Nossas Horas Escuras escrita por cutewitchy


Capítulo 3
CAPÍTULO III - Pandemônio




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Frank berrou, e da sua boca saiu um grito rouco e doloroso. Em câmera lenta, Thiago viu o amigo ir de joelhos ao chão se debatendo, vulnerável, olhos azuis se contorcendo nas órbitas.

Entre Thiago e Sirius, Thiago foi o primeiro a reagir. Com um movimento rápido e silencioso, o bruxo lançou um ágil “Flipendo!”. O corpo de Alice foi lançado para trás violentamente, suas pálpebras arregaladas em absoluto choque e sua boca aberta em um patético “Oh!”.

Durante a sombra de um instante, Thiago hesitou em lançar outro feitiço. Afinal, ele não sabia quem estava por trás do disfarce - tudo o que ele sabia é que aquela não era Alice. Ainda escondido pela capa de invisibilidade, Thiago observou quando o olhar surpreso de “Alice” se transformou em maliciosa desconfiança direcionada ao grande cachorro preto que se encontrava na entrada da sala de jantar. O momento de hesitação foi tudo o que “Alice” precisou para fechar seus dedos sob sua varinha e jogar um jato de luz verde na direção de Sirius, o animago. Se aproveitando mais uma vez de sua excepcional habilidade com feitiços não-verbais, Thiago o defendeu: 

 “Protego!”. 

O feitiço defensivo lançou uma fina camada de luz branca poderosa através do cômodo atingindo ”Alice” e fazendo com que ela perdesse o controle sob Frank. Livre, o homem loiro começou a puxar golfadas de ar em seus pulmões, suas pernas rentes ao chão enquanto o peito arfava em pânico. 

Sirius aproveitou o golpe para avançar para cima da bruxa. Rosnando com ferocidade, ele mordeu sua mão direita. “Alice” soltou um guincho enfurecido tentando afastar o animal de cima dela. Por fim, o ataque de Sirius obteve o efeito desejado: a mão deformada deixou a varinha cair no chão, e o que a alcançou foram os trêmulos dedos de Frank. “Alice”, percebendo que havia sido dominada, começou a gritar em pânico e se debater com força. 

Força física, no final das contas, é tão eficiente quanto magia, pensou Thiago. O bruxo observou com repulsa o rosto de “Alice” se contorcer em uma careta macabra muito diferente das feições gentis e delicadas de Alice Longbottom, seus olhos adquirindo um brilho maníaco. Quem é você?, pensou Thiago.

Com puro desdém, Frank apontou a varinha para “Alice” e, com um giro preciso do pulso, uma corda mágica foi conjurada. A corda envolveu o corpo da mulher, amarrando-a com firmeza. 

“SOCORRO! AJUDA!”, gritou “Alice”, desesperada.

Irritado, Frank disparou “Silencio!” e mais nenhum som saiu da boca da impostora. Tirando sua capa da invisibilidade, Thiago trocou olhares com Frank - os dois pressentindo que algo pior estava por vir. Foi então que uma luz amarela cegante atingiu Sirius, arremessando-o para os armários de madeira da parede. Um grande THUMP e os armários quebraram com o impacto, devolvendo um Sirius dolorido ao chão.  

Thiago xingou mentalmente. 

Da direção onde viera a luz, o vulto encapuzado apareceu. Um pano preto lhe tampava o rosto, mas Thiago tinha certeza que esse era o mesmo homem que ele e Sirius haviam visto entrar na residência dos Longbottoms minutos antes. Apesar de estarem em maior número, Thiago ficou incrivelmente nervoso. Se esta não é Alice, onde estaria a verdadeira? Ou será que ela já teria sido levada? Não havia tempo para hipóteses.

Num duelo feroz, azaração contra maldição tornou a sala de jantar modesta em um verdadeiro espetáculo de luzes. Frank e Thiago eram rápidos, mas o Comensal com quem lutavam também era habilidoso. O homem encapuzado jogava feitiço atrás de feitiço com entusiasmo enquanto Sirius se recuperava, lesionado, no canto. Assim como a mulher, o Comensal duelava com esperteza alucinada. Se esquivando de um feitiço azul e se escondendo atrás da parede do cômodo adjacente, o Comensal zombou:

“Por que ainda está duelando, Longbottom? Pelo o que eu sei, a esse ponto a mulher e a criança já estão mortos mesmo... É uma punição apropriada para traidores do sangue como vocês, não acha?”

