— Por quanto tempo pretende me deixar trancada aqui?

Essa era a única pergunta que ela fazia à ele durante o tempo que estavam lá. Nunca foram amigos, aliás, ele era o inimigo que destruiu Nova York trazendo consigo um exército de aliens e agora a trancou aqui com a desculpa de que estava a salvando? Era impossível de acreditar.

— Eu estou trancando-a? Oras, mas a porta simplesmente estar aberta!

O cinismo era o que ela mais odiava nele, a sua forma debochada de responder as suas perguntas e depois dá um sorriso cínico, sentia vontade de tirar aquele sorriso e da pior forma.

— Você entendeu bem o que eu quis dizer - Parou em frente à ele e cruzou os braços.

— Eu estou salvando a sua vida e deveria ficar grata pois não é todos que eu faço isso ainda mais sendo desconhecida.

— Sou uma desconhecida e você odeia todo mundo, por quê me ajudar?

— Ora bruxinha - Levantou-se da cama e parou a sua frente - Porque você é uma das raridades, uma das belas digamos assim - Outro sorriso cínico - Que tem em planetas medíocres como esse.

— Thor me disse tudo sobre você, aliás, suas ações falam por você, por que me ajudaria mesmo assim?

— Já lhe disse, estou preso aqui sem meu Tesseract, sem garantias de voltar para a minha casa, você é a minha única passagem para sair daqui, você - Segurou no queixo dela - Me ajudará a sair daqui, em troca eu te salvo, ou quem sabe pense na possibilidade de te levar comigo ao meu reino, um lugar digno.

Wanda nunca imaginou que estaria presa a Loki, a última pessoa na face da Terra ou de qualquer outro lugar, nunca de fato tinha o visto apenas os relatos sobre Nova York e outras coisas que Thor soltava quando estava triste ou bêbado, mas agora cá estava ele a sua frente e em sua opinião matendo-a em cacere.
Por que estavam alí? Ela pelo tratado de Sokovia, havia se perdido dos outros quando enfrentavam soldados e os temidos Sentinelas, robôs adaptados que caçavam mutantes, é, foi assim que ela descobriu uma possível parte dela. Ele porque queria tirar vantagens, estava preso na Terra e queria voltar a Asgard, estava próximo quando a mesma usou os seus poderes, mesmo de forma inconsciente, e a teletransportou-se para fora de lá, essa era a sua passagem para fora dalí.

— Você está é louco, querido - Afastou a mão de seu rosto.

— Somos todos loucos. Aliás, tem muito de loucura dentro de você, Sweetheart.

E aquela tinha sido a última conversa dos dois naquele noite. Lembra de ter ido dormir, ou melhor, tentado dormir, estava com raiva da situação em que estava, da companhia dele principalmente. E também havia saudade, dos seus amigos e acima de tudo, daqueles que sabia que não poderia ver mais, como o seu irmão.

........

— Você não está tentando o suficiente! Basta fazer o que você fez naquele dia, é tão difícil assim?! - Disse alterado, estavam a quase duas horas com aquilo e não obteram nenhum avanço.

— E acha que gritar comigo vai ajudar? Acha que se eu soubesse o que eu fiz naquele dia eu ainda estaria aqui com você? - Ela também estava alterada, exausta pelo esforço que estava fazendo e nem sabia o que devia fazer.

Esse era o quarto dia que estava enclausurada com ele e já estava para enlouquecer. Ele estava exigindo algo que ela nem sabia o que era, seja o que foi que ele viu ela não sabia dizer se era verdade, só lembra de ter visto seus amigos enquanto estava sendo encurralada por dois Sentinelas, depois disso a sua última lembrança e de está nesse local com a presença da última pessoa que ela gostaria de estar.

— Tudo bem, vamos recomeçar de novo! - Apertou os dedos no meio entre as sobrancelhas e respirou fundo - Faz de novo e com calma.

