Uma canção de Sakura e Tomoyo: Vamo alla flamenco escrita por Braunjakga


Capítulo 16
Ama


Notas iniciais do capítulo

Ama - Mãe em basco



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780587/chapter/16

Capítulo 14

Ama

 

Madrugada de 26 de junho de 2007

 

I

 

Sakura dormia.

A imensidão do seu inconsciente era como um oceano vasto sem ondas. O teto era um azul celeste sem estrelas e o fundo dele não se via. Apenas um azul claro era visto até o infinito. Era como se ele fosse opaco, mas, mesmo assim, era transparente como a água.

De repente, algumas gotas de água pingaram nesse oceano, gerando pequenas ondas em forma de círculo. Em seguida, o círculo de ondas brilhou em dourado, gerando o círculo mágico de Sakura.

— Hoe? — Sakura se questionou. Sua pergunta sussurrou de ponta a ponta de sua mente como um eco. 

As águas no círculo mágico de Sakura começaram a borbulhar, como se estivessem fervendo. Uma mulher de cabelos cinzas saiu de lá, flutuando levemente como um anjo ascendendo da terra aos céus.

— Mamãe? — exclamou Sakura. O corpo dela tomou forma física dentro de sua mente. Sua mãe sorriu. Era realmente ela, a mesma pele pálida, os cabelos cinzas, grandes e ondulados até a cintura. Um calor cresceu no peito da cardcaptor, indo até a bochecha dela. Seu rosto ficou vermelho na hora.  

— Sakura, faz tanto tempo… 

— Mamãe, é você mesma! Como eu tô conseguindo falar com a senhora? 

— Você ficou mais forte, minha querida… — disse Nadeshiko, se aproximando de Sakura e acariciando o rosto dela. Depois, Nadeshiko deu um abraço quente e apertado na filha.

— A senhora podia me visitar mais vezes… O Touya e o papai falam que vêem a senhora direto… 

— E o seu medo de fantasmas? Vai que eu chegou perto de você e você se assusta? Minha presença não é tão diferente dos outros fantasmas! — disse Nadeshiko, sorrindo com a mão na boca.

— Ai, ai, ai, ai! 

Sakura fechou os olhos, mordeu os lábios e ficou agitando os braços como se tivesse feito alguma besteira. Nadeshiko chegou perto dela, segurou os braços da filha e pediu para ela se acalmar. Depois, Sakura se cansou e abraçou o corpo astral da mãe.  

— Aconteceu tanta coisa, mamãe… 

— Pensa que eu não sei? Eu sempre estou vendo você… — disse Nadeshiko, sorrindo. Sakura ficou vermelha na hora.

— Mamãe, eu tô passando por uma situação meio difícil agora… Queria ver se dá pra senhora me ajudar…  

— Entendo, por isso eu vim aqui… Eu precisava te levar pra um lugarzinho antes que você enfrentasse esse Dragão enorme de Diamante, tudo bem? Preciso te mostrar uma coisinha… 

— Que coisinha é, mamãe? 

Nadeshiko segurou as mãos da filha e asas apareceram nas costas da mulher. Ela bateu as asas e as duas voaram muito além do inconsciente de Sakura.

 

II

 

As duas voaram por um céu cheio de nuvens roxas por todas as partes. Uma luz que não vinha nem do sol, nem da lua e nem das estrelas tornava tudo menos escuro quanto deveria ser. Parecia até que elas vinham de dentro daquelas nuvens. 

Sakura apenas sorria e aproveitava ao máximo o voo com a mãe. Um calor aconchegante saía das mãos dela. Ela não sentia frio, apesar do sopro do vento gelado daquele céu que a cardcaptor não fazia ideia onde era. Ela confiava plenamente na mãe. Um mesmo brilho dourado envolvia o corpo astral das duas.

De repente, um brilho azulado surgiu e, do meio daquelas nuvens, um Dragão de Diamante apareceu. Ele estava dormindo, estirado em uma grande nuvem. Era o dragão que Sakura e Tomoyo tinham visto ontem, no parque do pinguim. 

