O Plano de Deus Para a Pirataria e as Estrelas escrita por EliTassi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eeeeeu escrevi pelo cel e n revisei, mas a Jess salvou vcs e revisou ontem. Daí eu tenho algém a qem culpar pelos erros kkkk
Eu queria tanto compartilhar desse casal com alguém e n consegui convencer nenhum migo a assistir ainda 3 e olha qe do to enchendo o saco afu.
Então aguardo vcs, seus cheirosos, lá embaixo ~



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 Livros contam muitas histórias pouco precisas e sem nenhum fundamento com a história como realmente aconteceu. 

 Por exemplo, é verídico e extremamente preciso dizer que 78,92436287% dos garotos do mundo inteiro, nascidos a partir do século XIX, já sonharam em ser piratas e brincaram com qualquer coisa que pudessem fazer como espada, desde vassouras da mãe até perna de móveis, e um trapo usurpado das mães como tapa olho (às vezes substituído pelo simples, porém eficaz, ato de fechar um olho – só para aqueles mais habilidosos). Seus vocabulários são elaborados com uma quantidade massiva de “aaaargh”’s, “marujo” e “para a prancha!”. 

 Como forma de desencorajar as crianças de seguirem pelo caminho da pirataria e do roubo o professor inglês Augustus Anderson (quem morreu dois anos após sua ideia, afogado em vinho que roubou do mercado de seu vilarejo exatamente quando este chegava de navio pelo cais) teve a grande ideia de retratar a pirataria com mais imprecisão do que qualquer um poderia ter pensado, nos futuros livros de história a serem utilizados pelas escolas, pondo os piratas como homens feios e essencialmente maus, que roubavam e derrubavam outros navios pela simples diversão barata, vivendo vidas devassas e mortos precocemente por traição de seus irmãos. 

 Um retrato mais ou menos preciso. No entanto, uma descrição mais semelhante a um demônio, não um demônio qualquer, mas um de olhos amarelos e maçãs do rosto proeminentes, teria sido 97,857937284% mais justo. 

 A tentativa do professor Augustus Anderson não funcionou no quesito de desencorajar as crianças pela profissão da pirataria, de qualquer forma. Mas esta não é a história que contaremos aqui. 

 A história que contaremos aqui é a real do século XVIII. Um século que tinha tudo para ser maravilhoso para ambos os lados da eternidade: intrigas, beleza, traições, banquetes, extremos de riqueza e poder com pobreza e revolta... No entanto, Crowley e Aziraphale concordavam em jamais, jamais tocar no assunto, e era mais do que a amizade deles que estava em jogo. Valia uma passagem só de ida para o outro lado; valia uma guerra. Era a maior traição que qualquer um dos dois poderia cometer acabar tocando no assunto. 

 Só que, claro, jamais puseram tal acordo em palavras. Ou sequer escreveram. Eles só sabiam, nos âmagos de seus seres celestiais. Assim como uma criança de 7 anos sabe que não pode sair sozinho, mesmo se os pais jamais tiverem dito. 

 Tudo começou em um dia límpido e ensolarado. Seria um belo dia para se estar pelas ruas fazendo qualquer coisa, menos no cais, onde os navios atracavam aos montes, agradecidos pelos últimos dias no mar de perfeita harmonia com a viagem a caminho da Inglaterra. O vento estava a favor e o mar parecia saber o caminho de todos os navegantes que acabassem cruzando o caminho de um certo navio específico. Como se... Inexplicável. O capitão do U.S. Catherine chegara a agradecer a Deus por aquele milagre. 

 Um minuto e dezessete segundos após o U.S. Catherine fora atacado por piratas. 

 Mas, de volta ao belo dia outonal, seria ótimo estar nas ruas fazendo qualquer coisa, sério, qualquer coisa, menos pelo cais, principalmente se você fosse um anjo que apreciasse a beleza e o cheiro de comida. 

 Por ali desembarcavam marujos imundos, cheirando ao tempo confinado misturado com o de caixas e mais caixas de peixes sendo descarregados. Juntamente vinha o fétido odor de podre e tripas, conforme as mulheres dos pescadores auxiliavam e aproveitavam para arrancar entranhas e descartar os peixes podres. 

