Voe, Simon escrita por helly


Capítulo 1
Você só precisa voar - Único.




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Voar é difícil. As pessoas nunca sabem o que fazer para se desprender dos sentimentos ruins, nunca sabem como ir em frente e soltarem os pés, não está no nosso manual como desafiar as leis da gravidade e tudo às vezes parece te afundar de uma forma que você ache que nunca vai parar. Você se sente sozinho e nada parecer poder mudar isso, nem você mesmo.

Simon Snow não era somente o escolhido. O bruxo que tinha nascido para salvar a magia, não somente o pior escolhido que o destino ou a sua maldição poderiam escolher para guiar o mundo mágico para á vitoria contra as trevas, mas também, um estilo de dragão-meio-humano que Baz nunca poderia discordar que era atrapalhado. E um péssimo namorado.

— Snow, se você não fizer isso logo e abrir essas asas eu vou ser obrigado a empurrar você para uma Quimera.

— Como nos velhos tempos? Pensei que tínhamos superado esses anos.

— Fale por você.

Tudo bem, Simon não era um péssimo namorado. Era somente extremamente avoado, teimoso, rabugento em dias que não comia seus doces preferidos e um medroso. Mas Baz não ficava tão atrás, mesmo que apesar de todos os possíveis defeitos do garoto, tudo em Snow era um atrativo para si.

Snow era o ser mais brilhante e quente que Baz conhecia, com seus cachos cor de bronze, seus olhos azuis e suas sardas e aquela linda e perfeita pinta em seu rosto, que combinava perfeitamente com o conjunto inteiro de garoto bom moço e mesmo com todos os defeitos, a personalidade do ruivo era a mais irritante e adorável que Baz conhecia. Tudo no meio-humano adornava para que se tornasse a obsessão particular de Baz. 

— Baz, eu não sei fazer isso. Da última vez foi só... — Simon gesticulou no ar, para enfatizar suas palavras — Nada. Eu apenas fiz, não sei como.

Baz respirou fundo, controlando os próprios nervos para que não fosse até o namorado e o chacoalhasse até que todos os neurônios do rapaz estivessem em ordem, coisa que em todos os seus anos de vida, Pitch achasse que nunca acontecera.

— Simon, meu bem. Apenas tente.

Tudo o que o meio-humano sabia era que Baz só o chamava de “meu bem” quando estava começando a perder a paciência e quando isso acontecia, não era bom contrariar o outro. Por anos, sempre achara que só existia duas versões de Baz Pitch, a que sempre estava aprontando e arquitetando planos para eliminar a existência de Snow ou então, a versão irritadiça que sempre estava discutindo com ele, se não se mostrando como um ser superior que de fato, Baz não era.

De fato, Baz era um bruxo e um vampiro. Só isso o tornava diferente das outras pessoas, sem contar sua linhagem de sangue que intimidava, mas somente a postura do rapaz poderia amedrontar alguém sem problemas. Contudo, Simon era uma das poucas pessoas que conseguia enxergar o que o rapaz tinha por debaixo daquela pele pálida e seu cabelo negro e longo que colocaria até Edward Cullen em uma situação de inveja.

Mas tudo aquilo não fazia de Baz um ser superior e sim apenas uma manteiga derretida. Penny, sua melhor amiga e a bruxa mais poderosa e inteligente que conhecia, dizia que Simon era apenas um adolescente cego de paixão e que convertia tudo que Baz fazia a enredos de filmes clichês e poemas melosos. Penelope Bunce sempre tinha razão, no entanto, o meio-humano conseguia ver os pequenos detalhes bobos de Pitch que poucas pessoas conseguiam e esses pequenos detalhes que o tornavam bobo, também o tornavam uma manteiga derretida. E assim como Baz para consigo, sua obsessão particular e perigosa.

— E se eu não fizer?

— Por Merlin Simon! Você parece uma criança birrenta. — Ralhou. — Bem, se você não fizer...

