E se.... escrita por Carol McGarrett


Capítulo 7
Leroy Jethro Gibbs


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, mas não menos doloroso.
O que Jethro tem a dizer para Jen pela última vez?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780949/chapter/7

E se eu não tivesse dito o que eu disse?

E seu tivesse te respondido com a verdade?

E se você não tivesse me deixado?

E se aquela carta não tivesse existido?

E se eu tivesse ido atrás de você?

E se você não tivesse dito “não para fora do trabalho”?

E seu eu tivesse insistido em um sim?

E se aqueles jantares fossem mais que jantares?

E se os copos de café compartilhados fossem mais do que copos de café compartilhados?

E se eu não tivesse te esquecido?

E se eu tivesse te contado a verdade desde o início?

E se você tivesse me contado a verdade desde o início?

E se você não tivesse buscado a sua vingança?

E se eu tivesse te parado quando tive tempo?

E se eu não fosse um bastardo e tivesse feito você ver mais claramente ao invés de te fazer ficar com raiva?

E se eu tivesse ficado naquela noite na sua casa?

E se você tivesse insistido mais?

E se você tivesse me chamado para te acompanhar até L.A.?

E se eu tivesse me prontificado para ir?

E se você tivesse me chamado?

E se você tivesse confiado em mim em 99 para limpar a sua barra?

E se eu tivesse do seu lado naquele restaurante?

E se você tivesse sobrevivido?

E se o Franks não tivesse matado a Svetlana?

E se eu tivesse tido a coragem de te ver pela última vez, Jen?

—---

Se... se... se... isso vai mudar alguma coisa? Mudará o passado? Mudará o presente? Não, não mudará.

Eu, mais uma vez estou na frente de um túmulo. E é você quem está no caixão dessa vez.

Ah, Jen.... onde foi que nós erramos? Sim, nós. Você e eu. Tínhamos tudo. Fomos tudo. E você se foi.

Se foi porque é uma tola. Uma egoísta e teimosa... deveria ter me ligado. Ter me contado a verdade.

Que inferno, Jen. Eu teria te acobertado. Sabe disso. Você fez isso por mim. Eu já tinha feito por você. Que mal faz pedir ajuda?

Mas não! Você, Jenny, tinha que bancar a heroína. Ser a salvadora. E salvar a quem?

A mim? Justo eu?

Até parece que você não sabe do meu passado.

O passado que eu não te contei, que você descobriu. E quando eu falei, sem pensar, você não saiu correndo, você ficou ali, e pareceu entender a minha dor.

Eu te chamei de Shannon. E você foi a única que não gritou, que não xingou, você apenas me corrigiu e tentou me ajudar.

Você, claramente, nunca seria Shannon. E nem Shannon seria você. Vocês duas são opostos.

E é por isso que você foi a única de quem realmente eu senti falta.

Ah, como eu senti a sua falta, Jen.

Para começar, eu não sei como você foi parar na minha vida. Até hoje me pego pensando nas palavras de McCallister.

É claro que eu não te conhecia. Se te conhecesse, bem... você seria um problema para mim de qualquer jeito.

Um ano. Um ano lado a lado e nós dois conseguimos bagunçar com tudo. Uma parceria perfeita. Logico, você ainda muito nova, mas aprendia rápido. Eu não precisava ensinar, você aprendia de ver.

Da parceria, surgiu a amizade. Sua língua ferina, que nunca gostou de levar desaforo para casa e eu muito menos. Passávamos o dia nos bicando, perturbando a paz do outro, para no anoitecer, dividirmos uma garrafa de Bourbon. Ainda me lembro da sua cara na primeira vez que você tomou um gole.... e quem diria que a ruivinha de Georgetown aguentaria a queimação sem tossir.

Então, veio Marselha. Um sótão quente. Sem ventilação, no meio do verão. Nossa desculpa do calor ser culpa da estação era somente isso, desculpa... e dali, cruzamos a linha que não deveríamos. Viramos amantes.

Teríamos futuro? Não sei. Mas continuamos. Parceiros durante o dia, amantes na noite. E nada, nem ninguém, poderia nos separar. Erro meu, somente nós dois poderíamos fazer isso.

Paris foi um sonho. Fingir ser casado daquela maneira era realmente brincar. Mas eu estava confortável com o tínhamos, do jeito que tínhamos.