— Não! Eu estou cansada! Eu não sei onde estamos, não sei onde meus amigos estão e se estão bem, eu fui atacada por Sentinelas que afirmam que eu sou mutante, o que eu sei sobre? O tanto quanto você!

Estava cansada demais não só fisicamente. Sempre que estava com estabilidade algo vinha e destruturava toda essa segurança. Agora só queria chorar, mas do que lhe adiantaria? Não tinha uma fada madrinha que viesse ajudá-la sempre que precisava, era a heroína da sua própria história e tinha que derrotar os seus inimigos sozinha.

— Podemos tentar amanhã então.

— Eu já disse que não! Eu não preciso da sua ajuda eu irei embora e procurarei meus amigos e farei a minha própria segurança, sempre estive sozinha sem ajuda de ninguém e não vai ser agora que irei precisar!

— E para onde você vai? A cidade mais próxima daqui fica a quilômetros de distância, ao menos que tenha outro poder secreto chegará lá antes de anoitecer.

— Ótimo - E com isso ela saiu da velha cabana.

Nem que levasse uma semana ela continuaria, precisava cuidar de si mesma sem ter um lunático exigindo algo dela, a pessoa menos confiável tendo controle sobre ela e seus poderes causariam uma tragédia, já passou por isso antes quando esteve na Hydra, um experimento que se tornaria a mais poderosa arma feita por eles, aquele passado não queria retornar mais. Tinha que encontrar seus amigos mas não tinha nem notícia sobre eles, estava perdida e mais uma vez sozinha.

— Eu vou encontrá-los, eu sei que vou - Tentava reconfortar-se com as suas palavras.

Loki estava certo, não chegaria cedo, estava anoitecendo quando chegou na pequena cidade. E agora o que fazer? Não tinha dinheiro, e não podia ser reconhecida, não tinha para onde ir e nem  local para dormir. Vagou nas escuras sempre evitando o olhar das pessoas, apenas parou na praça quando não se tinha uma única pessoa, era ali onde passaria a noite e amanhã resolveria o que fazer, e alí deitada naquele banco da praça, chorou pela primeira vez desde que se perdeu dos seus amigos.

Explosões e mais explosões, não havia um intervalo entre elas, havia pessoas correndo sem rumo apenas querendo se salvar daquela confusão e ela não estava diferentes deles, corria para se proteger, e atacava quando necessário.
Se as encontraram? Não sabia dizer, acordou com uma bomba estourando metrôs de distância dela mas perto o suficiente para deixá-la atordoada, agora lá estava ela em meio a batalha protegendo não só à ela mais os feridos que encontrava a cada canto.

— Vai ficar tudo bem - Sussurrou para as pessoas que estavam com elas.

Estava escondida em um beco sem saída longe do local de batalha com os feridos que havia encontrado pelo caminho. Em seu colo estava uma garotinha de mais ou menos três anos que chorava e ela tentava acalmar a pobre criança. Fechou os olhos esperando que tudo aquilo acabasse, ela também precisava se acalmar.

— Aí está você - Aquela voz que a poucos passou a conhecer - Eu te disse que era um erro sair!

Fora surpreendido por um abraço, não só ele estava surpreso mas como ela também, era a pessoa que ela devia odiar mas estava com medo naquele momento, o som das bombas faziam imagens invadir sua mente, lembranças de quando perdeu seus pais, a partir dalí havia perdido tudo. Tinha que ser realista, era ele quem estava matendo-a segura.

— Ótimo! - Se permitiu a dá pequenos tapinhas em suas costas, não era lá fã de abraços e duvidava, até agora, que alguém fosse lhe dá um - Agora larga essa criança catarrenta e vamos embora.

— Eu volto, mas com a condição que levará em consideração as coisas que falo.

Ele ia hesitar, mas o som de outra bomba explodindo o fez repensar, e com um aceno de cabeça ele concordou.

— Levaremos essas pessoas a um lugar seguro e então podemos ir aonde você quiser.

