The Sirens escrita por jduarte


Capítulo 4
The Offing


Notas iniciais do capítulo

Hello people!
Espero que gostem!
Bjs,
Ju!



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A sala de reuniões estava lotada. Todo o pessoal se espremia para caber nas cadeiras espalhadas pelo auditório pequeno, e Fiona conversava com um chefe de polícia. Meu coração pulou algumas batidas.

A situação era tão séria a ponto de precisarmos de um chefe de polícia em nossa reunião?

Fiona parecia um poço de preocupação. Seus cabelos loiros, que normalmente permaneciam presos em um coque firme no topo de sua cabeça, se espalhavam por seu rosto em um rabo de cavalo mal feito, e sua blusa estava amarrotada.

A chefe se virou para nos olharmos e então sussurrou algo em direção ao policial, que estava apoiado na parede atrás dele, com os braços cruzados em cima do peito fardado.

O policial era novo, tinha os cabelos escuros encobertos pelo boné, e uma barba rala no queixo. Seus olhos estavam baixos, encarando algo interessante no chão. Ele somente assentiu para qualquer coisa que Fiona estivesse lhe dizendo, e sorriu, mostrando os dentes retos e brancos.

— Sentem-se, por favor. Temos alguns assuntos importantes para discutirmos hoje. - Fiona disse, e arrumou alguns papéis enquanto se afastava do refletor.

Ela não precisou falar novamente, todos nós nos entreolhamos, preocupados e obedecemos a chefe.

— Acredito que já tenham ciência dos acontecimentos dos últimos dias. Sirens foram avistados perto de nossa baía, por pescadores, moradores e até mesmo turistas. - Fiona começou a dizer, e o refletor atrás dela ligou mostrando uma notícia de jornal.

Murmúrios por todo o auditório se fizeram presente, e eu brinquei com os dedos em meu colo, nervosa demais para conseguir me juntar à panelinha da fofoca que se expandia do meu lado.

— Por esse motivo, o Aquário de Miami se disponibilizou para estudar essas criaturas, e tentar analisar o nível de perigo que elas representam para a vida marinha e principalmente para a vida na superfície.

Quis rir.

Aquela criatura, o que quer que fosse, já veio do mar, e agora estávamos tentando medir a dimensão do perigo que elas poderiam causar em seu próprio habitat?

Parecia-me um tanto quando hipócrita, vindo de nós, seres humanos, acreditar que todas as criaturas marinhas seriam burras o suficiente como nós, para destruir o lugar onde moravam.

— Enquanto estamos nessa reunião, mandamos alguns barcos patrulharem as baías em procura dessas criaturas, e caso tenhamos sucesso, designarei uma equipe especial para estudar a espécie. - Fiona terminou, e baixou o papel que estava em sua mão.

Um dos funcionários levantou a mão, pronto para perguntar algo.

— Sim, Clark?

— Caso tenha sucesso em capturar a criatura, vamos estudar a anatomia inteira? – Clark perguntou e algo dentro de mim se remexeu inquietamente.

Fiona olhou de soslaio para o policial ao seu lado, e ele assentiu.

— Tudo em seu devido momento, Clark. Por enquanto, precisamos estudar a parte de fora antes de começarmos a dissecar o seu cérebro.

A voz de Fiona teve um tom zombeteiro, o que fez minha respiração falhar. Como eles podiam fazer piada sobre a vida de uma criatura como aquela? Cruzei meus braços em cima do peito e me reclinei na cadeira que estava sentada, enjoada daquela reunião.

— Estão todos liberados para seus turnos normais até segunda ordem. – Fiona resmungou e o policial assentiu, observando todos na sala.

Seus olhos esbarraram nos meus e eu respirei fundo. Ele era muito bonito, teria sido melhor ficar alheia àquela situação. Pelo menos eu ficaria alheia à sua beleza.

O homem sorriu de leve para mim e eu me levantei rapidamente, seguindo os outros funcionários, olhando para trás quando passei pela porta.

Ele ainda permanecia com os olhos focados em mim.

Coloquei meus pertences no armário, esperando que minha vontade de trabalhar se materializasse de uma das minhas jaquetas e dissesse: “Se mexe, mosca morta!”

Mas a realidade era outra.

