Noheth - Raizes escrita por sancho


Capítulo 1
01 - Água no meio do deserto Parte I


Notas iniciais do capítulo

O início



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Capítulo I – Água no meio do deserto – Parte I



      Era verão. As flores que deveriam nascer nas areias quentes do deserto de Arthacnec ainda não tinham florescido. O vento cortante estava quente e o sol acima da cabeça transformava aquele lugar no inferno acima da terra.

     Não havia sinal de água em nenhum canto; sequer uma nuvem pairava no céu azul para proporcionar uma sombra agradável nas areias cor de ouro. Abaixo do firmamento celeste, os únicos que sobreviviam naquele lugar inóspito eram salamandras de fogo e as flores raras de vidro. 
      O sol escarlate pairava bem no centro do céu, indicando que já era meio dia. As enormes dunas de areia ondulavam como um mar âmbar que tragava os viajantes e conduzia-os à morte certa. 
      Os olhos vermelhos de um animal brilharam ao sul do castelo de Arthacnec; sua pele escamosa vermelha reluzia ao sol, enquanto que a boca roxa com apenas algumas presas depositava na areia a baba venenosa que mataria qualquer criatura em questões de horas se não tivesse o tratamento correto. 
      A salamandra vermelha esgueirava seu corpo sinuoso pelas areias do deserto deixando um rastro que era apagado pelo vento. Seus um metro e meio de comprimento eram bem distribuídos entre as patas e a mandíbula forte. O magnífico animal que era capaz de suportar as imensas temperaturas daquele deserto levantou o enorme focinho e cheirou o ar. O vento soprava de leste para oeste, de modo que era mais forte provocando enormes tempestades de areia. Um cheiro o alertou que alguma criatura se aproxima de seu domínio.
      Dentre uma enorme parede de areia que corria desenfreada, uma silhueta negra confirmou as suspeitas do animal. Uma enorme capa marrom cobria o corpo de um humano que caminhava pelo deserto que poucos ousavam desafiar. O manto cobria todo o corpo do jovem viajante enquanto que um capuz cobria sua cabeça e um pano grosso tapava sua boca evitando que a areia o sufocasse. 
      O coturno negro adentrava na areia vacilante, enquanto que na cintura uma espada média balançava ao movimento do corajoso viajante. O sibilar da capa esvoaçante fez com que a salamandra rapidamente virasse o corpo e se enterrasse na areia, não deixando sequer rastro que já estivera ali.
      O viajante andava devagar pelas dunas douradas enquanto que o vento e areia o jogavam de um lado para o outro. Seu cantil já estava vazio fazia dois dias, suas botas estavam cheias de areias e a calça estava suja. Sua camiseta de algodão branco estava rasgada em alguns pontos e suas provisões não passavam de um pão duro e algumas sementes que ele havia a muito roubado de um viajante na ultima cidade que estivera. Ele passava a língua sobre os lábios secos e rachados tentando umedece-los.
      Após uma semana de viajem o jovem subiu uma enorme duna e avistou um pilar de mármore branco que emergia da areia amarela e se projetava tombado para o céu. Ali – de pé – acima do pilar o jovem pode avistar o que num passado já havia sido um grande palácio: Arthacnec.
      Como uma miragem no meio do deserto, o palácio parecia engolfado pelas areias e projetava a ponta branca para cima. Metade dele estava destruído porém mantinha o lado leste de pé; esta parte era composta pela enorme torre principal – que assim como todo o castelo estava tombada – um enorme salão de festas e a sala do trono que mantinha um trono de madeira e ferro vazio. Todo o resto era ruína e areia, apenas isso.
      O jovem suspirou e continuou sua caminhada. Desceu desajeitado a duna e caminhou por cerca de meia hora até chegar a um lugar que parecia ser um rio que há muito tempo havia secado. A vale vinha diretamente do castelo e sumia entre as numerosas dunas que compunham o Arthacnec.
