— Eu não posso corresponder ao seu sentimento, sinto muito. Eu já tenho alguém que amo, e é com ele que eu estou. Desculpe.

— É o Masumi, não é?

— Sim.

— Há quanto tempo? Por que não me contou?

— Eu só sei que tem que ser ele, na verdade, sempre foi ele. O sentimento entre nós é totalmente recíproco. Sinto muito, querida. Espero que possa continuar sendo seu amigo.

— É claro que sim, Chris. Sempre será meu amigo. Sempre.

— Me perdoe, Keitlyn.

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Eu sempre soube que o primeiro amor nunca dá certo, mesmo assim, bem no fundo, eu tinha esperança que você um dia seria meu.

Ficando ao seu lado o tempo inteiro, sendo sua amiga, lhe confiando meus segredos mais secretos, crescendo ao seu lado e comemorando cada vitória sua, meu amor é assim, puro e sincero demais. Eu jamais poderia imaginar que nunca passaríamos disso. Isso foi minha inocência, meu amor egoísta.

Os ponteiros do relógio parecem não girar como devem, ficar aqui com meus próprios pensamentos estão me atormentando. Canetas, papéis, computadores, pilhas e pilhas de documentos não conseguem me fazer relaxar.

— Hei, acorda. Precisamos discutir o que faremos com esse projeto.

A voz da minha amiga e colega de trabalho, Belle, me tira dos devaneios desse amor que não funcionou.

— Ah, eu não estou com cabeça pra isso. Eu quero sair para beber e fumar meu cigarro.

— Ainda pensando nele? Você já teve sua resposta, não pode ficar a vida toda se lamentando por isso.

— Não pretendo ficar a vida toda literalmente, só alguns meses.

Dou uma risada leve e ela sorri pra mim, se aproximando. Coloca sua mão em meu ombro como se quisesse me confortar.

— Não podemos forçar o amor. Você terá o que merece, só não foi com ele, querida. Vamos levantar esse astral pois temos uma reunião na próxima hora.

A ruiva sai da sala com algumas pastas na mão livre.

Dou um suspiro cansado indo finalmente enfrentar a reunião.

Algumas horas depois, todos os funcionários da empresa saem da sala extremamente exaustos da larga reunião que nos roubou metade do dia. Discussões sobre projetos do próximo evento de patinação no gelo, quem iria para cobrir a reportagem, quais informações importantes deveríamos anotar, etc. Por fim, foi decidido que eu iria ser escalada para fazer a reportagem da competição que começaria em três dias. Isso era muito mal. Não gostaria de me encontrar com ele, não em três dias, não nesse estado lamentável.

Recolhendo meus pertences com as chaves do meu carro e apartamento, saio do escritório em direção ao estacionamento. Encontro com alguns colegas que acenam indo embora, quando ouço alguém me gritar.

— Lyn! Lyn! Espera!

Ao virar me deparo com a supervisora de reportagem, Ayla.

— Precisa de algo, supervisora?

— Na verdade, o pessoal da redação está pensando em se reunir para bebermos umas cervejas, comer uns tirar gostos, ouvir música, não quer ir junto?

Bem, eu precisava muito espairecer. Não seria ruim, certo?

— Tudo bem, eu vou. Mas não prometo que demorarei. Onde escolheram?

— No Beginners. Vai ser legal, Lyn.

— Certo, certo. Nos vemos lá.

— Até mais.

Estar com meus amigos era tudo que eu precisava.

Beginners

Ao chegar no local marcado, vejo meus amigos reunidos em uma mesa de canto enorme com várias cervejas. O barulho que eles fazem é tão nítido que qualquer um que nos visse acharia que tínhamos recebido alguma promoção ou algo do tipo para fazer tamanha comemoração. Me aproximo da mesa com certo receio, apesar de trabalharmos a algum tempo nunca saímos juntos, e na verdade, se me perguntassem se a meses atrás eu estaria aqui eu diria que não, mas eu aprendi que de vez em quando é necessário um pouco de distração, não se pode ficar com a cabeça imersa no trabalho o tempo inteiro.

— Olá.

— Ora, ora, se não é nossa mais nova promovida repórter. Senta aí logo, vai acabar não bebendo nada.