Nunca entendi o que você buscava naquela noite. Nunca entendi se você só precisava me dizer o que sentia, ou se ali era você dando um passo a mais... Mas você disse, claramente, “Eu te amo, Jethro.”

Eu poderia ter ficado calado, você já era acostumada com essas reações, eu poderia ter somente te beijado, mas eu tive que falar “esse vai ser o dia”.

E ali eu soube, eu tinha te magoado de todas as formas possíveis. E, então, dias depois, você deixou a carta no bolso do casaco, dentro do avião.

Você me deixou, Jen. Pela primeira vez.

E foi tão fácil te odiar. Tão fácil te culpar. Mas não de te esquecer. E para provar para mim mesmo que isso nunca mais aconteceria, eu criei a regra 12. Sim, Jen, a regra 12 é em sua homenagem.

Assim, eu passei seis anos te culpando e segui a minha vida. Ou eu pensei que tinha feito isso. Vez ou outra eu olhava seu arquivo, só para ter certeza que você estava bem. E nestes dias eu invocava as palavras daquela maldita carta, só para poder te odiar ainda mais.

Então você apareceu.

Eu passei do seu lado naquela manhã. Bem do seu lado. E você não se mexeu. Eu deveria ter reconhecido o seu perfume. Mas acho que minha sede de vingança contra o Ari tinha nublado os meus sentidos.

Morrow se despediu e me (re)apresentou você.

Cabelos ruivos preso em um coque, roupa chique de diretora, mas os mesmos olhos verdes e sorriso.

Fiz um esforço tremendo para não voltar à Paris e à Marselha, mas foi em vão. Você tinha voltado com força total, mas faltava um único detalhe. E não demorou e você disse “Olá, Jethro”

Eu não poderia te odiar mais.

Eu sabia que ali recomeçaria as nossas brigas, nossas tentativas fracassadas de perturbar um ao outro.  

E nós fizemos tudo isso. Você se intrometeu em minhas investigações, e eu invadia a sua sala sem permissão. Você sentou em minha mesa, e tentou comandar a minha equipe. E eu fui lá e fiz o mesmo.

Você tentou esconder a sua caçada de mim, eu acabei por saber e, ao invés de tirar essa ideia insana da cabeça, te ajudei.

Jantares tarde da noite, só para que eu soubesse o que a minha parceira pensava sobre o caso. Eu levava a comida, você servia e falava.

Você roubava meu café. Mesmo não gostando do que eu tomava, e eu te pedia coisas impossíveis, que você saberia resolver.

Até que perdemos isso.

Não sei se foi você ou se foi eu, ou se fomos os dois.

Você ficou doente. Escondeu isso de mim. Eu tentei te fazer me contar, mas você mudou de assunto.

Tentaram te tirar do NCIS, te tirar de mim. Por fim, não conseguiram. Você foi esperta e soube interrogar a filha de Benoit muito bem, e eu corri atrás da única pessoa que poderia te livrar. E no fim, a Rainha estava de volta ao trono.

E, no dia em que Carson ficou na sua casa, eu tive um vislumbre do que nós poderíamos ter sido.

Ele tinha quase a idade que uma possível criança nossa teria se tivéssemos ficado juntos depois de Paris.

Você tentou me fazer ficar. Eu li em seus olhos que você precisava de mim ali. Mas meu orgulho não me deixou.

Aquela poderia ter sido a nossa despedida. Ou a nossa maneira de ter deixado tudo esclarecido. Mas não foi.

Dias depois você foi para L.A. Saiu viva do prédio, andando atrás de Tony e conversando com Ziva. Se despediu normalmente. Um mero aceno de cabeça e um “Adeus Jethro”.

Ah, se eu soubesse que aquela era a última vez que eu te via, que aquele era o nosso adeus.

Você não voltou. E eu nunca mais te vi. Não cheguei a tempo de te salvar. Mas soube de alguém que estava com você.

Franks me contou o que você fez e por quem você fez aquilo.

Ah, Jen! Então é assim que você prova que ainda me ama? Por que não de outro jeito?

Você morreu por mim.

Mas isso não é explicação para a morte da Diretora de uma Agência Federal. Não...

E o serviço nem estava completo.

