Uma Aventura no Tempo escrita por Cignus_Tha


Capítulo 1
O Reinício


Notas iniciais do capítulo

Todos os personagens são da Marvel, e apenas me divirto com eles, não ganho nada =)
A história se passa após o flme "Ultimato" e leva em conta apenas o UCM. Algumas séries também serão usadas como base, como Agente Carter.



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2014, Vormir

Caminhando naquele local inóspito e deserto, o silêncio ensurdecedor só era interrompido pelo barulho dos próprios passos. Nunca havia estado ali antes, mas as poucas informações que lhe foram passadas pelo Gavião Arqueiro eram suficientes para que chegasse ao seu destino que agora, já não devia estar tão distante assim.

À medida que se aproximava, sentia os batimentos cardíacos aumentarem rapidamente e se perguntava se qualquer outro dos Vingadores que estivesse ali no seu lugar sentiria o mesmo, com a mesma intensidade. Mas ele mesmo já sabia a resposta: tinha certeza que não.

Todos tinham carinho por Natasha, mas a verdade é que ele nutria sentimentos mais fortes pela amiga. Não sabia dizer ao certo quando tinha começado, mas se lembrava quando tinha se dado conta de que o sentimento por ela havia mudado: em uma das primeiras missões que fizeram juntos para a Shield, somente os dois de Vingadores, e que culminou com a descoberta de que o soldado invernal que eles buscavam era Bucky. O beijo que trocaram para escapar dos agentes da Hidra naquela escada rolante de shopping se repetiu secretamente por várias vezes depois, em diversas ocasiões, no entanto, não houve tempo para que essa relação virasse algo mais. Foram atropelados pela Guerra de Sokóvia, causada por Ultron, o tratado, a briga com Stark, a separação do grupo e logo na sequência, Thanos. Tempo... que ironia! A joia que ainda há pouco ele tinha nas mãos e que fôra a responsável por trazer Stark de volta à vida, pelo Dr. Estranho, não podia ser usada para ele recuperar o tempo perdido, para recuperar um provável e possível amor. Isso lhe foi tirado. E pela segunda vez.

Enquanto caminhava, agora a passos mais lentos, como se quisesse atrasar a si mesmo para a conclusão da missão, tentava se conformar, pensando consigo que não tinha certeza se Natasha tinha a mesma intenção e sentimento que ele tinha por ela. Na verdade, achava que não fazia sentido uma mulher como ela ter interesses românticos por um alguém como ele.  A Viúva Negra era atraente, forte, destemida, moderna e ele ainda era o mesmo rapaz do Brooklin, com mais músculos, mas o mesmo coração romântico e antiquado da década de 40. Ela podia ter o homem que quisesse, num piscar de olhos. Ele ainda não entendia bem como aqueles deliciosos momentos que passaram juntos tinham acontecido, embora a iniciativa, na grande maioria das vezes, partisse dela. No fundo, achava que não seria correspondido da mesma maneira e que ela só estava brincando com os sentimentos dele, envolvendo-o na sua teia.

“Você pode ter mudado, mas ainda não entende nada sobre as mulheres, Rogers.”

A lembrança dessa frase fez com que ele esboçasse um ligeiro sorriso. Mais por quem tinha dito do que pelas palavras em si. Peggy sempre sabia o que dizer. Ela sabia ler o que se passava na mente e no coração dele. Sentiu um alívio ao dar-se conta que em breve a reencontraria. Sim, já tinha tomado sua decisão. Queria viver a vida que Stark lhe disse que era boa e feliz. A vida que Tony sempre quis que ele tivesse. Ele achava que tinha esse direito. E entre viver um futuro incerto com Natasha, optou por um passado certo com Peggy. Não sabia se era possível nem correto, mas sabia que amava as duas. E por isso mesmo estar em Vormir era tão difícil: ele não iria apenas devolver a joia, ia trocar a alma de Natasha por ela, trazê-la de volta, dar-lhe a chance de ser feliz. Ele devia isso a ela, em troca de seu sacrifício. Por isso, ignorou Banner e Clint dizendo que era impossível resgatá-la. Ele tinha que tentar. Abriu a maleta que carregava e viu as duas joias remanescentes a devolver.