 Aziraphale sentira seu estômago revirar e por um momento chegara a pensar que nunca mais ia conseguir comer peixe. Isto, é claro, somente até conhecer o sushi (o que não demoraria muito) e esquecer completamente aquele cheiro impregnante. 

 Queria estar bem longe, banqueteando-se e jogando cartas com alguns de seus amigos aristocratas, no entanto, tinha um trabalho a fazer. O próprio Gabriel lhe pedira, então sabia que era algo dos grandes. Precisava impedir um navio pirata que atracaria no porto a qualquer instante, carregando consigo algo muito ruim, fora o que Gabriel dissera. Não fazia ideia do que era. Duvidava que até mesmo Gabriel soubesse, mas lhe parecera algo sério. 

 Analisara todos os navios, um por um, procurando pelo que parecesse ser suspeito. Aos olhos do anjo tudo parecia um tanto quanto próximo da pirataria, com sujeira e comportamentos muito suspeitos e muito desconfiados por parte dos marujos. Aziraphale tentara cumprimentar um ou outro, mas sentia que eles o encaravam como se fosse um peixe que precisasse das tripas removidas. 

 O anjo permitira-se respirar aliviado quando seu olhar recaíra em um navio que, ao seu ver, era o mais pirata dali. Tinha velas negras, com desenhos de cobras ameaçadoras. Sua madeira era um ébano escuro, dando um ar sombrio a embarcação. Na lateral leia-se o nome “Demon”. Só podia ser aquele, Aziraphale tinha certeza. 

 Se tivesse pensado com um pouco mais de calma, talvez tivesse notado o que todos aqueles sinais só poderiam significar uma pessoa. 

 - Com licença – pedira ao marujo que acabara de descer do navio. Um homem de pele escura e cicatrizes pelo rosto. – Com licença, senhor. Gostaria de ver seu comandante, por favor. 

 O homem erguera-se ereto. Tinha o dobro do tamanho do homenzinho inglês de roupas frescas cheias de babado. 

 - Seu comandante, senhor. Ou seu, Hm, líder. Eu gostaria de conhecê-lo. 

 Akin, o pirata, olhava para baixo, na direção daquele homenzinho engraçado e pequeno, se perguntando se ele teria batido com a cabeça ou algo assim. 

 - Por que parou, Akin? – um segundo homem gritara de dentro do navio, inclinando o corpo e olhando diretamente para Aziraphale. – O que é isso? 

 - Um homenzinho. 

 O segundo pirata estava confuso, como Akin, só que mais enojado que este. 

 - O que ele quer? 

 - Com licença! – chamara Aziraphale. – Eu gostaria de saber quem é o chefe! Preciso falar com o seu líder. É importante. 

 - O que os maricas estão conversando ao invés de trabalhar? – um terceiro marinheiro surgira, olhando com graça para o homem vestido com roupas claras. 

 Em uma questão de segundos, um grupo de piratas enormes e definitivamente perigosos – grandes, fortes e com cicatrizes proeminentes - reuniam-se ao redor do homenzinho que tentava de forma aflita e muito educada explicar que precisava falar com o comandante. 

 Os piratas assistiam como se fosse um animal exótico em um circo. 

 - Ele é engraçado – disse um dos marujos e o grupo todo assentiu em concordância. 

 - Vamos levar – Akin sugeriu. 

 - O quê? Não era bem isso que eu estava dizendo. Acho que não me fiz entender muito bem. Veja, é muito importante que eu- 

 Akin erguera Aziraphale no ar, jogando-o sobre os ombros como se fosse um saco. 

 - Senhor? Isso não é muito gentil da sua parte. Devo insistir que, por favor, me ponha de volta no chão. Posso caminhar até seu líder. – Mas os apelos de Aziraphale eram ignorados, como se falasse outra língua. 

 

 Aziraphale não gostava nada daquilo. Preso no que parecia um depósito, cheio de caixas, sem janela e sem luz, ou pelo menos não sem um milagre. Pensara que poderia aproveitar a oportunidade para analisar as caixas e fazê-las sumir, mas suas mãos e pés amarradas dificultavam e muito as coisas. Estava considerando sumir com as cordas, mas pelos seus cálculos isso resultaria em cinco milagres em um dia. O mais sensato seria aguardar o prazo de vinte e quatro horas para, sabe, chamar menos a atenção. 