Baz ergueu uma sacola, que Simon logo conseguiu identificar de onde era com o logo estampado na embalagem. Starbucks. Desde a saída da escola de magia de Watford, Simon não tinha como saciar sua inevitável fome pelos doces e pela comida insuperável da sua antiga escola, não restava nada mais do que os irresistíveis Muffins do Starbucks, que eram docinhos e fofinhos, tudo o que o cacheado mais desejava que Pitch trouxesse para casa depois de um dia longo na faculdade.

Mas se tratando de Tyrannus Basilton Grimm-Pitch nada era fácil e Snow constatou isso com plena certeza, quando o vampiro levou a pequena sacola até o penhasco, ameaçando solta-lá para o infinito e além. Desgostoso, Simon encarou o namorado e bufou, como a criança mimada que era. Não deveria estar surpreso, fora assim por anos.

Baz e Simon não foram sempre namorados, nunca foram verdadeiramente amigos daqueles que se divertem assistindo filmes, fazendo piadas e contando com a presença um do outro em momentos complicados. Passaram anos dividindo o mesmo quarto, dormindo um ao lado do outro, mas por todos os anos juntos, tudo o que tinham era a raiva e desgosto de terem que conviver juntos. Junto com a desconfiança constante de Simon, de que Baz estava aprontando para eliminar sua existência do mundo bruxo.

— Você não é um vampiro com coração. Edward pelo menos respeitaria a escolha da Bella.

— Se Edward respeitasse a escolha da Bella, ela teria morrido no primeiro livro.

Simon encarou o horizonte, sentindo-se pequeno. Não sabia como fazer aquela ideia dar certo, não sabia voar. Não sabia como fazer suas asas funcionarem de uma forma que não caísse no infinito e além para ter uma dolorosa morte. Se Penny não estivesse tão ocupada com Agatha aquela tarde, teria pedido ajuda, mas era impossível ter contato com a melhor amiga nos dias em que ela queria estar com a garota que de modo algum, gostava de se manter no mesmo ambiente com Simon. Pelo menos, não mais.

— Se eu morrer, você vai chorar no meu enterro?

— Você não vai morrer Simon, não seja dramático.

— Você vai? — Repetiu o cacheado. — Vai chorar por mim, Baz?

Pitch permaneceu em silêncio enquanto observava o rosto do namorado, o modo como seus olhos brilhavam de uma forma intensa e vivida e que Baz sabia, que nenhum ser vivo poderia copiar. Se Baz choraria caso Simon morresse? Era uma pergunta tão estúpida que quase riu. Não sabia se concordava com o namorado quando discutiam se Baz estava vivo ou não, ainda não aceitara concordar com essas discussões mesmo com todos os fatos a favor de Snow, mas afinal, ele era um vampiro teoricamente ele estava morto há anos.

Mas Baz choraria pela morte de Simon, porque vivo ou não, Snow era a única parte da sua vida que sabia que pulsava com toda a energia vitalícia e que fazia tudo se encaixar, fazia tudo ter calor e cores, mesmo durante a noite. Olhar para Simon doía como olhar diretamente para o sol no verão, mas ter o namorado e sua energia orbitando a sua volta fazia o se sentir verdadeiramente, vivo.

 — Eu vou chorar mais do que você chora quando corta cebolas, Simon. — O sorriso brilhante e alegre voltou ao rosto do cacheado, fazendo Baz também, sorrir. — Você consegue. Voe Snow.

Não sabia como fazer aquilo sozinho. Não se sentia pronto, seus pés não se moviam estava preso no chão com o peso do mundo nos seus ombros, segurando-o. Não poderia continuar assim, preso e sem encontrar uma maneira de voar. Precisava fazer aquilo, Baz tinha razão, mesmo que Simon não soubesse como fazer suas asas funcionarem, era preciso. Se libertar. Snow precisava se libertar e se agarrar a algo novo, que não fosse os sentimentos que o perseguiam. Olhou para Baz, que sorriu encorajador. Ele não estava sozinho, mas precisava fazer aquilo por si mesmo.

Tudo o que Simon fez foi correr, como se sua vida dependesse disso (oras, mas a vida de seus Muffins dependiam disso). Correu para frente, em direção ao penhasco e pulou. Simplesmente, pulou. Não sabia o que fazer e cair em queda livre para quem sabe na força do pânico fazer suas asas funcionarem, talvez ajudasse. Não era sua ideia mais brilhante, mas era a mais provável de dar certo.