Depois de ter passado a noite inteira tendo pesadelos horrendos sobre aquele dia, eu preferia voltar para cama e fingir que nada havia acontecido.

Não estava preparada para encontrar com meu pai tão cedo. Talvez eu fosse sortuda e ele simplesmente tivesse esquecido de vir trabalhar.

Segui para meu posto, começando minhas atividades, e quando já tinha todas as alimentações preparadas, alcancei o tanque dos leões-marinhos. Vixen, um dos mais antigos leões-marinhos em nosso aquário, fez um barulho engraçado ao me ver com sua comida nas mãos.

— Eu sei, amigo, demorei um pouco hoje. Desculpe. – disse, enquanto colocava a comida em seu comedouro, e lhe lançava um peixe fresco.

Ele me empurrou para longe enquanto tentava chegar na comida.

— Onde está Nima, amigão? Ela precisa comer também.

Nima era sua companheira, alguns bons anos mais nova do que Vixen. Resgatada de um dos navios cargueiros imigrantes, chegou em nosso aquário bastante debilitada.

Coloquei as mãos na cintura quando vi Nima saindo da água e cambaleando até mim. Ela encostou em meu corpo, quase me jogando no chão e eu ri.

— Okay, Nima, de nada pela comida. – resmunguei, enquanto saía do tanque deles e me direcionava ao meu próximo posto, pegando um balde grande cheio de peixes.

Passei pelo refeitório algumas horas depois, ouvindo murmúrios sobre nossa reunião pela manhã e encontro meu lugar reservado numa mesa com Jack, William – um dos voluntários da nova leva – e Pia, uma das meninas responsável pela preparação dos alimentos.

— Então, como é que sabemos se o gostosão está solteiro ou não? – Pia perguntou, enfiando um pedaço de pão puro na boca.

— Quem?

— O policial, mas é claro. – ela me olhou e levantou uma das sobrancelhas em minha direção.

— Não olhe para mim, não vou descobrir nada sobre ele. –deixei avisado. — Peça para Jack, ele é o mais cara-de-pau entre todos nós.

Jack me olhou com a boca aberta.

— Ei! – ele exclamou, fingindo choque. — Tá, eu descubro.

Revirei os olhos.

Jack era tão boca aberta e previsível, que era fácil imaginar todas as engrenagens de sua cabeça funcionando e formando um plano mirabolante para que ele conseguisse descobrir algo do policial.

— O que é que você quer saber? A cor da cueca dele? – Jack perguntou.

Eu engasguei em meu pão e corei até a raiz dos cabelos.

— Não, pode deixar que a cor da cueca dele eu descubro sozinha.

A frase de Pia foi o suficiente para deixar-me ainda mais encabulada. Ela sabia como eu reagia quando eles começavam a falar sobre aquelas coisas. A risada estrondosa de William foi o suficiente para que eles se calassem e se juntassem a nosso voluntário.

William limpou as pequenas lágrimas que se formaram do lado dos olhos e colocou a mão no peito, tomando fôlego.

— Desse jeito vocês vão acabar matando a nossa Virgem Maria, chega de palhaçada. – ele resmungou.

Jack me olhou de soslaio.

— Desde que terminou com Giuseppe, talvez Nessa tenha virado mesmo a nossa nova Virgem Maria.

— Cale a boca, Jackson. – resmunguei, mastigando um tomate cereja. — Eu nunca tive nada com Giuseppe.

— Nerissa, sabe que tenho razão. – ele retrucou, usando meu nome inteiro e eu fiz uma careta.

 Jack sabia muito bem que eu odiava meu nome inteiro.

— Me chamando pelo nome? Vou te jogar no tanque dos tubarões. – balbuciei, jogando uma batata frita em sua direção, que ele pegou habilmente com a boca. — O que vocês acham sobre os Sirens? - perguntei de supetão.

Pia cruzou os braços em cima do peito e reclinou-se na cadeira.

— Pra mim é tudo uma lenda. – ela resmungou, quase incoerente. — Minha mãe me contava histórias sobre os Sirens, e eu sempre achei que fosse a maior baboseira do mundo.

— Aparentemente não era uma baboseira. - William disse e se espreguiçou, bocejando entediado. — Pelo que andam comentando, essas coisas estão por aí há muito mais tempo do que imaginamos.

Um arrepio passou por meu corpo.

