Quam superesse in paradiso escrita por Lara Coimbra


Capítulo 3
As Terras Proibidas


Notas iniciais do capítulo

Olá, estou de volta com mais uma atualização!
Neste capítulo veremos a origem das Terras Proibidas, como o ambiente onde se passa o jogo veio a existir, de onde veio Dormin? De onde vieram os xamãs? Como surgiram os colossos? Leia para descobrir.



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Mono era a única herdeira do trono de Yath, localizado em terras pacíficas. O reino era habitado por uma população pacata e muito religiosa. Suas principais crenças eram baseadas em sonhos e interpretações dos xamãs, que eram pessoas nascidas com o dom da premonição. A Ordem dos Xamãs existia há muito mais tempo do que o próprio Reino de Yath. De fato, tudo que previam acontecia. Com o passar dos anos eles também descobriram e desenvolveram habilidades como sensibilidade à presença de espíritos, e a conjurar feitiços. Os membros mais velhos e poderosos da ordem usavam uma vestimenta longa com capuz e uma máscara semelhante ao rosto de uma coruja branca. Todas as crianças, inclusive a Princesa Mono e o cavaleiro Wander, quando jovens, ouviram esta história várias vezes. É claro que os detalhes mais sórdidos e informações sensíveis não eram abertas a todos. As Terras Proibidas eram proibidas, de fato, por um motivo: para que os erros do passado não se repetissem no futuro. 

 Há muitas eras, quando Yath ainda era um reino jovem, os xamãs previram o nascimento de um reino vizinho, Ceterus, e o mesmo se concretizou, poucos anos depois. Ao contrário de Yath, a população de Ceterus era sonhadora e inquieta. O Rei Sneferu queria construir o reino mais belo e grandioso de todos os tempos, no menor tempo possível. O problema era que seu território era muito espalhado, devido à existência de um deserto central e acidentes geográficos extremos entre uma região e outra. Então, de nada adiantava possuir produtivas florestas, montanhas com pedras que segurariam os maiores castelos, nem as cachoeiras com a mais pura água, devido à impossibilidade de transportar matérias-primas e alimentos igualmente. Pedindo a ajuda dos xamãs de Yath, Sneferu recebeu de conselho a paciência. Seu reino seria próspero e os desafios naturais seriam conquistados, mas não em sua geração. Centenas de anos se passariam, até que Ceterus fosse grandioso. Sneferu ficou frustrado e furioso, pois não viveria para ver a glória de seus domínios. A partir daí, tomado pela inveja da paz e prosperidade crescente do Reino de Yath, a relação entre este e o reino vizinho começou a ficar cada vez menos amigável. 

A Ordem dos Xamãs começou a perceber, nesta mesma época, a presença de uma entidade poderosa. Nem mesmos os sábios mais antigos sabem dizer como e porque este ser surgiu, mas acreditava-se que foi atraído pelo coração corrompido de tanto ódio de Sneferu. Esta entidade identificava-se como Dormin. A presença misteriosa ofereceu ajuda ao Reino de Ceterus através de um discípulo dos xamãs de Yath, que, a princípio, interpretava suas vontades. Dormin era tão poderoso que podia interferir fisicamente sobre o mundo humano. Através de sua mão invisível, árvores especiais germinaram por toda Ceterus, até mesmo no deserto. O frutos delas eram imensos, e podiam aumentar a vitalidade de quem os comesse. Dormin também enviou àquela terra lagartos pretos de cauda branca. Quem comesse suas caudas se tornaria mais forte e resistente. Assim, a população de Ceterus passou a sofrer menos com a fome e a miséria. Em troca desses favores, Dormin ordenou a construção de santuários de pedra menores, em sua homenagem, por todo o todo o território. Sempre que passassem por algum, deveriam ajoelhar-se diante deles e orar. Sneferu, percebendo que a situação de seus domínios melhorarava rapidamente, acatou às exigências de Dormin. Porém, em poucos anos, ele pediu cada vez mais e, portanto, teve que ceder cada vez mais. 

Antes, o único acesso de entrada e saída para Ceterus era através de embarcações pequenas, que chegavam e atracavam em uma praia à oeste do mapa, conhecido como Cabo Oeste. O problema era que, devido às características turbulentas daqueles mares, muitos naufrágios costumavam ocorrer. Graças a Dormin, uma solução para este problema logo se concretizaria. A fronteira norte era muito mais próxima a Yath. A priori, seria impossível atravessar o deserto e a cadeia de montanhas para ultrapassar o limite entre os reinos, mas Dormin sabia exatamente o que fazer para comprar a confiança de Sneferu de uma vez. A entidade prometeu ao rei construir todos os majestosos castelos que quisesse, e uma ponte tão longa e tão alta que, além de atravessar o deserto, ultrapassaria os paredões rochosos ao norte.  

Para realizar tais construções majestosas, a mão-de-obra humana seria inútil. Dormin fez com que seu xamã intérprete abdicasse de seu corpo e alma para que pudesse se materializar. Dormin consistia em uma massa sombria e gigantesca, com chifres de touro, garras longas, e pernas insetoides saindo de suas costas. Toda a população de Ceterus se curvou diante de Dormin.  A entidade criou, a partir de seu próprio corpo recém surgido, dezesseis colossos. Estes gigantes escravos eram de variadas formas e naturezas. Eram encarnações do próprio Dormin, seres nascidos para servir seu mestre. Eles construíram Ceterus da forma que Sneferu sonhou. Alguns eram gigantes que andavam sobre cascos, eretos como humanos, e podiam agarrar com as mãos, podendo assim, realizar o trabalho de construção. Outros eram quadrúpedes e eram possuidores de força descomunal ou poderes capazes de explorar matérias primas, como rochas. Outros eram voadores, capazes de transportar materiais e homens aptos para trabalhar junto às bestas. Haviam colossos que também foram criados por Dormin para punir os traidores e criminosos, e por isso só eram acionados nos casos em que o castigo através morte era necessário, de acordo com as leis de Sneferu. 

