Armaros escrita por Akemihime


Capítulo 1
único


Notas iniciais do capítulo

Passando algumas histórias minhas do Spirit pra cá ♥



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Uma das vantagens de ser um bárbaro, e com um enorme dragão como companhia, era que Bakugou Katsuki tinha a liberdade de fazer o que quisesse, na hora que quisesse e da forma que quisesse.

Ele tinha uma alma selvagem, um espírito livre e indomável.

Tal qual seu fiel dragão vermelho.

Kirishima, o nome que havia dado para o dragão que andava consigo, era seu amigo e companheiro de luta há anos.

Bakugou quem tinha o encontrado, quando o loiro era uma criança e o dragão não parecia tão mais velho assim, visto que ainda era do seu tamanho na época.

Dragões não eram tão comuns assim onde morava e, segundo sua mãe, encontrar um significava sempre boa sorte e boas aventuras a serem vividas, tanto pelo dragão quanto pelo humano que criava um elo com ele.

Diziam as lendas que uma conexão entre um dragão e um humano poderia ser tão poderosa que era capaz de fazê-los ganhar inúmeras batalhas.

Bakugou, que desde muito jovem sempre gostava de uma boa luta, ficou encantado com aquilo, mantendo sempre o dragão por perto. Este, por sinal, realmente pareceu ter-se afeiçoado ao garoto, de modo que onde Bakugou fosse, ele logo ia atrás. Fosse para protegê-lo, ajudá-lo ou tirá-lo de alguma confusão.

Era quase como se conseguisse entendê-lo.

— Oi, Bakugou! — Katsuki havia acabado de chegar ao porto de Anyla, uma vila pequena, porém agitada, conhecida por ter comerciantes que chegavam de seus barcos sempre muito bem abastecidos.

E, claro, conhecida também por inúmeros piratas.

Bakugou parou, assim como o dragão ao seu lado, este agora já muito maior do que o loiro.

— O que foi? — ele perguntou para o homem que chegava sorridente. — Espero que seja coisa boa.

Kaminari Denki sempre parecia de bom humor, o que nem sempre significava que deixaria Bakugou assim também. Na maioria das vezes, acontecia o efeito contrário, e Katsuki sacava sua espada para tentar matá-lo – e em todas essas vezes sendo parado por Kirishima. O dragão, de alguma forma, parecia gostar de Kaminari, para a sorte dele.

— E alguma vez eu já te deixei na mão?

Bakugou abriu a boca para responder, mas Kaminari foi mais rápido.

— Não responda!

O bárbaro girou os olhos, sentindo a raiva começar a crescer.

Piratas. Eram sempre irritantes onde quer que fossem. E certamente Kaminari conseguia ser o pior deles.

— Relaxa, eu tenho algo que vai alegrar o seu dia: um novo rumor está rondando Anyla, dessa vez eu tenho certeza que é coisa boa!

— E o que é então?

— Escuta essa, você vai amar! Dizem que um demônio está rondando a floresta de Owak ultimamente, muitos viajantes têm sido atacados e, a maioria, mortos. Os que sobrevivem falam que o demônio parece interessado em alguma coisa, sempre pegando os tesouros de todo mundo. — Kaminari parou um pouco para pensar e completou: — Bem, está interessado nisso e na carne fresca das pessoas… Nojento. Mas tesouros!

— Hm… Um demônio que mata em busca de tesouros?

Bakugou sabia o que aquilo significava: era um demônio com capacidade de pensar o suficiente para saber que tesouros são importantes. E demônios com capacidade boa de pensar só podia significar que eram Demônios Maiores, uma raça de demônios fortes e inteligentes, com capacidade de agir por conta própria.

E era exatamente aquilo que ele queria. Um desafio, finalmente.

— E então, o que acha? — Kaminari ainda esperava sua resposta, quase não se contendo de empolgação.

Bakugou olhou para Kirishima acima dele. O dragão parecia estar ouvindo atento à conversa dos dois e ao cruzar o olhar com Bakugou, ele ergueu a cabeça, emitindo um rosnado, também parecendo compartilhar da empolgação de Kaminari.

