Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

A criatura descrita é Dren, do filme Splice.



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— Que bom ver você, William! – a Rainha abre os braços e agarra o rapaz. Beija-lhe o rosto e sente a frieza da pele, recém-chegada da noite lá fora. – Está gelado! Venha tomar uma taça de vinho conosco!

— Eu trouxe pessoalmente os relatórios. Já era hora de eu aparecer para informar os resultados de meu trabalho. – suavemente, ele se desvencilha dos braços da mãe. – Onde está meu pai?

— Está conversando com os Conselheiros. – a Rainha sorri. – Onde você esteve nos últimos dias? Não o localizamos nas docas.

— Fui visitar alguém na Floresta Encantada e aproveitei para bisbilhotar a Rainha Regina Mills.

— Você tem relacionamentos com os habitantes da Floresta Encantada? Com a Rainha Regina?

— Nunca a vi de perto. Apenas a vi passar a cavalo ou em sua carruagem. – ele brinca com um anel de prata fosca em um de seus dedos. – Ela é linda demais!

Danna concorda com um movimento de cabeça.

— Sabemos como ela mantém aquele viço e toda aquela beleza. – a Rainha vai graciosa sentar-se ao lado do filho.

— Sabe? E como ela consegue?

— Regina Mills foi iniciada no mundo da magia por um Senhor das Trevas. O homem era uma camponês covarde que roubou o poder de outro Sombrio. Depois, ensinou truques horrendos para a jovem Rainha Regina.

— E como ela se mantém viçosa e bela?

— Não sabe? Você é um mago forte e não conhece tais fórmulas? – Danna sorri. – Ela come corações infantis. Os camponeses deixam de pagar seus impostos e ela lhes tira os filhos. Como não os quer para outros fins, usa o coração deles em rituais para manter-se jovem e forte.

Repugnante. William sente a boca encher-se de água e controla o desejo de vomitar em sua mãe.

— Regina Mills é perigosa e vingativa. Um dia, ela ousou colocar os olhos sobre seu pai, mas ele escolheu a mim. Por isso, ela nos puniu. Quero que fique afastado daquele monstro com rosto de boneca. Ou acabará sem seu coração, como seu pai.

Uma carranca de interesse se desenha no rosto do príncipe.

— Como é?

— Regina Mills puniu o nosso amor, roubando o coração de seu pai. Ela quis nos deixar eternamente tensos e inseguros, com o medo de que a qualquer momento seu pai pode ser reivindicado por ela. – Danna segura o pulso do filho, antes que ele se levante. – Não se aproxime daquela região. Caso Regina saiba que você é filho de Olavo, irá roubá-lo e fazê-lo consorte dela. Um zumbi sem coração.

Até que ponto poderia acreditar em sua mãe? Ela acusava Regina Mills de canibalismo, mas a prática lhe era comum. Seria interessante ouvir o outro lado da história.

Mas o roteiro da vida determina o que deve ser prioridade.

Era tarde daquela noite fria, quando William retorna para o palácio. Estava fora há semanas e seu contato com seus pais acontecia por intermédio de cartas trocadas. Tudo o que desejava era tomar um banho quente, alimentar-se e dormir por muitas horas. Conversar? Os assuntos não seriam esquecidos mesmo depois de algumas horas de sono.

Outra vez, ele se depara com aquele cenário nebuloso e perturbador. Tochas apagadas davam lugar às velas tímidas com suas chamas trêmulas e fracas.

Instintivamente tocando o anel fosco, William avoca as propriedades sobrenaturais e mais uma vez camufla sua condição de habilidoso. Outros habilidosos não o perceberiam e assim caminha decidido até a sala do trono, empunhando sua espada.

E é na sala do trono que recebe a surpresa que mudaria os próximos dias de sua vida: outra vez, os magos sussurravam ladainhas enfadonhas, enquanto o rei Olavo ouvia ajoelhado no centro do cômodo. Balançava-se em transe.

E sua mãe? De costas para a direção de onde estava William, a Rainha se mantinha em pé e protegida por uma imensa capa com proteção na cabeça.

Subitamente, a ladainha acaba e chamas das velas aumentam em seu tamanho, calor e luminosidade. É neste momento que a Rainha pronuncia algumas palavras e despe-se, exibindo aos olhos horrorizados do filho, sua forma inumana.

— Devo perguntar quem é você ou o que é você? – a voz furiosa e apavorada de William acaba com o transe do ritual. Todos olham em sua direção e ele se mostra por completo. – O que fez com minha mãe?

Ainda despida, a criatura delgada e careca, de olhos imensos e profundos encara o príncipe. Metade mulher e metade salamandra, com dois pares de joelhos em cada perna. Joelhos frontais e traseiros.

— Meu filho...

O rei Olavo cai de bruços e leva um tempo para se recuperar. Borae se apressa em esconder a nudez da criatura com traços bonitos da Rainha Danna.

— Não precisa me ferir com a espada, filho. Tudo há uma explicação.

De forma feroz, o príncipe embainha sua arma e em seguida faz com que o salão fique totalmente iluminado, apenas com o movimento de seus dedos. Aquilo provoca incômodo e temor nos demais adultos.

— Vou perguntar mais uma vez: quem ou o que é você?

— Ela é a forma real de sua mãe, Alteza!

Num movimento com a mão, William atira o mago contra a parede e o vê estabacar-se com violência contra a superfície dura. Não se levanta.

— Isso sou eu! – grita Danna. – Foi nisso que a Rainha Regina me transformou! E é para esconder essa aparência que preciso realizar esses rituais dolorosos e tristes!

— Cauda? Você tem mãos no lugar dos pés...que espécie de criatura é você?

Danna se ajoelha ao lado do rei ainda zonzo. O abraça com amor absurdo.

— Eu lhe disse que Regina desejou seu pai e nos puniu pela nossa união! Roubou o coração de seu pai e transformou-me em uma criatura que precisa ser canibal para manter viva a parte mulher! Acha que aprecio isso?

— Existem meios para quebrar essa maldição. – o rapaz rosna. Sente um misto de ódio e de pavor. Observa dois pequenos corações pulsantes sobre uma bandeja em ouro. – Os magos são poderosos para manter um coração vivo fora do corpo...por que não se aprimoraram para reverter isso? Significa que meu corpo será como o seu em um futuro?

— Não! – grita a Rainha, sentando-se no chão. – Fui agraciada quando gerei você. Foi em uma lua em que a metade mulher comandava o corpo! Você jamais será essa aberração!

Ainda se conseguir definir suas emoções, William olha para os magos num canto da sala. Juntos, encolhidos como ratinhos assustados, miseráveis em sua condição submissa.

— Então, há vinte e dois anos, tenho convivido com uma mulher que camufla um monstro em seu corpo? Ou um mostro que camufla uma mulher? Bebi do seu leite, sem saber que ingeria junto com você, os corações de centenas ou milhares de crianças? Será que algum dia, você também me alimentou com isso? – ele aponta para os corações.

— Não! – grita a Rainha espalmando a mão na direção do filho. – Eu o mantive imaculado dessa sujeira toda!

— Você me manteve imaculado dessa sujeira toda? – ele gargalha. – Obrigou-me a conviver com o sobrenatural, despertou em mim, a mais abjeta das habilidades e tem coragem de me dizer que fiquei imaculado dessa sujeira?


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