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CAPÍTULO 3

Cartão vermelho

Sakura saiu da escola sentindo-se estranha. Ela não sabia se estava com medo ou com ansiedade do que estava por vir. Mas de certo modo, se sentia aliviada por ter colocado tudo para fora. Ter dito aquelas palavras para o C4 em voz alta foi maravilhoso. Era como se um peso tivesse sido arrancado de cima dela.

Após ter pegado o metrô naquele dia chuvoso e tenso, Sakura encontrou Hinata, sua amiga de infância na estação do centro da cidade, como fazia todos os dias, antes de irem para o trabalho de meio período. Hinata a esperava com duas latinhas de refrigerante nas mãos.

Quando a viu, a morena de olhos perolados abriu um grande sorriso e correu até ela.

—Que bom humor é esse, Hinata? Parece até que você gosta de dia chuvoso. – Comentou Sakura aceitando o refrigerante.

—Você se esqueceu que hoje é dia de pagamento?

Sakura sacudiu a cabeça com um sorriso para a amiga que sempre tinha aquela energia contagiante e juntas caminharam para a saída da estação.

—Aconteceu alguma coisa? Você está estranha, Sakura-chan. – Disse Hinata abrindo seu guarda-chuva transparente, enquanto Sakura fazia o mesmo.

A chuva não estava tão forte, era apenas uma garoa densa. Por isso elas conseguiam caminhar devagar e conversar ao mesmo tempo. Sakura contou tudo o que aconteceu à amiga e Hinata ouviu tudo em silêncio e nenhum pouco surpresa pelas atitudes de Sakura.

—Eu estou arrependida. Eu não queria chamar atenção para mim. – Disse ela com um olhar triste.

—Mas isso é impossível para você, Sakura-chan. Você nunca foi o tipo de pessoa que fica quieta numa situação de injustiça. Que eu me lembre, foi assim que nos conhecemos. – Disse Hinata com um sorriso ao ser tomada pelas lembranças. – No jardim de infância, tinha um garoto puxando minhas trancinhas e querendo roubar o meu lanche, lembra-se? Foi você quem me defendeu dele. Você sempre tenta resolver um problema encarando-o de frente.

—Eu não tinha ideia de que isso estava tão na cara assim. – Disse Sakura fechando o guarda-chuva ao chegar na floricultura em que trabalhava.

—É um traço da sua personalidade. – Disse Hinata seguindo-a para dentro da loja. – De qualquer forma, esses garotos “C4” parecem bem maus.

Elas cumprimentaram a chefe, que estava montando um arranjo de peônias e seguiram para os fundos da loja para se trocarem.

—É... Principalmente o Uchiha. Aquele cara é um verdadeiro idiota. – Disse Sakura com uma careta ao se lembrar daquele garoto arrogante.  

—Como eles são? Aposto que são podres de ricos e por isso fazem o que querem.

—Quem ouve falar sobre eles pode achar que são grande coisa, mas na verdade são uns babacas.

—São todos iguais?

Sakura ia responder que sim, mas se lembrou do Gaara. Ela não se lembrava de vê-lo rindo ou se deliciando com a humilhação dos outros.

—Talvez tenha um que possa ser diferente. – Disse ela pensativa. – Ou não, estou ficando maluca!

Embora Sabaku Gaara não parecia se divertir, ele ainda estava no meio do grupo e nunca mexeu um dedo para impedir seus amigos de maltratar os outros. Ela não podia se deixar iludir por um rosto bonito.

—Não se preocupe, Sakura-chan. Tenho certeza de que você ficará bem. Você é mais forte do que pensa. – Disse Hinata tentando animar a amiga que voltou a ter uma expressão preocupada. – Vamos nos apressar ou a Mitori-sama não vai querer nos pagar hoje!

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No dia seguinte, Sakura apareceu na escola acompanhada de todos os olhares. Ela não era mais uma simples bolsista invisível. Todo mundo sabia quem ela era, sabia seu nome e a sua turma.

Isso já era esperado, mas ainda a incomodava.

 Era sexta-feira, um dia cinzento e frio. Ela ficou tentada a inventar uma desculpa para ter que faltar aula, mas desistiu dessa ideia assim que ouviu sua tia na cozinha preparando o café da manhã.

