Seis meses depois...

Dra. Linda estava visitando a casa de Chloe, num agradável domingo à tarde. Elas costumavam se ver, pois Trixie praticamente era apaixonada no bebê Charlie. A menina tentava ensinar o menino de quase sete meses a andar enquanto Linda mostrava em um notebook as ideias para o aniversário de Charlie.

—Sei que é cedo, mas quero que tudo saia perfeito no primeiro aniversário do pequeno Charlie. – comentou Linda. – Maze acha que estou sendo muito antecipada e disse que o tema da festa era óbvio já.

—E qual seria o tema para Maze? – perguntou Chloe sorrindo.

—Facas! – disse estridente Linda. – Ela quer encher um painel de facas raras!

—Nada menos digno de Maze. – comentou Chloe enquanto preparava um sanduíche para Trixie. – Falando nisso, onde está ela?

—Está chegando. – comento Linda olhando o telefone. – Diz que está trazendo uma surpresa para as crianças.

—Não quero nem imaginar o que seja! – comentou Chloe.

            Antes que as duas pudessem conversar sobre outra coisa, o demônio mais esperto e leal a Lúcifer adentra a casa sem muitas educações.

—Olha o que a tia Maze trouxe para vocês! – ela se anunciou indo de encontro a Trixie e bebê Charlie na sala. Linda e Chloe olhavam desconfiadas da cozinha.

—Arco e flecha! – gritou Trixie abraçando Maze.

—E para o bebê Charlie, um punhal! – ela declarou.

—Maze! – gritou Chloe e Linda.

—Relaxa! É para os dentes! É para ele morder, sabe. – Maze botou o punhal emborrachado na boca mostrando como o menino deveria fazer. Trixie levantou o arco e as flechas eram de ponta emborrachada também.

—Que responsável de sua parte. – elogiou Chloe ainda surpresa.

—Sou muito responsável quando se trata das minhas crianças. – respondeu Maze ofendida.

            Linda sorriu para Chloe, Maze passou por tempos sombrios desde que Lúcifer se foi. Passou até dois meses ausente caçando humanos. Mas seu ponto de luz era Trixie e Charlie.

—Como vão as minhas mulheres? – comentou Maze parando na bancada da cozinha e roubando o sanduíche que era para Trixie. Mas elas não chegaram a responder quando ouviram batidas frenéticas na porta.

—Deixa que eu abro. – informou Chloe quando Trixie ia atender. As batidas não cessavam e quase esmurravam a porta. Quando Chloe abriu se assustou ao ver a figura descompassada de Eva.

—Lúcifer se foi?! – ela gritou alarmada.

            Eva havia sumido desde o incidente com o pequeno Charlie. Ela precisava se refazer e se redescobrir longe de Lúcifer, longe de todos que a conheciam. Ninguém, depois de sua despedida a Maze, tinham a visto mais. Sinceramente, ninguém havia ido atrás para saber também.

—Eva? – chamou Maze surgindo atrás de Chloe. –O que faz aqui? Quer dizer, onde esteve?

—Longe. Fui para a Itália. – Eva comentou.

—Mamãe, é a amiga do Lúcifer? Ele está com você? – perguntou Trixie surgindo entre as pernas de Maze.

—Ok! Certo, crianças lá para o quarto. Vamos ter uma conversa de adulto agora. – Chloe abriu a porta do quarto de Trixie que levou o pequeno Charlie consigo. – Ligue a TV, querida. – orientou Chloe antes de fechar a porta e ir em direção as mulheres na sala. Onde Eva começou a falar:

—Desde aquela noite viajei para longe. Eu não sabia para onde era o voo, mas eu só queria ir para bem distante. – começou Eva. – Fui parar na Itália e me apaixonei pela cidade. Eu acabei me encantando com a leitura humana, os romances, as palavras, são lindas! E eu me acostumei com a vida de lá, comecei a perceber coisas de que gostava e coisas que achava que gostava. Há uma semana, eu encontrei com um antigo amigo de Lúcifer, um comerciante que ia à Lux e ao me ver ele ficou animado achando que Lúcifer estava comigo, disse que há meses não tinha notícias dele. Estranhei, e tentei contato com Lúcifer para saber se estava tudo bem até confirmar que ele realmente havia sumido de Los Angeles e não havia sinal dele no mundo todo. Depois daquela noite, eu fiquei pensando tanto e aí presumi que ele tivesse voltado para o inferno por causa do ataque dos demônios.

