Exame Ômega escrita por NMCMsama


Capítulo 8
O fim ou O começo?




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Micha gostava do entardecer, principalmente o efeito que as luzes alaranjadas do fim do dia faziam na vitrine do café aonde trabalhava. Tal como um prisma, a luz atravessava o vidro e adquiria cores diversas e formas. Perguntara a gerente, certa vez, se aquilo era intencional, mas de acordo com ela, devia ser um defeito no vidro. Mikhail não achava que era defeito e sim uma qualidade o que tornava tudo mais mágico.

— Uma xícara de capuccino. — Pediu o cliente, fazendo Micha se sobressaltar ao despertar de suas reflexões.

— Ah! Sim, um capuccino já vai sair... Andrey? — Franziu o cenho ao notar quem era a pessoa que estava sentado no balcão do café, vestindo seu terno e sobretudo de coloração azul marinho.

— Ainda continua muito distraído. — Provocou o alfa, retirando o sobretudo e dobrando com zelo — Me admira que não tenha queimado algo...

— Isso já aconteceu, por isso a cozinha é bem equipada com sprinkler anti-incêndio. — Informo, solicita, uma garota de cabelos loiros com mechas vermelha. Tratava-se da gerente do café e suposta amiga de Micha.

— Ei, Lilly, não é educado se meter na conversa de outras pessoas, sabia? — Resmungou, tentando manter um sorriso profissional no rosto. Afinal, estavam em público.

— Ei, Micha, você sabe que sou a sua chefe, não é? Cuidado como você fala comigo! — Respondeu Lilly dispondo do mesmo sorriso nos lábios.

— E o quê? Vai abusar de sua autoridade? Me demitir? Sou o melhor barista que você tem!

— Pode até ser, mas para conseguir esse título de melhor barista foi às custas de muitos incêndios.

— Pelo menos eu sei fazer algo! E além de ser bisbilhoteira e fofoqueira, qual é a sua habilidade?

— Cuidado! Estou quase te colocando como responsável desta semana por se livrar do lixo...

— Eu já faço isso!

— Agora entendi por que você gosta da cor chama. O elemento fogo parece fazer parte de sua personalidade, não é mesmo? — Comentou Andrey que observava a “briga” com interesse. Já estava se acostumando com a eterna discussão entre o seu Micha com a gerente do café, eles pareciam ser bons amigos.

— Me diga, Andrey, nosso Micha também apresenta características voláteis na cama? — Quis saber Lilly em um sussurro que não era bem um sussurro, pois todos no café poderiam ouvir — Tipo, ele é bem quente durante o ato sex...

— Olha o capuccino saindo! — Gritou Mikhail metendo a xícara quente entre o alfa e a gerente.

— Obrigado. — Andrey aceitou a xícara, controlando a vontade de rir.

— Aff, Micha...Sabia que é feio se meter nas conversas das pessoas?

— Lilly você não algo melhor para fazer, como, por exemplo ser de fato gerente?

A mulher deu os ombros e se afastou, sendo que antes mandou tchauzinho para Andrey. Mikhail fazia um sinal com a mão, como estivesse enxotando uma mosca irritante, mas nesse caso a referida mosca era a sua chefe intrometida. Desde que ela tinha visto a mordida na parte de trás do pescoço de Micha, a curiosidade de Lilly entrou em modo ativo. Afinal, isso só significava que a relação entre os amantes tinha chegado a outro patamar. E o fato que Micha não estava ocultado a marca com um cachecol ou algo do tipo, só demonstrava o grau de comprometimento, ademais...Qualquer Alfa ou Ômega em quilômetros de distância saberiam que Micha estaria comprometido. Alias, não foi só o ômega que foi mordido. Apesar de não ser visível, por baixo da gola do terno que Andrey utilizava, justamente na lateral do seu grosso pescoço, Mikhail também tinha deixado a sua marca. Afinal, era muito injusto ser o único com um Outdoor em seu pescoço com letras garrafais dizendo FUI MORDIDO, NÃO SE APROXIME, ÔMEGA COMPROMETIDO. ALFA PERIGOSO POR PERTO.

A mesma mensagem deve valer para Andrey... Lógico que trocando o ômega por alfa, respectivamente, na mensagem!

— Então, vai ficar recorrente a sua vinda aqui? — Resmungou Micha fingindo limpar o balcão próximo ao alfa.

— Humm... — Andrey ignorou a pergunta bebericando o seu café fazendo questão de soltar gemidos de deleite. Gemidos esses que provocam o surgimento de diversos tons de rubro no rosto de Micha.

— Andrey! Você não está dublando um filme pornô...Controle os gemidos! — Ralhou em um sussurro.

— Sem dúvida, você é melhor Barista do que Lutador de Kung Fu. — Declarou Andrey, piscando para o seu namorado.

