Dois dias de fuga escrita por sam561


Capítulo 7
Desentendimentos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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O dia amanheceu gelado e com resquícios de uma chuva que caíra durante a madrugada, nas folhas das árvores as gotículas de água escorriam e pelas frestas das janelas entrava um ventinho gelado, era uma ótima manhã para ficar embaixo dos cobertores. No quarto das meninas, Magali e Mônica dormiam em um sono pesado, Carmem, no entanto, estava acordada há horas olhando para o teto pensando em como seria quando voltasse para casa.

 

“Será que meus pais vão estar em casa?” ela perguntou a si mesma em voz baixa decidindo levantar da cama.

 

 A Frufru empurrou para o lado o corpo de Mônica, que estava a apertando contra a parede, após conseguir se levantar e vestiu um vestido longo azul com flores amarelas junto de uma jaqueta jeans e foi fazer sua higiene matinal. Como estava sem fome, foi direto assistir televisão sem nem pentear os longos cabelos loiros, apenas os prendeu.

 

Assim que foi para a sala, decidiu se sentar no sofá maior, que tinha um edredom esticado, e se sentou em cima do edredom branco com traços cor-de-rosa.

 

“Nossa, que sofá duro.” ela comentou olhando para os lados procurando o controle remoto enquanto se balançava para se aconchegar.

 

“Carmem?” DC a chamou e ela quase gritou de susto, mas apenas pulou do sofá.

 

“Que susto! O que você 'tá fazendo aí, DC?” a moça perguntou com a mão no peito.

 

“De acordo com Cebola, três caras em uma cama era má ideia, então decidi ficar com o sofá.” ele explicou se sentando enquanto esfregava os olhos.

 

“E pra contrariar você nem pensou em amontoar um monte de cobertores no chão e dormir lá, né?” a Frufru comentou e ele negou dando espaço para ela se sentar.

 

“Na verdade, eu sugeri isso. Mas o Cebola é um cara difícil, o sofá me pareceu mais confortável e eu não imaginava que alguém viria sentar nas minhas pernas.” ele disse rindo ao fim.

 

“Desculpe, eu não sabia que você estava aí, coberto até a cabeça fica meio difícil.” a moça respondeu um tanto constrangida.

 

“Sussa. Mas o que faz acordada a essa hora? Mesmo eu gostando da ideia de ficar acordado no frio, diferente de todos que preferem dormir, hoje está bem convidativo pra ficar na cama o dia todo.” DC perguntou curioso.

 

“Acordei faz tempo e fiquei pensando na vida. Decidi assistir televisão e aqui estou eu, em cima de você.” ela riu junto de DC.

 

Na mesma hora que Carmem falou, a tia de Mônica saiu do quarto arrumada com uma calça jeans, botas de couro falso, um sobretudo preto e óculos de sol.

 

“Vão com calma, crianças. Avisem à Mônica e o resto que hoje ficarei fora o dia todo, chego amanhã a tempo de me despedir de vocês. Tenham um bom dia e juízo.” Luciana disse saindo rindo e os dois se entreolharam e riram.

 

“Eu pretendia dormir mais, mas agora que acordei vou dar uma volta pelo pomar. Quer vir?” ele chamou se levantando.

 

“É muito longe?” ela perguntou e o rapaz negou enquanto se espreguiçava.

 

“Não, é aqui em frente. Fui ontem com a Magali e é ótimo. Se quiser comer primeiro, eu espero.” ele disse e ela negou.

 

“Estou sem fome, vou só pentear meu cabelo. Você devia fazer o mesmo, e uma escovada de dentes também não faria mal.” ela piscou um olho apontando para os cabelos do rapaz sem o habitual topete e DC riu.

 

“Eu 'tava dormindo, ok?” ele levantou e Carmem foi ao quarto pentear seus cabelos e viu Mônica acordada.

 

“Bom dia, Carmem.” a Sousa desejou com a voz sonolenta.

 

“Bom dia, Mônica. Dc e eu vamos ao pomar, quer vir com a gente?” a Frufru convidou sem nem saber o motivo e a outra sorriu.

 

“Tudo bem, vou só escovar os dentes e pôr alguma roupa de frio. Deixa a Magali dormir.” respondeu se levantando e Carmem foi olhar seu cabelo no espelho do banheiro, que era maior que o do quarto, e deu de cara com DC fechando seu moletom preto.

