A Última Dança - JDD escrita por Leonardo Alexandre, Batatisa


Capítulo 1
One do Leo - A Útima Dança


Notas iniciais do capítulo

Título: A Última Dança
Mínimo - Máximo de Palavras: 1K - 6K
Música: Raise The Dead - Caravan Of Thieves
Tema: Não se sabe o porquê - um dia simplesmente aconteceu. Os mortos levantaram de seus túmulos. Não tinham, no entanto, a sede de sangue e cérebros que o imaginário popular tanto previa. Tudo o que queriam era encontrar as pessoas que amavam e festejar um último dia na terra dos vivos.
Personagens (1 - 4): Gabriel Paz; Julia Guerra.



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Estava abafado. Extremamente abafado. Era a primeira vez em muito tempo que Gabriel sentia isso. Na verdade, era a primeira vez em muito tempo que sentia qualquer coisa.

Suas pálpebras se abriram e por um instante ainda parecia que estavam fechadas, pois aquele ambiente era escuro como breu, mas, por mais estranho que pudesse parecer, demorou apenas alguns segundos para seus olhos se ajustarem e passarem a enxergar quase da mesma maneira que o fariam no claro, porém com cores menos vibrantes e todas meio esverdeadas.

E então o entendimento pousou sobre sua mente: estava morto. Foi naquele dia, era 12 ou 13 de abril. Estava um calor infernal e sua melhor amiga sem consideração não estava em casa para deixá-lo usar a piscina, pois estava com a mãe e as irmãs em um “dia das meninas”. E ele com mais uns seis ou sete caras da faculdade entrou no carro de um deles com dois isopores cheios de vodca, vinho e cerveja e foram todos para a porra de um igarapé. O problema é que os caras da faculdade não sabiam que Gabriel não sabia nadar e quando todos já estavam mais pra lá do que pra cá com o álcool que corria em suas veias, decidiram jogar o “frescurento” que nunca ia para o fundo na agua.

Panacas.

Ok, estava morto. Certificou-se disso passando a mão no peito por cima da camisa social branca já amarelada e sentindo o corte e a costura de sua autópsia.

Se estava morto, então era um zumbi? Se era deveria estar sentindo desejo por cérebros e ser incapaz de pensar ou controlar seus instintos, certo?

Não era esse o caso. Na verdade, a única vontade que tinha, e essa sim era latente, era de falar com Julia, sua melhor amiga. Despedir-se da única família que tinha, mas estando ciente agora que essa seria a última vez.

Era estranho, ele sabia que tinha apenas algumas horas. Parecia como algo entranhado em seus sentidos, em sua alma ou seja lá o que defuntos tinham. Ele apenas sabia que precisava sair dali e encontrar a garota de olhos cor de café o mais rápido possível.

Abrir o caixão para sair não foi uma tarefa fácil. Gabriel tentou simplesmente empurrar a tampa, mas estava parafusada, então ele precisou bater na madeira com toda a força de suas mãos frias e mortas, que não era muita, porém, depois de muito esforço, conseguiu driblar os parafusos e abrir a maldita tampa, fazendo assim vários quilos de areia preta caírem lá dentro.

Por instinto tentou prender a respiração quando a terra cobriu seu rosto, lembrando-se outra vez que estava morto e, assim sendo, seus pulmões não necessitavam mais de ar. Lhe deu vontade de rir, mas se o fizesse ficaria cheio de terra preta de cemitério nos dentes, sendo assim apenas começou a tentar subir até o chão.

“Subir até o chão” era uma coisa muito esquisita de se pensar em fazer, mas ele tentou não refletir muito sobre isso, pois iria remeter ao fato de que estava morto e pensar nisso era ainda mais estranho do que pensar em subir até o chão.

Depois de escalar a terra escura até conseguir sair, sentindo gotas de uma chuva fraca molhar sua pele acinzentada, percebeu que havia outros mortos se levantando e algumas partes do chão remexidas como se os corpos dali já tivessem conseguido sair. Aquilo era bem estranho, mas Gabriel não tinha tempo para pensar sobre isso, precisava ir até Julia.

Os filmes de zumbi realmente mentiram. Além de não ter qualquer interesse em sangue e cérebros, Gabriel demorou o mesmo tempo para andar do cemitério até a casa de Julia que demoraria se estivesse vivo, talvez até menos por ter a vantagem de não se sentir nem um pouco cansado.