 Assim que a porta fora aberta, de forma abrupta, Aziraphale atrapalhara-se tentando apagar a luz e acabara caindo de lado, como um peixe fora d’água. 

 - Senhor, devo insistir que... 

 Akin ignorara o balbuciar do homenzinho e o pusera por sobre o ombro novamente, de cabeça para baixo, levando consigo escadas acima. 

 - Capitão! – Akin chamara para o homem acima do mastro. – Pegamos uma coisa na última parada! 

 O capitão encara, usando seu telescópio – o primeiro a ser inventado – para analisar o embrulho nos ombros de seu colega. Parecia uma pessoa, mas era difícil de dizer quando tudo o que conseguia ver parecia a parte inferior do corpo, de costas. 

 - O que é isso? 

 Akin jogara Aziraphale no chão, de qualquer jeito, obrigando o homem a sentar, afobado. 

 - Capitão?! – repetira, animado, olhando para cima. 

 - Ow! – o capitão exclamara com um sorriso. – Aziraphale, é você? 

 Capitão segurara na madeira e descera até o chão, com uma habilidade digna de um não humano. 

 Aziraphale sentira o coração saltar, animado, ao reconhecer o cabelo vermelho e o olho amarelo. 

 - Crowley! 

 O demônio pusera os pés no chão da embarcação. Vestia botas de couro de uma espécie rara de cobra vermelha, uma faca amarrada na cintura, juntamente com a arma. Vestia de preto, como ao longo de séculos fizera. As laterais da cabeça estavam raspadas, com o cabelo vermelho crescendo no meio, comprido o suficiente para que o demônio jogasse para um lado só e cobrisse um lado da cabeça. Uma franja igualmente comprida e uma parte de trás que ele puxava para frente. A orelha em destaque, esquerda, exibia uma variedade de argolas. Usava, ainda, um tapa-olho, deixando apenas o olho esquerdo amarelo de fora. 

 Aziraphale sentia um misto de euforia, confusão e irritação ao ver aquela figura familiar. 

 - Você... O que está fazendo por aqui? 

 - Eu sou o capitão. É você quem está no meu navio, anjo. 

 - Mas eu pensei que... 

 Crowley retirara a faca da cintura, cortando as cordas dos tornozelos e pulsos de Aziraphale, em seguida o ajudando a se levantar. 

 - Então você é o capitão? 

 - Exatamente. Foi mal os rapazes te pegarem assim, eu nem sabia de nada. Eles são meio brutos, sabe. 

 - Eu percebi, sim. Mas o que você está... O que faz por aqui? 

 De repente mais um grupo de marujos se reunira ao redor, assistindo como se fosse alguma peça de teatro. 

 - Ah, sabe como é...! Achei que as coisas estavam muito chatas por terra, muito do pessoal por lá já é nosso com esse negócio de execução, exploração e tal, daí tive a ideia original de dar uma sacudida nas coisas. Fui lá para os lados da África e reuni esse pessoal lá pela Zâmbia, Malawi, África do Sul... O Akin aqui, da Nigéria. – Ele estapeou o ombro do homem. - Esse pessoal de colônia e ex ou futura colônia inglesa que está revoltado com a Inglaterra. Eu acho que eles têm toda a razão e decidi dar uma mãozinha. 

 - Ah... 

 Aziraphale dera uma olhada no pessoal ao seu redor, todos enormes, o encarando como se fossem devorá-lo vivo. 

 - Não se preocupe, anjo. Eles têm essas caras de maus, mas são mó gente boa – Crowley, então, pusera um braço pelos ombros do anjo e virara-se para seus subordinados. – Não se preocupem, pessoal! Esse aqui é gente boa. Meu amigo. Não explorou e nunca escravizou ninguém, não. Tá tranquilo. 

 Aziraphale sorrira de forma tímida e sem graça, acenando com a mão. 

 - Oi... “Pessoal”. Não quero causar problemas, não. Vocês parecem supimpa. 

 Crowley, no entanto, sentia-se animado com aquela mudança repentina ao encontrar o amigo. 

 - Vem anjo, vou te mostrar o lugar. Mandei fazer esse navio especialmente para mim. Já que você vai ter que ficar com a gente pelos próximos dias... 