 

“DC, eu chamei a Mônica. Tudo bem pra você?” ela perguntou.

 

“Tranquilo, espero vocês no quintal.” o rapaz disse saindo.


                                                             *

 Magali acordou sozinha na cama e se espreguiçou preguiçosamente e abriu a janela deixando a luz fraca do sol junto de um vento gelado entrarem.

 

“Ah, que fome!” exclamou se levantando e foi se arrumar para ir comer.

 

Ao chegar na porta do banheiro, viu Cascão ali fazendo uma espécie de dancinha.

 

“Bom dia, Cascão!” ela desejou e ele suspirou.

 

“Nem tanto, Magá. Tenho que tirar a água do joelho, mas o Cebolácio não colabora!” o Araújo disse engrossando a voz no fim enquanto batia forte na porta de madeira.

 

Magali se aproximou da porta e ouviu o som do chuveiro junto de uma cantoria do outro amigo, parecia ser em inglês, ou alemão, não dava para entender por causa da mistura de sons.

 

“Ô, Cebola! Vai logo!” a Fernandes gritou.

 

“Licença! Um pouco de privacidade seria bom!” Cebola gritou de lá.

 

Cascão bufou dando uma rebolada e tremida, estava apertado. Magali riu ao ver.

 

“Que gingado, hein? Fez até um passinho do romano.” ela comentou balançando o corpo rindo e ele revirou os olhos e riu também.

 

“Vai ficar me zoando mesmo? E para de me fazer rir.” Cascão perguntou ainda rindo.

 

“Ele 'tá nesse banho faz tempo?” ela perguntou parando de rir aos poucos.

 

“Eu 'tô há quase quinze minutos fazendo essa dancinha ridícula, por quê?” ele respondeu com outra pergunta.

 

“Observe.” a Fernandes disse e o amigo arqueou a sobrancelha.

 

“Cebola, corre aqui! Tem uma aranha enorme na porta do quarto e acho que a Mônica ainda está lá!” Magali gritou e Cebola desligou o chuveiro e saiu apressado.

 

“Não entre em pânico, Amor! Mônica?” ele exclamou correndo até o quarto feminino, só com sua toalha amarela, e notou que nenhuma das meninas estava lá e nem havia aranha alguma.

 

Cascão, por sua vez, já entrou em disparado no banheiro e Cebola voltou para perto do banheiro maneando a cabeça para os lados.

 

“Eu esperava isso de qualquer um, menos de você!” o Menezes disse e ela deu de ombros.

 

“Fica aí demorando, aqui não é sua casa pra ficar demorando no banho, sabia?” ela respondeu e Cebola ajeitou sua toalha.

 

“Nem um banho a gente pode tomar em paz.” ele murmurou indo para o quarto e Magali riu esperando Cascão sair para fazer sua higiene matinal.

 

Cascão saiu rápido e abraçou a Fernandes.

 

“Salvou meu dia, Magá!” ele disse com os braços em volta dela.

 

“Lavou as mãos, né?” ela perguntou e ele olhou para ela.

 

“Por que essa desconfiança?” o Araújo perguntou fingindo descrença.

 

“Eu te conheço, rapaz.” a moça disse e Cascão riu.

 

“Relaxa, eu lavei. Mais uma vez, obrigado.” ele disse saindo e ela entrou no banheiro.


                                                             *

 No pomar, DC estava em cima da macieira procurando tranquilamente a maçã ideal.

 

“DC, cuidado aí em cima!” Mônica gritou.

 

“Não se preocupe comigo, divirta-se por aí também.” ele falou lá do alto e a Sousa suspirou e se virou esperando ver Carmem, mas a loira não estava lá.

 

“Carmem? Cadê você?” ela chamou olhando em volta e não a vendo.

 

“DC, a Carmem sumiu. Vamos atrás dela, ela não é acostumada com esse tipo de ambiente.” Mônica disse um tanto desesperada.

 

DC desceu da árvore em um pulo.

 

“Esse tipo de ambiente? Pelo que ela disse ter feito com o Cascão, parece se dar muito bem.” ele comentou limpando uma maçã em seu moletom dando uma mordida em seguida.

