Nossas Horas Escuras escrita por cutewitchy


Capítulo 1
CAPÍTULO I – O começo do fim


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, essa história estava nos meus rascunhos por um tempo e decidi publicá-la. Espero que gostem!



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Era um fim de tarde frio e escuro de Outubro, o último dia de um mês conturbado. Thiago sentou no sofá da sala de estar, contemplativo. Sua mão pairava sob o copo de Firewhisky intocado na mesinha ao lado. Alguém até poderia argumentar de que o preferível seria o contrário, mas para Thiago ficava cada vez mais difícil ceder sua lucidez de mente nesses últimos tempos. Ele não queria sequer piscar. Desde que o Professor Dumbledore alertou Lílian e Thiago sobre a maldita profecia, eles se preocupavam constantemente com possíveis ataques e a sensação era de que a Ordem não conseguiria resistir por muito mais tempo.
Vinda da cozinha, Lílian andou até a batente da sala de jantar e ali parou com uma xícara de chá na mão esquerda e uma pequena colher dourada na direita. Com olhos gentis sob Thiago, os dois trocaram sorrisos. A louça de ouro fora um dos presentes de casamento dado pelos pais de Thiago, e agora esses e muitos outros pequenos itens dentro do Chalé dos Potter compunham uma coleção estranha de relíquias do passado. Um passado esse que incluía abraços maternos, travessuras, almoços em família e férias jogando infindáveis partidas de quadribol com Sirius. Para grandíssima desolação do casal, os Evans partiram ambos na mesma época que os Potter, vítimas de Varíola do Dragão. Thiago apoiou seus cotovelos em seus joelhos e levou suas mãos ao rosto. Enquanto se escondia, ele ouviu um tilintar da xícara na mesa e sentiu Lílian sentar ao seu lado no sofá. Com a mão quente e sempre delicada, Lílian passou seus dedos por entre os cabelos imprevisíveis de Thiago Potter. Ele, suspirando ao toque, se reconfortou imediatamente e deitou no ombro de sua esposa. Com os dedos desfazendo os pequenos nós da cabeça de Thiago, Lílian falou a seu marido.

"Thiago… Eu sei o que você tá fazendo, e você precisa parar." Ela disse, num tom baixo e preocupado.

"Do que você tá falando, amor?" suspirou Thiago, esfregando os olhos e fingindo total inocência. "Jogada clássica do Potter" pensou Lílian, impaciente.

"Se responsabilizando por tudo, não dormindo por achar que a qualquer momento vamos ser atacados!, ouvindo o rádio achando que a Ordem vai acabar…" disse Lílian "Você sabe que só o que podemos fazer agora é esperar e proteger o Harry. É só o que podemos fazer, Thiago."

Lílian soou derrotada, e Thiago recostou novamente no sofá, seus olhos agora nivelados com as duas suplicantes esmeraldas que o encaravam de volta. Ele segurou as mãos de Lílian entre as suas e suspirou.

"Escuta, meu amor… Eu sei que você tá certa, eu só… Eu fico impaciente. Você sabe que sim. E saber que os nossos amigos estão arriscando suas vidas lá fora e nós estamos aqui, nos escondendo?! Pelas barbas de Merlin, Lílian, isso tá me deixando maluco. Eu não quero que o Harry viva seja lá o que isso for… Essa clandestinidade. Quanto mais tempo vamos ter que ficar nesse chalé ou em outro? Dois meses? Dois anos?"

"Thiago…" Lílian começou, com a voz embargada. Thiago a olhou com a maior humildade que pôde e pôs a mão direita sob a bochecha dela. A esposa, em resposta, se inclinou em direção ao toque. Ela parecia jovem, mas cansada.

"Desculpa, Evans, eu só… Eu não sei o que fazer. Eu tenho medo." Thiago desviou o olhar, seus ombros despencando dos seus lados. Esse era o lado vulnerável de Thiago que apenas um número seleto de pessoas já haviam visto. Um lado cansado, desolado, medroso… E dessas pessoas, algumas já haviam morrido em decorrência ou não da guerra. Thiago sentia vergonha desse lado, e era raro que ele assumisse a sua mera existência. Mas Lílian o conhecia bem demais para não o reconhecer.