Julia observava a rua há horas pela janela de seu quarto no segundo andar de sua casa, estava esperando que o amigo morto aparecesse naquele dia, então assim que o garoto dobrou a esquina, ela o viu e correu escadarias a baixo e saiu para abrir no portão antes mesmo que o som da campainha soasse.

— Gabriel. — Murmurou com um sorriso de canto.

— Julia. — O garoto respondeu se precipitando para abraça-la, mas foi impedido.

— Não! Não, não. Você tá... — Julia ergueu as mãos e o olhou de cima a baixo algumas vezes. — Sabe? Meio que todo sujo e... Fedendo?

— Eu já devia desconfiar. Estou morto, né? — Respondeu se afastando alguns passos e soltando um muxoxo mais baixo que a intenção. — Eu não preciso respirar, então não senti meu cheiro andando do cemitério pra cá. Você não parece assustada com a minha aparição.

— Ah, pois é. É que isso tá acontecendo há alguns dias. Vem que eu vou explicar melhor. — Julia saiu e fechou o portão, então sentou na beira da calçada aproveitando que a garoa havia parado, e fez sinal para que o amigo sentasse ao seu lado. — Eu esperava que você aparecesse hoje porque os mortos estão se levantando de seus túmulos em uma ordem específica. Primeiro foram os que morreram há um ano, esses causaram muito pânico antes de conseguirem explicar que só queriam passar um último dia na terra e festejar com os vivos uma última vez. Então voltaram pros túmulos. Alguns nem conseguiram chegar e desabaram mortinhos de novo, no meio da rua. Dois dias depois foi a vez dos mortos de onze meses atrás, com esses já deu pra notar que quando eles começam a sentir que precisam voltar pra cova, eles tem mesmo que ir. Dois dias depois levantaram os de dez meses e assim foi indo.

Nuss, que bizarro. — Gabriel respondeu rindo.

— Bizarro foi o jeito que você morreu, seu idiota! — Ela replicou, tendo que controlar o ímpeto de empurrá-lo pelo ombro como costumava fazer quando ele estava vivo, porque com certeza sua mão afundaria na pele morta. — Como que tu me inventa de chapar o coco numa porra de igarapé sem saber nadar?

— Porque eu sei que não iria pro fundo pelas más experiências de infância. — Defendeu-se mesmo sabendo que estava completamente errado, afinal além disso todos voltariam para casa com um motorista bêbado. — Algum deles foi preso pela minha morte?

— Não. Disseram que estavam bebendo e nadando e quando se deram conta você tinha sumido. Aí chamaram os bombeiros, mas quando te acharam já tava morto. — Julia contou com um olhar pesado. — Eu sabia que tinha alguma coisa estranha nessa história. Se você tivesse sobrevivido, eu te daria uma surra e nunca mais te deixava sozinho.

— Viu? Era disso que eu precisava na infância. Eu não tenho culpa de ter crescido sem mãe e não ter ninguém pra me impedir de fazer altas merdas. — Para Julia era bom ouvi-lo falar outra vez as piadas idiotas sobre o fato de não ter família, mesmo sempre as tendo odiado por saber que ele fazia isso para poder fingir que aquilo não o machucava, mas depois da perdê-lo ela sentia falta. — Ainda por cima junta mais esses panacas da facul, não podia dar outra. Enfim... Eu to morto faz quantos meses? E, mais importante, quanto tempo eu tenho pra curtir a Terra antes de voltar pra debaixo dela?

— Cinco. Ninguém sabe ao certo, só presumem que deve ser de dezoito a vinte e quatro horas. Os cientistas ainda estão trabalhando pra tentar achar alguma explicação plausível pros zumbizinhos camaradas, mas até agora nada, então não tem muita informação sobre como esse paranauê todo funciona. — Julia murmurou, pegando um maço de cigarros do bolso de seu casaco e tirando um dos palitos marrons de dentro da embalagem para levar à boca antes de concluir a linda de pensamento. — A resposta mais aceitável até agora são os caprichos de um poderoso ser cósmico. Aceita um?

— Você tá falando assim só pra não dizer “deus”? — Gabriel replicou rindo enquanto a observava acender o cigarro e dar a primeira tragada. — Eu sempre achei esses de canela super enjoativos, mas que se dane, eu to morto mesmo.

— Nada ainda me provou que ele existe. Que acontecimento desse tipo tá previsto na bíblia? Nenhum. — A garota defendeu seu ponto, passando o palito já aceso para o amigo para não ter que lhe entregar seu isqueiro. — Você tava no inferno, por um acaso?