 

“Não vai nem lavar? Enfim, era diferente, aposto que o Cascão fez metade sozinho e ela se sujou por cair, ou minha tia e o Cascão obrigaram ela ajudar. Patricinha fresca do jeito que é, deve estar dando chilique por relar em alguma lama que não seja daquelas que custam uma fortuna.” Mônica disse e DC olhava surpreso enquanto mastigava a maçã, o rapaz tirou seu olhar da Sousa para olhar quem estava atrás dela.

 

“Que bom saber que a pessoa que mais prega não julgar os outros é uma hipócrita!” Carmem disse segurando algumas laranjas nas mãos.

 

“Carmem?! Fiquei preocupada com seu sumiço.” Mônica disse e a loira franziu o cenho.

 

“Nem venha mudar de assunto, Mônica! Você por acaso estava comigo e Cascão? Me ajudou a limpar o tanto de terra que ficou embaixo das minhas unhas? Não, então não diga o que você não sabe!” a Frufru exclamou séria.

 

“Eu não disse que você não fez nada, só que talvez você tenha relutado, todos sabemos que isso aqui não é sua praia.” Mônica se explicou.

 

“Claro, convém achar que a patricinha nunca poderia fazer alguma coisa que não seja compras porque seria feito de má vontade, né? Me poupe!” a loira disse saindo em seguida e a outra bufou.

 

“Nossa, parece que não entende o que a gente fala!” ela reclamou.

 

“Você deveria pedir desculpas a ela.” o Takeda disse olhando Carmem sair do pomar.

 

“Vai ficar do lado dela, DC?” Mônica questionou incrédula.

 

“Eu não 'tô do lado de ninguém, mas o jeito que você falou realmente pareceu estar julgando.” ele respondeu e Mônica riu sem humor.

 

“Era só o que me faltava, eu ter que me desculpar por falar o que todo mundo pensa. Duvido que você e os outros pensaram diferente.” ela disse.

 

“O que eu tenho a ver com isso? Eu nem fiz as mesmas coisas que ela pra saber.” DC se defendeu.

 

“Não tente fugir disso, Maurício, você pode até contrariar as coisas, mas nem tudo é controlável.” a Sousa disse.

 

“Por que, de repente, todo mundo começou a me chamar pelo nome?” ele questionou mais para si do que pra ela e suspirou.

 

“Mônica, você vai realmente tentar justificar que está certa tentando usar minha lógica contra mim?” o Takeda questionou e ela o olhou brava.

 

“Eu não 'tô tentando fazer nada, mas parece que nem você, que eu pensei que me conhecia, entende! Quer saber...tchau!” ela disse saindo do pomar pisando duro.

 

 DC suspirou sem entender o que havia acontecido, de repente as duas garotas estavam brigadas e sobrara até para ele. Até perdeu a vontade de terminar sua maçã depois disso.


                                                             *

Magali, Cascão e Cebola estavam na cozinha tomando café da manhã: pão, café, leite e um bolo de laranja. Comentavam sobre o jogo da noite anterior.

 

“Até que a brincadeira de ontem foi legal.” Cascão disse sorridente.

 

“Foi mesmo, mas o DC tinha que apelar e acabar com a brincadeira.” Cebola comentou.

 

“Mas você também não colaborou, Cebola.” Magali lembrou.

 

“Aquele cara é estranho.” o Menezes disse e a garota suspirou, não levaria a lugar algum discutir com Cebola.

 

“E como vão os namoros de vocês dois? As meninas estão felizes?” Magali quis mudar de assunto.

 

“Sim, Mônica e eu somos complementares.” Cebola sorriu presunçoso.

 

“Cascuda e eu estamos bem também.” Cascão respondeu com a boca cheia de bolo.

 

“Seja sincera com a gente, Magá, você de fato terminaria com o Quim se entrasse na faculdade e achasse coisa melhor.” Cebola comentou e a Fernandes franziu o cenho.

 

“O quê?” ela questionou e Cascão olhou bem para Cebola.

 

“Você sabe, um cara que fosse mais na sua. O namoro de vocês estava desgastado, o próprio Cascãozinho aqui disse isso uma vez.” Cebola confessou bebendo café e Magali olhou brava para o Araújo.

 

“Você disse isso, Cascão?!” ela questionou incrédula.

 

“Foi só um comentário idiota entre homens, o namoro de todo mundo desgasta às vezes. Eu não esperava que vocês iriam mesmo terminar, né?” Cascão explicou suando frio.