— Estou quase finalizando minha missão, Peggy. Me espera só mais um pouco.

Fechou a maleta e, como se essa reflexão lhe tivesse trazido de volta a confiança, retomou os passos firmes rumo à figura esvoaçante, que ele já podia avistar ao longe.

À medida que se aproximava, no entanto, Steve tinha a estranha sensação de que aquele ser não lhe era desconhecido.

— Steven Grant Rogers, filho de Joseph Rogers. O homem fora de seu tempo. – lhe dizia a criatura, com aquela voz que ele conhecia tão bem – Nos encontramos novamente, Capitão.

— O que você faz aqui? – Steve enervou-se. Não podia acreditar que o Caveira Vermelha era o responsável por guardar a joia da alma. Cerrou o punho sentindo o sangue ferver. De alguma forma, seu velho inimigo era responsável pela morte de Natasha.

— Não é óbvio? Sou o guardião da joia da alma. – ironizou Caveira Vermelha – Mas me espanta vê-lo aqui. Confesso que não esperava que ninguém mais aparecesse... e considerando que veio sozinho, acredito que perdeu seu tempo, Capitão.

— Como você veio parar aqui?

— A culpa é sua. – exaltou-se a criatura – Não me deixou alternativa a não ser pegar o Tesseract e quando eu o fiz... fui absorvido pela joia e enviado pra cá, condenado eternamente a saber tudo de todos, sem nunca poder sair.

— Saiba que isso ainda é pouco por todo o mal que causou. – Steve disse, mantendo o mesmo cenho franzido e olhar de raiva para o ser à sua frente – A sabedoria é uma benção, e você não merece ser abençoado por nada. Devia sentir-se lisonjeado, a joia foi benevolente com você.

— Abençoado... eu deveria ter sido abençoado com a benção que você carrega em seu sangue. As coisas sempre foram muito fáceis pra você, não é Capitão? O homem exemplar, o heroi da América! Nada mais é que alguém que teve a sorte de estar no lugar certo, na hora certa.

— Não fale sobre coisas que você não sabe. – vociferou Steve – Todos pagamos um alto preço para ter o que temos e ser como somos. E por mais vontade que eu ainda tenha de desintegrá-lo com minhas próprias mãos por tudo o que fez, não vim aqui pra isso. Então vamos logo ao que interessa.

— E eu confesso que adoraria vê-lo espatifado no fundo desse penhasco, seria um alento para esse triste e eterno fardo que tenho que carregar... – falou Caveira enquanto se aproximava – Mas como você deve saber, para obter a joia da alma, é necessária uma troca...

— Uma troca eterna, uma alma por outra. Sei disso. – interrompeu Steve.

— Muito bem, Capitão... – riu Caveira – Deve saber também que deve-se sacrificar algo que ama.

— Acontece que eu não vim pegar a joia da alma. Eu vim devolvê-la.

— Como? - Caveira perguntou surpreso – Isso nunca aconteceu antes.

— Isso mesmo que você ouviu. – falou Steve enquanto abria a maleta e pegava a joia da alma, esticando-a em direção ao outro a sua frente, recolhendo a mão em seguida, quando Caveira fez menção de pegá-la – No entanto, eu não vou simplesmente entrega-la a você. Afinal, como você mesmo disse, uma alma por outra.

— Aonde quer chegar, Capitão?

— Eu vou lhe devolver a joia, contanto que devolva Natasha Romanoff.

— Isso é impossível, contra as regras! – gargalhou Caveira.

— E que regra estamos quebrando aqui? Uma alma por outra, qual a dificuldade?

— Você... sempre sendo o heroi. Ainda que nunca ganhe nada com isso. Poderia ser muito mais, ter muito mais, se apenas...

