Passaram-se alguns meses desde o fim da quarta guerra ninja. O mundo estava experimentando tempos de calmaria, mas o coração de Hinata não fazia jus à paz que se instalara em Konoha atualmente. As feridas físicas haviam sarado, mas existiam traumas muito mais difíceis de sarar: as do seu coração.

A guerra havia levado muitas pessoas e, dentre essas estava Neji. Seu Neji. Ela ainda não conseguira superar a sua morte.

Nunca tinha amado alguém da forma que o amava e arrependia-se amargamente por não ter declarado de forma clara seus sentimentos a ele. Nem sequer houve tempo para despedidas.

Ele sabia de seus sentimentos por ele e sentia que era correspondida também, porém, com iminente guerra, resolveram colocar os seus problemas pessoais de lado. Não pode deixar de lembrar-se do primeiro e único beijo que trocaram antes de todo o caos começar e, era nessa lembrança que se apegava todos os dias. Era difícil, mas o entendia, não podiam fazer planos, pois, não sabiam se retornariam da guerra com vida, mas ela tinha esperanças de que tudo ocorreria bem, que ao regressarem poderiam juntos viver esse amor. No entanto, isso lhe foi tirado e seu grande amor não estava mais ali. Chorava copiosamente em seu quarto desejando por vezes que tivesse morrido com ele naquele campo de batalha.

— Por quê? — soluçava baixinho — Por que me deixou Neji-san?

Não que ela não soubesse o porquê dele ter morrido. Foi para salvar a sua vida e a de Naruto, mas isso não tornava a dor menos intensa.

Muitos dos seus amigos tentaram anima-la ao vê o estado que frequentemente se encontrava. Ela sentia-se agradecida quando a arrastavam de casa para juntos tomarem uma bebida ou comerem alguma coisa. Por um pequeno período, conseguia não pensar tanto nele. Todavia, quando retornava para sua casa, era como se tudo recaísse novamente sobre ela. Havia sua irmã Hanabi que lhe dava muito apoio, mas ela sabia e entendia que não poderia tomar muito seu tempo. Pois, sua irmã, assim como ela, precisava cumprir seus afazeres junto ao clã.

Acomodou-se em sua cama, deitando em seu travesseiro um pouco úmido devido as suas recentes lagrimas. Fechou os olhos e respirou fundo tentando acalmar seu coração. Ela precisava superar. O Neji não voltaria. Tinha certeza de que se ele a observasse, de onde quer que estivesse, não gostaria de vê-la daquela forma. Com esse pensamento, remexeu-se na cama e após algum tempo entregou-se ao cansaço do seu corpo.

Estava em um lugar ensolarado, um campo cheio de flores. Ela conhecia aquelas flores: girassóis.

 — Mas que lugar é este... — Perguntou para ninguém em particular. Até que seus olhos focaram em uma silhueta mais a frente: um mancebo de cabelos castanhos compridos, agachado colhendo flores.

Sentiu seu estomago afundar. Uma alegria sem fim lhe invadiu.

— Neji-san — sussurrou para si — Neji-san! — gritou.

O rapaz ,que outrora estava agachado, olhou em sua direção e sorriu levantando-se logo em seguida.

Era mesmo o Neji. Portanto, não esperou mais. Correu em sua direção com um largo sorriso no rosto e parou logo em sua frente ofegante.

— Hinata-sama. — sua voz era como uma linda melodia para seus ouvidos. Quanto tempo desejou ouvir novamente seu nome sendo pronunciado por ele.

Hinata pulou em seus braços de forma um tanto afoita derrubando os recém-colhidos girassóis.

— Sinto tanto a sua falta! Tanto! — chorou.

— Hinata — disse segurando-a pelos ombros. — Eu também sinto a sua falta — Beijou-lhe a testa. Hinata suspirou ao sentir a sensação gostosa de seus lábios em sua fronte.

— Neji-san… eu, eu não consigo sem você — disse em meio às lagrimas.

— Você consegue. Olhe para si mesma, a uma mulher forte que se tornou, e se tornará ainda mais — sorriu largo e de repente pareceu pensativo — Escuta, não temos muito tempo.  Saiba que eu também te amo e quero que você seja feliz.

— Eu queria tanto que você estivesse comigo... — soluçou.

Hinata lhe olhou chorosa. Não queria ir embora. Queria permanecer ali com ele.

Neji olhou através dela como se estivesse avistando algo de longe — Vem — pediu conduzindo-a até pararem embaixo de uma árvore e sentaram-se ali. — Vou ficar aqui com você por mais alguns minutos. — sorriu.

— Para aonde vai Neji-san? Que lugar é esse? — questionou-o.

Neji direcionou seu olhar para os girassóis de forma contemplativa.