 

“O seu é um grande exemplo de desgaste.” Cebola atiçou e Cascão franziu o cenho.

 

“Você fala do namoro dos outros como se o seu fosse um mar de rosas.” o Araújo rebateu.

 

“Eu já disse, Mônica e eu nos complementamos.” o outro disse.

 

“Seu passado te condena, não se esqueça.” Magali comentou bebericando seu leite.

 

“E o seu não? Ninguém esqueceu do seu rolo com o Cascão na época que vocês deram um tempo dos outros lá, nem daquela vez do energético e muitas outras. Se formos ver, Quim e Cascuda sempre tiveram motivo pra desconfiarem.” Cebola disse e os outros dois se entreolharam corados.

 

“Ah, Cebola! Vai catar coquinho!” Cascão falou constrangido.

 

“Viu só? Os dois sempre ficam nessa, no fundo vocês sabem que rola uma tensão forte entre vocês dois.” Cebola disse e Magali levantou.

 

“Ah, garoto! Quando a gente acha que cresceu, mostra que retrocedeu. O Cascão namora e ama a Cascuda, põe isso na cabeça!” ela exclamou.

 

“Por umas coisas que sei, você deveria tirar isso da cabeça, Magricela.” Cebola falou dando uma piscadela frisando o pronome “você”.

 

“Perdi a fome.” Magali disse saindo da cozinha abandonando seu café da manhã.

 

“Toda vez isso, Cebola! Que coisa chata!” Cascão disse saindo também e Cebola riu continuando seu café da manhã.


                                                            *

Mônica chegou furiosa na casa da tia e viu Cebola rindo sozinho na cozinha.

 

“O que é tão engraçado?” ela perguntou com cara de poucos amigos.

 

“Eu enchendo o saco do casal maravilha. E que cara é essa?” ele perguntou ainda sorrindo quando olhou para ela.

 

“É a única que tenho.” Mônica respondeu seca se sentando ao lado dele e se servindo de um pedaço de bolo.

 

“Vai, me diz o que aconteceu.” o rapaz pediu fazendo voz manhosa e ela contou.

 

Ao fim, Cebola encarou Mônica seriamente.

 

“Não acha que pegou pesado com ela, Mô?” ele perguntou.

 

“Ah, não. Até você? Vai me dizer que não pensa assim?” ela questionou e ele negou.

 

“Eu acho que ela é patricinha, mas não é impossível ela mexer com outras coisas. Olha você, era toda durona na infância e agora é mais comunicável.” Cebola disse.

 

“É completamente diferente! Nem tem comparação.” a Sousa disse brava.

 

“Mônica...” ele a chamou e ela levantou.

 

“Ah, dá um tempo!” ela saiu da cozinha levando seu bolo e Cebola suspirou, seria melhor deixá-la em paz por enquanto.

 

DC apareceu na cozinha depois disso e apenas acenou com a cabeça para Cebola, que ignorou e bebeu o resto de seu café.

 

“Ei, DC, eu estava aqui comentando com Magali e Cascão sobre a brincadeira de ontem, você realmente conseguiu estragar tudo.” o Menezes disse e o Takeda, que bebia água, se virou para ele de cenho franzido.

 

“Eu? Você que veio tentar debochar de mim, Cebola.” o outro respondeu jogando o resto de água fora.

 

“Se não aguenta zoeira, não entre em brincadeiras. Eu fui super zoado ontem e aceitei.” Cebola falou e DC apenas deu as costas.

 

“Talvez por isso que Mônica escolheu a mim, eu sou um cara normal que não apela por qualquer coisa." o Menezes disse segurando sua xícara vazia.

 

“Tá, o que uma coisa tem a ver com a outra?” DC questionou se virando de novo.

 

“Se em um jogo inocente você se sente contrariado e sai, imagina em uma discussão. Aceite, DC, você gosta de contrariar, mas não gosta de ser contrariado. E às vezes temos que ceder pela pessoa que gostamos.” o outro falou e DC revirou os olhos.

 

"Pare de tentar me passar conselhos, você só cedeu porque ia perder ela, Cebola! Caso contrário é muito provável que você estaria até hoje com aquele papo de derrotar.” o dono do topete rebateu.

 

“Claro que não, as pessoas crescem, mudam e precisam de uma nova postura, Maurício. A não ser que sejam do contra, nesse caso o crescimento é retrógrado, seguindo sua lógica seria assim, não?” Cebola se defendeu.