De fato, uma vez Remo fizera um comentário que ficou marcado para sempre em Thiago: "quando Lílian olha pra alguém, ela vê não só o rosto, mas também a alma."

"Ei…" ela disse, chamando a atenção de Thiago ao apertar a mão de seu marido com urgência "Eu sei que você tem medo, Thiago, mas nós temos um ao outro, não é?"

Thiago a olhou.

"Thiago, é por isso que eu sou uma Potter agora. Não é mais Evans, é Potter. Porque somos eu e você. Juntos. Não importa o que aconteça, tá? Juntos."

Ela o olhou com aquela expressão característica de determinação, e Thiago se rendeu completamente antes mesmo de seus lábios tocaram os dela. Envoltos num abraço, Thiago murmurou com sua voz abafada por um mar de cabelos ruivos "Somos eu e você, meu amor. E o Harry."

Lílian sorriu, concordando. "E o Harry."

—--

Mais tarde naquela noite, Lílian abriu os olhos de súbito. Deitada, ela se apoiou em seus cotovelos sem conseguir controlar sua respiração ofegante. Ela havia tido mais um pesadelo – o do tipo que mais a aterrorizava nesses últimos tempos: um Comensal da Morte (que se confundia com um Dementador pelo capuz escuro e a ausência de rosto) se movia em direção a Thiago. Lílian estava grudada no chão, sem conseguir se mover. O Comensal alcançara Thiago e o agarrava violentamente. Diante de seus olhos, seu marido não era mais seu marido, mas sim um bebêzinho. "Harry!" Lílian gritava, mas no pesadelo ela nunca tinha voz, e antes que pudesse recuperar o filho o pânico percorria seu corpo como um choque elétrico, acordando-a.

Lílian ofegou audivelmente, o choro entalado na garganta. Do lado esquerdo da cama, Thiago instintivamente tateava a mesa de cabeceira no escuro em busca de seus óculos e varinha.

"Que foi? Que aconteceu?"

Lílian se acalmou. Tentando controlar sua respiração, ela sentou na cama.

"…um pesadelo, não é nada. Volte a dormir, Thi. Eu só vou ver o Harry, tá?"

"Lílian…" Thiago suspirou. A bruxa se levantou e andou em direção à porta. Antes que pudesse protestar, Thiago já estava em seu encalço. Thiago segurou a mão da esposa e os dois andaram até a porta branca de madeira que ficava do lado oposto ao quarto do casal.

Lá estava ele, dormindo tão calmamente. Harry, de quinze meses, grunhia levemente em seu sono enquanto se espreguiçava sob sua manta favorita. À visão do bem-estar de Harry, Lílian ficou completamente aliviada. Ela estendeu sua mão direita até os cabelos arrepiados do pequeno Harry, os fios tão escuros quanto os cabelos de Thiago. Lílian tentou, em vão, tirar alguns fios do rostinho rechonchudo do bebê, mas o cabelo, teimoso, sempre voltava ao lugar que estava antes. Thiago riu de leve, e Lílian sorriu também.

"Essas características de família não vão embora tão cedo, eu acho…" Thiago comentou.

Da janela do quarto de Harry, via-se a lua crescente. Em Hogwarts, Lílian, Thiago e os outros criaram o hábito de acompanhar o ciclo lunar. Olhar para aquela grande lua luminosa no céu agora a fazia se perguntar se seu querido amigo Remo estava bem…

De repente, os dois ouviram o mais ínfimo dos estalos. Thiago instintivamente se aproximou do berço, enquanto Lílian já empunhava sua varinha em direção à porta.

"Alguém aparatou?", Lílian sussurrou, incerta e segurando com força a própria varinha.

Thiago levou seu dedo indicador aos lábios, e com um feitiço silencioso, ordenou: "Accio capa da invisibilidade! " O tecido mágico veio voando do quarto do casal imediatamente e pousou em seus dedos estendidos.
Thiago cobriu o pequeno Harry com a capa, receoso de que se ele ou a esposa o pegassem no colo, o bebê faria algum barulho. Depois, imitando Thiago, Lílian lançou seu melhor e mais poderoso feitiço de desilusão em si mesma rezando para que o casal estivesse errado sobre intrusos na casa.