— Claro que não, afinal, você tomou todas né senhor George?

O moreno dá uma risada sinistra para mim provando que realmente aquela noite sairia carregado.

— Mais ou menos, Lyn. Anda, bebe.

Ele me estende uma garrafa média de cerveja, a pego me servindo um pouco da bebida que desce refrescante por minha garganta.

— Como se sente sendo escalada para fazer a cobertura dos jogos de patinação?

Quem fala nesse momento é uma das assistentes do escritório.

— Eu estou bem, só um pouco nervosa. Eu nunca cobri algo tão importante assim, sabe?

— Ah, e aquela reportagem sobre o ataque nas montanhas?

— Não foi tão grandioso assim.

— Eu...acho que você só está sendo modesta e querendo elogios.

Mitchell, um dos nossos redatores se intromete no meio do assunto.

— É claro que não, Mitchell. Eu não sou o tipo de pessoa que finge que não é boa somente pra ganhar elogios.

— Exatamente, ela não finge que é boa, ela é boa!

— Ayla, também não é assim.

— Eu estou ansiosa mesmo para ver o Yuuri do Japão patinar, ele é tão lindo. Tente conseguir um autógrafo pra mim.

— Eu quero um do Chris, você é amiga dele né?

Ao escutar o nome que a coordenadora diz, meu coração não pode evitar de falhar uma batida.

— Sim.

— Ah, que sorte. Eu queria ser amiga daquele bonitão.

— Você estará cercada de homens lindos e talentosos, amiga!

Belle que já estava alterada pelo álcool diz animada quase se jogando em cima de mim.

— Eu estarei indo a trabalho, meninas.

— Isso mesmo, a t-r-a-b-a-l-h-o, você ganha milhões pra fazer reportagem e não ficar vendo homens em cima de patins.

— Alguém está com inveja, George? Ou é a bebida que está afetando seus neurônios?

— Cala boca!

Ele responde fazendo uma careta de descontentamento, todos rimos com sua expressão.

E entre uma conversa e outra, fui virando algumas garrafas de cerveja sem sequer perceber.

Algumas horas depois 

— O que faremos com ela? Não sabia que bebia tanto.

— Ayla, o que faremos?

— Não sei, o que sugere? Ela veio de carro, Mitchell.

— Temos dois bêbados. George e Keitlyn.

— Como eu vim de metrô hoje, eu poderia levar o carro dela e deixá-la em casa, e vocês poderiam ver como levam o George.

— Eu posso levar com a Belle, assim vamos todos com uma companhia.

Se pronuncia a assistente tentando segurar seu amigo bêbado para que o mesmo não caia no chão.

— Perfeito, vamos pessoal. Vamos levar esses fanfarrões.

Apenas consigo ouvir as vozes dos meus colegas, minha boca e pernas parecem moles demais. Sinto os braços fortes de Mitchell me pegarem no colo, enquanto vejo com minha visão periférica Belle abrir minha bolsa e pegar as chaves do meu carro, entregando a ele.

— Keitlyn, você pesa.

— Haha. Mitchell.

— Seu carro é automático né? É fácil de dirigir. Lá vamos nós mocinha.

Mitchell facilmente consegue ligar o carro e me colocar deitada nos bancos de trás. Enquanto ele dirige, tento alcançar minha bolsa tateando por meu celular, ao encontrá-lo, procuro por um determinado número na minha agenda telefônica.

— O que você está fazendo, Keitlyn?

— Shiu.

Com a visão completamente turva, disco os números e começa a chamar. Meu coração palpita em esperança, eu posso conseguir uma chance com essa ligação? Estará ocupado? Com seu alguém especial?

— Alô, Keitlyn?

— Chris! Chris! Eu, fui eu que sempre estive com você! Não foi ele! Eu estive com você em todos seus momentos, eu mereço estar ao seu lado, ele não.

— Keitlyn, você está bêbada?

— Chris, eu amo você!

Mitchell freia bruscamente o carro no sinal vermelho, Chris fica mudo diante das palavras que lhe foram ditas, e eu… Eu simplesmente não consigo evitar que lágrimas se formem e caíam sobre meu rosto.