CAPÍTULO 1

“C4” – Uma bomba prestes a explodir!

Sakura observava em silêncio e ouvia a conversa acalorada entre suas colegas de classe tentando não se chocar. Ela já deveria estar acostumada com todo aquele papo fútil sobre bolsas, acessórios e roupas que era o assunto principal tratado logo pela manhã todos os dias naquela escola, mas era praticamente impossível para ela se acostumar a isso.

Cada uma daquelas garotas se gabava pela bolsa Louise Vuitton, Chanel – ou outra marca famosa que Sakura estava familiarizada apenas pela televisão – por seus sapatos caríssimos que davam para alimentar um país inteiro ou suas roupas de festa, feitas por estilistas estrangeiros e famosos.

Sakura sentia vontade de mandar aquelas garotas calarem a boca ou conversarem sobre qualquer outra coisa, mas, como estava fazendo desde o seu primeiro dia naquele colégio, ela se conteve.

Faltavam poucos minutos para o início da aula, mas era como se fosse uma eternidade. E isso acontecia todas as manhãs.

Eu odeio esse lugar. Pensou ela irritada, cerrando os punhos sobre a mesa.

Sakura tinha conseguido uma bolsa integral para estudar no Colégio Konoha Elite, a escola mais famosa de todo o Japão e a mais respeitada. Ela tinha conseguido a nota máxima em uma prova que realizou na sua antiga escola pública, ficando em primeiro lugar e ganhando a bolsa de estudos para todo o Ensino Médio.

Naquela época era tudo que ela queria, porque conseguir entrar no Konoha Elite era o sonho de qualquer jovem que sonhava com um futuro brilhante. Sakura desejava poder entrar numa boa faculdade com uma bolsa de estudos para natação. Ela nadava desde os seus seis anos de idade, mas nunca teve uma boa oportunidade para aprimorar esse seu talento. Ela nunca teve chance de realizar esse sonho, até aparecer essa oportunidade na sua antiga escola.

Sakura estudou como louca todos os dias com a ajuda dos seus tios e do seu primo mais novo, afinal ela não era um gênio. Nunca foi a aluna mais aplicada da classe, mas se esforçava para manter suas notas altas. Foi por causa do seu esforço e da ajuda da sua família que ela conseguiu tirar a nota máxima e ganhar o primeiro lugar. Seus tios ficaram tão orgulhosos! Eles até se gabavam para os amigos e vizinhos, dizendo como tinham uma honrada sobrinha que estudava no Konoha Elite.

Droga. É só por eles que ainda não desisti. Ela suspirou desanimada.

Sakura odiava aquela escola, porque era totalmente diferente do que ela imaginava. Ali só estudavam pessoas fúteis e arrogantes, que davam mais valor ao dinheiro do que o respeito pelos outros.

—Chouji-san do segundo ano ganhou o cartão vermelho! – Um garoto gritou da porta da sala assustando Sakura e os outros alunos que estavam quietos apenas esperando o professor chegar.

O garoto gritou mais uma vez, mais empolgado do que assustado, e correu para dar o recado à outra turma. Os colegas de Sakura que estavam ao seu redor, se levantaram bruscamente no meio da gritaria e correram para fora da sala.

—Ah, de novo, não. – Murmurou Sakura de olhos fechados.

O maldito cartão vermelho!

O que Sakura mais odiava naquela escola, o motivo dela querer desistir de tudo, era o “C4”. C de Chefe. Os quatro “chefes” do país. Um grupo de quatro garotos, os herdeiros das quatro famílias mais ricas e poderosas do Japão.

—Com licença? – Uma garota ruiva, mas muito bonita parou ao lado da carteira de Sakura com a cabeça abaixada. – Você sabe me dizer o que está acontecendo? Hoje é o meu primeiro dia. Eu fui transferida.

—Oh. – Sakura tinha sido transferida há seis meses. Ela sabia como era a sensação. – Sou Sakura. Haruno Sakura.

—Oh, eu sou Karin. Muito prazer, Sakura-chan.

Sakura abaixou a cabeça em cumprimento com um leve sorriso. Karin queria entender o que estava acontecendo e em seu primeiro dia naquela escola, ninguém explicou a ela, Sakura teve que descobrir sozinha.

—Venha comigo. Vou te explicar o que está acontecendo.

Sakura saiu da sala ao lado da nova aluna e juntas desceram para o pátio principal, onde havia uma comoção. Todos os alunos do Konoha Elite estavam ali, gritando e jogando ovos no aluno que tinha recebido o cartão vermelho.

Karin parou horrorizada aos pés das escadas. Seus olhos estavam arregalados, seu rosto estava tão vermelho quanto o seu cabelo.

—O que está acontecendo? Por que estão fazendo isso com aquele garoto? – Ela perguntou para Sakura num sussurro.

Sakura cerrou os punhos para conter a raiva.

—Ele é alvo do C4. – Respondeu entredentes.

—C4? O que é isso? Esse não é o nome de uma bomba?

—São os quatros chefes do país. Por isso “C4”. Mas também deve ser alguma referência à bomba, porque eles se dizem perigosos. Quem se atrever a mexer com eles, recebe um cartão vermelho e vira alvo de toda a escola.

—Mas quem são eles? – Perguntou Karin aflita.

Nesse momento, as portas principais do pátio se abriram e um silêncio assombroso caiu sobre todos os alunos, como se eles mal respirassem. Quatro rapazes estavam parados à soleira. Os únicos estudantes que não usavam uniforme.

—Eles são os C4. – Disse Sakura num sussurro brusco.