— Bem, esse é um problema que terei que resolver com minha própria consciência. – interrompeu Steve – E então, temos um acordo?

— Muito bem, Capitão. – suspirou Caveira, ao responder, como se estivesse recebendo respostas de algo ou alguém – Sua troca foi aceita. Jogue a joia no penhasco.

Steve se aproximou da beira com a joia na mão, sem coragem de olhar para baixo. Era como se ele pudesse sentir Natasha morta ali ainda.

— Espero que da próxima vez, venha acompanhado, Capitão.

— E eu espero que você vá para o inferno. – respondeu Rogers enquanto atirava a joia na imensidão negra à sua frente.

Vários relâmpagos iluminaram o céu de Vormir e um clarão cegou Steve, que apagou momentaneamente, acordando em seguida em um lago imenso e escuro, como todo o restante da paisagem, com Natasha desacordada nos braços.

— Nat? – ele chamou, balançando-a delicadamente.

A ruiva abriu os olhos devagar, ainda tentando entender o que estava acontecendo e onde estava. A última memória era a da disputa com o Gavião para ver quem se sacrificaria pela joia da alma. Ela se jogou e agora estava em um lago... no colo de Steve Rogers?

— Steve? Oh meu Deus! Você aqui?? Não, isso não pode ser... – desesperou-se ela.

— Nat, calma, Nat! – Steve segurou os braços dela para que se acalmasse e prestasse atenção nele – Eu não morri, está tudo bem.

— Mas eu... eu me joguei e... Thanos! Precisamos voltar.

— Nat, não tem mais Thanos. Acabou, nós vencemos.

— Nós... vencemos? – ela falou sorrindo e vendo o rosto de Steve se iluminar com um sorriso equivalente – Nós vencemos!

Ela se jogou nos braços dele, que não esperava por essa reação, e acabou caindo pra trás. Os olhos verdes dela logo se perderam no azul dos olhos dele. A respiração descompassou e eles praticamente podiam ouvir os batimentos cardíacos um do outro. Natasha acariciou o rosto de Steve e se aproximou mais, permitindo que seus lábios tocassem os dele. Steve aceitou e correspondeu o beijo, abraçando-a e trazendo-a para mais perto de si, matando a saudade que sentia daqueles lábios. Steve imaginava que ela o tinha beijado devido à emoção do momento e não necessariamente por sentir algo por ele. Mas ele entregou-se de corpo e alma aquele momento. Afinal, seria seu último beijo com ela.

Natasha sentiu toda a intensidade dele naquele beijo. E como era bom sentir-se protegida por aqueles braços novamente! Ela não se achava digna de receber amor de ninguém, principalmente dele, e lutava com todas as suas forças contra o sentimento crescente que sentia. Tentava manter-se fria, coração duro, a temida Viúva Negra! Mas olhar aqueles olhos sempre a amolecia. E ela tentava convencer aos outros, e principalmente a si mesma, de que ela e Rogers não passavam de amigos. Companheiros, sempre juntos, mas ainda assim, amigos.

Apesar de ter gostado muito de senti-lo tão entregue, uma leve pontada de desconforto a incomodava: aquele beijo tinha sido ótimo, porém, parecia uma despedida. Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos e resolveu deixar as preocupações de lado para aproveitar a nova chance que estava tendo de viver.

Steve franziu o cenho, preocupado com a reação dela. Parecia perceber a luta interna que a Viúva Negra travava consigo mesma.

— Está tudo bem? – perguntou preocupado, temendo ter sido invasivo demais ao beijá-la.

— Sim, está... – ela respondeu sorrindo, enquanto se levantava – Estou viva, não podia estar melhor.

— Muito bem, Romanoff. Se posso te dar um conselho, como alguém que também passou um certo tempo morto... – ele falou, se levantando – Aproveite essa nova oportunidade que está recebendo e seja feliz.

— Que belo discurso motivador, Rogers. – Natasha falou, com o mesmo sorriso no rosto – Ainda exercitando seu lado de mediador do grupo de apoio?