 - “Próximos dias”?! Não, eu não estou aqui para isso, Crowley. 

 - Ah, bobagem! Aproveita a viagem. 

 - Eu tenho uma missão a cumprir. 

 - O seu pessoal não vai ficar cuidando se você demora dois dias a mais, dois dias a menos para cumprir sua missão. Eles nem vão dar muita bola, aposto. 

 - Vão sim! – Aziraphale desvencilhara-se do braço do demônio. – Crowley, eu tenho que parar você. 

 Crowley encarara o anjo por longos segundos, em seguida estalando a língua. 

 - Eu estava me divertindo por aqui. Vamos fazer assim, uma última viagem e aí eu paro e nós dois enviamos nosso relatório com bons resultados. 

 - Não sei, não... Não. A resposta é não. Eu não sei o que você está tramando, sua... Sua cobra! 

 Crowley erguera as mãos, na defensiva. 

 - Ei! Eu estava só animando as coisas. 

 - Você tem que parar! 

 - Eu vou parar... – Crowley sorrira. – Mas não tem nenhum porto próximo, só daqui há dois dias de viagem. Então, nem se você quisesse poderia me parar antes. 

 Aziraphale praguejara na forma de sílabas aleatórias e sem sentido. 

 - Você... Fez de propósito! 

 - Olha só, anjo, eu nem sabia que você estava a bordo. Pessoal estava falando sobre um bicho ou coisa parecida, achei que tinham achado um unicórnio perdidão ou algo do tipo. 

 Mas Aziraphale ainda não parecia convencido. 

 - Vamos lá, não tem como você me parar e nem eu tenho como, nem se a gente quisesse. Vamos aproveitar esses dois dias de viagem. Eu tenho um carregamento de ótimo vinho a bordo e um cozinheiro que você vai adorar conhecer. 

 As feições do anjo suavizaram, a boca enchendo-se d’água na menção. 

 - Bom... Uma refeição caía bem, sim. Saiba que sua trupe não me ofereceu nada para comer – Aziraphale reclamara. 

 - Tripulação – Crowley corrigira. – É isso mesmo, aproveitar. Vamos, vou avisar o cara para preparar um jantar especial e vou te mostrar essa minha belezinha aqui. 

 Conforme os dois seres seguiam para dentro do navio a tripulação, ainda reunida onde outrora estiveram capitão e o prisioneiro, assistiam com a mesma curiosidade de alguém quem via uma peça ou um espetáculo pela primeira vez. Seus instintos diziam que deveriam bater uma mão contra a outra, como em uma dança, mas nenhum deles se atreveu a reproduzir o som. 

 

 - Eu disse que o cara era bom. 

 Aziraphale apenas balançara a cabeça, concordando. A boca ocupada saboreando um delicioso sushi. 

 Talvez você não saiba, mas não foram os japoneses que inventaram o sushi. Bom, pelo menos não só eles. Há uma tribo na África chamada Sawamamya de onde o cozinheiro Shakamak viera. A tribo ficava na beira de um rio e era comum o nível de água subir e os moradores acordarem, literalmente, com os peixes. Ao longo dos anos seus membros aprenderam a servir peixe de todas as formas: cozido, queimado, frito, cru, fatiado, ralado, picado, enrolado. A fórmula perfeita para a criação do sushi. 

 Veja como é curiosa a criação, ou surgimento, como você quiser chamar. Sawamamytas que jamais ouviram falar em asiáticos ou sushis, comendo um peixe cru com arroz da mesma forma e chamando de: cawaboa. Que significa peixe cru com arroz na língua deles. 

 - Eu não sabia que tinham comidas assim em navios piratas – Aziraphale ponderara. 

 - E não tem. Bem, no meu sim, mas não nos outros. A primeira vez que eu cheguei em uns caras para conhecer o negócio eles me deram queijo com verme para comer. 

 Aziraphale fizera uma careta para seu prato de peixe cru, que não tinha culpa alguma. 

 - Isso parece terrível. 

 - E é. 

 - Terrível como o tipo de coisa que serviriam... Lá embaixo. 

 - Ah, não, não. Os caras lá nem comem, você sabe, somos criaturas ocultas. Eles nem saberiam o que fazer com comida. 

