Após toda a confusão se dissipar, com Viktor dizendo que Andrei Fyodorov se suicidou quando ele estava saindo da casa de jogos e a polícia interditando o local para investigação, Yuuri percebe que Nikolai está bastante nervoso. 

“Senhor Nikolai?” Ele pergunta, fazendo com que Viktor o olhe também com um estranho sorriso no rosto.

“Não é nada, Chef Katsuki.” Ele diz, segurando no braço direito do cozinheiro com a mão trêmula.

“Ok.” Yuuri diz, erguendo a mão esquerda e tocando na mão dele antes de se virar para o russo de cabelos prateados. “Nos leve de volta para Katsu. Eu cuidarei do resto.”

“Ok.” Viktor diz, sorrindo com ternura para ele, o que surpreende Nikolai. 

…

Dentro do carro, Viktor dirige cuidadosamente pelas ruas cheias de neve de São Petersburgo. Yuuri, que estava no banco do carona, olha para as mãos dele no volante e morde o lábio inferior. Ele deve perguntar ou não?

Bem… Não é que essa pergunta vá mudar alguma coisa entre eles.

“Ei, Viktor.” Ele pergunta, olhando agora para o rosto dele.

“Hmm?” 

“O que aconteceu com o seu anel de casamento?” Yuuri percebe que ele abaixa os olhos para olhar suas mãos e retornar a olhar para o trânsito. “Ah, me desculpa por ter perguntado. Eu apenas notei quando estávamos jogando poker e fiquei curioso.”

“Eu me divorciei da mulher que cheguei a considerar minha esposa.” Viktor responde, o fazendo olhar para o rosto sério dele. “Ela estava me traindo e roubando dinheiro da nossa empresa.”

“Que merda.” Yuuri diz, notando que ele volta a sorrir. “E você está bem com isso?”

“Muito bem.” Ele diz, parando o carro em frente ao restaurante.

Eles descem do carro e entram no restaurante. Yuuri leva Nikolai para dentro, o guiando até o seu quarto e o ajudando a se sentar em sua larga cama.

“Senhor Katsuki.” Nikolai diz, observando o cozinheiro tirar os sapatos dele. “Tome cuidado com aquele homem. Ele é perigoso demais.”

Yuuri olha para ele seriamente, antes de abrir um largo sorriso.

“Eu sei, Senhor Nikolai. Mas isso é um segredo, ok?” Ele diz, dando uma piscadela.

Nikolai fica chocado, não esperando isso dele.

~x~

“Então, Andrei Fyodorov está morto.” Viktor diz, de pé e cruzando os braços, olhando friamente para todos ali sentado naquela grande mesa redonda. “E o maldito não só tinha uma casa de apostas como também falsificava dinheiro.”

Os outros homens ali cochichavam entre si, completamente ignorando ele. Viktor, franzindo a testa, olhando para cada homem ali presente e parando em Sergey Lesnoy. O alvo perfeito.

“Sabem, eu estive pensando muito em como melhorar nossos negócios, e cheguei a conclusão que temos muitos gastos desnecessários.” Viktor diz, começando a circular a mesa com sua pistola em mãos. “Um desses gastos é a quantidade exorbitante de drogas que compramos da máfia italiana, sendo que sequer conseguimos vender tudo pelas ruas por causa do preço exorbitante que cobramos, muito maior que nossos ‘concorrentes’. Por isso declaro o encerramento imediato do comércio de drogas.”

Nisso, ele agarra Lesnoy pelo pescoço e atira na nuca dele, o matando ali mesmo e assustando o resto ali presentes, que olham para ele apavorados. 

“Eu já comecei um processo de investigação para cada membro oficial de minha Bratva, e devo dizer que os resultados que obtive até agora são…” Ele balança a cabeça, continuando a circular a mesa com um largo sorriso no rosto, agora que tem a atenção completa deles.

“Você está maluco, Nikiforov! Nós juramos lealdade para a família Medvedev, não a você!!” 

