Um deus entre nós escrita por Rafaela Cristina


Capítulo 5
Rapadura é doce, mas não é mole não


Notas iniciais do capítulo

Leia a segunda nota, e leia com a músiquinha. Vai ficar legal. É.



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V – Rapadura é doce, mas não é mole não


Acordei animado. Apenas me troquei e resolvi tomar café no trabalho, facilitaria minha vida, e duvidava que houvesse algo comestível dentro daquele apartamento imundo. Minha irmãzinha não faria aquela maldade comigo. Sendo deusa do lar não me deixaria morrer de inanição. Claro, não precisava comer, mas... era bom. De algum jeito, sentia falta da comida caso não a comesse. Não era como fome. Era... desejo. Ótimo, estava pensando como minha sogra.

Calcei um AllStar parecido com o de Hermes, mas sem as asinhas, e uma calça jeans. A camiseta regata branca, e a xadrez por cima. Eu estava gato. Uma mistura de atores mortais como George Clooney e Ashton Kutcher. É, eu realmente teria que parar de me aconselhar com Afrodite. Não era algo que um senhor poderoso deveria fazer.


Olhei para o lado, e nada do... nerd. Não sabia o nome dele. Melhor assim. Odiava ter que me referir aos mortais por seus nomes. Eles eram... vivos.  Deveria estar dormindo. Abri as trancas e desativei o alarme. Saí para as ruas já ensolaradas das sete da manhã de Los Angeles.

Andei um bocado. Talvez quatro quarteirões. Era uma grande distância quando não se poderia usar poderes. Zeus pegava sempre pesado.


# Flash Back

- Irmão, sabe, você não poderá fazer isso. – A voz grave de trovão de Zeus ecoou pelo Olimpo. Meu palácio ainda era mais bonito que aquelas cores clarinhas e pastéis que feriam meus olhos.

- Mas... Zeus, é impossível. Tenho que tirar férias antes que pulverize Caronte. Ele está me pedindo um aumento salarial de vinte dracmas por mês. Isso é quase um roubo. Nem Dédalo construindo rampas e pontes de acesso nos campos Asfódelos me cobra tanto. – Disse e puxei um grande fôlego. Era terrivel desabafar na frente de metade do Olimpo. Bem, na verdade, apenas Hera, Zeus e Afrodite estavam ali. Héstia estava na entrada da sala do trono, tomando conta do fogo sagrado.

- Hades, Hades. Se acalme, você ficará com rugas. – Afrodite abaixou a lixa de unha e olhou para Zeus. – Você poderia dar-lhe umas férias. Qual é?! Você não aguentaria ficar naquele lugar por tanto tempo sem férias.

Me disseram uma vez que Afrodite fica com a forma que cada um a acha mais bonita. Então, óbviamente, minha visão de Afrodite era diferente da de Zeus. Ele preferia as loiras.

- Estou calmo Afrodite. Agora, continue a lixar suas unhas. – Disse com um olhar mortífero. Mas ela era tão bela, que... não conseguia mandá-la para outra dimensão.

- Meu amor, acho que nosso irmão realmente precisava de umas férias. Ele me parece pálido, e cansado... – Hera tinha Zeus nas mãos. Sorri.

- Tudo bem então. Mas nada de exagerar nos poderes. Nada de se teletransportar, flutuar ou pulverizar. Os mortais não podem confirmar que existimos. – Ele me olhou seriamente.

Assenti com a cabeça para Zeus, sorri para Hera e pisquei para Afrodite. Eu era homem. Paciência.

- O vejo assim que voltar. – Disse já me preparando para evaporar de volta ao submundo com minha pasta nas mãos.

- Um mês de férias. Nada mais. Nem um dia. E Perséfone ficará no seu lugar. – Zeus disse assim que já estava indo embora, deixando um vácuo e sua voz rouca para trás. Eu havia conseguido minhas tão sonhadas férias.