— Sabe que eu nem tinha pensado nisso até agora? — Murmurou antes de puxar um pouco de fumaça para dentro de seus pulmões, constatando que não comportavam mais tanta fumaça quanto antes. — Não. Eu não tava no inferno. Na verdade, eu não tava em lugar nenhum. Às vezes eu podia ouvir seus pensamentos, acabei de perceber isso.

— O que?! — Julia exclamou, se engasgando com o último trago e começando a tossir.

— Não invadi o seu íntimo, relaxa. — Gabriel riu outra vez. — Eu ouço pensamentos que as pessoas que me conheceram gostariam que eu ouvisse, coisas que querem dizer pra mim. É estranho pensar nisso agora porque no resto do tempo, eu não penso ou sinto nada exatamente. É só vazio e, dependendo da interpretação, uma espécie de... Frio. Acho que quando ninguém tá pensando em mim eu simplesmente não existo. Isso quer dizer que quando você morrer, eu vou deixar de existir de vez. Sabemos que você é a única que ainda vai pensar em mim daqui um ano ou dois.

— Agora que eu sei disso, acho que vou acabar pensando muito mais em você, querendo ou não. — Constatou sorrindo torto. — Parabéns, otário, vai ter que me aturar pelo resto da sua morte agora.

— Ué, pra quem já te aturou um terço da vida mesmo... — Brincou em tom de resmungo, logo em seguida retribuindo o sorriso. — E aí? Vamos dar uma caminhada?

— Gabriel Paz querendo fazer uma caminhada? — Julia murmurou perplexa. — Eu acho que vou começar a acreditar na teoria de que esses mortos vivos são ET’s que mudam de forma.

— Não use esse tom comigo, Julia Guerra. Você que é a fumante esquisita que gosta de fazer exercício. — Replicou erguendo uma das sobrancelhas. — Acontece que morto eu não fico cansado, então podemos caminhar o quanto quiser.

— Oba. — A garota de olhos cor de café comemorou socando o ar. — Quem diria que real oficial você ia caminhar comigo uma vez na vida e outra na morte. A gente podia passar em algum lugar pra beber depois. Pra te compensar por esse sacrifício.

— Sabe que eu morri trêbado, né? Uma morte nada agradável. — Sussurrou mudando de semblante e baixando a cabeça.

— Merda. Desculpa, eu não quis ser insensível, eu...

— Relaxa, otária, eu to te zoando. — Interrompeu rindo da expressão desconcertada da melhor amiga. — Ainda bem que eu já tinha passado do ponto de chamar urubu de meu louro, assim a lembrança é só um borrão.

— Nem morto você deixa de ser um idiota. — Julia revirou os olhos, jogou o cigarro no chão, pisou para apagar a ponta e se levantou. — Vamos, seu cabeça de abóbora.

— Claro, esse é meu charme! Como vou abandonar? — Gabriel respondeu, em seguida piscando e produzindo um estalo com a língua.

Então eles começaram a caminhar. E conversar.

E conversaram sobre tudo. Sobre nada. Sobre o mundo e o universo. Sobre lembranças e coisas que certamente nunca aconteceriam. Sobre pessoas e monstros e fé e ambição e música e átomos. Era como se por algumas horas tudo fosse igual a antes. Mas ao mesmo tempo eles estavam cientes de que nada seria igual outra vez.

Acabaram sentados em uma calçada mal iluminada do outro lado da cidade, na esquina de uma distribuidora de bebidas cujo dono rude lhes vendeu vodca barata, uma caixa de cerveja e um maço de cigarros, mas não os deixou ficar no estabelecimento porque o “amiguinho zumbi fedia a lixo de açougue”.

Julia sentia seus sentidos todos alterados pelo álcool. Gabriel, por outro lado, mal sentia o gosto ou até mesmo o queimar da bebida em sua garganta, quanto mais seus efeitos. Todavia, preferiu fingir estar bêbado para poder fazer algo que nunca havia feito em vida, nem mesmo com Julia: lidar com seu passado.

— Julia... — Murmurou quase inaudível.

— Fala mais alto, cabeça de abóbora. — Ela respondeu em tom de brincadeira enquanto soltava a fumaça de seu cigarro, agora com gosto de cereja e um toque de menta.

— Você me fez algumas perguntas que eu não respondi... Então você entendeu que eu não tava pronto. Acho que é a última chance que eu tenho pra estar...

— Você não precisa...

— Eu quero.

— Tá bom. — Julia retesou os ombros e encarou o melhor amigo, que agora tinha uma postura retraída e um olhar entristecido e vago para o chão.