Bakugou não poderia culpá-lo. Não quando aquela notícia também tinha-o deixado agitado.

— Vamos matar um demônio então! — Exclamou finalmente, já sacando sua espada da cintura e começando a andar.

— O-oi, Bakugou, mas não precisa tirar a espada agora, ainda temos que chegar lá e... Ei! Espera!

Kaminari, então, saiu correndo atrás de Katsuki ao ver que o amigo não só o estava deixando para trás, como já estava subindo em cima de seu dragão, pronto para voar sem ele.

— Vem logo, idiota!

Aquele seria um longo e cansativo dia, tanto para um quanto para o outro.

 

§

 

A floresta em si não ficava tão longe. Não quando se estava voando nas costas de um dragão enorme e com longas asas.

— Bom, essa é a floresta de Owak, e agora? — Kaminari perguntou assim que o dragão alcançou o solo e ele pôde finalmente descer.

O pirata odiava voar. Havia crescido em meio ao mar, não em meio às alturas.

E, ao olhar para a floresta silenciosa e sombria a frente dele, estava começando a se arrepender da decisão de acompanhar Bakugou naquela caçada.

Porém o tesouro…

— Kirishima, para onde vamos? Você pode sentir o cheiro dele?

Kaminari voltou sua atenção para o amigo ao vê-lo perguntar para Kirishima.

Ele prendeu o riso imediatamente ao ver a cena.

— Cara, nós não vamos perguntar direções a um dragão — Kaminari não deixou de comentar com ar de deboche, como se Bakugou fosse um idiota.

Em qualquer outra ocasião, Katsuki ameaçaria matar o amigo por desconfiar dele, mas naquele momento ele apenas o ignorou, olhando atentamente para o enorme dragão em sua frente.

— Você sabe o caminho? — Perguntou, ignorando agora a gargalhada e a exclamação de Kaminari de que ele era de fato um idiota.

Mas o enorme dragão vermelho olhou fundo dentro da íris dos olhos de Bakugou, e o bárbaro poderia jurar que viu o animal balançar a cabeça, confirmando, antes de começar a dar pesados passos na direção norte, por entre as copas das árvores.

Bakugou não esperou por Kaminari, apenas seguiu Kirishima cegamente, ouvindo o outro gritar para esperá-lo, correndo atrás dele e dizendo o quanto aquilo era uma ideia estúpida e que nunca daria certo.

Eles andaram por um tempo em silêncio (depois de Bakugou berrar para Kaminari finalmente calar a boca), e o bárbaro sabia que o amigo estava a ponto de desistir e ir embora, quando finalmente ouviram um som.

Não era um som normal dos animais vivendo por ali, era mais como um chiado profundo vindo por entre as árvores mais escuras da floresta.

Com a noite caindo, ficava difícil enxergar alguma coisa, mas não foi preciso ver para saber do que se tratava.

Bakugou ergueu a espada enquanto Kaminari dava um discreto passo para atrás dele.

Eles sabiam o que aquilo significava.

— Quem é o idiota agora? — Bakugou não perdeu a oportunidade de comentar debochado para Kaminari.

O pirata engoliu em seco mais atrás de si, mas não disse nada, os olhos presos à frente, esperando por algum movimento da criatura que ainda não se tinha revelado.

— Aí vem ele.

Bastou somente Bakugou proferir aquelas palavras que o chiado tornou-se ainda mais audível, e tanto ele quanto Kaminari e Kirishima foram rápidos o bastante para desviar de uma longa e gigante cauda farpada, que atingiu com força o lugar onde instantes antes eles se encontravam.

A criatura logo se revelou, e Katsuki escutou o gemido de Kaminari mais distante ao ver o demônio pela primeira vez.

Ele tinha, no mínimo, cinco ou seis metros de comprimento, ultrapassando algumas das copas das árvores com seu corpo longo e esguio quando se mantinha de pé sobre as patas traseiras. Seu rosto possuía um aglomerado de olhos semelhantes aos de um inseto, bem ao centro e no topo de seu crânio abobadado. Ele também tinha um focinho grosso e achatado, com dentes serrilhados que se abriam e fechavam.

