É só uma música escrita por Lehninger


Capítulo 1
E tem um riff legal


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♡



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Quando Sirius pressionou o botão do elevador, o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi no quanto poderia se dar mal caso decidisse dar meia volta e simplesmente não aparecer em casa. Era um dia normal, exceto pelos pais, rigorosos, chatos e muitos outros adjetivos por natureza, terem lhe ameaçado para chegar antes das sete horas da noite daquela vez. Tinham um convidado, algo assim, e o casal infelizmente não podia voltar no tempo e esconder do mundo a existência do filho mais velho. E por mais bastardo que fosse, Sirius precisava estar presente, pois os Black não poderiam ter um filho andando por aí na presença de uma visita importante.

Sirius até que havia tido um dia bom, mas o compromisso para a noite conseguia estragar as 24 horas como um todo. Com a cara fechada, ergueu parcialmente o rosto a fim de ver em qual andar aquela porcaria se encontrava, pois parecia duas vezes mais lento que o normal; e em meio ao ato, percebeu que não estava sozinho. Ao seu lado, embora talvez uns dois passos atrás, estava um rapaz que nunca havia visto na vida. Ou... Olhando de cima a baixo, constatou que sim, já havia o visto. Não se lembrava de quando, mas tinha a vaga recordação, mais para um lampejo do que qualquer outra coisa, à distância, de uma silhueta meio mal vestida e curvada, como alguém muito perto de adquirir cifose pela má postura. Os ombros lhe pareciam pesados demais, transparecendo estar exausto o tempo inteiro. Sirius era descarado o bastante para avaliar as vestimentas alheias, mas não o suficiente para, ao chegar ao rosto, demorar-se nas cicatrizes. Seria antiético até mesmo para ele, que não pôde deixar de arregalar os olhos ao se deparar com aquelas marcas grandes e, aparentemente, violentas. Ah, mas o estranho estava cantarolando alguma coisa apenas para si mesmo, pois se percebia apenas o movimentar dos lábios no que parecia ser uma envolvente canção.

Para seu alívio, o estranho não percebeu; ou não demonstrou, vai saber. As portas do elevador se abriram e um grupo de pessoas saiu, cedendo todo o espaço para que Sirius, seguido do outro rapaz, adentrasse. Sirius, por estar mais próximo, selecionou o andar, e o outro, logo depois, fez o mesmo — iria sair no 14, dois antes do Black. Ao se virar com a intenção de escorar as costas numa das paredes metálicas, esbarrou levemente o braço na jaqueta de Sirius. Um acidente que poderia passar despercebido, exceto pelo fato de que Remus usava um suéter feito de lã e um fio solto e rebelde na altura do pulso decidiu se enroscar de maneira sobrenatural em um dos numerosos pins — que ele preferia chamar de broches — que adornavam a jaqueta alheia. Em um roxo inconfundível, o pin em questão trazia as pequeninas palavras “war pigs”, referência a uma das faixas do primeiro álbum do Black Sabbath.

“Perdão” Remus se pronunciou, sem olhar para o sujeito e tratando automaticamente de desfazer seja lá o que havia os unido de maneira desastrosa.

Sirius, por sua vez, nem ao menos se mexeu. Tudo que via era a volumosa cabeleira de um castanho claro e um pouco despenteada do rapaz que lutava para desenroscar o solitário fio de lã de um broche. Ele continuava cantarolando e agora Sirius podia ouvir traços de sua voz, mas não o bastante para distinguir as palavras. Ao fundo, em volume ambiente, uma música entediante e aleatória tocava, como de praxe, no elevador. Talvez Sirius estivesse soando como um grosso por nada falar ou fazer, mas o que ele faria? Tão rápido como o acidente havia se dado, se resolveu. Remus afastou-se e murmurou outro pedido de desculpas, escorando-se na parede oposta e arrancando o fio rebelde que adornava de maneira assimétrica a região do pulso. Continuava a mover os lábios e a curiosidade de Sirius foi estranhamente atiçada por alguém que estava simplesmente nem aí para ele.

Aquela porcaria estava mesmo duas vezes mais lenta que o normal?

Ainda estavam no quarto andar quando a música ambiente foi subitamente interrompida e Remus não foi rápido o bastante para perceber a interrupção e parar de cantarolar, agora que sua voz seria o único som a preencher o cubículo metálico. Tudo que Sirius pôde escutar antes do rapaz se dar conta de suas próprias palavras dançando pela atmosfera foi “I try to make love, but it ain’t no use”.

Remus arregalou os olhos ao perceber estar conseguindo ouvir a própria voz. E ao erguer o rosto automaticamente, tudo que viu foi o rapaz à sua frente comprimindo os lábios numa falha tentativa de segurar um riso discreto e involuntário.

Sétimo andar. As portas se abriram e ninguém entrou, embora a vontade de Remus, que seguiu com o olhar o movimento, fosse a de saltar para fora. Em seguida, se fecharam. Constrangido, o rapaz foi surpreendido por uma voz que, felizmente, não era a sua; mas, antes que a mesma pudesse articular uma só palavra, Remus a atropelou:

“É s-só uma música”.

“É, sim” Sirius sorriu de maneira espontânea, e, embora não fosse de propósito, também daquela maneira que fazia as garotas sentirem algo mexer dentro delas “Eu só ia dizer que ela tem um riff legal”.

Para um elevador que parecia estar perdendo para as escadas, chegou ao décimo quarto andar rápido demais. E para alguém que inicialmente tinha transparecido ser tão seguro, Remus saiu praticamente correndo, tropeçando no próprio constrangimento. E Sirius, que era o primeiro a zombar de vestimentas como aquela que o outro usava, lembrou-se que tinha um broche do Led Zeppelin em casa e que, por acaso, ficaria muito bonito no suéter daquele estranho.


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Notas finais do capítulo

* Remus tava cantarolando heartbreaker
https://www.youtube.com/watch?v=EUFGJvYlPFk *

Obrigada a você que leu até aqui!

Foi uma one-shot, mas se, do nada, num dia muito aleatório, aparecer outro capítulo, é porque eu deixei me levar e transformei numa short-fic ou algo parecido. Mas, ah, é só uma possibilidade mesmo, duvide que se concretize



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