FlashBack #



Cheguei na lanchonete, lotada. Que lindo. Aquele cheiro de gente perfumada que acabara de acordar me enjoou. A garota que me atendera ontem logo puxou meu braço e me arrastou até o balcão.

- Está atrasado. – Ela murmurou jogando um avental vermelho em cima de mim, violentamente, eu diria.

- Desculpe. – Baixei a cabeça. Eu realmente estava atrasado. Três minutos atrasado. Precisava praticar cooper, ou treinar para a maratona. Seria bom.


- Pegue os pedidos das mesas. O Owen não pôde vir hoje. Estamos só nós dois, o cozinheiro e quarenta clientes. – Ela engoliu em seco, desesperada, me atirando um bloquinho e uma caneta.
Talvez aquilo fosse para anotar pedidos, igual aos ghouls da lanchonete McTântalo. Segurei o bloquinho no ar, e vesti meu avental. Estava a caminho das mesas, em meu primeiro dia de trabalho. Precisava de uma música. Era horrível trabalhar com os múrmurios ao fundo. Fui até o antigo rádio que tocava algo como sertanejo, e troquei a estação.  Era uma música animada, uma batida boa, o locutor havia acabado de dizer o nome da música, na introdução dela. ‘Are you gonna bem my girl’, de uma banda de nome estranho, que não consegui entender.


Agarrei meu bloquinho como se meu reino dependesse disso, e fui até a mesa um. Todas as mesas eram retangulares, e com sofás, ao invés de cadeiras, uma típica lanchonete americana. Havia uma mulher ali. Olhei de relance, ela era bonita, e parecia com alguém que conhecia. Olhei-a novamente, decentemente, dessa vez.

- O que desejas, senhorita? – Perguntei educado, olhando seus olhos. Verdes. Eu conhecia aqueles olhos. A mulher passou as mãos pelos cabelos castanhos trançados delicadamente até o meio das costas.


- Hades, faça-me um favor, e ligue para sua mulher. Hebe anda meio ocupada, e o serviço de entrega e mensagens de Hermes anda meio empacado. Está acontecendo muita coisa desde que deixou seu reino. E eu quero um capuccino. – A mulher de tailler azul marinho e scarpin de salto agulha preto disse bufando. Hera. Muito amável.

- Já trago, irmãzinha. Espere. Mais tarde mandarei uma mensagem de Íris. – Disse anotando o pedido e indo pra mesa dois. – O que deseja? – Um cara meio... forte e grande estava ali.
Mas não era nenhum tipo de alterofilista, era um obeso. Engoli em seco, iria render.


A moça que me dera o emprego passou por mim e disse:
- Cuide desse e daquela ali, eu me viro com o resto. Acredite, esse pede. – Ela suspirou e saiu praticamente correndo para a mesa três.

- Oi, eu quero... Uma porção de waffles, com calda de caramelo e chocolate duplos, um capuccino grande, um milk shake de abacate com mirtilos, uma vitamina grande de banana, um prato de panquecas com calda de morangos, ovos com bacon, uma porção de granola, e uma maçã. Estou de dieta. – Ele sorriu, franzindo as sobrancelhas, como se estivesse satisfeito por ter pedido a fruta.


- Volto logo. – Terminei de anotar tudo e fui para a cozinha. O cozinheiro trabalhava furiosamente.

Eram muitos papéizinhos. Sorri para ele meio amarelo, como se fosse possivel ele atender aquele cara em dez minutos.

- Se vira. – Ele respondeu ao meu olhar pidão.

Assenti. Teria que me virar.


Procurei a bacia mais próxima e vazia, jogando ovos, farinha e mais algumas coisas, que Deméter havia um dia me ensinado a fazer panquecas. E por sorte, dava para se fazer waffles com aquela mistura.

Coloquei um pouco da massa na forma de waffles, e um pouco na frigideira, para as panquecas. Enquanto assava, fui até o liquidificador e joguei o leite, as frutas e o restante. Iria fazer quatro ou cinco copos da mesma mistureba. Era tudo o que ele pedira para beber, e junto. O capuccino iria separado. Hera odiaria tomar aquela gororoba.