Eles esperaram. Nada. Silêncio. No andar de baixo, uma porta rangeu. Ou seria a escada? Os segundos seguintes aconteceram muito rápido. Um vulto encapado de preto disparou quarto adentro esbarrando no lugar em frente ao berço onde Thiago estava de pé instantes antes.

O vulto, Lílian percebeu, era uma criatura grotesca e branca que se movia mais rápido do que qualquer outro bruxo que ela jamais conhecera. Seu faro para magia era extremamente aguçado também, porque em questão de milisegundos Lílian sentiu seu corpo travar e despencar ao chão. O feitiço do corpo preso! Sem conseguir mover seus lábios, Lílian assistiu em horror Voldemort pisar em um Thiago desilusionado e definitivamente petrificado também.

"Saia da minha frente, sangue ruim. Eu sei que ele está aqui." Voldemort sibilou

Voldemort estendeu seus dedos pálidos e ossudos sob o berço, apalpando, e facilmente encontrou a capa da invisibilidade. Ele descobriu o pequeno Harry, que agora havia acordado - quase que ele mesmo intuindo o perigo - e resmungava em desconforto.

Lílian gritava e resistia com todas as forças do seu corpo, mas assim como no sonho ela estava no chão, imobilizada e sem voz. A última coisa que a bruxa ouviu foi uma risada maligna e seca seguida de uma luz verde muito intensa. E então o mundo explodiu em luz.

—--

Quando tudo se tornou energia, a luz cegou Thiago e ele fechou os olhos. Thiago sentiu sua pele arder como brasa, e quando um vento soprou em seu rosto, ele instintivamente abriu seus olhos a tempo de ver Voldemort revirar suas fendas vermelhas e sua carne se desfazer em fuligem branca. A fuligem voou noite afora pelo buraco enorme que agora se encontrava na parede do cômodo. Thiago sentiu seu rosto molhado, percebendo grandes lágrimas caírem de seus olhos ao se virar para Lílian.
No começo, ele não conseguiu processar nada a não ser a aparência de completo desamparo do rosto de Lílian. Tudo estava silenciado, como se a realidade tivesse sido suspensa e arrancada dele. Irreversivelmente o mundo de Thiago virara de ponta cabeça em tão pouco tempo que tudo o que ele conseguia sentir era uma raiva que ameaçava engolir tudo. Como você pôde ser tão devagar, Potter?

Quando o choque imediato passou, outros sentidos cuja ausências nem foram notadas voltaram pouco a pouco para Thiago. Primeiro ele sentiu o frio, irreverente como a noite lá fora. Ele reconheceu o tato pelo tremor das pontas dos dedos que iam de encontro à Lílian. O olfato, um pouco atrasado, veio ao sentir o cheiro do orvalho no quintal e do cheiro de talco de bebê do berçário. De todos os sentidos, porém, o que mais afetou Thiago foi a audição recuperada. Baixo e gutural, o bruxo ouviu um som inacreditável de choro infantil. Poderia…?!

Em um milésimo de segundo, Thiago e Lílian trocaram um olhar esperançoso. Freneticamente, os dois procuraram por entre os escombros da explosão, o berço agora quebrado e espatifado no chão. Foi então que debaixo de uma mantinha rosa estendida no chão, uma forma diminuta se movia. Quando Lílian retirou o pequeno cobertor, Thiago sentiu tanto alívio que poderia gargalhar no ato. Lá estava Harry, seu Harry, choramingando baixinho e com cabelo e poeira lhe cobrindo o rosto.

"Harry!" chorou Lílian em êxtase. Ela pegou o bebê pelos lados e o envolveu num abraço apertado de mãe. "Ele tá vivo, Thiago, meu filho tá vivo!" Thiago a abraçou de forma que Harry se encontrava no meio dos dois, protegido. Os três ficaram juntos assim por alguns gloriosos segundos. É claro, Thiago foi o primeiro a quebrar o abraço, seu corpo tremendo violentamente.

"Lílian, nós não podemos ficar aqui, precisamos de um lugar seguro. Se encontraram a gente, vão encontrar Frank e Alice também."

Lílian compreendeu imediatamente. Com um feitiço convocatório, Lílian pegou uma bolsa de couro preta que continha todos os itens de emergência. Instantes depois, no batente da porta dos fundos do chalé, os três desaparataram imperceptíveis nas sombras da noite.


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