— Você sente medo, Sakura?

— Não, mamãe. Eu sinto… Eu sinto o mesmo calor quando eu tô com a senhora! Não é possível! 

— É assim que você tem que fazer com todo e qualquer coisa que você não conheça ainda. Antes de aceitar a opinião dos outras, procura sentir, está bem?

— Mas, mamãe, eu sonhei com essa coisa me atacando! 

— E você parou pra pensar e sentir a presença dele um pouco? Ou você se deixou levar pelo ataque dele? 

— Mas… 

— Você acreditou que ele ia atacar e ele te atacou…  

— Então eu acreditei que o Shoran ia me salvar e ele me salvou? — Perguntou Sakura. Nadeshiko era só sorrisos.

— Calma, filha. Se você tivesse parado pra respirar um pouquinho, se você não tivesse deixado se dominar pelo seu medo naquela hora, você teria entendido melhor aquela cela. Uma coisa é ver e não pensar, Sakura, outra coisa é processar a informação e analisar ela com o conhecimento que a gente tem… 

— Falou a sabichona que só tirava dez na escola! — disse Sakura fazendo bico, irônica. Todo mundo sabia que Nadeshiko nunca foi boa aluna e vivia pedindo a ajuda de Sonomi.

A mãe de Sakura sorriu e continuou:

— Você é boa com premonições. Só precisa se acalmar um pouquinho. Assim, você já teria visto o rosto do Eriol, da Ruby Moon e do Spinel Sun quando tava transformando as cartas. 

— E eu também teria sentido esse calor que eu tô sentindo agora dentro de mim?

Nadeshiko fez sim com a cabeça, sorrindo. O sorriso e o olhar dela eram iguais aos de Tomoyo.

— Você teria visto a mesma cena que você viveu no parque… 

Sakura parou um tempo para pensar e depois continuou:

— Nunca quis ver o futuro… 

— Mas você precisa encarar, ele tá na sua frente… Vai lá até ele… 

Sakura, sem perguntar muito, caminhou até a cabeça do dragão, fechou os olhos como a mãe sugeriu e tocou em suas escamas. Só aquela cabeça tinha a altura dela. Nunca tinha visto tanto diamante junto na vida.

— O que você sente? 

— Eu sinto uma coisa aqui dentro, mamãe, como se eu já conhecesse ele, como se ele fosse ou tivesse, sei lá, alguma parte dentro de mim nele…

Do nada, o círculo mágico de Sakura apareceu debaixo do dragão, dourado como das outras vezes. Estava enorme, cobrindo todo mundo.

— Mas o que é isso?

— Ele tá querendo falar com você! Fala com ele, vai! — Nadeshiko empurrou a filha até o dragão. Sakura hesitou.

— Não tenha medo, minha filha! É a partir do medo que os fantasmas nascem! 

— Hoe! Não quero isso pra mim não!

— Então fala, minha filha! Fala e tira todas as suas dúvidas! Qualquer coisa, só chamar! — Nadeshiko acenou para a filha e seu corpo astral desapareceu, como se fosse feito por uma porção de estrelas pequeninas. Elas caíram naquela nuvem como cristais de diamante.

— Ai, ai, ai, ai! Como eu começo isso? — perguntava-se Sakura. O Dragão na frente dela começou a respirar mais forte.

Sakura resolveu não ter mais medo, como a mãe havia falado, e resolveu seguir seu coração. Se aproximou do nariz do dragão e tocou na face dele. Quanto mais se aproximava, mais o calor aconchegante que sentia tomava conta do corpo dela.

— Você que é o Dragão de Diamante? — Perguntou Sakura mentalmente, por telepatia.

— Sim… Sou eu…. — respondeu a criatura, com uma certa dificuldade que Sakura reconheceu ser a mesma que ela tinha para falar.

