescos, mas sorri satisfeita. 

Lena retorna do banheiro com a escova de dentes na boca, argumentando sobre alguns problemas na montagem da nova cozinha. 

"...podemos ordenar o ressarcimento, senhora...e você não está ouvindo." Lena diz para a mulher de olhar estático para as janelas, ainda apostando naquela sobrancelha franzida 

"Sim. Eu, eu estou. Os armários estão fora da paleta de cores do conjunto. Uma tragédia total!" 

Lena permaneceu em pé. A gota de saliva e pasta dental escorregando no canto de sua boca impediu a séria expressão durar, ela novamente no banheiro para terminar suas atividades. 

Após alguns segundos, ela reaparece, a deusa das tempestades para uma fina garoa de sorriso doce. Sem barreiras, palavras ou saltos afiados. Ela anda calma, de pijama no corpo pelo quarto. E Kara assiste a cena de uma vida que lhe pertence, uma rotina. 

"Kara Zor-el que partiu em um asteroide, aguardo sua resposta, câmbio." Lena brinca, já próxima da cama. "Onde você estava?" Ao deitar, ela questiona ainda sorrindo. 

"Vênus." Kara responde e junta suas mãos com as de Lena e perguntou suavemente. "Case comigo." 

Lena fingiu pensar. "Não, minha esposa é um tanto ciumenta." Ela acaricia o fino metal que adornava o seu anelar e percebeu o semblante sério de Kara, onde havia um olhar sincero, imerso naquele azul, sensível azul que lhe despia em milhares. "Já foram muitos anos. Sim?" 

Lena ouviu essa mesma moça um dia professar as mesmas palavras. Ela inclinou-se para tocar os lábios de Kara com os seus e suspirou. Ela lembrou-se daquelas juras, proferidas no passado de compartilhar essa mesma terra, o mesmo ar e a mesma cama. E terminou repousando junto à sua esposa. 

O cansaço tornava-se presente e uma chuva pretendia começar surpreendendo a estação. 

"Está chovendo?" 

"Chuva de verão." 

"O que ela está dizendo?" Ela pergunta, mencionando a história de infância de Kara, quando ela se concentrava no som da chuva para impedir a cacofonia de sua audição em tempestades. Os seus pais explicavam que a água se partia em milhares de gotas e quando tocavam a terra, deveriam algo confessar. 

"Elas cantam: amo-te, amo-te, amo-te, Lena Luthor"