      O viajante entrou por um arco de pedra e subiu outra duna, que dava para uma escadaria. No final da escadaria estava a entrada para o castelo. Enormes portões de ferro enferrujado jaziam tombados, deixando a passagem escancarada. 
      Ao cruzar o que antes era um portão sólido e impenetrável o jovem pode ver um enorme salão onde não havia nada. O teto naquele lugar ainda estava conservado, apenas alguns raios solares adentravam pelas frestas causadas pelo tempo e deixavam o local com um tom soturno. Estava relativamente escuro ali, o jovem permaneceu alguns segundos parado na entrada até que seus olhos se acostumassem com a escuridão.
      Era um salão com inúmeras portas – todas podres como a anterior – e paredes cinzas de pedra retangulares. Jogados no chão centenas de caveiras e armaduras se depositavam em meio a areia que entrava nos dias de tempestade. Todas estavam mortas fazia centenas de anos e algumas a apenas algumas semanas.
      O jovem continuou sua jornada desviando dos ossos e uma ou outra vez procurando algo que pudesse lhe servir. Encontrou um cordão fino de ouro com um pingente redondo porém o deixou no mesmo lugar ao ver que pertencia a uma mulher e que estava escrito o nome de seu amado atrás. Achou também algumas moedas de prata e duas de ouro, mas o que realmente procurava não havia encontrado: água. Suspirou.
      Ao passar pela porta principal do local se deparou com outro salão, porém este era relativamente menor, e possuía dois lances de escadas do lado oposto a porta pela qual ele viera. No segundo andar onde as escadas tinham fim, estava o trono real, sujo e com uma caveira no lugar do que um dia foi o rei. 
     As paredes eram compostas por duas paredes e eram altas, possuindo janelas sem vidros. O lado esquerdo havia desmoronado e dado lugar a uma duna que subia até a altura do andar elevado. O andarilho andou cuidadosamente sobre o chão que apresentava enormes buracos onde podiam se ver apenas a escuridão e subiu o lance da escada da direita, indo para onde apenas os nobres e o rei ficavam. 
Observou bem o lugar averiguando a caveira que estava com as costelas do lado do coração estilhaçadas. Concluiu que uma lança atravessara o coração do rei e cravara-lhe ao trono, visto que este estava também marcado. Procurou ali mas também não achou nenhuma gota de água. Podia estar cansado, mas seus olhos verdes não deixariam escapar o mínimo detalhe. O lado esquerdo do castelo estava totalmente em ruínas, então concluiu que não adiantaria procurar por aquele lados. Restava apenas a torre e as salas mais abaixo.
      Desceu o lance de escadas e sentiu sua pernas vacilar, se apoiando na parede. Seu peso foi o suficiente para abrir um buraco entre os blocos soltos de pedra e o lançar para a sala ao lado. Rogou algumas pragas para o nada e em seguida se levantou. Tentando limpar inutilmente a sujeira que se amontoara acima dele. 
     A sala onde o viajante estava era redonda e estava totalmente vazia, apenas algumas caveiras de soldados faziam companhia ao jovem que se levantava devagar. Ele cruzou a sala e abriu a porta, uma das poucas que se mantinham ainda de pé.
     O salão seguinte era assim como o outro; redondo, porém era enorme e possuía escadarias que subiam juntas as paredes encurvadas. No centro do salão havia uma fonte redonda onde uma estátua – ainda intacta – de uma mulher segurando um vaso acima da cabeça permanecia seca.
    Ele correu até a fonte porém suspirou ao ver que esta realmente estava sem água. Olhou para cima e viu a enorme torre com suas escadas em espiral. Suspirou mais uma vez. Estava próximo de seu objetivo O sol ali já não queimava tanto quanto do lado de fora, então ele resolveu aliviar um pouco o peso.