Servi os copos, e virei as panquecas na chapa, tirei os waffles da forma, e quebrei os ovos na chapa e coloquei o bacon pra fritar. Me virei para a máquina de café italiana. Eu tinha uma dessas na cozinha do meu reino. Sabia facilmente como se fazia café naquilo. Repidamente coloquei duas xícaras quentes no lugar certo e o capuccino estava pronto. Polvilhei um pouco de canela. O toque especial de minha Perséfone. Joguei tudo na bandeja e saí da cozinha. O cozinheiro que trazia no crachá algo como: ‘Bob’ me olhava assustado.


- Mas... como? – Ele me olhava terminando de fritar uns hambúrgueres.
- Prática. – Era mentira. Eu só sabia fazer café na cafeteira e macarrão. Mas sempre conseguia fazer o que queriam rapidamente.
Talvez tenha demorado cinco minutos preparando tudo.

Saí da cozinha e servi o gordão. Ele sorriu eufórico eu realmente era bom nisso. Ele logo começou a devorar tudo o que havia na mesa. Na bandeja, restava o capuccino de Hera. Fui na mesa ao lado levá-lo.

- Foi rápido. – Ela disse docemente.

- Obrigado. Hera, queria saber o que raios você quer me colocando naquele apartamento horroroso.


- Simples Hades, querido. Quero que transforme aquilo num lar.

- Eu te odeio irmãzinha. – Pensei em fulminá-la. Um trovão se fez audível ao céu.

- Xii, vai chover. – Uma velhinha caquética de cabelinhos brancos murmurou na mesa ao lado.

Não era chuva, era Zeus. Droga.

- Desculpe-me Hera. Tudo bem., tentarei. Mais alguma coisa?

- Apolo virá visitá-lo em breve. E mande uma bendita mensagem de Íris a tua mulher! – Ela esbravejou.


- Sim. Mandarei. Obrigada.

Ela levantou a xícara e levou-a aos lábios, suspirando. Saboreando, degustando, gostando. E mais alguns adjetivos bons.

- Isso está... divino. Hades, tomarei meu café da manhã aqui, enquanto você estiver trabalhando nesse lugar.  – Ela sorriu, tomando o restante da xícara fumegante.


- Obrigado. Deméter me ensinou tudo. – Tinha orgulho de minha sogra. Ela era uma gata.

Suspirei, pensando nos cabelos cor de trigo e nos olhos calmos, como se tivesse toda a paciencia do mundo para esperar um carvalho brotar. Essa era minha doce irmã e sogra Deméter. Logo, os cabelos escuros e brilhantes, e os olhos violeta de Perséfone se fizeram presentes em minha mente. Mandaria a mensagem de Íris.


- Bem, estou indo. Boa sorte. – Hera estalou os dedos, e sumiu em meio ao clarão prata-esverdeado. Uma bonita cor para se pintar as paredes de uma casa.

Olhei para os lados, e já não havia tanta movimentação. Amber, o nome da loirinha de crachá, me olhava, satisfeita.

- Você realmente deu conta. – Ela disse sorrindo.

Agradeci a Hera mentalmente, ela manipulara a névoa e servira a todos rapidamente, como se fosse eu. Eu amava minha irmã. Minha chata e doce irmã.

- Por nada. – Ouvi o sussuro calmo, quente e aconchegante, que todo lar tinha. Um sussurro de paz. 




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Notas finais do capítulo

E então, mereço reviews? O capítulo foi grande! O surto literário também! Então, recompensa?POASOAOPSOPAOPSOAPSOPAObrigada mesmo a quem tem acompanhado a UdEN, eu fico extremamente feliz por isso. Sei que meu Hades é sem noção e tudo, mas gente, não é porque ele convive com gente morta e talz, que ele é ruim.Tudo tem seu lado bom.E obrigada a quem me deu parabéns! Fico feliz.Então, o que acharam do capítulo?