— Deuses, você ainda está com essa história? — Resmungou, corando ainda mais. Aquela história de Kung Fu era por demais embaraçosa, ainda mais quando Andrey fazia questão de reviver aquela memória sempre que tinha chance. Micha não sabia nada de Kung Fu e tinha quase certeza que Andrey sabia disso, mas o alfa fazia questão de se fazer de desentendido.

— Sabe o que seria divertido?

— Devo me preocupar sobre como você define diversão?

— Perto da nossa casa, abriu uma academia que ensina artes marciais. Quem sabe, não poderíamos nos matricular? — Disse isso entregando um folheto com a propaganda da referida academia. Havia fotos de alfas bombados, fazendo poses de luta com efeito de linhas de ação por trás. Pareciam mais personagens de mangas do que pessoas reais.

— Isso é algum fetiche com o Kung Fu que você tem e eu não estava sabendo? — Questionou tentando evitar o sentimento de contentamento que fervilhava em seu peito ao ouvir Andrey utilizando a palavra nossa. Sim, fazia poucas semanas que os dois haviam se mudado para um apartamento confortável perto da faculdade de Micha (sim, ele tinha conseguido passar no curso que tanto desejava) e do trabalho de Andrey. Era impressionante como eles tinham conseguido adaptar e mesclar suas vidas com tamanha harmonia em apenas alguns meses. Micha nunca esteve tão feliz...

— Já percebeu que todo esse diálogo está sendo feito por meio de perguntas sem nenhuma resposta direta? — Andrey deu um imenso sorriso.

— Não diga? — Micha correspondeu o sorriso. Droga, sentia vontade de beijá-lo, mas se Lilly o visse fazendo isso, iria provocá-lo pelo resto do mês, além de ser bem provável que ela tirasse a foto que colocasse no cartaz referente ao funcionário do mês — Quiçá eu esteja mais apto em responder as suas questão, senhor Andrey, quando chegarmos a nossa casa...

Andrey emitiu um baixo rosnado. Pelo visto, aquilo era o sinal de que a noite poderia ser bem animada.

— Ah...Micha? — Alguém chamou o seu nome, interrompendo o momento flerte e preliminares (em forma de diálogo) entre o casal.

Era um ômega, gordinho, olhos celestes e cabelos castanhos claros quase loiro...Mikhail logo o reconheceu.

— Rodrigo! — Exclamou com alegria — Você realmente veio!

O rapaz assentiu, evitando olhar para Andrey que parecia meio confuso com aquela reação.

— Drey, esse é o Rodrigo, um dos ômegas que concorreu no seu Exame. — Explicou, rapidamente.

— Ah... — Agora Andrey estava embaraçado, normalmente quando encontra os ex-candidatos do seu exame era recebido com olhares de ódio e ressentimento. Muitos acharam que o processo de avaliação foi errôneo e exigiram recontagem de votos, contudo, só um voto consta no Exame: o voto do alfa.

— Fico feliz que vocês. — Disse e parecia realmente sincero — Micha é um cara muito legal...Digo, ele me apoio mesmo eu sendo seu concorrente e...Continuou falando comigo mesmo depois de ter ganhado...

— E por que eu não falaria com você? — Micha bateu com a mão na bancada, chamando Rodrigo para sentar-se em uma das cadeiras. O ômega, com muita relutância se sentou ao lado de Andrey.

— Bem...Eu não sou...Um bom ômega... — Admitiu com voz baixa.

— Sinto discordar em relação a isso, Rodrigo. — Interpôs Andrey — Você passou para a segunda fase do meu Exame, não? Logo, eu também te escolhi, o que poderia dizer que é sim um bom ômega.

O ômega corou e Micha sorriu, mesmo não concordando com aquele papo de bom ômega levando-se em consideração os parâmetros do Exame Ômega, a qual foi organizado pelo papa conservador de Andrey.

— Obrigado, senhor Andrey...Mas...Você me escolheu sem me ver.

— Ora, sim...Eu também escolhi Micha sem vê-lo. — O alfa franziu o cenho sem entender.

— Se tivesse me visto... — Rodrigo tocou levemente a sua barriga avantajada — Você nem permitiria que eu fizesse parte dos candidatos do seu Exame.

Mikhail quase soltou um grito de fúria. Sim, entendia a baixa autoestima de Rodrigo. Havia, entretanto, um estereotípico alusivo ao biotipo de um ômega, este deve ser delicado(a) e belo(a). Tal como uma bonequinha de porcelana. Assim sendo, se supõe que todo o ômega deva ser magro, baixinho (apesar de isso ser meio verdade para a maioria), não ter músculos proeminentes, ademais de ter uma pele perfeita, macia e sem imperfeições (tatuagens e Piercing também era algo proibido). Desta forma, todo aquele desvia desse padrão idealizado era alvo de crítica, era tratado quase como um lixo. Micha imaginava o quanto Rodrigo deve estar sofrendo por ser fofinho. Sua mãe também sofreu o mesmo preconceito.

