Dali até o apartamento do meu pai,foram cinco minutos de caminhada.Percebi que Gabriel tossia muito e vez ou outra parava para recuperar o fôlego.Seus olhos pareciam agora envoltos em manchas pretas,como olheiras profundas e seus lábios estavam secos.A rotina de estudo e trabalho talvez estivesse acabando com ele.Tive vontade de protege-lo.

__É aqui que você mora? – ele contemplou o prédio com curiosidade.

__Sim.Quer entrar?

Ele riu com aquele sarcasmo habitual.

__Boa noite,menina maluca.

__Boa noite,menino misterioso.

Ele não me esperou entrar.Sumiu dali como um flash.

Entrei em casa com o pressentimento de que ele escaparia de mim,de que se sentiria amedrontado por algum motivo,de que não mais o veria.Aquilo me entristecia...e eu nem sabia direito o motivo.

Troquei meia dúzia de palavras com o meu pai e subi.Liguei o computador e deixei baixando um episódio de ‘Glee’.Queria fazer algo que me distraísse...não queria pensar tanto em Gabriel.

Meu celular estava tocando encima da mesa,não tive vontade de atender.Mesmo assim,atendi.Podia ser algo importante.

__Alô?

__Minha filha...não consigo falar com você! Porque não responde os meus e-mails?Você está bem? – minha mãe tinha a péssima mania de falar rápido demais.

__Mãe,uma pergunta de cada vez.Sim,estou bem,eu só não liguei antes porque ando meio...ocupada. – tentei não transparecer angústia na voz.

__Ocupada demais para sua mãe?

__Eu respondi seus e-mails,mas eles provavelmente voltaram. – eu era horrível com mentiras.

__Sei...você está se alimentando?

__Papai não cozinha muito bem mas dá para o gasto.

Meu pai surgiu no corredor.

__Ei,eu estou ouvindo!Está falando com Rebeca?

__Sim...mamãe está mandando lembranças.

__Mande outras!

Na verdade,minha mãe não havia mencionado meu pai na conversa mas eu gostava de manter a harmonia entre os dois.

__Mãe,preciso desligar.

__Tudo bem,mas me  mande notícias.

__Te amo.

Desliguei o telefone e entrei no banho.O episódio ainda ia demorar para ser baixado.

O que eu temia parecia finalmente estar sendo concretizado.Os dias foram passando,tediosos e incrivelmente solitários.Gabriel se afastou de mim,como um cachorro assustado,não me cumprimentava na escola,não me dirigia um olhar sequer.Minha única companhia era Lucas,sempre solícito e bem humorado.Percebi que Gabriel não lanchava mais com o grupo de amigos,passou a comer sozinho.Sua aparência doentia foi se tornando cada vez pior.Eu não sabia como lidar com aquilo.

Tentei me aproximar algumas vezes,mas sem sucesso.Ele estava decidido a me ignorar e eu não conseguia suportar aquela situação.Eu precisava falar com ele,vê-lo,saber como ele estava,de alguma forma.Mas acabei desistindo de tentar procura-lo.Eu não conseguia entender,eu não havia feito nada de mal,não que eu me lembrasse.Eu apenas queria estar perto dele,e quanto mais eu queria isso,mais ele se afastava.

Minha vida acabou se transformando em um marasmo sem fim.Meus dias passaram a ser incrivelmente vazios e á noite,alguns pesadelos tomavam conta da minha mente.Um buraco no meu peito havia sido aberto,sem chances de cicatrização,sem chances de cura.Talvez tivesse sido melhor não ter me envolvido.Mas agora,era tarde demais.Eu estava apaixonada por ele.Apaixonada por uma pessoa que nem sequer me lançava um olhar doce.Sempre me cortando.E por isso ele se tornava um desafio cada vez mais atraente.Eu queria quebrar aquela parede sólida que existia entre nós.Eu queria fazer com que a fragilidade dele fosse exposta.

Procurei saber com Tom,o representante da turma,o e-mail de Gabriel e ele foi taxativo em me informar que não poderia dar qualquer informação pessoal dos alunos da classe.Meu último fio de esperança havia ido embora.Não me restavam muitas opções.