Fui na sua casa... parecia que você ainda estava lá. Seu perfume no ar, seus óculos na sua mesa. Até mesmo a garrafa de Bourbon pronta... entre documentos oficiais e outras coisas, eu vi... outra vez.

“Querido Jethro,”

Meu coração se apertou, minha respiração acelerou. Ouvi essas palavras em minha mente com a sua voz.

Contudo, o restante da folha estava em branco.

O que você queria me falar dessa vez? O que viria dessa nova carta? Acho que nem você soube o que colocar ali, não é mesmo, Jen?

Por tantas vezes, você soube o que eu queria apenas olhando para mim, e eu da mesma forma, só olhava para você.

Mesmo depois que você se tornou Diretora, você sabia minhas palavras exatas, e xingava a você mesma. Me lembro de você, na autópsia, depois de ser sequestrada, xingado a si mesma, com as palavras que eu usaria.

Ou seja, chegamos a um ponto que bastava um olhar. E você fazia isso muito bem. Do alto da sacada do quarto andar, me olhava na sala do esquadrão. E para cada expressão sua, eu tinha o significado. E você me lia da mesma forma.

Eu te conhecia como ninguém, e você me conhecia como ninguém.

E, eu volto ao início, onde erramos? Por que não resolvemos as coisas?

Agora é tarde demais. Eu tentei me juntar a você. Por alguns segundos, vendo estas duas palavras, nesta folha em branco, eu quis me juntar a você para perguntar o que você tem a dizer, ou somente para olhar em seus olhos verdes e ler tudo ali.

Contudo Franks não deixou.

Seu maior erro está enterrado. E na sua casa em chamas, seu passado é encoberto. Seu pai, seu erro, sua infância, suas memórias, você, nós.

No final de tudo, não temos mais nada. Mas poderíamos ter tido tudo. Era só não sermos teimosos.

Então, Jen. Depois de vestir um terno para cada um dos meus casamentos. Para você eu visto um terno em um funeral.

Para a única, depois de Shannon que realmente me entendeu, que realmente me amou e eu amei de volta, eu estou aqui. Para a única que merecia que eu estivesse vestido assim, não em um cemitério, mas em um altar.

Seu nome e um título não resumem sua vida. Palavras em uma lápide não resumem quem você é.

Sim, é. Você nunca mais vai me deixar. Vai assombrar meus pensamentos à noite, vai estar em minhas lembranças cada vez que eu levantar um copo de Bourbon. E, cada vez que alguém mencionar Paris eu vou lembrar de você.

Até dois dias atrás eu poderia levantar a minha cabeça em direção à porta do MTAC e ter um vislumbre seu. Do seu cabelo vermelho, dos característicos saltos altos. Talvez, você estivesse bebendo o café que eu te levei, ou talvez, dependo do que estivesse acontecendo, você me saudaria com um mínimo sorriso. Depois de hoje eu não terei mais isso. E mais uma vez sentirei a sua falta.

Dessa vez, infelizmente, você não vai aparecer depois de seis anos dizendo “Olá, Jethro”. Nunca mais você me chamará de Jethro, ou Agente Gibbs. E eu nunca mais poderei entrar na sala da direção sem ser anunciado só para ver você ficando com raiva.

Olhando em volta eu vejo a reação de cada, alguns te conheciam bem, outros mais ou menos, outros quase nada. Mas tenho certeza que todos têm uma frase melhor para colocar nessa lápide do que somente o título que você carregava.

Quando a mim, eu mudaria tudo. Você não foi só Jennifer Shepard, Diretora do NCIS.

Você foi minha amiga, amante, diretora, consultora, a pessoa que me lia tão bem, foi a melhor agente que trabalhou comigo. Você foi tudo isso, mas vou resumir em uma única palavra.

Jen.

Não precisamos de mais nada quando nos entendíamos somente com o olhar.

Descanse em paz, Jen. Um dia nós dois nos encontramos em algum lugar e vamos, dividir um café enquanto conversamos sem falar.

Só quero que saiba, mesmo agora, que eu também te amo.

Aqui jaz Jen.

Vida Longa à Rainha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aqui eu termino . Com toda a certeza é a fic mais triste ou pelo menos mórbida que eu já escrevi.
Obrigada a quem leu. E me desculpem se fiz o seu humor ficar sombrio... não era a minha intenção.
Até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E se...." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.