Onde estava aquele pensamento de que ela enfrentaria tudo por seus tios, inclusive os adolescentes mimados daquele colégio? Sakura lembrou a si mesma e levantou da cama rapidamente. Não tinha para onde fugir. Ela tinha apenas que ser forte. Ao menos tentar ser forte. Afinal, era sua culpa estar naquela situação. Ela poderia ter seguido o plano de continuar invisível, mas não, ela teve que enfrentar o C4 e ainda jogar molho shoyo nos tênis de Uchiha Sasuke!

A caminhada até seu armário foi bem tensa, porque ela era observada a cada passo que dava. Seus colegas cochichavam entre si e apontavam para ela.

Sakura tentou ignora-los o máximo que pôde. Retirou a mochila das costas e abriu o armário para pegar seus livros.

 E lá estava ele.

O cartão vermelho e brilhante com “C4” escrito em dourado colado na prateleira do meio.

—Haruno Sakura recebeu o cartão vermelho! – Alguém gritou às suas costas e a comoção foi geral. Sakura fechou os olhos por um breve momento, antes de arrancar o cartão e atira-lo no chão.

Ao se virar para ir para sua sala, viu Karin correr e desaparecer por trás dos outros alunos. Sakura não podia culpa-la. Afinal se ficassem juntas, ela também sofreria as consequências.

No final do corredor, Sakura avistou o C4 antes que pudesse seguir seu caminho. Sasuke olhava diretamente para ela com olhos estreitos e um sorriso malicioso.

—É assim que sua amizade barata acaba. – Disse ele.

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—Hoje mesmo aquela garota sairá da escola. Você quer apostar? – Perguntou Sai com um meio sorriso, antes de levar a xícara de café até a boca.

—É a primeira vez que uma garota recebe o cartão vermelho, não é? – Perguntou Naruto sentando-se ao lado de Sai com um prato de rosquinhas nas mãos.

O Uchiha apenas encarou os amigos com uma expressão séria e vitoriosa do outro lado da sala de descanso particular que eles tinham na escola. Gaara, que estava sentado à mesa com um livro na mão, ao lado do sofá em que o Sasuke estava, levou seus olhos até ele em silêncio. Embora não concordasse com o que o amigo havia feito, ele não expressou sua opinião. Não gostava do que acontecia naquele colégio por causa de um maldito cartão vermelho, que era a declaração de guerra do C4. Ele não tinha paciência para isso, na verdade. Era tão irritante e não levava a nada. Seus amigos pareciam se divertir com isso, mas ele nunca achou diversão ao assistir os outros alunos machucando uns aos outros.

Gaara não gostava, mas também não dizia ou fazia nada para acabar com isso. Mesmo que tentasse não conseguiria, afinal o líder daquele lugar não era ele.

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Sakura foi para a sala de aula após receber o cartão vermelho, ainda sendo perseguida pelos olhares de seus colegas. Ela não sabia o que iria acontecer a seguir, por isso sentia um friozinho na barriga.

Ao chegar na sala de aula, sua mesa não estava na terceira fileira ao lado de Karin, havia apenas um espaço vazio. Ela ficou parada no meio da sala, olhando à sua volta, ouvindo risadinhas e cochichos, até o professor nota-la.

—Qual é o problema, Srta. Haruno? Sente-se! – Disse o professor irritado.

—Minha carteira não está aqui. – Respondeu ela e a turma inteira começou a rir.

Ao invés de ajuda-la, o professor ajeitou os óculos no rosto e a mandou ir até a secretaria solicitar um requerimento para conseguir outra carteira. Dá para acreditar?! Perguntou-se Sakura perplexa. O professor deveria ter conhecimento do que estava acontecendo e não ligava a mínima.

Sakura apertou os punhos e jurou a si mesma que não iria chorar. Não ali na frente daquelas pessoas. Ela saiu da sala rapidamente, com os punhos apertados e a expressão dura. Estava descendo as escadas para ir até a secretaria, quando alguma coisa atingiu sua cabeça.

Ela olhou assustada para cima e encontrou um grupinho de três meninas e um menino rindo no parapeito do segundo andar. Tinham acertado a cabeça dela com um ovo cru. Sakura encarou cada um deles com os olhos estreitos e subiu as escadas novamente, passando pelo grupo que ainda gargalhava da situação.

Sakura correu para o último andar, em direção às escadas de incêndio, seu novo refúgio. Sem poder evitar, bateu a porta da saída de incêndio e correu até o parapeito.  