—Parabéns, Eva! Quer um chocolate de prêmio? – perguntou Maze sarcástica.

—Não, ele não pode ter ido! Não faz sentido! Nós vencemos. – ela comentou desolada.

—Eva, o Lúcifer temeu uma rebelião futura, ele achou que precisava voltar para evitar um mal maior. – Chloe a informou.

—É tudo culpa minha. Ele amava isso aqui e graças a mim, ele foi obrigado a voltar! – Eva descansou a cabeça nas mãos frustrada.

—Não se culpe. Uma hora Lúcifer teria que prestar contas com seus súditos. – declarou Linda.

—O que fizeram com a Lux? – perguntou Eva.

—Está fechada. Ainda consigo pagar as despesas, com o dinheiro que ainda resta dele, mas logo quando acabar com certeza alguém tentará comprar a Lux, principalmente por ser patrimônio histórico. – declarou Maze.

—Temos que achar um meio de trazê-lo de volta! – declarou Eva. – Você precisam me ajudar.

—Trazê-lo de volta não vai consertar as coisas, Eva. – declarou Maze irritada. – Sei que se sente culpada, mas não se meta! Vai acabar estragando tudo de novo. – Maze levantou e foi embora.

—Maze! – Chloe a chamou, mas era tarde. – O que foi isso?

—Ela tem mágoas pessoais comigo. – informou Eva triste.

—Sei que está se sentindo mal pela ida de Lúcifer, mas não há nada a ser feito. Acredite, ficamos muito tempo pensando em várias maneiras. – comentou Linda a tranquilizando.

—Onde está Amenadiel? – Eva quis saber.

—Estou aqui. – disse o anjo surgindo a porta. – Oi, Eva. – ele olhou compreensivo a ela, e olhando para Linda completou – Achei que quisessem carona para casa. – se explicou.

—Porque não foi buscar Lúcifer? – ela perguntou nervosa.

—Eu fui. – disse ele sério. – Eu não consegui passar pelos portões.

—Como não? Você que guardou o inferno na ausência dele!

—Eu sei. Lúcifer barrou minha passagem, Eva. Ele sabia que eu iria tentar trazê-lo.

—Não. – ela murmurou desolada.

—Acho melhor você ir repousar. Amenadiel tem a chave da Lux. Fique por lá esta noite. – sugeriu Linda.

            Chloe nunca foi muito religiosa; havia suas crenças e só. Mas desde que Lúcifer se foi ela rezava todas as noites, pedia por ele diariamente.

—Deus, cuide dele. Ajude-o! Ele é um anjo, um dos mais fortes. Ele abdicou toda a sua vida de luxúria para proteger meros mortais. – ela sussurrava naquela noite fria. – Por céus, que saudades dele. – Chloe havia chorado sem perceber. Hoje faziam sete meses desde sua ida e não tinha um dia sequer que não pensava em Lúcifer MorningStar.

—Mamãe. – Trixie chamou com a cabeça aparecendo pela fresta da porta.

—Oi, macaquinha. – Chloe sorriu, enxugando as lágrimas, abrindo os braços para receber a pequena.

—Está chorando pelo tio Lúcifer?

—Sim. – Chloe confessou, ela não mentia para Trixie. – Mamãe sente falta dele.

—Porque ele não volta?

—Porque ele está numa missão muito importante. – Chloe comentou acariciando os cabelos da menina.

—Vou orar por ele também. – concluiu Trixie determinada. – Mas não para Deus! – a menina levantou da cama e rumava a seu quarto.

—Vai orar a quem então? – perguntou Chloe.

—Deus expulsou Lúcifer do céu, mamãe. Obrigou ele a ficar no inferno! – Trixie disse aborrecida. – Se ele fez isso com o filho dele, ele não protegeria o nosso Lúcifer também. Vou orar para a mamãe dele então. As mães sempre ajudam! – Trixie sorriu antes de sair do quarto, deixando uma Chloe surpresa.

Continua...