Os quatro garotos entraram e a multidão se abriu na frente deles como o Mar Vermelho.

—O garoto da ponta esquerda é Uzumaki Naruto. – Disse Sakura se referindo ao rapaz loiro de olhos azuis e casaco preto com laranja. Ele tinha um olhar despreocupado no rosto e um leve sorriso nos lábios. – É filho de um homem muito poderoso. Já ouvi dizer que é um mafioso, mas não sei se é verdade.

—Mafioso? – Perguntou Karin tapando a boca com as mãos.

—O rapaz ao lado dele é Toudo Sai. Famoso por ser o mais mulherengo, embora todos eles sejam.

Karin olhou para o rapaz e seu queixo quase caiu. O olhar dele mostrava abertamente que ele era um cafajeste, daqueles que as garotas adoram. Seu meio sorriso era hipnotizante, assim como seus cabelos negros que lhe tapavam o meio do rosto.

—O garoto da outra ponta é Sabaku Gaara. – Disse Sakura olhando para o jovem de olhos cor de jade e rosto inexpressivo. Ele era o único dos outros três que parecia ter sua atenção em outra coisa. – Ele é neto do presidente da Fundação de Artes do país. Não falam muita coisa sobre o Gaara na escola. Ele é bem misterioso.

Sabaku Gaara estava usando um sobretudo preto, as mãos estavam dentro dos bolsos e seus cabelos vermelhos arrepiados em todas as direções. Sakura odiava admitir, mas ele era muito bonito.

—E quem é aquele? O último? – Perguntou Karin curiosa.

Sakura olhou para o último e o pior de todos do C4 que estava um passo à frente dos outros três.

—Ele é o líder do grupo. Uchiha Sasuke. – Respondeu quase sem fôlego.

Como de costume, Uchiha Sasuke usava um lindo casaco preto e seus cabelos estavam penteados para trás para deixar sua expressão severa bem à vista. Seu olhar frio e arrogante passou pela multidão de estudantes com desgosto, enquanto ele caminhava para o centro do pátio.

—Eu sei quem ele é. – Disse Karin levantando a cabeça para ver melhor. – Ele é o herdeiro do Grupo Uchiha. A empresa responsável pela maior parte da economia do Japão.

Sakura ficou grata por não precisar dizer quem era aquele patife. Ela acompanhou os quatro garotos com seu olhar, sentindo algo ferver em seu interior. Ela odiava ficar parada diante de uma situação injusta como aquela, mas não havia nada que ela pudesse fazer.

—Patético. – Disse Uchiha Sasuke sem olhar diretamente para o garoto que estava caído no chão e coberto de ovo cru. – Esse é o melhor que vocês podem fazer?

Sua voz rouca e autoritária ecoou pelo pátio silencioso como se ele fosse o único ali.

—Me-me perdoe, Sasuke-san. – Pediu o menino aflito ajoelhado diante dele. – Não foi de propósito, eu juro. E-eu não sabia que o milk-shake era para você! Eu posso comprar quantos o Uchiha-sama quiser!

Sakura apertou os punhos e novamente tentou se controlar. Tudo isso por causa de um milk-shake? Idiota, arrogante!

Um canto da boca do Uchiha subiu em um meio sorriso desdenhoso.

—Está dizendo que eu mesmo não posso comprar?

—Não, não, não! Eu não disse isso, Uchiha-sama. Me perdoe!

Chouji implorou novamente na frente do líder do C4, mas Sasuke mal olhou para ele quando caminhou para o outro lado e se sentou no banco de madeira que tinha sido posto ali somente para o C4 se sentar em ocasiões como essa. Era como se fosse o trono deles.

—Talvez com essa lição você aprenda a não ser tão guloso. – Disse Sasuke cruelmente se sentando na pose de um rei. Os outros três o seguiram e tomaram seus lugares, enquanto os estudantes recomeçaram a vaiar e jogar ovos em Chouji.

Um garoto apareceu com um balde de farinha e atirou sobre a cabeça de Chougi enquanto ria e o xingava maldosamente. Sakura, quase tremendo pela raiva que a consumia, observou a reação dos integrantes do C4 àquela cena terrível e ficou surpresa quando viu Sabaku Gaara se levantar e sair do pátio sozinho sem olhar para trás.

—Por que ninguém faz nada? Onde estão os professores? – Perguntou Karin aflita, com os olhos marejados na direção do garoto humilhado.

—Isso é o que mais odeio nesse colégio. – Respondeu Sakura irritada. – Por causa das quatro famílias, que dão altas doações para a escola, o C4 pode fazer o que quiser e ninguém, nem mesmo o diretor pode impedi-los.

Sakura gostaria que pudesse ser diferente, que ela pudesse fazer alguma coisa como denunciar, qualquer coisa para impedir o C4 de tratar os outros alunos daquele jeito, mas ela não podia. Ela só tinha que aguentar mais dois anos e meio naquele lugar, como se não fosse ninguém – o que de fato ela era – sem ser notada, que tudo ficaria bem. Se ela se tornasse a inimiga de alguém poderoso ou do próprio C4, seu futuro estaria perdido.

Ela na verdade não ligava de ser expulsa, afinal odiava aquele colégio com toda sua alma, mas não podia decepcionar os seus tios, sua única família. Eles a criaram desde pequena depois que seus pais morreram em um acidente, e a única forma que ela tinha de agradecê-los por isso, era se tornando alguém importante e os deixando orgulhosos.

Apenas por isso, Sakura foi forte o suficiente para abaixar a cabeça, dar as costas para aquela cena horrível e voltar para a sala de aula.