Era como se fosse uma combinação de um crocodilo com uma centopéia.

Um crocodilo com uma centopéia em tamanho gigante, todo preto e com olhos vermelhos.

A feiura e grandiosidade do demônio não surpreendeu ou sequer amedrontou Bakugou, que imediatamente gritou por Kirishima, subindo no corpo do dragão que rapidamente alçou voo, rodeando o demônio.

O grande problema em si nem seriam as inúmeras patas e garras do demônio, e sim sua cauda farpada que ainda chicoteava de um lado para o outro. Além do mais, de seus dentes pingava um líquido que Bakugou sabia muito bem que passava longe de ser uma simples saliva.

Ácido.

Kirishima, ainda rondando o demônio do alto, abriu sua boca perigosamente perto do inimigo, deixando ser expelido de sua garganta um forte fogo que o atingiu em cheio.

O fogo, no entanto, mais assustou do que de fato o causou ferimentos sérios, deixando o demônio ainda mais irritado e agitado do que antes.

Aquilo não era um bom sinal, ele tinha forte resistência ao fogo.

Bakugou então se lembrou de uma vez em que tinha lido sobre um demônio que possuía uma forte resistência ao fogo. Um demônio que, apesar de perigoso, não era um Demônio Maior como fizera parecer por suas imagens e descrições. Um demônio bem semelhante àquela que estava vendo agora.

— Kirishima, se aproxime dele de novo! — Bakugou gritou em meio ao vento e à chuva que começava a cair.

O céu estava escuro, visto que já era noite, mas o loiro ainda conseguia ver muito bem onde o demônio estava. Kaminari, por sinal, já não podia ser mais visto. Mas Bakugou não se preocupou com ele, certamente o pirata deveria estar escondido em algum lugar, apenas esperando pelo fim da batalha para recolher seu ouro, como sempre.

O dragão fez o que lhe foi pedido, suas asas dobrando-se para trás enquanto ele cortava o céu mais uma vez em ataque ao demônio.

Um trovão ecoou em meio à chuva e ao ataque, servindo praticamente como a trilha sonora perfeita enquanto Bakugou, em um ato quase considerado impulsivo, saltava de Kirishima, desviando por um triz dos dentes afiados do demônio, que decidira ficar de pé sobre duas patas novamente para conseguir alcançar o dragão que sobrevoava acima dele.

Bakugou não olhou para Kirishima, concentrando-se na espada, segurando-a agora com as duas mãos conforme caía rapidamente. O demônio, para sua sorte, parecia mais preocupado com o dragão, que representava a maior ameaça para ele no momento devido ao seu tamanho.

Um erro que todo oponente do bárbaro insistia em cometer, por sinal.

Ele sorriu, impulsionando seu corpo para a frente na queda, cravando sua espada no corpo exposto do demônio que ainda estava em pé.

— Morre! — Gritou com entusiasmo, vendo a ferida ser aberta cada vez mais no demônio conforme ele ia, aos poucos, aproximando-se do chão, agora de forma mais lenta.

O demônio emitiu um grito agudo, quase fazendo Bakugou soltar as mãos de sua espada para levá-las aos ouvidos.

Finalmente o loiro atingiu o chão, retirando sua espada da barriga do demônio rapidamente. Caiu de forma atrapalhada, mas girou o corpo a tempo para longe a fim de evitar que o inimigo caísse sobre si.

Bakugou sentiu o impacto no chão a centímetros de distância e logo se pôs de pé, seu corpo agitado pela adrenalina da batalha.

Ele sorriu novamente ao ver que o demônio tentava andar, mas seus movimentos tornaram-se lentos e aparentemente doloridos demais.

Sangue jorrava de seu ferimento exposto, e Bakugou foi prudente o suficiente ao evitá-lo, sabendo que poderia ser venenoso, enquanto se aproximava a passos lentos do demônio.

Ele sacudiu sua espada, manchada com o sangue negro e viscoso, apontando-a para o inimigo.

E então, em silêncio, Bakugou olhou para o rosto deformado do demônio, ergueu a espada e desceu-a de uma vez no pescoço dele, separando a cabeça do corpo e terminando o serviço, assim garantindo de vez a sua morte.