Pensar na possibilidade dos Sirens estarem vagando pelos Oceanos, tão perto de nossa cidade, era um tanto quando assustadora. O Oceano era um lugar tão familiar, mas ao mesmo tempo tão desconhecido e vasto. Era impossível não me sentir levemente ameaçada com a existência dos Sirens.

— Meu tio é um pescador, e disse que no ano passado a polícia encobriu tudo o que era relacionado à eles. - Pia confidenciou-nos com um sorriso no canto da boca. — Não é de hoje que eles estão por aí.

Engoli seco.

A pouca comida que eu havia comido, pareceu pesar como um pedra no fundo de meu estômago vazio. A mesa ficou silenciosa de repente, e meus amigos pareceram perder a cor por um instante.

— Nessa, seu pai não apareceu hoje, algum motivo especial? - a voz atrás de mim, fez com que eu arregalasse os olhos.

Atrás de mim estava a personificação do demônio. Sua barriga protuberante e barba rala, contrastavam perfeitamente com sua grande e brilhante careca, fazendo-o parecer um daqueles turistas que apareciam constantemente no aquário, suando em bicas, usando meias até a canela e chinelos de tiras.

Kaleb era nosso superior, tão importante quanto Fiona, e ele me odiava. E meu pai também.

Para ele, seria melhor que toda nossa linhagem fosse extinta da face da Terra.

E isso não era um exagero.

— Kaleb, - engoli seco e me virei para olhá-lo melhor, lhe lançando meu melhor sorriso afetado. — não tive notícias de meu pai desde a noite passada. Precisa dele para alguma coisa?

Ele cruzou os braços em cima do peito, e um dos botões da camisa apertada ameaçou soltar. Forcei-me a continuar olhando no fundo de seus olhos.

— Tinha um trabalho para ele. - ele disse. Sorri, satisfeita, esperando que ele se virasse e fosse embora. E então a expressão de Kaleb se transformou em algo que eu nunca tinha visto. — Mas já que está aqui, preciso que venha comigo.

— Mas é meu horário de almoço… - comecei a protestar, Pia me lançou um olhar silencioso que dizia tudo. E eu respirei fundo. — Claro, o que precisa de mim?

Kaleb pareceu satisfeito com minha mudança de resposta e caminhou a minha frente, sem nem ao menos me dar indicação do que iríamos fazer.

Paramos na frente do escritório de Fiona, que tinha as portas fechadas e o som alto de vozes se comunicando do lado de dentro, como se eles estivessem em uma conferência barulhenta.

Meu coração bateu a mil por hora.

Kaleb levantou os punhos fechados para bater na porta, e engoli seco. O que quer que ele estivesse tramando, certamente não era algo bom. Fiona escancarou a porta, e pude perceber que suas vestimentas estavam amassadas, o cabelo preso de qualquer jeito e olheiras embaixo dos olhos.

— Ah, Kaleb, já estava preocupada com sua ausência. - Fiona disse, e então cerrou os olhos. — O que é que a senhorita Wells está fazendo aqui? Pedi para que buscasse Gregorio.

— Sr. Gregorio não apareceu por aqui, ele foi destinado ao grupo de campo na semana passada, - a voz de Kaleb era clara, e ele gesticulava demais para meu gosto - e a única disponível para o trabalho era a senhoria Wells.

Fiona apertou a ponte do nariz e respirou fundo para se manter calma. Era um dos exercícios que ela tinha que fazer para controlar sua irritação, à mando de seu psicólogo.

Eu sabia dessa técnica, porque ela havia me ensinado a mesma há alguns meses.

— Ok, tanto faz. Nessa vai servir para o trabalho. - ela resmungou e me deu passagem.

Kaleb tentou nos seguir ainda com o sorriso maldoso em seus lábios, e uma nova voz se fez presente.

— Só pessoas autorizadas podem fazer parte da reunião.

Era o policial de antes, dessa vez sem o boné, mas com os braços firmemente cruzados em cima do peito, esperando algo. Ele me olhou por meio segundo, sendo capaz de me fazer corar de vergonha sem nem ao menos ter me olhado propriamente.

Dizer que Kaleb estava fumegando de raiva, era pouco. Ele estava transfigurado, tamanha sua irritação. E eu não podia ligar menos para isso.