A rápida transformação de Ceterus em um paraíso megalomaníaco podia ser ouvido e visto de Yath. A Ordem dos Xamãs se tornou temerosa e passou a condenar quem fosse atraído por Dormin, pois este havia assassinado um de seus membros para se fazer presente no plano dos seres vivos. Suas criações monstruosas estavam modificando o comportamento dos animais e causando danos ao meio natural. Todos sabiam que Sneferu já estava possuído pelos encantos de Dormin, menos ele próprio. Nem mesmo a população de Ceterus suportou conviver nas condições impostas pelo grandioso regime e, aos poucos, migraram para Yath. O Rei Sneferu realmente acreditou que quebrar a lei do tempo e das visões dos xamãs o faria melhor e mais amado por seu povo, mas ele estava errado. Ele não percebia que havia semeado apenas a fúria e o medo. Dormin, aproveitando-se disso, influenciou o governante a fazer ameaças de guerra e eventualmente preparar-se para uma. Tomar Yath seria muito fácil. Lá não havia infraestrutura complexa, nem barreiras fortes. Seu contingente militar era formado em sua maioria por arqueiros e magos medíocres. 

Percebendo a gravidade da situação, a Ordem dos Xamãs decidiu agir. Seu membro mais poderoso era Gargal. Ele era idoso, mas acompanhou toda a ascensão e corrupção de Ceterus e de seu rei dominado pelas trevas. Então, durante um amanhecer, e sem aviso, Gargal e uma tropa de 30 homens cavalgaram pela magnífica ponte de pedra até Ceterus. Seu objetivo era salvar a alma de Sneferu e fazê-lo enxergar a razão, antes que ele entregasse todo o poder a Dormin, causando a ruína e o fim para todo o universo conhecido pelo homem. Gargal sabia que Sneferu tinha a posse de uma espada, dada a ele pela entidade, e que esta arma tinha o poder de dominar o mundo. Dentro do Santuário da Adoração, Gargal tentou conversar pacificamente com o rei, mas assim que as sombras dominaram o local, Dormin materializou-se e impediu a conversa. Percebendo a sabedoria do xamã e temendo que ele ouvísse a voz da razão, Dormin esmagou Sneferu ali mesmo, e sua espada voou longe.

Enquanto os homens de Yath tentavam golpear a criatura poderosa, Gargal rastejou até a espada e a agarrou. A batalha já estava quase perdida. Toda a sua tropa havia sido chacinada e destroçada por Dormin. Gargal usou de toda a sua força de vida e poder para manusear a espada. Da mesma forma que esta tinha a capacidade de destruir o mundo, ela também podia ser usada contra seu criador. Com isso, o sábio xamã foi capaz de expulsar a forma física de Dormin do plano humano, e dividiu seu espírito em dezesseis partes, cada uma alojada dentro de cada colosso criado, e finalmente o selou dentro do Santuário da Adoração. 

Fraco, mas ainda vivo, Gargal conseguiu retornar à Yath e contar o que aconteceu. Em seus últimos suspiros, ele suplicou aos homens e mulheres que não viajassem e nem se aproximassem de Ceterus nunca mais. Mesmo incapacitado, Dormin poderia atrair tolos e pedir favores em troca de promessas, reiniciando seu ciclo de terror. A partir de então, A Ordem dos Xamãs abdicou do nome Ceterus e passou a chamar o reino abandonado de Terras Proibidas. A espada coletada por Gargal ficou escondida em Yath, e poucos sabiam a sua real localização. Xamãs lançaram diversos encantos para dificultar a sua busca e, com o tempo, a sua existência passou a ser até mesmo questionada. A arma tornou-se uma lenda, a Espada Ancestral. Ceterus tornou-se, de fato, um nome esquecido. Ninguém se referia às Terras Proibidas daquela forma, e ninguém ousava desafiar a Ordem dos Xamãs. Eles endureceram. Conspirar contra as decisões da organização religiosa era crime, podendo ser punido até com a morte, dependendo da gravidade. Com o aumento repentino da população, Yath foi obrigada a se expandir, e tornou-se assim o maior reino conhecido. Ao passar dos séculos, e de pouco a pouco, os habitantes de Yath adquiriram conhecimentos, técnicas e tecnologias, e apesar de ainda perdurarem como um povo medieval e temeroso, tinham muito orgulho de estar ali, e de viver plenamente, geração após geração. Estavam a salvo, pelo menos, até o nascimento de Mono.

 

“... Então o cavaleiro Wander raptou o corpo da princesa Mono, e o levou para as Terras Proibidas. Ele suplicou a Dormin que devolvesse a alma de Mono ao seu corpo, pois a princesa havia morrido injustamente, sacrificada, com o pretexto de ser destinada a uma maldição.”


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Notas finais do capítulo

Não me sinto ainda muito segura com os nomes que inventei, mas passei tanto tempo matutando e tentando seguir a lógica da linguagem dos Games ICO, Shadow, e Last Guardian, tentei me aproximar ao máximo do que eles balbuciam nas cutscenes. Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. Semana que vem voltaremos a acompanhar Mono, Agro, e o bebê de chifres.



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