Ele suspirou, olhando o próprio corpo, conferindo os ferimentos que sofrera. Felizmente nada sério demais, apenas alguns arranhões superficiais causados pela própria floresta, eles logo se curariam por conta própria.

O loiro ouviu um assobio ao seu lado, mas nem se moveu, já sabendo que se tratava de Kaminari.

O pirata parecia bastante impressionado ao ver a cena.

— Cara, eu nunca vou me acostumar com o seu estilo de luta.

— Se está incomodado, pode ir embora.

— Claro, claro! — Denki deu um sorriso fraco, olhando em volta. — Só vou pegar a minha parte do tesouro e dou o fora daqui!

— Pode pegar tudo, idiota, só cala a boca e some!

— E não vai rolar nem uma caroninha pra voltar? — O olhar que Katsuki lançou a Kaminari foi o suficiente para ele erguer as mãos como se tivesse se rendido. — Tudo bem, tudo bem! Cara, que bicho te mordeu?! — ele murmurou mais para si a última frase, afastando-se à procura do tesouro que não deveria estar muito longe dali.

Bakugou ignorou o amigo, sentindo o corpo ainda agitado.

A verdade é que ele estava com raiva. Não de Kaminari, bem, não tanto de Kaminari, mas da situação em si.

Tudo foi fácil demais.

Aquele era um demônio Ravener. E, definitivamente, não era o que estava esperando enfrentar naquele dia. O que Denki havia narrado não batia com os fatos, mas isso só deixava Bakugou mais intrigado, principalmente se levando em conta que demônios Ravener eram uma raça mais inferior e geralmente usados por demônios maiores.

Isso só podia significar que havia outro demônio por trás daquilo. Outro demônio controlando o Ravener, fazendo-o buscar tesouros e talvez até algo a mais, afinal Kaminari mesmo contou que parecia que o demônio inferior procurava por alguma coisa em específico, Bakugou só não fazia ideia do que poderia ser.

Mas algo dentro de si alertava-lhe de que aquilo não era um bom sinal.

E, de qualquer forma, nem adiantava alçar voo para procurar por algum rastro do Demônio Maior no momento. Com a chuva forte caindo sobre eles, qualquer rastro já estava desaparecendo, e certamente o demônio havia tomado suas precauções para não ser encontrado. Ele era inteligente, afinal de contas.

Bakugou suspirou, fechando os olhos por um instante e sentindo as gotas de chuva caírem sobre seu corpo.

Logo o dia nasceria, e tudo o que ele queria no momento era chegar em sua casa e colocar os pensamentos em ordem para traçar um novo plano a fim de achar aquele demônio.

Bakugou abriu os olhos, olhando em volta e não vendo mais nenhum sinal de Kaminari.

Aquele pirata era bom em escapar dos problemas, e Katsuki quase se arrependeu de tê-lo mandado embora. Até que se lembrou de que ele deveria de fato ter levado todos os tesouros consigo e provavelmente estaria muito melhor do que Bakugou dentro de algumas horas, desfrutando de sua momentânea riqueza.

— Kirishima, vamos embora.

O loiro virou-se à procura de seu dragão, notando então que este não se encontrava ao seu lado como ele sempre ficava.

Bakugou tocou no punho de sua espada na cintura, desconfiado. Alguma coisa estava errada.

Kirishima.

Ele começou a andar com cuidado, indo aonde tinha visto o dragão pela última vez em meio à luta. Quando saltara dele para atacar o demônio em pleno ar. Ele sabia que o demônio tinha tentado atacar Kirishima naquele momento, mas Bakugou não viu mais o amigo, pensando que ele apenas tinha descido para o solo e esperado por ele.

Kirishima!

Não demorou muito para encontrá-lo então, em meio a algumas árvores caídas, deixando claro que ele sofrera uma queda durante a luta, diferente de como Bakugou tinha pensado.

— Oi, Kirishima! — Bakugou exclamou, chamando pelo dragão ao longe.

Nenhuma resposta.

Ele nem ao menos se moveu ao ouvir o seu chamado.

Kirishima!

Bakugou apressou o passo então, o nervosismo sendo substituído por preocupação.