 Aziraphale concordava enquanto colocava mais comida dentro da boca, porque imaginava que deveria ser parecido no céu. Eles não comiam, logo, não saberiam o que fazer com ela caso a fizessem. 

 - Mas aí eu disse “no meu Demon é que não vão comer um bagulho desses”, então quando passei lá pela África recrutando uma galera eu encontrei o Shakamak fritando uma espécie de bolo de arroz e rapaz...! Vou mandá-lo fazer para o almoço amanhã – Crowley contara com orgulho de seu cozinheiro, seu navio e sua tripulação. 

 Uma pena que fosse ter de abrir mão de tudo aquilo. 

 - Parece ótimo. 

 Aziraphale enfiara mais sushi na boca. Crowley apenas observava o anjo comer com entusiasmo, irritando-se consigo mesmo ao perceber que estava quase sorrindo. Era sorriso de orgulho, dizia para si mesmo. 

 Do outro lado do lugar estava um grupo de piratas, reunidos em seu lugar costumeiro, com suas atenções vidradas na criatura que comia de uma forma completamente unusual. Era como um passarinho, segurando uns palitos para segurar comida ao invés de usar o talher mais útil de todos: a mão. Mas comia diferente de um passarinho, cabia muito mais. Com todos aqueles babados e rendas mexendo para lá e para cá conforme ele mexia as mãos. 

 Era uma criatura curiosa. Parecia com os ingleses e também não parecia. O cabelo, o jeito... Ele era muito... Exótico. Sim, exótico era a palavra que os piratas procuravam. 

 Após a refeição a tripulação se retirara para o descanso, separando-se em rondas, enquanto Aziraphale e Crowley decidiam por dar uma volta e beber uma ou duas ou dez taças de vinho – sim, o capitão Crowley tinha taças de vinho a bordo de seu navio, mas somente para ocasiões especiais que milagrosamente se transformara em duas. 

 - Essa é uma das minhas partes favoritas – Crowley comentara. – Saca só! 

 O demônio empoleirara-se na borda, colocando os dedos na boca e assobiando. Em segundos um golfinho surgira, fazendo uma pirueta antes de mergulhar novamente. Segundos após golfinhos começaram a saltar por toda a água, fazendo movimentos no ar antes de retornar para a água. 

 - Wow...! – Aziraphale comentara, não batendo as mãos só porque elas estavam ocupadas com a bebida. 

 - Adoro esses mamíferos. São inteligentes os caras. 

 - Você ensinou isso a eles?! 

 Crowley concordara, orgulhoso. Havia uma dúzia de golfinhos que seguiam seu navio há semanas, podendo ter, ou não, algo haver com os fenômenos estranhos que acompanhavam o Demon, como a recente chuva de peixes. 

 - Isso é como... Magica! – Aziraphale exclamara com animação, olhos brilhando pela admiração. 

 - Ou... 

 - Ou? 

 - Nah, esquece – Crowley tropeçara nas palavras. 

 - Ou o que, Crowley? 

 O pirata balançara a mão, desfazendo-se da conversa conforme se afastava da proa, entornando a taça até ver seu fim. Trocara os pés por um momento, mas seguira seu caminho – que era para lugar nenhum. 

 Aziraphale olhava para cima. 

 - Uau...! Veja, querido! Veja só este céu! 

 Mais alguns passos e Aziraphale tropeçara em uma corda solta. Ia bater com o rosto no chão se o demônio não houvesse sido mais rápido. Houve o barulho dos estilhaços da taça e a garrafa indo de encontro com o piso do navio. 

 - Desculpe. 

 Aziraphale segurara nos braços do outro e, para ser sincero, não se lembrava de quando já tinha tocado no amigo antes... 

 Crowley também notara a mesma coisa. Lembrava de aperto de mão ou colidir de ombros, mas ce... Inferno, não de tê-lo nos braços! 

 Mas ambos concordavam que havia algo muito estranho ali. Como se as peles de seus corpos humanos gostassem daquilo. De encostar em outro corpo quente, mas também não achavam que serviria para outro corpo qualquer. 

 E se encaravam. 

 Um desejando que o outro desviasse o olhar. 

 E também desejando que não desviasse o olhar. 

 Aziraphale foi quem acabou sorrindo timidamente e mudando o olhar, jogando a cabeça para trás afim de enxergar mais do céu. 