......

— Se ao menos eu soubesse onde eles estão seria fácil tentar me comunicar, estamos de mãos atadas.

Quase três semanas com Loki, e sem saber sobre os seus amigos, sabia que tinham que se manter em segredo pois estavam sendo caçados mas se os conhecia sabia que estavam em busca dela. Estavam em uma cidade diferente, uma menor do que aquela não só em tamanho mas também em população, era necessário se manterem as escondidas. Depois daquele ocorrido não quis mais sair, apenas Loki saía e trazia tudo o que lhe era pedido, principalmente jornais com possíveis informações.

— Eu juro que estou me esforçando mais, eu consegui por alguns segundos ver aquilo que você viu naquele dia, era fraco mas eu senti.

— É um avanço.

Tinham feito uma promessa de que com inimigos em comum se juntaria pacificamente, não havia mais gritos ou discussões constantemente, mesmo Loki sendo uma pessoa bem difícil de conviver mas estavam evitando conflitos, de fato Loki estava sendo gentil com ela, se isso é possível, mas era o que tinham, a companhia um do outro.

— Eu posso te ensinar tudo o que sei, só peço que faça o possível e o impossível, eu posso ter aprendido com a melhor mas sem esforços não valerá de nada.

— Eu prometo.

— Ótimo. Tome um tempo e começaremos novamente.

— Podemos tentar amanhã? Prometo que me esforçarei em dobro.

— Tudo bem - Suspirou - E não precisa fazer promessas.

Uma coisa que percebeu nesses últimos dias é que ele também estava incômodo com toda essa situação, parecia que não tinha mais esperança de que ela o ajudaria, nem ela mesma tinha essa esperança. Pela primeira vez ela o entendia, não era fácil estar longe de casa e sem ninguém para acolher ou ajudar, mesmo que por interesse próprios estavam se acolhendo.

— Então irei começar cedo minha ronda.

As rondas nada mais do que era o Loki disfarçado enquanto buscava informações a todo canto, eram bem úteis, e a cada vez sentiam que estavam próximos de encontrar os outros.

— Espera.. - Segurou em sua mão evitando que saísse - Por que hoje não me faz companhia?

— Companhia? Achei que me quisesse fora de sua vista - Respondeu com as sobrancelhas arqueadas - Você mesma quem disse.

— É, eu sei, mas você ao menos ver pessoas e quanto a mim fico aqui sozinha.

— Deu saudade de mim agora? - Sorriu de forma cínica mas logo o desfez com o olhar dela - Força do hábito. Mas tudo bem, eu fico.

— Ótimo.

— O que quer que eu faça? Só não me obrigue a fazer algo vergonhoso, criatura eu sou um deus.

— Calma, não irei te convidar para tomar chá - Brincou - Por favor, só se esforce para me fazer companhia.

— Tudo bem...

Loki tinha um jeito peculiar para definir Wanda, não sabia explicá-la, perguntava-se como uma pessoa tão gentil e delicada poderia ser chamada de mostro? Todos tinham um monstro dentro de si, mas as pessoas que a julgam tinham piores. Logo se interrompeu desse pensamento, era estranho se pegar pensando nela e daquela forma.

Naquela tarde, pela primeira vez, os dois estavam se divertindo, Loki aprendeu várias coisas da Terra, observou de longe Wanda cozinhar, escutou contos infantis que contaram à ela quando criança, histórias dela e do seu irmão, sobre ela. Wanda aprendeu mais sobre Loki, da onde vinha, de Frigga e tudo o que ela lhe ensinou, era apenas isso o que soube e por insistência.

Naquele fim de tarde sentado na única cama daquele cômodo esperava por Wanda que estava no banheiro. Não sabia o que estava ocorrendo com ele mas sentiu que não havia mais necessidade de mentir para ela.

— Quer alguma coisa? - Enrolada apenas em uma toalha caminhou até ele e foi surpreendida com ele puxando o seu braço para fazê-la sentar.

