“Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”.

— Aldous Huxley.

As vítimas de Hawk Moth, quase sempre não lembravam de nada depois de Ladybug capturar a borboleta negra, purificar o akuma e fazer tudo voltar ao normal. Ou se lembravam, eram apenas pequenos momentos, poucos segundos. O estado de choque, por conta das emoções fortes, era a principal razão disso.

E com Luka Couffaine não era diferente.

Eis que Marinette Dupain-Cheng pergunta a ele, antes que entrasse para tocar ao vivo com o Kitty Section, se o que ele tinha dito para ela, enquanto Silencer, era verdade. De cara ele se desculpou, imaginando que poderia ter dito algo ruim para ela e com certeza não seria verdade. Luka não diria nada ruim para a garota que ele ama.

Então ele disse o quanto Marinette era extraordinária, clara como uma nota musical, sincera como uma melodia e a canção que estava em sua cabeça, desde o dia em que se conheceram.

Mas a pergunta de Marinette tinha ficado perambulando em sua mente durante a semana seguinte inteira. O que ele tinha dito? Será que foram palavras maldosas?

— Você parece pensativo. Aconteceu alguma coisa? – Ivan perguntou, enquanto arrumava sua bateria para o ensaio da banda, que começaria em poucos minutos.

— Não, nada demais. – respondeu, afinando a guitarra. – Eu só... Você já foi akumatizado, não foi? – o mais alto suspirou e assentiu. – Você por acaso lembra de alguma coisa?

— Um pouco. Quero dizer, são memórias bem confusas. Eu lembro de quando a Ladybug fez a Mylene me beijar e caímos da Torre. Também lembro de comandar o exército de pedra. – disse forçando a memória – Acho que só isso. – deu de ombros – Por quê?

— Entendi. Juleka disse também que lembra de uma coisa ou outra. – mordeu o lábio inferior – É que eu não me lembro de nada, literalmente.

— Mas afinal, você quer lembrar? – Ivan questionou curioso.

— Talvez. É que a Marinette perguntou se o que eu disse pra ela enquanto estava akumatizado era verdade. E agora eu fico me perguntando o que eu devo ter dito. – Luka colocou a guitarra no suporte e sentou em uma das caixas – Espero que não tenha sido nada ruim. – Ivan foi até ele, colocando a mão em seu ombro.

— Não esquenta com isso, eu aposto que não foi nada ruim. Mesmo akumatizado, eu não machuquei a Mylene. E quando ela foi akumatizada, a única pessoa que ela não quis sequestrar fui eu. Ou seja, se você gosta da Marinette, não deve ter a machucado coisa do tipo. – Luka sorriu.

Ivan não era bobo, via o jeito que Luka olhava para Marinette – o mesmo jeito que ele olhava para Mylene. Sua surpresa era que quase ninguém tinha notado os sentimentos do garoto por Marinette.

— É, espero que não.

Depois da rápida conversa, Juleka e Rose chegaram e o ensaio finalmente começou. Marinette, que deveria estar presente, justificou sua falta de última hora. Alguma emergência com os ratos do seu avô.

Luka permaneceu pensativo enquanto tocava. Será que ela não tinha vindo por causa das coisas que ele supostamente disse? Ou realmente teve um compromisso? Sua irmã mais nova, que era amiga de Marinette, disse que a garota era assim mesmo. Sempre acontecia algo inesperado e ela sumia. Mas mesmo assim, o Couffaine não podia deixar de refletir sobre.

***

Naquela mesma noite, o garoto estava dedilhando algumas notas em sua guitarra, enquanto admirava a vista que o convés da sua casa/barco lhe proporcionava. Embora seu corpo estivesse lá, seus pensamentos voavam longe e paravam em Marinette. Todas as vezes.

Já tinha admitido a si mesmo que gostava dela, inclusive meio que se declarou depois de ser akumatizado. Talvez ela não tivesse entendido de fato o significado das palavras dele, mas ele gostou de ter dito.

Em seguida, pensou em todas as coisas que amava em Marinette. Seus cabelos, seus olhos, sua coragem, sua disposição, sua risada, sua voz... Sua voz. Assim que pensou sobre isso, a voz de Marinette invadiu os seus pensamentos e em seguida veio a primeira memória de quando tinha sido akumatizado.

— Não faça isso Luka! Isso é vingança, não justiça! E se você se aliar ao Hawk Moth, vai ter que enfrentar o Chat Noir e a Ladybug!

Ladybug.

Lembrou de ter roubado a voz dela.

— Escute Luka... Silencer. Você não sabe... O que está fazendo! Hawk Moth é do mal. Você acha que está usando os seus poderes para o bem, mas não está!

— Ela sabia o meu nome? – indagou retoricamente e deu de ombros. Talvez ela o conhecesse de vista, pela banda ou qualquer outro meio. No entanto, não podia deixar de pensar que o fato era um pouco curioso.

— Eu posso pegar a sua voz, Bob Roth e fazer você dizer qualquer coisa. Mas isso não é o que eu quero. Eu quero que você admita o que fez para a Marinette e os seus amigos com a sua própria voz.

— Nunca! Eu prefiro ficar em silêncio.

— Você acha que eu não posso fazer você ficar? Escute, eu posso arruinar a sua reputação do mesmo jeito que você tentou fazer com a Marinette.

— Marinette... – refletiu. A voz de Marinette parecia bem clara para si, inclusive no momento que falava com Bob Roth. Mas ele não tinha roubado a voz de Marinette, sabia disso.

Mas se Silencer não tinha roubado a voz de Marinette, como ele a tinha?

O pensamento fez até com que ele parasse de tocar a melodia calma na guitarra e concentrasse a sua energia em pensar no que tinha acontecido. A única garota de quem lembrava ter roubado era voz era... Ladybug.

Nesse momento foi que algumas coisas se ligaram.

Marinette possui cabelos e olhos azuis, Ladybug também. Marinette sempre tentava ajudar as pessoas, como uma verdadeira super-heroína. Marinette nunca foi akumatizada e sempre sumia na hora dos ataques, Ladybug estava presente em todas as lutas contra os akumas. Inclusive, Ladybug apareceu logo depois que Marinette sumiu quando a mãe de Luka foi akumatizada. Sem contar que durante o problema com os ratos do avô de Marinette mais cedo, curiosamente Ladybug estava impedindo um akumatizado de sumir com todos os veículos da cidade. Marinette era corajosa, Ladybug nem se fala. A voz das duas, era igual.

Luka deixou seu queixo cair ao notar aonde sua linha de raciocínio tinha o levado.

Tudo bem que as suas memórias poderiam estar confusas, mas isso não anulava o fato de Marinette e Ladybug terem muitas semelhanças.

E foi com esse pensamento na cabeça que ele decidiu ir dormir logo, embora ainda estivesse inquieto. Sentia que precisava ter uma conversa com Marinette e pretendia fazer isso amanhã.