 

“Jogar minha lógica, toda manipulada, contra mim. Que original, Cebolácio.” DC falou resolvendo sair de vez.

 

“Tenho pena dos seus pais.” Cebola falou indo colocar sua xícara na pia e DC parou, olhando-o friamente.

 

“E eu de você que não aceita que só está com a Mônica e cresceu, como você diz, por minha causa!” DC falou e Cebola riu debochado.

 

“Desde quando você é o cupido?” perguntou rindo.

 

“Você nunca percebeu que se a Mônica não tivesse me dado uma chance, você ainda seria aquele idiota que achava que ela iria te esperar pra sempre enquanto você fazia aquele monte de burrada? Hoje você sabe disso e espalha ao mundo como se tivesse descoberto sozinho, mas você de fato só mudou quando viu que ela estava seguindo em frente com alguém!” o Takeda disse sério e Cebola deu de ombros.

 

“Iludido.” o outro disse rindo enquanto passava por DC saindo da cozinha.

 

 Do contra bufou, Cebola lhe dava nos nervos.


                                                                                 *

Magali estava na sala sentada no sofá ao lado de Cascão assistindo televisão completamente em silêncio, eles ficavam desconfortáveis quando tocavam no assunto da amizade deles poder virar algo mais.

 

“Vocês dois, escutem o que aconteceu comigo e digam se estou errada.” Mônica disse tão séria que parecia uma ordem.

 

 Assim que ela disse o caso, os dois se entreolharam.

 

“Você julgou ela, amiga.” Magali disse simples.

 

“Até minha melhor amiga vai ficar do lado dela!” Mônica disse alto incrédula.

 

“Não se trata de ficar do lado dela, e sim do quanto você agiu errado. Todo mundo erra, Mônica.” a Fernandes disse.

 

“E outra, eu não forcei ela a nada, nem sua tia. Ela aceitou fazer tudo numa boa.” Cascão esclareceu.

 

“Mas vocês concordam que é difícil de imaginar uma patricinha como ela fazendo isso, né?” ela perguntou.

 

“Sim, é difícil, mas não é impossível. Eu nem sonhava que o DC tinha papos tão bons, foi só eu passar uma tarde com ele pra ver o quanto ele é incrível.” Magali disse e Cascão a olhou.

 

“Não vai me trocar, hein?” ele brincou com a amiga que negou.

 

 Mônica riu.

 

“Depois acham ruim que são shippados.” ela comentou baixo.

 

“O quê?” os dois perguntaram, de fato não tinham entendido.

 

“Voltando ao assunto Carmem...” a Sousa voltou ao papo anterior.

 

“Ela é super gente fina, foi muito legal trabalhar com ela.” Cascão disse sincero.

 

“A questão é que a gente não consegue imaginar isso olhando pra ela.” Mônica disse.

 

“Que desespero em estar certa, Mônica. Relaxa, você pegou pesado com ela, mas tenho certeza que ela vai aceitar suas desculpas.” Cascão falou e Mônica riu.

 

“Eu não vou pedir desculpas, eu só disse uma impressão minha, ela que não entendeu. Eu, hein.” a Sousa foi pro quarto e os outros dois suspiraram.

 

“O que tem de errado com ela?” Cascão perguntou à Magali, que negou com a cabeça.

 

“Eu não faço ideia. Mas vou descobrir.” a Fernandes disse indo atrás de Mônica e Cascão assentiu.

 

Magali entrou no quarto e Mônica procurava sinal em seu celular.

 

“Mô, 'tá tudo bem?” a amiga perguntou à outra que assentiu.

 

“Sim, só estou procurando sinal.” ela respondeu.

 

“Não, sobre o lance com a Carmem. O Cascão está certo, você quer muito ter razão.” a de cabelos longos disse e Mônica bufou.

 

“Eu não quero ter razão, mas a errada é ela.” a outra disse.

 

“Isso porque não quer ter razão, né?” Magali comentou e a Sousa se levantou.

 

“Ah, não 'tô a fim de ouvir esses conselhos prontos.” ela disse e saiu do quarto.

 

 Cascão foi até a porta do quarto.

 

“E ai? Ela parece ter saído zangada.” ele falou.