— Preciso lhe contar algo.

— Eu fiz algo errado?

— Eu já lhe disse que essa mania de se culpar é irritante - Finalmente seus olhos voltaram-se para ela - Eu menti. Eu sei onde estão os seus amigos.

Wanda nada disse mas a sua expressão de decepcionada foi o bastante. Não havia mais nada o que ser dito, Loki apenas levantou-se da cama e parou ao chegar a porta.

— Eu mesmo aviso onde você estar, ou digo onde estão, está livre de mim - E com isso saiu.

Wanda não podia acreditar nisso, foi uma tola em confiar nele, não é à toa que é conhecido como o deus da mentira, era um defeito seu confiar demais nas pessoas e no fim quebrar a cara. Acreditou nas promessas dele, estava disposta ajudá-lo a retornar para sua casa e agora ele havia traído a sua confiança.

.......

Fogos de artifícios coloriam o céu, música era escutada por cada canto, a cidade havia amanhecido assim e Wanda testemunhou quando tudo se transformou, não sabia o que estavam comemorando mas a beleza e as pessoas felizes era o suficiente. Não havia conseguido dormir, por mais que negasse essa falta de sono era por Loki não ter voltado, estava com raiva dele mas o que isso importava agora? Nada, só achar os seus amigos, a sua nova família era importante, e ele devia isso à ela.

Era umas 20 horas quando Loki apareceu, ela encontrava-se na janela observando o festejo e nem virou para olhá-lo, ignorando sua presença, sentia que ele sim estava observando-a.

— Aqui está toda a informação sobre seus amigos, se for cautelosa os achará sem nenhum problema. Agora está livre para ir atrás deles.

Ficou em silêncio esperando alguma resposta vinda dela mas nenhum movimento ela fez e com um suspiro virou-se para sair de lá.

— Espera - E ele não só esperou como também virou-se para a dona da voz - Me leva para sair esta noite.

Atender ao seu pedido era o mínimo que podia fazer, também seria a última coisa, o último contato, se sentia estranho e não sabia o porque, apenas que Wanda era a culpada por lhe trazer aquelas sensações. Ela o arrastou por cada canto, encantava-se com pequenas coisas e maravilhava-se com a grandes, Loki comparava a sua alegria a de uma criança e sentiu-se bem com aquilo, nunca havia tido isso, apenas Frigga e Thor, mesmo negando, havia lhe proporcionando verdadeiros momentos de felicidades e agora fazia isso por outra pessoa, e aquela sensação estranha lhe envadia de novo.

— Asgard sabe dá uma festa bem melhor que isso, mas devo admitir que pelo menos estão indo para o caminho certo.

Esse era o último lugar que ficariam, depois da última apresentação dos fogos ao céu iriam voltar, mesmo com os disfarce não queriam arriscar mais.

— É tudo tão bonito, mas ao mesmo tempo preferia que não tivesse.

— Por que? - Agora estava curioso - Como algo tão bonito, dito por você claro, não tem que ter?

— Isso assusta os animais e aqueles traumatizados pela guerra.

Não sabia o que dizer e julgou o silêncio como o sábio a se fazer, ficou ao lado dela observando aquela maravilha que trazia desespero para os animais e os traumatizados pela guerra.

— Loki...

— Diga.

— Posso fazer algo?

— Tipo? - Arqueiou as sobrancelhas para encará-la mas ela logou desviou.

— Não é nada.

Ele era o deus da trapaça e da mentira, sério que estava querendo usar isso contra ele? Ele sabia o que ela queria pois era o que desejava por muito tempo.

— Wanda - Pela primeira vez chamou o seu nome, apenas usava apelidos por sarcasmo ou chamava-a de Maximoff.

— Diga.

E assim que virou-se teve o seu pedido atendido. Segurando em seu rosto Wanda correspondeu ao beijo, nada poderia interromper aquilo, era a despedida dos dois.