As ondas enovelam-se numa espiral entre si, num espectáculo abrupto e assustador da natureza. O céu rugia recolhido sobre um manto negro, por onde relampejava furioso. 

Elsa observava, perturbada, o mar envolta de si aprisionando-a. Só podia escapar da ilha, onde naufragara, através dele. Ela sabia o que precisava fazer, no entanto, estava assustada pensando em como conseguiria fazê-lo. 

Após a sua coroação, teve de fugir do palácio por terem descoberto a magia do Inverno dentro de si. O rio surgiu como obstáculo, até que cautelosamente ela criou um trajecto de gelo sobre ele, correndo e conseguindo distanciar-se de Anna que a tentara alcançar.

Ela já conseguiu andar sobre a água, usando o gelo em seus pés. Mas esta estava calma, perfeitamente pacífica... Como enfrentaria o furor descontrolado dos ventos e da maresia?

“Existe um herói, se você olhar dentro de seu coração.

Não precisa ter medo do que você é,

Existe uma resposta, se você procurar dentro da sua alma

E a tristeza que você conhece irá desaparecer.”

Elsa suspirou nervosa, descalçando-se e pousando o pé sobre a água fria. Sorriu, a temperatura não a afetava de qualquer jeito. Gelo formou-se quando o seu calcanhar tocou a superfície do mar. Repetiu o gesto, começando a correr, formando blocos de gelo e de neve, permitindo-a saltar entre as oscilações da água. No entanto, a força e a elevação das ondas ocasionaram que, em apenas alguns segundos, a rainha de Arendelle não conservasse o equilíbrio, despedaçando o gelo recém-formado e mergulhando dentro do mar.

Ela não desistiu. Durante várias tentativas, persistiu. Todavia, nunca conseguia ir até muito longe, sempre enfrentando uma onda terrivelmente grande. Tremia, não de frio, mas de medo. Ela precisava libertar-se dos seus receios. A insegurança impedia que o seu poder fluísse. Ela não conseguia manter o controlo… sem o amor. 

“E então um herói surgirá, com a força para prosseguir.

E você deixará seus medos de lado, e sabe que pode sobreviver

E quando sentir que sua esperança se foi,

Olhe dentro de si e seja forte

E finalmente verá a verdade, que existe um herói em você.”

A rainha sorriu com a lembrança carinhosa da sua irmã. O seu coração confortou-se com a esperança de a reencontrar, de serem uma família. Anna foi quem lhe ensinou que o amor tinha o poder para aquecer o frio da solidão que controlava, de forma tirana, a sua vida. Ela tinha de voltar para casa, e lutaria por isso.

“É uma longa estrada, quando você encara o mundo sozinho

Ninguém estende uma mão para você segurar

Você pode encontrar amor, se você procurar dentro de si mesmo

E o vazio que sentia irá desaparecer.”

Ela seria corajosa. O gelo que Elsa não conseguia controlar fazia parte do seu passado. Dentro de si, nas profundezas do seu interior, ela soube que seria capaz. Elsa teria a força necessária para sair daquela ilha, enfrentando o mar turbulento. 

Desmanchou a trança que atrapalhava os seus movimentos, prendendo os cabelos loiros afastados da face atrás da cabeça. Os seus dedos rodearam as madeixas quase brancas formando uma auréola gelada, amarrando o cabelo.

Como uma rainha, o seu olhar demonstrava coragem e ousadia. O corpo erguido verticalmente transmitia a confiança que sentia. Ela era capaz. 

“E então um herói surgirá, com a força para prosseguir

E você deixará seus medos de lado, e sabe que pode sobreviver

E quando sentir que sua esperança se foi,

Olhe dentro de si e seja forte

E finalmente verá a verdade, que existe um herói em você.”

Acelerou os passos em direção ao mar e as palmas dos seus pés apoiavam-se entre os vários blocos de gelo que criara para andar sobre as ondas. Estava fazendo progressos, percorrendo uma distância maior. Um sorriso brotava em seu rosto, orgulhosa. Mas as suas pernas oscilaram, com a grande elevação da água, que a impediram de prosseguir. 

Ainda não era o suficiente.

“Deus sabe, sonhos são difíceis de seguir,

Mas não deixe que ninguém afaste-os.

Apenas persista, haverá um amanhã

Com o tempo, você encontrará o caminho.”

O medo quis instalar-se em seu coração de novo, reconhecendo a sensação familiar de quando se isolava em seu quarto, em criança, rendendo-se ao temor e ao desânimo. 

Porém, Elsa conseguiu libertar-se. Ela triunfou sobre o pânico, descongelou o seu reino e voltou a sorrir. Voltou a ser feliz, sem remorsos.

Elsa ao permitir-se amar sem medo conseguiu salvar-se da sua solidão, da sua prisão. 

“E então um herói surgirá, com a força para prosseguir

E você deixará seus medos de lado, e sabe que pode sobreviver

E quando sentir que sua esperança se foi

Olhe dentro de si e seja forte

E finalmente verá a verdade, que existe um herói em você.”

A rainha enfrentaria o mar. E tudo o que a impedisse de continuar a ser livre. 

Ela conquistou a sua liberdade e a sua felicidade. Nada a impedirá de seguir avante.

Com os punhos cerrados, correu até à maresia descontrolada. Repetindo os mesmos gestos até alcançar visualmente o maremoto. Ele deslizou inclinado disposto a impedir que Elsa saltasse sobre ele. Em resposta ao duelo, Elsa congela superficialmente o meio da onda, atravessando por dentro dela, como se nadasse. Atravessou a onda, conseguindo distanciar-se da costa, tornando mais fácil contornar agora as ondas com menor elevação.

“Que um herói vive dentro de você,

Que um herói vive dentro de você,

Que um herói vive dentro de você.”

Respirava ofegante enquanto sorria eufórica. Ela tinha conseguido! O mar não a deteve e dirigia-se para o seu lar. 

Elsa não precisava que a salvassem mais do seu antigo quarto, do castelo de gelo ou da ilha… Não aceitaria que a isolassem ou a contivessem num espaço. Ela não era um monstro com poderes da estação mais temida. Em seu coração, sempre morou uma heroína à espera de ser liberta.