 Crowley, sem jeito, retirara as mãos do amigo, sentindo que seria muito estranho continuar o segurando sem motivo algum. 

 Em um estalar de dedos a bagunça no chão havia sumido. 

 - É tão lindo! 

 O pescoço do anjo estava virado e conforme ele tentava dar alguns passos parecia tropeçar. Mais de uma vez Crowley pensara que ele acabaria caindo e preparara-se para o segurar novamente, mas o anjo tinha os próprios planos e acabara sentando na madeira. Em seguida deitando. As mãos cruzadas sobre o peito. Não o entendera, mesmo quando ele dera tapas na madeira ao lado. Crowley demorara mais um tempo até perceber que era um convite. E aceitara, mesmo sem ter motivos, porque também não tinha motivos para rejeitar. 

 - É tão lindo que eu poderia passar a noite toda só admirando... Você tem que ver! 

 - Estou vendo, anjo. 

 - Mas sem esse... Esse treco no seu olho. 

 Crowley resmungara em resposta e retirara o tapa-olho, só para satisfazer o anjo. Era verdade que aquilo era lindo, achava o mesmo, mas não se permitirá admitir. Afinal, aquele era o céu. E por mais lindo que fosse ele não o pertencia mais. 

 - Você não sente falta? – Aziraphale acertara a pergunta exatamente no ponto, como se estivesse lendo os pensamentos do demônio. – Do céu, eu digo. 

 - Eu? Pff... Claro que não. Aquele lugar era um tédio. Não tinha música por lá. 

 - Agora tem. 

 - Mas nenhum músico decente, eu garanto. Eles estão com a gente lá embaixo. Tipo... Tipo Betf... Bertw... Ah, você sabe. 

 Aziraphale fizera silêncio, envergonhado o demônio. 

 - Sim, mas... — Aziraphale não completara a frase porque nem ele próprio sabia o que argumentar a favor do céu. — Então você gosta mais de... Lá embaixo? 

 Crowley incomodara-se com a pergunta, remexendo o corpo em desconforto. 

 - Ah... Então, sabe como é... É legal, legal... Mas eu prefiro ficar por aqui mesmo. Os humanos são muito mais criativos. 

 Pelo menos nisso Aziraphale concordava, balançando a cabeça em sinal afirmativo com uma seriedade implacável. 

 - E como é... Lá? – Aziraphale arriscara a pergunta. 

 - Está pensando em dar uma tropeçadinha e trocar, anjo? 

 - Não! Nunca! Nem pensar!  O anjo incomodara-se.  Eu só queria saber. 

 - Por quê? 

 - Por quê? Porquê... – Aziraphale não sabia o que dizer, repetindo as palavras para conseguir tempo de vasculhar sua mente embriagada. – Porque... O céu! É tão lindo, tão... Lindo. Não entendo porquê alguém ia querer cair. 

 - Nós não temos escolha – Crowley resmungara baixinho, como se reclamasse consigo mesmo, mas os ouvidos de Aziraphale estavam próximos o suficiente para que o anjo conseguisse ouvir. – Bem, lá é legal. Você sabe, escuridão, sofrimento eterno, esse tipo de coisa. Não é bonito, se você quer saber. Não acho que um anjo como você gostaria de lá. 

 Aziraphale concordara com uma grande seriedade. 

 Mas Crowley não estava sendo muito sincero. A verdade era que ele sentia falta do céu... Talvez não do céu, em si, e talvez não por muito tempo. Não queria passar a eternidade lá, os humanos eram muito mais interessantes, mas talvez uma rápida visita, só para apreciar a vista e rever uns conhecidos. Quando pensava no céu, em si, Crowley não sentia falta. Mas quando olhava para aquele belíssimo céu noturno salpicado com milhares de estrelas, ou quando olhava para Aziraphale e pensava que ele era como o céu, então sentia alguma coisa dentro de si ficar triste e sentir falta de algo. 

 Até porque quando o fim do mundo chegasse, e Crowley esperava que ainda demorasse muito, mas quando chegasse nunca mais poderia ver Aziraphale. Ou o céu. Ou viver com os humanos. Seria inferno eternamente. 

 - Para ser honesto – Crowley recomeçara, quebrando o silêncio entre eles. – Eu nem lembro muito como era o céu. 