“Juraram lealdade?” Viktor pergunta, parando de andar para dar altas gargalhadas. “Vocês se aproveitaram da lealdade dele para terem ganhos extras, usando de métodos ilegais e desobedeceram as regras impostas por Anatoly Medvedev. Que, por sinal, está completamente ciente do que está havendo aqui e apoia as minhas decisões de fazer uma faxina geral por aqui.”

“O que quer dizer com faxina?” Um deles diz, pálido como a maioria dos outros.

“Olhem para Lesnoy, meus caros. E vocês terão suas respostas.” Viktor recomeça a circular a mesa, dando risadas quando os homens percebem do que ele realmente está falando.

Naquela noite, 11 corpos de membros superiores da Bratva são enterrados em um buraco que é preenchido com cimento logo em seguida em um canto afastado do estacionamento interno do prédio. Para as famílias deles, Viktor manda um buquê de flores e todo o lucro obtido ilegalmente por eles. 

~x~

Com a ajuda de Yuuri, Nikolai e seu neto fazem as malas, vendem a casa e passam a morar em Katsu. Visitando um hospital particular, foi constatado que a doença de Nikolai é grave só porque não houve tratamento adequado no hospital anterior e ele é internado imediatamente. Ou seja, ele irá morrer em breve por causa de negligência e isso significa que Yuri, o neto dele, ficará sozinho.

“Eu não acredito.” Nikolai diz, deitado em um cama de hospital, derramando lágrimas silenciosas para não acordar o menino que está dormindo ao lado dele. “O que eu posso fazer agora pelo meu neto?”

Yuuri olha para o menino, mordendo o lábio. Ele tem uma idéia de como resolver a situação, mas tem medo de que essa decisão atrapalhe o outro trabalho dele. E a situação exige que ele faça essa decisão rapidamente, antes que seja tarde demais.

…

Arsene:

Estou com medo.

Carmen:

O que? Como assim ‘você está com medo’?

Goemon:

O que aconteceu?

Arsene:

Tem um menino, cujo único parente está perto de morrer. Eu me apeguei a ele e tenho medo de não o ver mais depois que ele for levado pelo governo russo. Mas eu tenho medo de que se eu ficar com ele, ele possa atrapalhar meu trabalho como Chaika.

Carmen:

Quantos anos esse menino tem?

Arsene:

Oito.

Carmen:

Σ(°ロ°)

…

Yuuri dá risada ao ver a resposta de Carmen, e não se surpreende quando recebe uma mensagem particular de Goemon. 

…

Goemon:

Você está se vendo na pele desse tal menino, não é?

Arsene:

Você nem imagina. O nome dele é Yuri.

Goemon:

Isso é assustador.

Arsene: 

Eu não sei o que fazer. 

Goemon:

Faça o que o seu coração achar que é certo.

…

Yuuri franze a testa para a resposta de Goemon.

Faça o que o seu coração achar que é certo.

Ele retorna para o outro chat, onde Carmen continua a falar.

…

Carmen:

Σ(°ロ°)

Coitado desse menino. Você precisa de minha ajuda? 

Seu medo é justificado, já que nós não somos pessoas normais. 

Não existe mais ninguém que possa lhe ajudar nesse caso? 

Alguém que você conhece pessoalmente?

Um cliente do seu restaurante, por exemplo?

…

Yuuri imediatamente pensa em Viktor, mas não acha que o atual Pakhan iria se interessar em adotar um menino nesse momento.

…

Arsene:

Eu não sei. Eu não acho que tenho um cliente que esteja interessado em cuidar de uma criança. 

Goemon:

Converse com eles primeiro antes de tirar suas conclusões. 

Carmen:

Concordo com Goemon.

Arsene:

Tudo bem.

…

Yuuri solta um suspiro, guardando o celular e cruzando os braços. Naquela noite, ele tenta conversar sobre o assunto, mas ninguém parece estar interessado em cuidar de uma criança órfã. Ele relembra a última mensagem que Goemon mandou na conversa privada e se vê finalmente finalmente tomando a decisão. Com a ajuda de Carmen, ele consegue a documentação necessária para que isso ocorra. E então…

…

“Senhor Nikolai.” Yuuri diz, entrando no quarto onde ele está internado e observando o velho russo abrir os olhos.

