Dodecaedro - Versão ShinoKiba escrita por Kaline Bogard


Capítulo 4
Aquilo que dois constroem juntos


Notas iniciais do capítulo

ACABOU!!

:D



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a clareira no fim do caminho.

 

A visão exibida pela janela era sombria. Os vidros altos estavam bem fechados, conservando o quarto protegido e, ainda assim, Aburame Shino intuía o frio que se espalhava com o manto de neve sobre o chão.

Houve um tempo em que suas terras eram protegidas por um feitiço. Ele paralisara o tempo, obrigando a primavera a ser cenário constante.

E então...

Dodecaedro.

O invasor desconhecido que chegou e mudou tudo.

Kiba, o Ômega sobrevivente que ressonava de leve sobre a cama, no quarto que o casal dividia. Garoto que amava o colorido da primavera, tanto quanto amava as frutas vistosas que vinham com o outono, o calor abrasador do verão e o friozinho aconchegante do inverno.

Para agradar Dodecaedro, Shino cancelou o encanto e deixou que a natureza voltasse a seguir seu curso.

Era inverno lá fora. Mas no coração do vampiro nunca mais haveria frio.

Porque agora ele tinha um coração.

Não em sentido denotativo. Essa parte anatômica era completamente desnecessária para um vampiro nascido nas trevas. Kiba tornou-se o coração que Shino nunca teve. Ligou-o a humanidade que nunca experimentou. Apresentou-lhe experiências que somente ouviu falar.

E fez mais.

Claro.

Não seria Kiba se não fizesse mais.

O Ômega conseguiu comover Shino com a preocupação. Ele queria abraçar e salvar o mundo. Não podia, obviamente. Portanto desejou abraçar e salvar tantos quantos estivessem ao seu alcance, começando com os três filhotes e expandindo para diversos outros sobreviventes.

Quando deu por si, Shino tinha uma pequena aldeia construída no próprio território. Algo em torno de dez humanos e seis shifters morando ali e usufruindo da segurança e sustento. E o número mais do que dobrou naqueles trinta anos em que ele e Dodecaedro estavam juntos.

Naruto, Sasuke e Ino cresceram. Atingiram a vida adulta, tornaram-se líderes na comunidade, ajudando e coordenando tanto quanto possível. Às vezes, para desespero de Kiba, os três saiam em missão de resgate e voltavam com uma ou duas vítimas a quem salvaram. O mundo ainda era perigoso, infestado de demônios e criaturas nascidas de pesadelos. A diferença é que aqueles três foram treinados por Hinata, serviçal de Shino, eram bem alimentados tanto física quanto mentalmente. Podiam usar toda a força da condição Beta da espécie. Eles cresceram e se tornaram fortes, para orgulho do Ômega que os criou.

Mais raramente algum desgarrado invadia as terras de Aburame Shino. Invariavelmente algum humano ou shifter que ouviu falar sobre o abrigo seguro que havia ali. Antes, as lendas a respeito de Shino mencionavam apenas um vampiro Puro-Sangue monstruoso, que esmagaria a pobre alma que ousasse macular seus domínios. E pouco a pouco tais verdades se transformavam: corria o boato de que ali existia um lugar seguro onde se podia viver em paz. Que o vampiro dirigia sua fúria para outros vampiros e monstros que tentassem machucar seus protegidos.

Essa segunda história corria tênue e desacreditada. Foi muito tempo ouvindo o contrário para que as pessoas arriscassem uma invasão de modo leviano. Apenas as muito desesperadas, tal qual Kiba sentiu-se um dia, apostavam todas as fichas e iam atrás do abrigo.

Shino poderia rir. Séculos de uma postura indiferente e a par dos conflitos, mudada pela chegada sem convite de um Ômega que, na época, era pouco mais do que um filhote. Ao invés de rir, se sentiu nostálgico. Sempre se perdia em memórias quando aquilo acontecia: no dia anterior alguém chegara à sua propriedade. Alguém alcançara o limite ao norte e se infiltrara. Não podia dizer se era alguém em busca de acolhimento ou um inimigo ardiloso. Conquanto duvidasse muito da segunda opção.

Como a nevasca não deu sinais de melhoria, resolveu enviar Hinata para investigar no dia seguinte. A serviçal seria mais do que suficiente para cuidar das coisas.

— Vem pra cama... — a voz daquele que pontuava os pensamentos de Shino se fez ouvir, um tanto rouca e cheia de sono. Kiba estava embolado nas quentes cobertas de lã, erguendo-se nos cotovelos enquanto espiava o vampiro.