— Eu tinha uns sete anos, eu acho... Eu não lembro muito dos meus pais, só que minha mãe era loira e meu pai tinha um cavanhaque esquisito que me arranhava sempre que ele me beijava... Ele tinha um sítio que me levava dizendo que era pra me ensinar a nadar, mas não era isso o que rolava... Quando tentaram me ensinar no orfanato, as lembranças voltaram e foi por isso que eu não quis mais aprender. Grande favor, valeu papai. — Gabriel ironizou, fazendo uma pausa para rir sem humor e beber um longo gole de cerveja antes de continuar a contar. — Eu descobri pesquisando depois que meu pai se matou quando perdeu o emprego e não conseguia ser mais a porra do alpha da família. Rs Que panaca. Minha mãe meio que nunca deu a mínima pra mim. Eu nem lembro dela me abraçando alguma vez, só dela gritando comigo. Na verdade, é mais como a lembrança de uma sensação, eu nem lembro da voz dela. Na real, lembranças mesmo só tenho no orfanato depois dos oito, o resto são flashes.

— Gabriel...

— Eu não vou chorar, se é o que tá pensando, otária. — O garoto estragou o momento com um sorriso canastrão, mesmo sabendo que ela o conhecia o bastante para nunca cair nesses teatros. — Tá tudo bem, sério. Quer saber o resto?

— Quero.

— As tias do orfanato tratavam a gente bem, mas eram sempre frias e distantes. Acho que só não queriam se apegar a crianças que podiam ser adotadas a qualquer momento, sei lá... — Gabriel continuou, ainda fazendo pausas vez ou outra para beber, ignorando que não fazia efeito. — Tinha os garotos mais velhos que implicavam com os menores quando eles chegavam perto, as garotas obcecadas e apaixonadas que seguiam eles pra toda parte, os pequenos que entravam e saiam rápido demais. E eu. Eu ficava na minha, tentava não chamar atenção. E dava certo, ninguém enchia meu saco ou tentava fazer amizade. Era fácil e não dava pra sentir falta de relacionamentos genuínos sem nunca ter tido algum. Eu era solitário, mas tava na boa. E aí cheguei no ensino médio e conheci uma otária insuportável que cismou comigo.

— Cala boca, idiota. — Julia quase o empurrou pelo ombro, parando no último segundo com uma involuntária expressão de nojo.

— Relaxa, ela é uma otária legal. — Gabriel sorriu para ela sem se importar com a gafe. — Ela me fez aceitar a amizade dela na marra e as vezes foi a mãe que eu nunca tive mesmo que eu nunca tenha pedido pra ela cuidar de mim. Foi a única pessoa que eu tinha, que me deu apoio quando fiquei de maior e me chutaram pra fora do orfanato feito um cachorro. Me ensinou que família é mais que um conceito e me forçou a acreditar que eu podia ser... Mais.

— Mais que o que?

— Mais do que eu sempre acreditei. Rs Que basicamente era nada.

Por um longo e intenso momento, um silêncio denso reinou entre eles, até Julia o cortar com a frase mais clichê que poderia dizer.

— Ainda bem que você entendeu porque eu sempre soube que você era muito mais.

— É por isso que eu não falo dessas porra. Sempre vai pro caminho meloso. — Provando sua especialidade, Gabriel quebrou o clima outra vez. — Ei. Dança comigo.

— Cara, eu não vou tocar em ti. —Julia sorriu e revirou os olhos, então deu uma última tragada no cigarro antes de jogá-lo no chão e pisar na ponta para apagar.

— Não precisa me tocar. Só coloca uma música e dança comigo. — Replicou retribuindo a revirada de olhos. — Ah, qual é? A gente era tão bom nisso. Até porque sendo a única atividade física que você ainda conseguia me convencer a fazer, a gente tinha pelo menos que fazer essa porra direito, né? Vamos relembrar os velhos tempos enquanto ainda temos tempo pra isso.

— Tá bom. — Replicou, logo em seguida rindo. — Eu estou prestes a dançar bêbada em uma calçada qualquer com o meu amigo zumbi. De todas as situações bizarras que você já me colocou, dessa vez você se superou.

— Sorte sua que isso é a vida real. Se fosse alguma ficção adolescente, provavelmente seria um romance piegas que seríamos um casal e eu ia voltar a vida depois de você beijar meus lábios frios e mortos. — Gabriel fez barulho de beijos, fazendo-a rir e ficar com nojo ao mesmo tempo, então mudou o tom de brincadeira para um presunçoso. — Me desculpa por ter morrido. Sua deve ser uma saco sem mim.