Nikolai abre a boca para responder, mas começa a tossir. Yuuri vai até ele, preocupado, mas logo o velho se acalma.

“O senhor não precisa falar nada.” O cozinheiro diz, pegando uma cadeira e a colocando perto da cama, se sentando nela e colocando um envelope branco no colo. “Eu gostaria de conversar com o senhor sobre algo muito importante, com relação ao seu neto.”

O velho o olha com a testa franzida, preocupado.

“Me desculpe, eu não consegui encontrar ninguém para cuidar dele.” Yuuri diz, se curvando e respirando fundo. “Por causa disso, eu tomei uma decisão muito importante e gostaria de saber a sua opinião sobre isso.”

Yuuri então abre o envelope e tira dele alguns papéis, o estendendo para Nikolai, que os pega com a mão direita, que está trêmula. Quando ele começa a ler os papéis, ele olha para o rapaz ao seu lado de olhos arregalados.

“Você quer…” Ele começa a dizer, se interrompendo para tossir novamente. 

“Sim.” Yuuri responde, sério. “Eu quero adotar Yuri.”

O homem larga os papéis e o agarra pelo braço, começando a chorar.

“Por favor, tome conta do meu menino.” Ele pede, voltando a tossir.

“Com todo o meu coração, Senhor Nikolai.” Yuuri diz, chorando também. “Eu prometo ao senhor que darei tudo de mim para garantir que ele seja feliz.”

O velho afirma com a cabeça, com os olhos decididos. Yuuri então conta para ele quem realmente ele é, algo que o choca. Naquela tarde, Yuuri deixa o hospital com o documento de adoção contendo a assinatura de Nikolai e o atestado médico dele. 

…

Arsene:

Eu tomei minha decisão.

E já tomei as providências.

Só espero que não me arrependa disso mais tarde.

…

Novamente Carmen se envolve, usando suas habilidades como hacker para agilizar o processo de adoção do menino, que quando sabe disso, abraça o cozinheiro emocionado, não esperando isso dele.

~x~

“Você o que?!” Viktor exclama, chocado com o que escuta de Yuuri.

Isso faz Yuuri se encolher e abaixar o rosto.

“Eu não podia deixar que ele ficasse na mão do governo russo, Viktor. E Nikolai está morrendo.” Yuuri diz, mordendo o lábio.

“Você podia ter perguntado para mim!” Viktor exclama, com raiva.

“Eu achei que…” Yuuri começa a dizer, assustado com a reação dele

“Achou o que? Que não precisava me incomodar com isso?” Viktor pergunta, socando com força a bancada e assustando os clientes ali presentes. “Eu achei que éramos amigos, Yuuri!”

“Viktor, você tem mesmo condições de adotar uma criança?” Yuuri pergunta, com os lábios trêmulos e derramando uma lágrima.

Viktor o ignora e sai do restaurante, fazendo questão de bater a porta com força. Ele se senta em seu carro, socando o volante para descontar sua raiva.

Viktor, você tem mesmo condições de adotar uma criança?

Ele então arregala os olhos, percebendo que não poderia adotar o menino, afinal ele é um maldito líder mafioso. Isso não só colocaria a vida do menino em perigo como também poderiam usar ele para atrapalhar a sua vida.

E não só isso. Ele percebe que graças a cabeça oca dele, ele acabou de estragar a amizade que ele tinha com uma das pessoas mais gentis e puras existentes no mundo sangrento dele.

Porcaria.

~x~

Nikolai morre dormindo, e é enterrado no cemitério que pertence ao hospital em uma tarde chuvosa, com a presença de Yuuri, Yuri, do médico e das enfermeiras que cuidaram dele. Viktor assiste de longe, observando o Yuuri mais velho consolando o mais novo e o carregando embora quando a cerimônia acaba.