Steve apenas sorriu em resposta, balançando a cabeça negativamente.

— Bom, estou preparada e ansiosa para voltar pra casa. A hora que quiser, Cap.

— Você vai agora, Nat. Eu tenho que finalizar a missão. Ainda falta devolver a joia do poder.

— O que estamos esperando, então? – Natasha respondeu, fechando o capacete, se preparando para acionar o GPS que Steve havia lhe devolvido.

— Nat... Disse que eu ainda preciso finalizar a missão. Isso é comigo agora. Você volta.

— Mas...

— Você já fez muito além do que podia fazer... – Steve a interrompeu – Deu sua vida por nós. Não tenho o direito de te pedir nada mais.

A ruiva revirou os olhos, demonstrando seu descontentamento. Porém, não teve coragem de contrariar o loiro.

— Está certo, então... Nos vemos em... um minuto? – ela sorriu novamente, repetindo o que tinha dito antes de viajarem a primeira vez pelo tempo.

— Em menos de um minuto. – ele sorriu também, enquanto via a Viúva Negra sumir diante de si. E com um longo suspiro, pensou alto, como se ela ainda pudesse ouvi-lo – Sentirei muito a sua falta, Nat.

++++++++++

2023, Nova Iorque

— 5, 4, 3...

— Ele voltou! – Sam gritou, antes mesmo de Bruce Banner finalizar a contagem regressiva – Voltou antes da hora.

— Não é o Steve... – Bruce falou sentindo o coração acelerar – Se parece mais com...

— Natasha! – Sam interrompeu novamente, vendo a Viúva Negra abrir o capacete.

— Nat! – Banner correu em direção a ela – Mas como é possível? Você estava...

— Mas não estou mais! – ela interrompeu, abraçando Bruce carinhosamente.

— Eu não quero atrapalhar o reencontro de vocês, mas... o Steve também tem que voltar, Banner. – Bucky comentou.

— Por Deus, Bucky, tem razão! – concordou Bruce, retornando à mesa de comando para acionar os botões que trariam o Capitão América de volta.

— Cadê ele? – Sam questionou – Já era pra estar de volta, não?

— Bruce? – Natasha preocupou-se.

— Eu não sei... ele... ele passou direto pela linha temporal – desesperou-se Banner.

— Traz ele de volta! Agora! – Natasha foi ao lado de Bruce querendo desesperadamente apertar todos os botões daquela mesa de controle, mas com medo de tornar as coisas ainda piores.

E enquanto Sam e Natasha discutiam com Banner, Bucky notou a presença de um idoso, sentado em um banco de madeira, localizado à frente de onde estavam.

— Hey, pessoal... – chamou a atenção dos demais, apontando para o homem. Sam se aproximou, ainda confuso sobre o que estava acontecendo. Bucky sorriu de leve e colocou a mão no ombro de Sam, incentivando-o – Vai lá.

Natasha e Bruce observavam de longe o Falcão se aproximar do velho, ainda sem entender nada. O único que parecia tranquilo era Bucky, que mantinha o mesmo sorriso no rosto.

— Que merda está acontecendo aqui? – Natasha perguntou.

— Eu... não tenho certeza... – Bruce respondeu, com medo de terminar a própria frase.

— Bruce? O Steve, temos que trazê-lo. E se aconteceu alguma coisa? E se ele se perdeu? E se...

— Nat... eu acho que... é ele quem está ali.

— O que você está falan... – Natasha fala indignada, no mesmo momento em que assiste estupefata Steve entregando o escudo para Sam – Não... ele não...

A ruiva se aproxima devagar, ainda sem acreditar direito no que estava acontecendo.

“Como ele pôde?” – pensou consigo mesma, indignada. Ela não podia aceitar que não o teria mais ao seu lado para seguir com os Vingadores. Chegou enfim diante dele, no momento em que Sam apertava a mão de Steve. O Falcão afastou-se ao ver Natasha se aproximar, dando mais espaço aos dois.

— Steve? – perguntou ela, ainda incrédula.