 - Você não lembra?! – Aziraphale repetira em choque, virando a cabeça para o lado do demônio... 

 E percebendo que estavam muito mais próximos do que havia calculado. 

 Mas não podia desviar tão rápido. 

 Seres como eles não tinham problemas de memória. Podiam armazenar toda sua história como se fosse uma enorme e constante expansão, livraria. Era o que o anjo gostava de pensar. Crowley comparava mais com coletâneas de música. 

 - Bem, lembro de ver, mas não a sensação de estar lá – Crowley tentara explicar, então virando para o anjo. 

 De repente o coração do demônio estava batendo e ele não fazia ideia como controlar. 

 - Não? É alto como... Calma. E paz. Muita paz. E amor. 

 - Amor? – Crowley repetira com estranhamento. 

 - Sim. Como... 

 Aziraphale lambera os lábios e imediatamente os olhos amarelos foram parar ali. 

 - Bem, amor. Eu não tenho como explicar para alguém como você. – Aziraphale rira timidamente e usara daquela oportunidade para desviar o olhar, mesmo sentindo que os amarelos ainda estavam o cuidando. 

 - Eu acho que céu... É como você. 

 O anjo sentira o ar lhe faltar. O coração enfraquecendo seu corpo. 

 - Eu?! – repetira com surpresa e choque. – Por quê? 

 - Bom, você é um anjo, o mais próximo do céu que eu conheço. 

 - Sim, mas... 

 Sem querer Aziraphale acabara olhando na direção de Crowley novamente, virando a cabeça. E não tinha como voltar atrás. 

 Tinha algo mais... Intenso nos olhos amarelos, cujo qual Aziraphale podia jurar não estar ali antes. 

 - Você não sente isso comigo, sente? – o anjo tentara contornar, mas Crowley confirmara com a cabeça. – Sente calma...?  Outro aceno. – Paz? – Mais um. – E... 

 O esboço de um sorriso surgira nos lábios de Crowley, mas não era nem de longe maldoso ou de segundas intenções. 

 Oh Deus, Oh Senhor, Jesus, Oh Grande Senhor Meu Deus, o anjo pensava consigo, sentido que seu corpo estava derretendo por dentro. 

 - E amor – Crowley completara. Ele também estava nervoso, mas de outra forma. Mais aliviado por ser completamente sincero com outra pessoa ou ser pela primeira vez na sua existência, e feliz por este ser Aziraphale. Seu coração estava batendo como nunca. Seu corpo parecia ter entrado em outro estado com o qual não estava acostumado, mas Crowley gostava muito daquilo. – Você está sentindo... Isso? 

 Isso? Isso o quê? Você está louco. Não estou sentindo nada. Está tudo muito bem, perfeitamente bem, não sei do que você está falando, era o que Aziraphale respondera mentalmente. 

 Ao passo em que sua boca pronunciara um trêmulo e inseguro: 

 - Eu... – E sua língua, traidora e embriagada pelo vinho, enrolara um: - Sim... 

 Um calafrio percorrera o corpo inteiro de Crowley perante aquela confirmação. Ele não tinha ideia do que fazer com aquilo, sabia que nenhum outro ser, anjo ou demônio, chegara próximo daquilo... Mas humanos sim. E seu corpo, o mais próximo do humano que tinha, sabia bem o que queria. Chegar mais perto, só alguns pequenos centímetros, o suficiente para encostar seus lábios nos do anjo. 

 E por Ceu- Inf- pelos humanos! Aquilo, sim, era inefável. Os lábios mornos do anjo no meio da noite fria, seu leve respirar cálido sendo interrompido, os arrepios de seu corpo... 

 Instintivamente a mão de Aziraphale movera-se para o rosto de Crowley, no intuito de retirar uma mecha de cabelo ruivo que estava no caminho. Arrependera-se quando se dera conta do que fizera, mas então sua mão já estava no rosto dele, e seu polegar esfregando de leve a maçã do rosto, e não ia sair dali em breve. 

 Crowley espelhara as ações, sentindo o céu na ponta de seus dedos. 

 Aziraphale sentia todo aquele colapso de seu corpo fazer sentido. Como se ele estivesse o tempo todo o avisando de que queria aquilo, era o que deveria fazer. Já tinha lido romances, mas nada se comparava a sentir. Até porque, não achava que um dia realmente seria capaz de sentir algo... Algum... 