Simon caiu. Fechou os olhos e caiu. Um minuto se passou e Baz estava começando a entrar em pânico, sabia que a queda do precipício era longa e teria altas chances de que logo Snow estaria voando para o céu, mas a cada segundo que passava e o vampiro encarava o precipício de onde não conseguia mais ver o pontinho vermelho que era o namorado e já entrava em desespero interno.

Deveria fazer um feitiço para trazê-lo de volta? Tinha usado um para fazê-los subir até ali, não seria difícil de fazer Simon subir durante a queda. Mas antes que Pitch pudesse sacar sua varinha para conjurar todos os feitiços de que se lembrava, Simon voou para o céu.

Ele era tão lindo, Baz pensou. Afinal de contas seu garoto tinha conseguido voar e no alto parecia feliz e livre como nunca estivera antes. Era como ver o voou de um pássaro que esteve muito tempo com a asa machucada e finalmente, tivesse voltado ao local onde pertencia: ao céu e aos ventos, levando-o para onde eles quisessem que ele fosse.

Simon nunca se sentiu tão aterrorizado e feliz ao mesmo tempo, nem quando beijara Baz pela primeira vez se sentiu daquela forma, tão intenso. Simon se sentiu intenso, como uma Fênix e era a coisa mais boba que podia pensar sobre si mesmo, mas não importava, ele tinha conseguido fazer com que suas asas de dragão funcionassem e estava voando o suficiente para poder tocar as nuvens se esticasse os dedos. Era libertador, era novo, era incrível e era assustador como a juventude deveria ser para qualquer adolescente comum.

Quando voltou a aterrissar, meio atrapalhado e tropeçando nos próprios pés, seu sorriso ia de orelha a orelha enquanto se aproximava do namorado vampiro que não escondia seu sorriso orgulhoso. Snow achava que nada poderia deixa-lo mais feliz que conseguir voar, mas estava errado, o sorriso orgulho de Pitch fazia tudo parecer mil vezes melhor. Sempre fazia.

— Baz você viu aquilo? Eu consegui! — Exclamou, animado enquanto dava pequenos pulinhos na frente do namorado como uma criança contando sobre o brinquedo novo que ganhará de Natal — Eu voei!

— Eu vi, diria que você é uma nova versão do Peter Pan com cauda e asas. — O sorriso chegou aos olhos de Pitch, fazendo-os brilhar. — Você foi muito bem. Eu te disse.

Simon o abraçou sem medo, entrelaçando seus braços na cintura do namorado e encaixando seu rosto na curvatura do pescoço de Baz, que passou seus braços pelos ombros do cacheado puxando o delicadamente para mais perto que podia. Se esforçasse apenas um pouquinho mais, poderia ouvir o coração de Simon batendo forte pela adrenalina. Passou os dedos fracamente pelos pequenos cachos do mais baixo, descendo para suas costas fazendo um vai e vem gostoso, para que o outro se acalmasse.

— Como se sentiu lá em cima, Peter Pan?

— Me senti livre. Como se nenhum problema pudesse me tocar, pleno, feliz. Era como se tudo fosse ficar bem mesmo que o mundo estivesse caindo na minha cabeça, era só eu ter aquilo, continuar. — Simon fez uma pausa, suspirando enquanto fechava os olhos e estragava sua bochecha no ombro do namorado — Quero me sentir assim de novo, Baz. Por muito tempo. Quero mergulhar nesse sentimento, é quase como... Se eu tivesse sido feito para tudo isso.

Pitch sorriu abertamente enquanto passava seus dedos pelos cachos de Simon, sabia que Snow era capaz de tudo e mais um pouco, ele só precisava acreditar em si mesmo. Precisava de um empurrãozinho e se agarrar no que sentisse, era só sentir e se agarrar. Um suspiro escapou pelos lábios de Baz, enquanto apertava o outro e se esforçava para guardar o cheirinho doce e perfeito do namorado, enquanto beijava o ombro do mesmo sobre a blusa.

— Você foi feito para isso, Snow. Foi feito para viver e sentir tudo isso, você só precisa voar. Só precisa tentar.