Fiona fechou a porta atrás de si e então respirou fundo, parecendo tentar organizar os pensamentos bagunçados.

— Carter, o que sabemos até agora sobre esses animais? - a voz de Gilbert, no fundo da sala, curvado sobre o pequeno laptop em seu colo e óculos escorregando pelo nariz anguloso, se fez presente.

O policial se virou para ele e suspirou.

— Eles já estão na redondeza há alguns meses. Andam sempre em bando, são muito discretos em todos os aspectos… - os dois começaram a trocar informações e eu permaneci em silêncio.

— Querida, sinto muito por Kaleb ter te arrastado até aqui, - Fiona começou. — esse trabalho é da área do seu pai, por isso havíamos pedido que ele viesse…

— Eu posso fazer. - respondi sem nem ao menos pensar nas consequências.

Meu orgulho falou mais alto do que a razão. Eu imaginava que qualquer coisa que ele conseguisse fazer, eu também poderia.

Fiona se surpreendeu, e a conversa entre o policial Carter e Gilbert soou mais baixa do que antes. Talvez eles estivessem prestando atenção no que estávamos discutindo.

— Independente do que for, eu consigo fazer.

Fiona suspirou.

— Nessa, eu sei, não duvido da sua capacidade, mas realmente seu pai seria o mais capacitado…

— Fiona, - a interrompi, rezando internamente que aquela não fosse minha última conversa com ela antes de entregar minha carta de demissão, e sorri enquanto continuava a falar baixo, — nós duas sabemos que meu pai não é uma pessoa confiável em questão de trabalho, há algum tempo.

Ela deu um sorriso triste e segurou meus braços, olhando dentro de meus olhos como se eu fosse uma criança. Tive uma lembrança de quando eu era mais nova, e Fiona costumava a confidenciar seus segredos para mim exatamente naquela posição, e meu coração se apertou. Já havia passado muito tempo desde a última vez que ela me confidenciara algo.

— Eu sei. Desculpe. - ela disse e me abraçou de lado. — Mas o que vamos fazer é tão perigoso, Nessa. Não sei o que eu faria se algo acontecesse com você...

Revirei os olhos e a empurrei de leve, impedindo-a de terminar de falar.

— Nada vai acontecer comigo. - resmunguei por final. — Mas ainda não me disseram o que vou fazer.

As outras três pessoas da sala trocaram olhares que eu não consegui entender, e meu coração palpitou esquisito.

— Estamos mandando pessoas para alto mar, com a finalidade de estudar os Sirens, - Carter se apoiou na mesa, cruzando os braços em cima do peito novamente, olhando profundamente em meus olhos enquanto falava, deixando-me desconcertada – enquanto vocês ficam nos laboratórios esperando as amostras chegarem e nos entregarem as respostas para nossas perguntas.

— Ok, e eu vou para o laboratório, então? - tentei entender.

— Sim, mas principalmente, teria que ir abordo do navio algumas vezes por semana para fazer alguns relatórios. - Fiona terminou de explicar.

— Entendo. - minha voz saiu num sussurro. — E meu irmão? Certamente não posso deixá-lo sozinho.

— Você seria responsável quase totalmente pelo laboratório, Nessa. Temos alojamento lá dentro, seria ótimo se pudesse levar seu irmão para te auxiliar em tudo.

Minha cabeça girou um pouco.

Isso era como se fosse uma promoção, não? Ficar longe de meu pai era exatamente tudo o que eu mais queria no mundo, e talvez agora minhas preces tenham sido atendidas.

Me sentei na cadeira que Fiona posicionou atrás de mim, e desconfiei que minha cara estivesse esboçando o choque que eu me encontrava no momento.

— Você tem certeza de que consegue dar conta de tudo? - Fiona perguntou e algo dentro de mim se revirou.

Eu já havia escutado aquela pergunta uma vez, alguns anos atrás.

— Sim.

E fiz questão de responder do mesmo jeito, e com a mesma falsa certeza de tudo, e de nada ao mesmo tempo.

Meu sangue congelou nas veias por alguns segundos e eu tentei sorver o ar pesado que parecia fazer meus pulmões ficarem terrivelmente cansados.

— Estamos contando com você, Nerissa. - Carter disse, observando-me com cuidado.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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