— Eu não vejo nada de errado. — Admitiu Andrey apertando um dos pneuzinhos de Rodrigo, arrancando um gritinho surpreso do ômega — Você é lindo desta forma que você é...Rodrigo. Alias, alguém magro demais, parece mais um esqueleto vivo do que um ser humano, não acha? Acho que alguém fofinho como você, deve ser mais interessante.

— Oh...O-o-obrigado — Balbuciou, seu rosto já era tão vermelho quanto o mais puro ketchup.

— Drey, pare de flertar na minha frente. — Alertou Micha de modo brincalhão, lançando um olhar afetuoso para o alfa. Rodrigo precisa mesmo de um impulso em sua autoestima. Sabia que Andrey não estava flertando de verdade, mas aqueles galanteios iriam sanar um pouco das feridas do coração do outro ômega.

— M-Micha! E-eu...Não estava...

— Calminha, Drigo. A culpa não é sua, Drey que tem muito fogo dentro de si.

— Eu tenho? — Andrey franziu o cenho — Tem certeza que não está falando de você mesmo?

— Shhh! — Mandou colocando o dedo indicador sobre os lábios — Vou fazer um chocolate quente para o Drigo, por conta da casa!

— N-não! E-eu vim aqui...Não para isso... — O rapaz estava agora em uma escala tão intensa de vermelho que era difícil de ser descrito.

— Micha, você não pode oferecer bebidas por conta da casa. Esqueceu que eu, a gerente, que tem esse poder! — Lilly se aproximou e mirou com bastante intensidade o novo ômega, este apesar de estar um pouco acima do peso, diante do olhar da garota alfa parecia reduzir de tamanho. Tentando, talvez, desaparecer no ambiente. Se camuflar. Ficar invisível.

— Lily, se lembra que eu falei sobre a indicação que eu tinha para a vaga de cozinheiro? — Começou a falar Micha, já que parecia que nem sua chefe nem o seu amigo ômega. Tão pouco Andrey, que só assistia tudo. Pareciam com vontade de falar.

— Sim. Estou lembrada. — Falou ainda com os olhos focados no coitado do Rodrigo.

— Pois bem...Aí está o seu novo funcionário.

— Hum? — Ela ergueu as sobrancelhas — Então, você sabe cozinhar? Pois, fora o café, Micha é um desastre em qualquer outra coisa envolvendo cozinhar.

— Ele é bom em fazer tigelas de cereal. — Opinou Andrey bebericando o seu capuccino.

— Shhh! — Reclamou Micha e logo se defendeu — Esqueceu de mencionar o miojo! Sei fazer isso também!

— E-eu sei cozinhar muito bem. Tirei as melhores notas no meu curso de gastronomia... Estou me formando no fim do ano. — Informou, sem encarar a gerente.

— Um ômega que sabe cozinhar tão bem e...Ainda está solteiro? — Questionou Lilly não sendo nada sutil, bem que sutilize não parecia fazer parte do seu calendário.

— Er... — Rodrigo engoliu em seco, esperando algum comentário maldoso.

— Sorte para mim, então. — Disse, por fim, Lilly.

— Ah? — Rodrigo levantou tão rápido a cabeça que Micha temeu que o rapaz tivesse deslocado o pescoço ou algo do tipo.

— Você está contratado. — Piscou Lilly, o que parecia ser uma tentativa descarada de flerte — Micha, dois chocolates quentes para ele!

— Aham....Pode deixar. — Riu Mikhail, ainda mais ao ver novamente o seu amigo ômega corar. Alias, parecia que Rodrigo tinha perdido a capacidade de falar.

— Além de barista, lutador de kung fu, você também é cupido? — Inqueriu Andrey, de forma provocadora.

— Ora, calado! — Disse Micha estirando a língua para o seu namorado.

Nem todos precisam de um Exame Ômega para encontrar a sua alma gêmea. Era isso que Mikhail pensava, pelo menos.

Algo vibrou no seu bolso, Micha, com enfado, retirou o celular só para ver a mensagem a qual já sabia o conteúdo.

“Soube que você já foi marcado...E quando vocês irão se casar de verdade? Se quiser, eu organizo!”.

Michael...O papa de Andrey, de algum modo tinha conseguido o seu número e agora mandava mensagens sobre cerimônia de casamento e até mesmo discutindo sobre netos. O que já era bastante assustador vindo dele, alguém que o julgou inferior e não merecedor do seu amado filho.

Preferiu manter essas mensagens em segredo, por enquanto. Iria aproveitar e muito o seu namoro. Só por ter sido marcado não significa que deveriam já pular para o casamento e começar a parir filhos como uma fábrica de bebês.

— O que foi? — Andrey questionou ao ver a mudança de expressão de Micha.

— Nada, só pensando o quanto eu te amo... — E não ligando com o que Lilly iria dizer, puxou o seu alfa pela a gravata e o beijou ali mesmo, sobre o balcão do café.

O Exame Ômega poderia ter terminado, mas a jornada de sua vida tinha apenas começado...


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Notas finais do capítulo

Acabou!! E aí? O que acharam?



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