Thiago sentiu um arrepio dançar por seu corpo, a fúria crescendo exponencialmente. Frank, por sua vez, nunca estivera tão feroz. Do andar de cima da casa, Thiago ouviu sons de luta e um grito que era inconfundivelmente a voz de Alice Longbottom. Isso pareceu revirar ainda mais o estômago do colega auror de Thiago, que vociferou:

“MENTIROSO!”

Frank avançou com revigorada determinação pelo cômodo. Com a ajuda energética de Thiago, o Comensal foi ficando cada vez mais sem território.. Nessa hora, o adversário conseguiu cortar o peito de Thiago. Ele sentiu o ferimento molhar sua camisa mesmo que no momento a adrenalina o protegesse da dor. Em contrapartida, Thiago arrancou um feitiço de desarmamento que errou o Comensal por centímetros.

Do seu lado, da ponta da varinha de Frank jorrou um feitiço que atingiu o braço direito do homem, rasgando-lhe as vestes e talhando um corte significativo no músculo. Antes que Thiago conseguisse uma melhor posição da batalha, o homem fugiu para a sala de estar. Thiago e Frank o seguiram. 

No vai e vem da luta pelo primeiro andar, o pedaço de pano que cobria a face do Comensal finalmente caiu, revelando sua identidade. Thiago o reconheceu imediatamente. Rodolfo Lestrange. Isso queria dizer que a mulher na cozinha poderia ser Bellatrix, sua esposa. Os Lestrange eram seguidores fanáticos de Voldemort e a sua reputação era a do pior tipo, até para Comensais da Morte. Essa nova descoberta irritou Thiago profundamente. 

De volta ao hall de entrada, ouviu-se o som de coisas quebrando e pessoas duelando vindo do andar de cima. Do seu lado, Frank exclamou um apressado “Abaixa!” enquanto jogava um feitiço de proteção na direção contrária. Rodolfo agora estava visivelmente encurralado: Frank o olhava predatoriamente do lado esquerdo, ao passo que Thiago o cercava pelo lado direito. 

Perdendo espaço, ele estava próximo da porta que dava para o quintal. Thiago sabia que se ele pisasse lá fora, as chances de o homem escapar desaparatando eram grandes. "Isso não pode acontecer."

Vindo da cozinha, Sirius apareceu em forma humana, varinha apontando para o peito de Rodolfo. 

“Oi primo.” disse Sirius, sarcasticamente. “Expelliarmus!”.

A varinha de Rodolfo voou teatralmente da sua mão e Sirius a agarrou antes que pudesse entender o que havia acontecido. Rodolfo olhou Sirius com desgosto e cuspiu palavras afiadas em sua direção: “Me mate se for capaz, garoto. Ou talvez você ache melhor que o Potter aqui faça isso por você, já que ele é o dono e você só o cachorrinho de estimação, aparentemente.”

Sirius soltou uma risada seca carregada de ameaças implícitas. Rodolfo, colérico, correu em direção a Sirius. Frank o atingiu com um “Estupefaça!” num piscar de olhos. O Comensal da Morte despencou de cara no chão, seu nariz claramente machucado no processo. Sirius deu uma olhada de esguelha no homem caído enquanto falava com Thiago.

“Esse imbecil se superestima até demais” comentou.

Com Rodolfo derrotado, Thiago, Frank e Sirius se viraram a tempo de ver uma porção do segundo andar ser explodido em poeira. O barulho vindo do segundo superior era ensurdecedor. A luta ainda não acabara, e Thiago tinha certeza que Voldemort teria alocado muitos Comensais estratégicos para essa missão.