 

“Ela não 'tá bem, mas não quer falar o que aconteceu. Vamos dar um tempo a ela.” Magali respondeu e Cascão deu de ombros e voltou para assistir televisão e a moça foi com ele.


                                                                                 *

Já eram quase cinco da tarde e o clima estava péssimo entre eles. Diferente da manhã, estava bem quente e todos estavam na sala assistindo a um programa de culinária aleatório. Mônica estava agarrada a Cebola ocupando o sofá inteiro; Magali pintava as unhas dos pés sentada no chão ao lado de DC, que estava deitado de barriga para baixo fazendo suas palavras cruzadas; Carmem estava na poltrona de fato assistindo ao programa; e Cascão estava quase dormindo de tédio na outra poltrona.

 

“Ô gente, 'tô varado de fome, vamos fazer alguma coisa comestível? Algum chef se habilita?” Cascão perguntou.

 

“Magali e eu fizemos comida ontem, um de vocês faz.” DC disse sem olhá-lo.

 

“Eu faria, mas sou muito patricinha para saber cozinhar, certo, né, Mônica?” Carmem alfinetou.

 

“Ninguém te impede, querida. Só se certifique que leu a receita e entendeu o que ela quis dizer.” a Sousa rebateu após rir em escárnio.

 

“Deixa que eu mesmo faço. Magá, me ajuda?” Cascão disse cansado e Cebola riu.

 

“Eu não disse? Sempre um grudado no outro.” o Menezes comentou.

 

“Por que não vai você, Cebola? Assim o dito casal aqui evita de infestar a comida de amor perfeito, já que o seu e da Mônica já são a pura perfeição.”  Magali retrucou.

 

“Quem disse isso? Não existe namoro perfeito.” Mônica disse de cenho franzido.

 

“Seu namoradinho aí.” Cascão respondeu apontando com o queixo para Cebola.

 

“Eu não sei cozinhar.” o Menezes respondeu evitando olhar para a namorada.

 

“Uma coisa que o senhor normal não sabe fazer. E olha que não é tão anormal saber cozinhar, não é, Cebola?” DC provocou.

 

“Por isso você não vai, né? Porque seria normal e isso você 'tá longe de ser.” Cebola retrucou.

 

“Mônica, quer me ajudar?” Cascão chamou e ela aceitou.

 

“Se quer bem feito faça você mesmo, não?” ela disse saindo com Cascão sem antes evitar de olhar para a Frufru, que riu sem humor.

 

“Lava a mão, hein, Cabeção.” Cebola gritou.

 

“Vou ter certeza de passar a mão suja na sua cara.” Cascão respondeu bem-humorado.

 

 Cebola foi para o quarto, deixando apenas Carmem, DC e Magali na sala.

 

“O que acabou de acontecer aqui pra todo mundo tretar desse jeito?” DC comentou levantando do chão e indo para uma poltrona.

 

“Ficar muito tempo sob o mesmo teto causa isso, as verdadeiras faces são mostradas. Espero que a de vocês seja de fato o que mostram.” Carmem disse indo para o quarto.

 

“Credo, aqui 'tá carregada a energia.” Magali disse de cenho franzido fechando o vidro de esmalte.

 

“Magali, lembrei de mais um momento. Quando você treinou o Cascão para ir encher meu saco na época que a Mônica ficou com esse daí. Que romântico.” Cebola comentou no batente da porta do quarto rindo e Magali jogou seu chinelo em Cebola, porém, por pouco, não acertou tanto em DC, cuja poltrona estava de costas para a porta do quarto dos meninos, quanto no Menezes.

 

“Não é à toa que quem jogava as coisas não era você.” o Menezes fechou a porta rindo e ela foi pegar o chinelo que havia batido na parede e caído virado no chão.

 

DC olhava para Magali com um sorriso.

 

“Que isso, Magá? Até eu quase apanhei agora.” ele perguntou e ela suspirou.

 

“Cebola 'tá desde cedo irritando o Cascão e eu com esse negócio de shippar a gente, nada a ver, né?” ela comentou indo pegar seu chinelo e ele acompanhou com o olhar confuso.

 

“O quê? Ele encher o saco de vocês ou você e o Cascão serem shippados?” ele perguntou.

 

“As duas coisas.” Magali respondeu já de volta se escorando no sofá e ele sorriu amarelo.