Preocupação e medo.

— Kirishima, seu merda, acorda! — começou a gritar ao ver que o dragão estava inconsciente.

Bakugou olhou em volta do corpo enorme do animal, procurando por sinais de ferimentos. Encontrou um em sua pata dianteira e em uma de suas asas.

Ele sabia muito bem o quão tóxica era a mordida daquele demônio. Não era venenosa, disso Katsuki sabia, mas o ácido por si só era capaz de deixar um grande estrago. E o sangue em volta só comprovava isso.

Kirishima, você...!

Além disso, a queda fora grande, Bakugou pôde perceber, pensando que ele mesmo tivera sorte ao pular para cima do demônio e não ter sofrido nada de mais.

Ele fechou o punho, recriminando-se por estar tão distraído com a luta quando saltou de Kirishima que nem ao menos se preocupou com o estado do amigo.

Mas Kirishima sempre ficava bem. Eles sempre lutavam lado a lado, e ele nunca saía ferido.

Bakugou, sim, era quem geralmente precisava de ajuda, mas não ele.

O dragão tinha uma pele resistente, afinal de contas. Tão resistente que Bakugou, depois de um tempo lutando lado a lado com ele, relaxou e parou de se preocupar com Kirishima e o risco dele se machucar.

Um erro seu, agora ele percebia.

Dragões não eram invencíveis.

Kirishima…

— Acorda! Kirishima!

E enquanto continuava a chamar pelo amigo, pedindo, quase implorando, para que ele abrisse os olhos, Bakugou nem ao menos se deu conta das lágrimas descendo pelo seu rosto.

Ele não era uma pessoa sentimental. Nunca tinha sido.

Mas aquele era Kirishima.

Aquele era o dragão que o acompanhava por anos. Era seu melhor amigo.

— Kirishima… por favor — Sua voz saía embargada pelas lágrimas e pelo corpo já tremendo.

Um misto de desespero e preocupação escapulindo por sua fala.

Não morra… Seu idiota!

— Você não pode me deixar sozinho, me ouviu?! Eu vou te matar se você morrer!

Porque ele não podia continuar sem Kirishima.

Um completava o outro.

Bakugou sabia que ninguém era capaz de entender a conexão que ele tinha com o dragão, mas ele não se importava.

Kirishima era uma parte dele. Uma parte que ele estava perdendo por incompetência sua.

— Eu te amo, seu merda, quem você pensa que é para me deixar assim?! — Ele exclamou, percebendo então o que acabara de falar.

Bakugou nem sequer tinha pensado em como de fato amava o enorme animal.

Mas assim que disse aquelas palavras, ficou claro para ele.

E, se fosse em outra ocasião, provavelmente o bárbaro nunca falaria aquilo. Ele não era alguém que confessava seus sentimentos, mesmo para um dragão, mesmo para seu melhor amigo.

Mas aquela talvez fosse a última chance que teria.

Engraçado o que o desespero de perder alguém poderia fazer com uma pessoa.

Bakugou não soube quanto tempo ficou ali, só soube que, em determinado momento, sentiu suas pernas fraquejarem. Se era devido ao cansaço da luta ou à situação em que agora se encontrava, ele não sabia dizer.

Então, de joelhos para o dragão ainda inconsciente, com as lágrimas ainda caindo por seu rosto e o desespero ainda presente, ele ficou por um bom tempo. E, sem saber exatamente como, o cansaço e o choque acabaram vencendo-o de vez naquela madrugada, deixando o sono tomar conta de tudo em uma noite sem sonhos ou pesadelos, somente escuridão.

 

§

 

Quando finalmente despertou, já pela manhã, Bakugou levantou-se alarmado e confuso, colocando-se de pé imediatamente.

Ele olhou a sua volta, encontrando sua espada largada entre algumas folhas.

— Kirishima! — exclamou, virando-se para o dragão e encontrando apenas os galhos quebrados das árvores onde seu enorme corpo estivera na madrugada.

Bakugou arregalou os olhos diante daquilo, olhando em volta à procura do dragão, agora mais confuso do que antes.