Simon se afastou o suficiente para encarar o rosto do namorado, seus olhos estavam em um cinza escuro que poderia quase ser confundido com preto se não fosse Snow encarando-os, conhecia os olhos do namorado como ninguém e sabia o que cada cor representava, como quando Pitch ficava muito animado ou feliz com algo, seus olhos se tornavam mais claros. Simon Snow se orgulhava de muitas coisas, mas a principal delas era saber que conhecia Baz melhor do que ninguém.

Retirou uma mão da cintura, levando-o até o rosto do namorado e acariciando a bochecha do mesmo descendo até o maxilar, onde segurou a ponta do queixo do mais alto forçando-o a olhar para si. Os olhos atentos de Pitch seguiam os reflexos dos seus próprios, como uma conexão que nenhum dos dois poderia quebrar tão cedo. Merlin, aquilo era uma maldição do amor e Snow sabia que estava sobre uma, deveria estar. Mas não se importava, nem um pouquinho.

— Obrigado, Baz.

O vampiro sorriu tanto que Simon conseguiu ver o começo de suas presas, se aproximando enquanto depositava uma serie de beijos rápidos e em sequência nos lábios do meio-humano. Beijar Snow era o vicio preferido de Baz, sempre era novo e era quente, era bom. Principalmente quando Simon fazia aquele negócio gostoso com o maxilar, movimentando de uma maneira que poderia deixar Baz para sempre rendido por um beijo. 

Ambos sempre estariam rendidos um pelo outro, mesmo com todas as provocações e todas as discussões bobas, Baz estaria ali para incentivar Simon a continuar e tentar. Incentivar a Snow a voar, assim como o meio-humano estaria ali para puxar o namorado consigo. Amor era sobre trabalhar junto e Simon não largaria a mão de Baz até que a viagem acabasse.

— Sabe, se eu sou o Peter Pan... Você é a Sininho?

— Eu deixo essa para a Bunce. Eu não brilho, Simon.

 — Vampiro fajuto. — Argumentou o outro. — O Edward brilha.

— Edward teria inveja de mim.

— Por quê?

— Eu namoro você e a Bella não chega aos seus pés.

— Você é muito gay, Baz.

Ambos riram, enquanto Simon os empurrava de vagar para mais perto da beira do penhasco, sem que Baz notasse enquanto ainda estavam abraçados. Pitch nunca notava nada do mundo exterior quando estava junto do namorado, seu único foco na maioria das vezes era ver e fazer os olhos de Simon brilharem o suficiente para que parecessem águas cristalinas, era em momentos como aqueles que conseguia enxergar o coração de Snow.

— Baz?

— Diga, Snow.

— Eu prefiro você, mesmo que o Edward brilhe e você não.

Pitch encarou os olhos do namorado, rindo baixinho enquanto Snow depositava um singelo beijo na ponta do nariz do outro. Era isso. Amar Baz Pitch era tão tranquilo quanto voar, mas ainda era preciso cair de um penhasco e Simon caia toda a vez que olhava nos olhos do vampiro.

— Faz um favor para mim? — Indagou o meio-humano. — Segure bem os meus Muffins.

— O quê?

Simon caiu do penhasco, levando consigo Baz. O eco da risada do cacheado se perdeu no ar, enquanto o outro exclamava seu nome e ambos subiam em seguida em direção ao céu. Eles caíram como estrelas, se apaixonando mais a cada segundo e nada poderia mudar isso. Mesmo que Baz não brilhasse como Edward brilhava.

Tudo o que você precisa é acreditar no que te faz ser você, é se apegar a esse sentimento e em tudo que você pode fazer. Não é sobre estar sozinho, é sobre abrir suas próprias asas e se jogar de um penhasco, é voar, mesmo que você não saiba como vai fazê-lo. É se desprender e arriscar as leis da gravidade por si mesmo. Tudo bem, alguém vai esperar até a hora que você voltar. Você consegue, voe. Mas segure bem seus Muffins, você vai precisar de um docinho depois.


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Notas finais do capítulo

Caso você tenha chegado aqui pelo meu twitter, obrigada por ler. De toda forma, eu espero te ver em breve!



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