— Hoe! Como é que você pode ser um dragão cruel e mesmo assim me fazer me sentir tão bem? 

— Isso é porque eu era um ser humano antes de virar esse dragão… Eu nem sabia que eu podia virar uma coisa dessas… 

— Mas… mas você pode destruir tudo aqui, né? 

— Sim, posso sim.

— Ai, ai, ai, ai!

— M… Sakura, isso só aconteceu porque eu estou sendo manipulado. Isso é um poder que ultrapassa a minha compreensão.

— Como assim manipulado? 

— A minha transformação em dragão foi intencional. Fui tomado de uma emoção violenta quando vi meu irmão sendo abatido e não encontrei outra resposta. Do nada, me transformei no que eu sou agora… 

— Nossa, você fala difícil! Mas dá pra entender que… alguma coisa aconteceu com você na sua realidade, né? 

— Sim… Coisas muito graves mesmo, difíceis até mesmo pra mim lidar sozinho… 

— Por isso seu irmão tá triste… 

— Não é só ele. A tristeza, o desespero são coisa que tomam conta da gente e faz com que a vida se torne mais difícil de suportar…  

Sakura se calou por um tempo, sentindo empatia pelo dragão.

— Como é que a gente pode te tirar daí? 

— Vocês precisam me parar. Me parar e me enfrentar. 

— Te parar e te enfrentar, é? 

— Si. Como a s… você capturara as cartas Clow no passado, deves usar o báculo da estrela e me capturar. 

— Peraí, como eu faço isso usando as cartas? 

— Da mesma forma que as cartas foram capturadas mas, por favor, não use as cartas comigo. Essas escamas de diamante vão absorver o poder delas e ficarei instável. Se isso acontecer… Nem mesmo eu sei qual será as consequências! 

— Hoe! — Sakura ficou com as anteninhas arrepiadas só de sentir o pânico daquilo que ele falava. Até mesmo o dragão estava atemorizado por ter que precisar lutar contra eles para se libertar, por ter que lutar contra todos eles. A cardcaptor sentia o medo dele, como quando vemos um cãozinho na rua tremendo de frio.

Sem perceber, Sakura começou a acariciar aquela cabeça de dragão, fria e dura como o diamante, mas, ao mesmo tempo, quente e acolhedora.

— A gente vai salvar você… Talvez essa seja uma daquelas coisas que só eu consigo fazer, né?

— Quem sabe… Quem sabe não existam coincidências, só inevitáveis, não é mesmo? 

— Engraçado! — Sakura sorriu. — Quem foi que te disse isso? 

— Foi a senhora mesmo… 

— Senhora? Euzinha? 

Quando as anteninhas na cabeça de Sakura se arrepiaram mais uma vez, Sakura despertou. Estava em seu quarto, coberta por um fino lençol branco. A luz da lua entrava pela janela quadradinha e iluminava o piso de madeira e o tapete onde estava seus chinelos, pegando um pouco daquela cama também. Ao lado dela, Tomoyo dormia. A parceira percebeu que ela tinha se levantado da cama e virou-se para ela, despertando também, com sorrindo para ela.

— Sonhando de novo, Sakura?

— Não tem como esconder isso de você, né? 

— É amanhã que nós enfrentaremos o dragão… Não seria você se você não tivesse sonhado com isso… 

Sakura fez sim com a cabeça.

— Pelo menos foi um sonho bom? 

— Sonhei com a minha mamãe… 

— Então foi um bom sonho… 

— Sim. Foi um bom sonho.

— Depois você me conta o resto dele… Boa noite, Sakura.

— Boa noite… 

Tomoyo puxou o lençol e fechou os olhos. Sakura sorriu, mas depois o sorriso se desfez.

“Eu acho que eu devia ter contado pra ela que eu sonhei com o Dragão de Diamante também… Mas, eu acho que você já percebeu que eu não contei tudo”, pensou.

 

Continua…  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma canção de Sakura e Tomoyo: Vamo alla flamenco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.