Cyber escrita por Artemis Stark


Capítulo 1
Capítulo 1




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A vida passava para si como num jogo que devorava durante dias, tardes e noites.

Ali, sabia tudo que enfrentaria. Todas as fases e desafios. Em caso de erro – raros em se tratando dela – podia refazer seus passos. Diferente da vida real.

Observava-a com atenção, sua íris refletia as cores da tela do computador gastando avidamente sua preciosa vida. A vida real e aquela outra, cibernética.

Pensei em dizer: gosto de você ou vamos sair para comer uma pizza ou, até quem sabe, tomar um chopp.

Antes disso, antes que eu pudesse fazer qualquer convite, já estava em um aplicativo de entregar de comida fazendo nosso pedido. Sempre o mesmo sabor de pizza, pois até nisso ela mantinha seus hábitos.

Hábitos que ela seguia à risca.

A pele clara, cada vez mais clara pela falta do sol, tornava tudo aquilo mais surreal para mim que era também um espectador passivo de sua vida. Espectador passivo da sua vida real e aquela outra, cibernética.

Com movimentos ágeis, vencia qualquer partida, superando todos os obstáculos. Aqueles obstáculos virtuais. Vencendo adversários. Por vezes, a lateral da minha mão encostava levemente na mão dela. Daquele pequeno ponto sentia todo meu corpo arrepiar, enquanto que ela, tinha os olhos fixos na tela.

Não sentira nada.

Meu corpo pegava fogo, a pele mais quente daquele ponto de contato irradia para todo meu corpo. Frio na barriga. Borboletas no estômago.

A sensação de subir, subir, subir lentamente no carrinho de montanha-russa, os milésimos de segundo parado antes da queda.

O corpo precisa adaptar-se a essa nova sensação e meu corpo sempre precisava adaptar-se ao contato de nossas peles.

O perfil dela atento ao jogo, a sobrancelha levemente franzida. As vezes mordia o lábio inferior com tanta força que uma ponta de sangue surgia. Observava-a calado.

Forçosamente, voltava meu foco para o jogo. O que está acontecendo? Estava perdido no jogo, havia ficado para trás em algum labirinto ou luta.

Ficara para trás ao gostar dela, que não tinha olhos para mim, tinha olhos apenas para a tela do computador. Um amor de mão única.

Queria adiar o fim do jogo, usar toda a tecnologia que a prendia em frente ao computador para retardar o tempo. Para pausar o tempo. O tempo que estava lá: eu, ela e o computador.

Queria transformar-me em pixels, uma imagem na tela que chamasse sua atenção. Gostaria de mim assim?

Só que eu não tinha aquela tecnologia e, de qualquer forma, era melhor aquela realidade mesmo que breve. Da pizza compartilhada. Do jogo jogado. Do contato breve e as borboletas que me levavam toda a semana para a casa dela.


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