—Bando de idiotas!! Tomara que todos vocês vão para o inferno! – Gritou ela segurando as lágrimas que queimavam seus olhos.

—Pode parar com isso?

Sakura se virou assustada ao se deparar com Sabaku Gaara sentado nos degraus atrás dela que levavam para o terraço. Ela ficou paralisada, encarando-o com olhos arregalados.

—Pode procurar outro lugar para gritar? Estou tentando ler.  – Disse o ruivo segurando um livro.

Sakura o encarou sem conseguir dizer nada, então Gaara se levantou percorrendo seus olhos por ela.

—O que é isso no seu cabelo? Ovo cru? Está fazendo aqueles tratamentos malucos para o cabelo? – Perguntou ele arqueando uma sobrancelha.

—Você é idiota? Um garoto jogou um ovo cru em mim graças a vocês, malditos C4! Está feliz agora? – Disse Sakura sem poder sem conter. Já não bastava toda aquela humilhação, ainda tinha que aguentar um membro do C4 se divertindo às custas dela?

Gaara abriu um meio sorriso e balançou a cabeça.

—Você é engraçada. – Disse ele aproximando-se dela com um passo.

Sakura levantou a cabeça para olhar em seu rosto e sentiu vontade de pega-lo pelo casaco e atira-lo lá embaixo, quando percebeu que o sorriso dele não parecia com o sorriso de alguém que estava caçoando de outra pessoa. Gaara ainda olhava para ela com um leve sorriso. Aquele olhar enigmático que ela não podia desvendar.

Por que ele parece tão diferente dos outros? Questionou-se Sakura em pensamento. Ele deveria estar me ameaçando ou qualquer outra coisa, ao invés disso está me encarando com esses olhos tão... esses olhos tão... bonitos. Nunca tinha reparado em como os olhos dele são profundos...

Gaara desviou o olhar e o leve sorriso de antes de desapareceu.

—Você pode parar de vir aqui se “desestressar”? É difícil encontrar um lugar sossegado nesse colégio. – Disse ele voltando para o degrau que estava sentado antes.

Sakura sacudiu a cabeça e se amaldiçoou por seus pensamentos. A cena deveria ser ridícula. Ela de frente para um membro do C4 com os cabelos fendendo a ovo cru, admirando a beleza dos olhos dele. Harg!

—Você me ouviu da outra vez? – Perguntou Sakura surpresa. Pensava que ninguém ia naquele lugar.

—Sinto muito, mas esse local em especial é meu. Eu gosto daqui, não quero que você me atrapalhe.  – Disse Gaara reabrindo o livro e voltando sua atenção para ele.

Sakura continuou encarando-o com seu cabelo molhado de ovo e a franja lhe tapando os olhos, pensando no que iria fazer a seguir. Havia uma lista: ir ao banheiro se lavar, depois ir à secretaria preencher um requerimento para ter uma nova carteira e voltar à aula. Sua vontade era desistir de tudo e ir embora daquela escola para sempre.

Gaara levantou a cabeça lentamente perguntando-se por que ela ainda estava ali. Sakura entendeu seu recado e virou as costas para ir embora antes que ele lhe expulsasse. Gaara a observou subindo as escadas com dificuldade, como se suas pernas tremessem.

E de fato tremiam. Sakura odiava admitir, mas estava com medo do que mais poderia acontecer naquele dia que só tinha acabado de começar.

—Você que está com problemas, não é? – Perguntou Gaara fazendo Sakura parar no meio do caminho. Ele subiu as escadas, permitindo que ela ficasse com seu abrigo. Antes de sair, ele parou e disse por cima do ombro. – Quer um conselho? Saia logo do colégio antes que se machuque.

Ele caminhou até a porta, mas antes que saísse, Sakura exclamou convicta:

—Não vou sair! – Gritou ela com a voz um pouco fraca. Mas cerrou os punhos e respirou fundo. – Vocês já fizeram muita gente sair correndo daqui de medo, mas eu não sou a fraca que vocês pensam! Eu odeio esse colégio, mas tenho meus motivos pessoais para ficar e eu...

—Não me interessa. – Interrompeu Gaara sem se virar para ela e entrando novamente no prédio, deixando-a por fim sozinha.

Sakura se virou novamente para o parapeito, suspirando de frustração.

—Sou mesmo uma idiota por achar que ele era diferente.