Um corpo de dragão não sumia assim. Isso só podia significar que Kirishima...

— Oi! — Ele olhou assustado então para o homem que apareceu de repente entre as árvores perto de onde o corpo de Kirishima estivera.

Era um homem musculoso, praticamente da sua altura. Seu cabelo vermelho espetado para trás parecia-o lembrar de alguma coisa, embora Bakugou não soubesse dizer o quê.

— Estou aqui! — o ruivo falou novamente, parecendo feliz por algum motivo.

E foi somente quando ele sorriu, mostrando todos os seus dentes afiados e diferentes de um humano normal, que Bakugou imediatamente soube quem era ele.

Ele não sabia como, mas de alguma forma agora tinha certeza daquilo, como se algo em seu interior dissesse-lhe.

— Você… É o meu dragão — não era uma pergunta, mas ainda assim Bakugou tinha um ar confuso.

O garoto ruivo abriu um sorriso novamente.

— Sim.

— O enorme dragão filho da mãe que me acompanhou esse tempo todo.

— Haha… Verdade.

Bakugou lançou para ele um olhar que era um misto de desconfiança e indignação, ainda sem saber muito bem como reagir dali para frente.

O desespero de pensar que tinha perdido Kirishima sendo substituído imediatamente pela confusão ao não conseguir entender o que estava acontecendo ali.

Como? Por quê?

— E você decidiu que iria só agora revelar isso pra mim? Depois de conviver a merda de dez anos juntos?!

Kirishima riu abertamente com isso, deixando o outro ainda mais perdido — e agora com raiva também. Ele era palhaço, por acaso?

— Tsc, eu vou te matar se continuar rindo da minha cara…

— Relaxa, bro. — O ruivo aproximou-se dele, pendurando o braço em torno de seu pescoço. Parecia bem feliz para alguém que estava sendo ameaçado de morte. — Eu não podia me transformar em humano antes, só isso.

— … E por que não? — Bakugou perguntou, mais calmo, porém ainda desconfiado. — E onde estão seus machucados, afinal?

— Ah, eles se curaram, não se preocupe! Sobre sua outra pergunta… É um pouco complicado. — Kirishima suspirou, começando a explicar: — Para encurtar a história, nós dragões somos raças antigas, certo? Há centenas de anos atrás, um bruxo muito poderoso aparentemente se desentendeu com algum ancestral meu e lançou uma maldição para todas as gerações da nossa raça.

— Que tipo de maldição?

— Bem, nós éramos humanos com poderes de dragão, podíamos nos transformar quando quiséssemos, mas a maldição nos obrigou a permanecer presos na forma de dragão. O único jeito de quebrá-la e ter o poder de voltar a ser humano é quando algum humano se declara para nós dragões, diz que nos ama de verdade.

— Então… — Bakugou falou baixinho, mais para si mesmo do que para o garoto pendurado em seu pescoço.

Se aquilo fosse verdade, então Kirishima ouviu-o e entendeu quando disse aquelas palavras… Quando ele pensou que o dragão estava à beira da morte.

O loiro sentiu as bochechas esquentarem de leve, desviando o rosto do outro para que ele não percebesse.

Com isso e o silêncio que se seguiu, Kirishima sorriu novamente, um sorriso ainda maior do que antes, seus olhos brilhando ao olhar para Bakugou.

— Então você me ama — ele colocou os pensamentos de Bakugou em palavras, parecendo radiante.

Bakugou não disse nada, e Kirishima tirou o braço de cima dele, olhando então para o céu azulado e limpo de nuvens acima de ambos.

Eles sentiram uma leve brisa passar pelos dois, enquanto o ruivo virava-se novamente para Katsuki e, com a face levemente enrubescida e com aquele costumeiro sorriso nos lábios, finalmente disse:

— E eu também te amo, Bakugou!

 

§

 

— Só pra esclarecer: você ainda pode virar um dragão foda, não pode?

— Claro!

— Beleza.


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Notas finais do capítulo

O demônio descrito foi inspirado em um demônio da saga de livros Instrumentos Mortais da Cassandra Clare, eu só mudei um pouquinho a descrição dele (em relação ao tamanho, principalmente).



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