Subindo em disparada, os homens se juntaram à outra batalha que estava acontecendo na residência dos Longbottom. Entre rajadas de luz de um canto para outro, Thiago avistou Fabian Weasley, uma mancha vermelha que se estendia pelo chão, inconsciente. Do outro lado da sala, num canto sem saída, Remo parecia estar numa sinuca de bico: toda sua energia parecia focada em neutralizar os ataques inimigos, sem nunca conseguir ele mesmo realizar um ataque. Vindo do lado direito de Thiago, Sirius disparou uma luz que emanava magia poderosa, atingindo um dos atacantes de Remo no meio das costas. Quando o Comensal caiu de joelhos, pálido e debilitado, Thiago o reconheceu imediatamente dos anos de Hogwarts. Aquele era, sem dúvida, Bartô Crouch Jr..

Em frenesi, a adrenalina ainda percorria por todas as veias de Thiago Potter. Ele e Sirius correram para acudir Remo, que recebeu o reforço dos amigos com grande alívio. Por outro lado, quem não parecia nem um pouco aliviado era o inimigo.

O segundo Comensal que atacava Remo logo percebeu que ele era o último do seu grupo a estar consciente e duelando. Num momento de distração, o Comensal que antes estava de costas se virou na direção de Thiago, Frank e Sirius. Com uma mistura de ódio e horror, Thiago percebeu que a cara do Comensal era a mesma de Frank. Ele, também, havia se disfarçado (muito provavelmente com Poção Polissuco). 

Achando uma brecha na atenção de “Frank”, Remo o desarmou enquanto Thiago berrou “Glacius!”, congelando os pés e mãos do impostor. Sirius correu em direção a Remo, que parecia fragilizado com a mandíbula tensa e as pontas dos dedos brancas de tanto segurar a varinha com força. Os dois se abraçavam quando Thiago procurou os olhos de Frank.

Com um olhar vítreo, Frank parecia fora da realidade. Thiago conhecia aquele olhar. Ele o viu em muitos companheiros aurores durante a guerra, especialmente nas últimas semanas. Frank não só estava com medo, ele estava tão apavorado que estar completamente presente naquela situação era doloroso demais. E Thiago sabia o porquê. 

“Frank, você tá comigo? Vamos, precisamos achar…”

“Eu sei. Mas e se eles estiverem mortos, Thiago? Você ouviu o Lestrange. Eu não quero ver o que tem atrás daquela porta.” Frank disse, sua voz um sussurro. Seu rosto desprovido de emoção. Seus olhos desfocados, perdidos em algum ponto distante.

Thiago umedeceu os lábios. Esse momento, agora, parecia infinitamente mais difícil de suportar do que um duelo bruxo mortal. "Tudo bem. Ajudem Fabian, eu vou entrar."

Engolindo em seco, Thiago acenou a cabeça e andou com cuidado em direção ao quarto no extremo fim do corredor. O quarto do casal. De cara, Thiago percebera que a porta amarela havia sido violentamente arrancada das dobradiças. Com varinha em punho e apreensão crescente, Thiago chamou: “Alice?”

Thiago entrou no quarto e viu tudo no mais perfeito estado: a cama imaculada, o carpete impecável. Sem sinal de luta. Talvez Remo e Fabian tenham chegado antes que os Comensais achassem esse quarto, pensou o bruxo. Mesmo assim, havia algo de errado - embora Thiago não conseguisse dizer exatamente o que. 

Ele atravessou o quarto, olhando ao redor. Quando parou, Thiago se viu parado diante das portas de madeira do closet. A mão de Thiago pairou sob a maçaneta de cobre quando ele pensou melhor. Ele bateu na porta, duas batidas rápidas e duas mais longas. A batida da Ordem. Ele esperou.

Nada.

“É o Thiago, Alice. Você tá aí?” ele disse, sério. 

Nada por alguns longos segundos.

E então a porta se abriu revelando o que estava atrás dela. No closet magicamente alargado, encontrava-se uma mulher com cabelos louros escuros e expressão implacável. Num cesto atrás dela, um bebê balbuciava "Ma!"

Thiago suspirou em alívio.


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Notas finais do capítulo

Me falem o que acharam! Boa leitura :)



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