O convite verbal foi reforçado pelo vínculo, pequenos fragmentos invisíveis aos olhos que atingiram Shino em cheio. Um chamado irrecusável.

Ele afastou-se da janela e caminhou até acama. Exibia-se em um traje típico do país que costumava existir ali antes de o Grande Advento dizimar tudo. Uma yukata que dava destaque quase sobrenatural a pele de palidez marmórea, pois a seda preta o envolvia com diáfana leveza.

O frio tocava-lhe a pele, mas Shino não se incomodava. Kiba chegou e lhe presenteou com ouso efetivo de todos os sentidos. Antes havia frio? Havia. Assim como olfato, paladar, tato e visão. Podia dizer didaticamente qual era o gosto de algo e diferenciá-la das demais.

Agora Shino degustava os sentidos. Todos eles. O clima mortal do inverno que podia matar uma pessoa comum, até mesmo um shifter. Ah, que prazer era senti-lo. A sensação de provar alimentos e saboreá-los.

Dodecaedro o fez renascer de um jeito todo novo, ressignificando sua existência no mundo.

Podia voltar para a cama de casal e tomar seu lugar de direito sobre o amante, se deixar enlaçar pelos braços quentes, aspirando o aroma característico do Ômega, apreciando cada aspecto de estar junto a Kiba; assim como deslizar a língua pelo pescoço que se arrepiava com o contato, enquanto um gemido soava baixinho.

Ainda era o mesmo Dodecaedro de trinta anos atrás, que não envelhecera um único dia desde que se alimentou da vitae Lasombra. Não um vampiro abraçado, nem um mero serviçal. Esse tipo de maldição não afetava o garoto. Nunca afetaria. Embora o sangue de Shino agisse como um elixir da juventude, que manteria Kiba vivo e ao seu lado por toda a eternidade.

Agora o cheiro de morangos vinha fácil. A clássica característica daquela classe shifter, recurso usado para seduzir eventuais parceiros reconhecidos. Era eficiente. E como era.

No começo, o recurso era mais usado em situações de tensão, durante o período que Shino usou para mostrar a sinceridade por trás de suas ações e ofertas. Paciência foi a chave que abriu a muralha que protegia o coração de Kiba, um garoto que cresceu num mundo torpe e impiedoso, onde a sexo era a moeda de troca cobrada de Ômegas. E um preço que o vampiro nunca almejaria. Se houvesse a consumação carnal entre ele e Dodecaedro, então seria de livre e espontânea vontade.

Não permitiria que fosse embora de seu território, claro. Todavia a relação forçada nunca esteve nos planos de Aburame Shino. Caso fosse recusado construiria um palacete no centro de suas terras e daria para o Ômega, o cercaria de serviçais e permitiria que levasse uma vida livre na medida do possível.

E fazia questão de lembrar Kiba desse fato a cada vez que consumiam o amor, ou o mais próximo disso que um vampiro podia sentir. Momento em que segurava com cuidado as mãos de Ômega e beijava primeiro um pulso, depois o outro, exatamente sobre as marcas de algemas que um dia lhe dilaceraram a pele, herança adquirida em tenra idade, quando Kiba enfrentou o que nenhuma criança deveria enfrentar.

O singelo ritual mostrava que Shino nunca o prenderia a qualquer tipo de corrente, física ou não.

— Faz frio sem você — Kiba voltou a sussurrar, segundos antes que Shino o beijasse na intenção não apenas de espantar tal frio, mas de aquecer as coisas de um jeito que só a intimidade do sexo podia fazer.

Quando ele chegou ali; adolescente na idade embora ancião nas provações da vida, esperava conseguir um precário abrigo para si e para os filhotes que compunham seu Pack. E ele encontrou algo a mais.

Shino também encontrou.

Mas para o vampiro, a “clareira no fim do caminho” tinha outro nome. Uma alcunha perdida no tempo e no espaço, que retomava a extinta e pouco saudosa realidade, denominação para o que tão somente Dodecaedro podia lhe oferecer.

Paraíso.


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Notas finais do capítulo

Ah, esse enredo dava uma long linda. Fiquei tentada a escrever mais sobre o passado do Kiba e seus três filhotinhos hohohoho, mas a tentação passou bem rápido!

Sexta-feira tem mais Pigmentos!! Até lá ♥ e obrigada a quem chegou aqui e faz parte dos 7% que tem alma e muito coração hohohohoh (piada interna do grupo)



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