— Girassóis são flores muito bonitas e sempre se movimentam em direção ao sol. — respondeu-lhe. Hinata lhe encarou com um misto de confusão e curiosidade, então ele prosseguiu — Uma lenda¹ antiga diz que existia no céu uma estrela tão apaixonada pelo sol, que era a primeira a aparecer no fim da tarde, antes que ele fosse embora. Toda vez que o sol se punha, a estrela chorava lágrimas de chuva. A lua ao perceber o sofrimento da estrela aconselhou-a dizendo que ela não poderia agir daquele jeito. Que uma estrela nasceu para brilhar na escuridão e esse amor não tinha sentido. Ainda assim, a estrela não podia evitar, amava os raios de sol como se fosse a única luz da sua vida. Esquecia até mesmo da sua luz própria — ele ficou em silêncio por alguns segundos e então continuou — Certo dia, a estrela foi falar com o Rei dos Ventos, pedindo sua ajuda, pois, queria ficar olhando o sol, sentindo seu calor o máximo possível. O Rei dos Ventos disse que seu desejo era impossível, a não ser que ela abdicasse do céu e fosse morar na Terra, deixando de ser estrela. A estrela não teve dúvidas, virou uma estrela-cadente e caiu na Terra em forma de semente. O Rei dos Ventos plantou essa semente com muito zelo e carinho, regou-a com as mais lindas chuvas e a ela virou planta. Suas pétalas foram desabrochando e abrindo e então, a flor passou a girar devagarinho, seguindo o giro do sol no céu. Ela tornou-se um girassol, que ainda hoje explode sua devoção em lindas pétalas amarelas e que continua seguindo o seu amor.

— Neji-san... — disse ela com o olhar admirado — Olhe para as flores Hinata — Em que direção elas apontam? — questionou-a.

Hinata olhou em direção a elas. Surpresa e compreensão passaram por sua face. Os girassóis estavam todos apontados em sua direção.

— Você é o meu sol Hinata, e eu sempre estaremos olhando para você — Nunca a deixarei — falou carinhosamente — Posso não estar presente fisicamente. Contudo nunca a deixei. Sempre estarei aqui — deu um toque em sua testa —E principalmente aqui — tocou na direção no seu coração.

Hinata estava sem palavras para aquilo. Então somente o abraçou apertado e chorou em seu ombro.

— Onegai, onegai! Deixe-me ficar aqui com você! — exclamou aflita.

— Ainda não chegou a sua hora meu amor. Um dia nos encontraremos novamente. Você ainda precisa iluminar outros girassóis. — sorriu — Prometa-me que seguirá em frente— Olhou-a nos olhos.

— Mas Neji-san, é você que eu amo! Não sei se amarei alguém novamente! — confessou.

— Permita-se Hinata — aconselhou-a — Você vai conseguir. Sei que vai.

Permaneceram alguns minutos em silêncio abraçados.

— Neji-san... Não vejo outra pessoa por quem eu me apaixonaria — insistiu.

Neji sorriu e a olhou.

— Olha, o Na... — Neji! — Uma voz grave o chamou um pouco mais a frente — Está na hora de ir meu filho — Era Hizashi.

— Hinata-sama — seu tio a cumprimentou — É bom vê-la novamente.

— Também é bom vê-lo novamente Hizashi-san — sorriu.

Neji desvencilhou-se dos seus braços e ela sabia que o tempo tinha acabado. Levantaram-se e ele fez menção de caminhar em direção ao seu pai. Porém, antes de prosseguir, segurou o seu rosto com às duas mãos, elevando um pouco sua face — Lembre-se eu nunca deixarei você.

Hinata abriu os olhos. Estava novamente eu seu quarto. Sentia-se leve, como se um peso tivesse sido tirado de si. Como isso tinha acontecido? Questionava-se. Aquilo não tinha sido apenas um sonho. Ela cerrou os olhos novamente querendo voltar para onde estava a segundos atrás, mas foi em vão. Ainda assim, permaneceu por algum tempo deitada naquela mesma posição.

— Foi tudo tão real... — pensou alto.

Repentinamente sentiu uma leve brisa entrar por sua janela balançando suas finas cortinas. Olhou em direção a elas e reparou que logo ao lado da janela, em cima da mesinha de cabeceira havia um girassol. Aquilo não estava ali antes. Girassóis não davam naquela época do ano. Levantou-se rapidamente e pegou a flor com às duas mãos trazendo-a em direção ao peito.

— Neji-san… — Sorriu para si mesma ao lembrar do que o mesmo havia lhe dito. Nunca a deixaria e ela sentia isso agora de forma intensa.

— Arigatô Neji-san. Arigatô.

Dez anos depois

Já se encontrava a horas naquele hospital aguardando o tão esperado momento. Sakura tinha expulsado de forma nada carinhosa o Naruto, pois, a mesma disse que ele estava mais nervoso que a própria Hinata.

— Isso! Empurra! Falta só mais um pouco — Sakura a encorajava. Ela já estava bastante cansada, porém, reuniu todo seu resquício de força e empurrou.

Um choro de bebê ecoou pela sala de parto.

Era uma menina. Sua florzinha. Hinata sorria e chorava ao mesmo tempo.

— Ela é linda Hina — Disse Sakura sorrindo e lhe entregando o seu pequeno bebê.

— Como ela irá se chamar? — indagou-lhe.

Hinata olhou para aquele "pacotinho" em seus braços e observou cada pequenino detalhe exposto. Era tão bela e delicada, assim como uma flor. Logo recordou-se das palavras que Neji lhe dissera em sonho e não teve dúvidas.

— Seja bem-vinda Himawari² — Meu pequeno girassol.