      Puxou o broche em forma de cata-vento que segurava o manto e o depositou em uma pequena bolsa que se localizava anexada ao cinto de couro, o mesmo que prendia sua espada. Retirou a capa âmbar que caiu no chão levantando um leve nuvem de poeira e em seguida retirou o pano que envolvia seu rosto de pele branca porém bronzeada. 
      Seus olhos verdes estavam vermelhos devido ao clima seco e a boca estava machucada. Ele balançou a cabeça que soltou uma pequena nuvem de poeira. Em seguida mexeu nas roupas sujas e retirou o coturno para retirar a areia que estava lhe incomodando. 
      O jovem viajante não devia ter mais que quatorze anos. A blusa branca caia folgada sobre o corpo magro, possuía um queixo fino e olhos redondos. Os cabelos avelãs caiam sobre o rosto até a altura dos olhos enquanto que seu nariz era levemente empinado. 
     Ele desembainhou a espada ligeiramente e cortou o ar, mostrando força e velocidade que antes não transpareciam. A lâmina prateada da espada refletiu os raios solares que adentravam por uma pequena fresta na parede. Após olha-la com cuidado e amor guardou-a, segurando a bainha de modo que pudesse puxa-la rapidamente. Olhou para o lance de escadas e respirou fundo.
      Seus passos ecoavam pela torre a medida que ia subindo. Havia inúmeras salas que ele vasculhava, porém sabia que o que procurava deveria estar no ultimo andar. Resmungava pelo fato de ter que subir aquilo tudo para poder encontrar seu objetivo e de ainda estar com sede.
      Finalmente ele chegou até a ultima porta. Esta era diferente de todas as outras e possuía uma cor azul bem forte e dançante, como a água que ele tanto procurava. A mão esquerda segurava a bainha da espada enquanto que com a outra ele impelia a porta. Mantinha no rosto uma expressão séria enquanto que a porta era aberta. 
      Os olhos atentos do jovem viajante vasculharam o interior da sala. Ela era composta por paredes de pedra azul e bem no centro havia uma espécie de lago em miniatura. Dele seguiam quatro pequenos fossos que corriam águas limpas e transparentes cada um indo na direção de uma parede.
      Ele seguiu os fossos com os olhos e percebeu que as águas subiam pelas paredes e continuavam a correr normalmente, indo até o teto alto e se depositando em outro lago, como se a força da gravidade não existisse naquele lugar e o teto fosse um espelho do lado de baixo. 
     Nos cantos haviam estatuas de mulheres segurando espadas apontadas para o lago no teto. Enquanto que no teto as estátuas apontavam para o lago no chão.
      O garoto observava espantado aquele lugar, ele era dotado de uma beleza única e possuía água, o que deixava o garoto ainda mais estupefato. Ele andou devagar e cruzou a porta. Seus olhos corriam freneticamente pelo local procurando algo mortal até que a porta se fechou sozinha e como em um reflexo seus olhos se voltaram para trás. Uma presença encheu a sala, fazendo-o tremer por um instante. Ele voltou o olhar na direção oposta a porta.
     No teto, envolta por mantos brancos, uma mulher estava dentro do lago. Seus cabelos eram longos e azuis; caiam dentro da água e se fundiam a ela. Sua pele era branca como a neve e suas orelhas eram pontiagudas. Os olhos eram totalmente azuis como os oceanos.
     O viajante mantinha ambas as mãos na espada. A mão direita segurava com força o cabo da espada enquanto que ambos se olhavam nos olhos. A mulher sorriu e falou.


- Olá jovenzinho. - era uma voz suave e convidativa. - parece cansado, quer um pouco de água? - um sorriso encantador fez o jovem vacilar um pouco, porem ele logo voltou ao foco e se lembrou do que acontecia as pessoas que chegavam até aquele lugar.
- Olá. - falou firme. - É você a quem todos chamam de Espírito da água?




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Notas finais do capítulo

Continua...



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