 Desejo. Amor. 

 Não sabia bem o que fazer com aquilo. Estava prestes a se afastar, já recuando um centímetro, mas uma nova onda de emoções o arrebatara por dentro quando sentira o que Crowley fizera... 

 O anjo caído não sabia o que fazer, mas sabia o que queria. Mais do anjo. Tinha os lábios e o toque da mão, mas queria mais – e adorava usar a língua. Escorregara sua língua bifurcada até os lábios do anjo, lambendo e sentindo um pouco do vinho. Sentira Aziraphale tremer ao seu toque, mas não se afastar. Empurrara sua língua contra os lábios dele, os afastando, e o anjo abrira a boca para lhe dar passagem. 

 Tinha gosto de vinho, claro. E isto dava um sabor especial para ambos. Mas, também tinha gosto do céu. E da terra. De humanidade. Do divino. 

 E Aziraphale, nem por um segundo, sentira que Crowley era errado ou sequer lembrara que ele tinha caído. Porque também tinha todos aqueles gostos, como divino, e céu, mas um outro tipo de céu. Uma versão melhorada – e o anjo nem sabia que era possível. 

 Quando se separaram fora por apenas alguns centímetros. Abriram os olhos para se encarar, ambos surpresos e um tanto quanto assustado que aquele tipo de sensação fosse possível. 

 Aziraphale levara uma mão para os próprios lábios inchados. Seus olhos ainda grudados nos amarelos de pupilas finas dilatadas. 

 O seu assustado estava tomando a proporção do medo. 

 Ah...! O medo do desconhecido que os humanos conheciam tão bem, mas os anjos jamais precisaram ou sentiram. 

 - Isso... Não deveria ter acontecido. 

 Aziraphale começara os esforços para se levantar. 

 - Ei! Anjo, espera! – Crowley tentara o impedir, sentando-se. Chegara a segurar sua mão, mas no mesmo segundo o outro a puxara de volta. – Aziraphale! 

 Mas o anjo já estava correndo, tropeçando e quase caindo no chão a caminho das escadas. 

 Aziraphale tinha lágrimas nos olhos. O peito cheio de um sentimento que ele não conhecia. Era arrependimento e não era. Era culpa, principalmente por ter gostado tanto. Medo e receio o transbordando. 

 Crowley suspirara, sentado no chão e abaixando a cabeça por um instante. O céu lhe parecia cinza, monótono e sem-graça comparado com Aziraphale. O anjo deveria ser o céu, pelo menos pela definição que os humanos tinham. A maçã de Eva não era nada se comparado com a tentação que o anjo era. 

 Mas Crowley também sabia que na mínima menção daquilo Aziraphale teria a mesma reação daquele momento: sairia correndo para longe de si, como se cair fosse contagioso. 

 E ficar longe do anjo era pior do que estar por perto e nunca mais... Tocar. 

 E agora você sabe o porquê deles não falarem sobre o século XVIII. Mesmo sem nunca terem dito em palavras, eles sabiam que era território proibido. E que aquilo poderia condenar o outro ao que de pior houvesse: trocar de lado. Poderia afastá-los para sempre. 

 Mas, você também sabe que o plano de Deus para a pirataria e as estrelas é inefável. 


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Notas finais do capítulo

Então, cá estamos nós novamente ~
Se sapoha parecer um plagio mal feito do livro saibam que n foi a intenção. Tentei usar o msm estilo de escrita só pela diversão na escrita msm, pra dar uma variada, só qe, né, sabe como é, Gaiman e Pratchett >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Tassi.
(A diferença é maior, mas meu dedo cansou).
E no final, quando eu olhei pra fic e pensei: esse finzinho tá meio dramático, né...... (Era pra ser comédia como no livro) mas assim, não realmente, realmente dramatico, só uma escorregadinha.......
Okay, eu tô em negação. Fracassei msm. Mas a bad tá no meu âmago D=
Mas blz, n se preocupem cmg e com meu fracasso, eu vou tentar de nv na próx fic djdkdjdkeri
Vc ainda tá aqui, cara? Então obg por ler até essas notas. Me sinto menos solitária já ♥



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