 

“Ele encher o saco de vocês é sem noção mesmo, mas até que você e Cascão combinam.” ele disse e ela olhou boquiaberta.

 

“Até você? Seu apelido é Do Contra, faça jus a ele! Não me faça te chamar de Maurício!” a moça exclamou apontando o dedo indicador para ele que riu.

 

“É que a química de vocês é forte demais até para mim, mas se você não quer que shippem vocês, ok. E ele namora, né?” DC respondeu e ela riu.

 

“Obrigada!” ela disse saindo em seguida e DC se sentando todo torto.

 

“Mas ainda é shippável.” o Takeda falou para si mesmo com um sorriso voltando seu olhar para a televisão.


                                                                                 *

Mônica e Cascão não eram bons na cozinha, então fizeram apenas pipocas e suco de laranja e foram para a sala. Não conversaram muito.

 

“Fizeram... pipoca?” DC falou olhando para eles.

 

“E suco de laranja, não é incrível?” Mônica disse sorridente e o Takeda sorriu amarelo.

 

“É...” ele falou, esperava algo que de fato acabasse com a fome.

 

“Patético, você quis dizer, DC. Até eu faria algo que realmente mata a fome.” Carmem comentou da porta do quarto.

 

“Eu chamei todo mundo e ninguém quis ir, agora nem adianta reclamar.” Cascão respondeu.

 

“Ah, pipoca!” Magali apareceu animada.

 

“Nem vem comer tudo, Magali.” Cebola disse também aparecendo.

 

“Galera surge do nada quando o assunto é comida.” DC disse rindo e todos se espremeram no sofá e voltaram a assistir a televisão, que passava agora um programa animado de domingo, ironicamente, eles não estivam nesse ânimo.

 

Não demorou para Luciana chegar bem mais cedo que o combinado e suspirou ao vê-los.

 

“Sempre nessa televisão? Tenho uma notícia ótima a vocês.” ela disse animada desligando o aparelho.

 

“Quer ver que é mais trabalho.” Carmem sussurrou para Cascão, que cruzou os braços.

 

“De última hora um amigo, aquele que cuida dos meus bichos, decidimos fazer uma festinha em comemoração a um bom ano. É daqui a pouco, tomem banho e fiquem bem bonitos.” ela deu uma piscadela.

 

“Vamos, meninas, vamos nos ajudar.” Magali disse colocando a vasilha de pipoca, que estava em se colo, no colo de Cascão e puxou as duas meninas.

 

“Você eu ajudo de boa, mas e ela? Uma patricinha dessas não vai querer ajudar ou ser ajudada pela gente, Magá.” Mônica fez questão de falar alto e Carmem bufou.

 

“Ai, Mônica, chega de criancice! De verdade, eu não estou nem aí se você acha que sou uma patricinha que não sabe fazer as coisas e é metida, você não é a primeira e nem a última que vai me dizer isso. Eu vim aqui para respirar outros ares e estou tendo novas experiências e descobertas, e não vai ser uma pessoa hipócrita que vai estragar meu fim de semana. Magali, eu vou adorar te ajudar e ser ajudada.” a loira disse séria indo para o quarto em seguida e todos encararam Mônica, que olhava incrédula.


                    A Sousa só saiu de seu transe ao ouvir Cascão gritando com Cebola.

 

“Nem vem, você demorou um tempão no banho hoje cedo, nem precisa de outro se for ver.” o Araújo gritou.

 

“Seu porco! Tá 'mó quente hoje e você acha que não preciso de outro banho?” Cebola falou indo pegar suas coisas.

 

“Eu vou tomar primeiro!” Magali disse correndo para o quarto para pegar suas coisas.

 

“Ei, eu também preciso!” Mônica disse ao enfim despertar do transe.

 

“Eu sou solteiro, tenho prioridade.” DC disse para entrar no papo, estava entediado.

 

“Eu também sou, então quero sair da seca hoje, por isso, beijos.” Carmem disse na porta do banheiro com suas coisas e sorriu entrando.

 

“Carmem!” todos exclamaram em uníssono.

 

“Então vou fazer uma fila.” Cascão disse correndo para pegar suas coisas e os demais aderiram à ideia enquanto discutiam em quem tomaria banho depois de Carmem.

 

 A tia de Mônica observava divertida, havia notado que eles não pareciam bem e mexeu seus pauzinhos para diverti-los.


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