— Menos um estresse diário, meu bem. — Julia respondeu irônica enquanto procurava a música que queria no celular e logo a melodia suave de Raise Of Dead – Caravan Of Thieves começou a soar.

— Me surpreendeu fugindo do clichê de Thriller, mas que música é essa?

— Só escuta. — Mandou com um sorriso convencido.

Ei amor, você não está ainda com medo dos nossos queridos falecidos, certo?

Porque Earhart, Mozart, Joana d'Arc e todos os seus amigos são esperados essa noite

Ouça agora, nós temos pouco tempo então vamos achar algumas decorações festivas

Gabriel começou a rir logo nos primeiros versos, então disse. — Você devia ter sido uma das roteiristas de Glee, sério. Tu sempre, e agora posso dizer isso com mais certeza do que nunca na vida, sabe a música certa em qualquer situação.

— É um dom. — Se gabou e finalmente levantou do chão. — E aí? Vamos dançar ou não?

— Vamos. — O garoto levantou e começou a inventar passos com a melhor amigo sem qualquer sincronia, tanto por ele não conhecer a música quando por ela estar bêbada.

Traga as velas, o cabernet, entoe a banda

Vamos todos ressuscitar os mortos

E chamá-los para festejar

Uma grande celebração de consumações do passado e grandes conceitos

Vamos todos dividir um pouco de pão

E festejar boulevard abaixo

Dar medalhas de honra a todos os mortos e falecidos

Vamos lá, não me diga que você não reconhece ninguém

Essa é a srta. Dickenson, vá lá e diga para ela, diga para ela que seus poemas realmente sobreviveram

Pessoal, a vida é exclusivamente para os vivos, como você e eu

Mas essa noite nós estamos dividindo, a despeito da combinação estranha que você vê

Vamos todos ressuscitar os mortos

E chamá-los para festejar

Uma grande celebração de consumações do passado e grandes conceitos

Vamos todos dividir um pouco de pão

E festejar boulevard abaixo

Dar medalhas de honra a todos os mortos e falecidos

Vamos todos ressuscitar os mortos

E chamá-los para festejar

Uma grande celebração de consumações do passado e grandes conceitos

Vamos todos dividir um pouco de pão

E festejar boulevard abaixo

Dar medalhas de honra a todos os mortos e falecidos

— Ainda bem que a música acabou. — Comentou Julia guardando o celular assim que a melodia parou, então voltou a sentar na calçada e acendeu outro cigarro, dessa vez seu último de canela. — Eu já to é trêbada. Mais um pouquinho rodando e eu ia vomitar.

— Ah, para de ser mole. — Gabriel implicou rindo e sentou ao lado dela.

Apesar de dizer que já estava em um estado que ia além do simplesmente “bêbada”, a garota dos olhos cor de café continuou a beber até altas horas e Gabriel teve que ligar para Dona Marilena (mãe de Julia) para que ela fosse buscá-la, mas é claro que, antes do Sedan quase novo em um tom de carmim ainda mais lustroso por contar da mão estra de cera estacionar ao lado deles na calçada, houve tempo para pelo menos umas mil ou mais declarações bêbadas de amor eterno e tantas confissões de saudade quanto.

Antes de Dona Marilena voltar ao banco de motorista depois de ajudar a filha pinguça que mal se aguentava em pé a entrar no carro, Gabriel perguntou que horas eram.

Duas e vinte e três da manhã.

Sem ter mais o que fazer ali ou alguém com quem conversar depois que o carro partiu, Gabriel deitou na calçada e colocou as mãos atrás da cabeça como se as usasse de travesseiros, então admirou as estrelas tentando ver alguma constelação mesmo não sabendo de cor o nome de nenhuma. E assim ficou por cerca de dez minutos até que uma vontade indescritível de voltar para o cemitério o mais rápido que pudesse se apoderou dele.

— Ah não. Fala sério que a hora do “de volta para minha terra” vai ser três da manhã? Cara, isso é tão clichê que até chega a ser patético. — Resmungou para si mesmo, rindo sozinho enquanto levantava e começava a caminhada para o túmulo. — Mas se bem que o que a crença popular diz é que os demônios saem as três da manhã, não voltam. Mas já que é pra voltar, eu volto, né? Fazer o que?


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Notas finais do capítulo

Esse jogos ficam cada vez mais interessantes kkkkkkkkkkkk
xoxo
Atenciosamente, Leo A. Guedes.



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