— Olá, Natasha. – sorriu ele – Acho que demorei um pouco mais de um minuto... Me desculpe por fazê-la esperar.

— Então... o Capitão América nos abandonou.

— Na verdade, ele apenas passou o escudo adiante.

— Mas...

— Não se preocupe... – falou ele sereno, segurando a mão dela entre as suas – Confio no Sam. Ele é um bom homem e será um Capitão América excelente, até melhor do que eu.

— Isso será difícil... – ela falou se afastando, tentando ignorar a aliança em sua mão esquerda – Quer dizer, confio no Sam mas... Ele não é um líder. Não como você.

— Mas você é. Uma excelente líder. E fará um ótimo trabalho. Estão todos em ótimas mãos.

— Steve... eu... eu não posso.

— O que está dizendo? É claro que pode! Você já fez isso, durante todo o tempo em que achamos que estava tudo perdido.

— Você e esse maldito otimismo. – ela falou enquanto caminhava para longe dele, cruzando os braços – Minha vontade é de te afogar neste lago. – concluiu ainda de costas.

— Você não teria coragem de afogar um idoso, teria? – riu ele, levantando-se devagar e se aproximando dela.

— Você não é um idoso qualquer. É o Capitão América. Então sim, com certeza te afogaria.

— Não sou mais o Capitão América. Apenas o Steve Rogers.

— Ainda não é um argumento convincente... – ela fala, só então tendo coragem de olhá-lo nos olhos – Espero que tenha valido a pena.

Ele apenas assentiu positivamente em resposta.

Natasha abraçou-o calorosamente, esforçando-se ao máximo para segurar as lágrimas que teimavam em querer sair.

— Espero que tenha sido feliz. Você merece. – falou ainda abraçada a ele.

— Eu fui. Agora é sua vez. – ele respondeu praticamente num sussurro, ao pé do ouvido dela.

— Ainda nos veremos? – questionou ela, separando-se do abraço.

— Quem sabe? – respondeu ele enquanto se afastava, vagarosamente.

++++++++++

1948, Nova Iorque

Peggy finalizava a leitura do último relatório de missão antes de assiná-lo enquanto uma jovem moça a aguardava, olhando-a admirada. Notando que estava sendo observada, Peggy ergueu os olhos por cima dos papeis e tamborilou a caneta na mesa, intrigada com olhar da outra sobre si.

— Tem algo que queira me dizer, senhorita...

— Thompson. Angela Thompson, Srta. Carter. – respondeu a moça, abrindo um lindo sorriso.

— Oh, sim, mas é claro. Você é a assistente nova, que começou na última semana, correto?

— Isso mesmo! Fico feliz que a senhorita tenha se lembrado de mim.

— Em um lugar infestado de homens, não é difícil se lembrar de outra mulher. – falou simpaticamente.

— Sim, com certeza! – Angela sorriu timidamente – Não é fácil se destacar em meio a eles, não é mesmo? Mas mesmo assim, a srta. conseguiu. Saiba que a admiro muito por isso! Você serviu de inspiração pra mim desde o início. É a razão de eu ter me esforçado tanto para chegar até aqui.

— Fico lisonjeada com as palavras, Angela. Espero que esteja preparada. Não será um caminho fácil.

— Sei disso! Mas sei que com o treinamento adequado, poderei ser tão bem sucedida quanto a senhorita. Ou ao menos, próximo disso. E estou na mão da melhor.

Peggy sorriu com a empolgação quase juvenil da outra. Lembrava-se dela mesma quando foi para o exército e depois, quando começou a trabalhar na RCE. Ficava feliz que como uma das fundadoras da Shield tivesse poder de decisão o bastante para conseguir colocar mulheres que tivessem aquele mesmo brilho nos olhos ali dentro. Uma grande mudança para uma sociedade ainda muito machista.

— Obrigada pela confiança. E estou certa que você pode vir a ser melhor que eu. – Peggy sorriu uma vez mais, voltando a atenção ao papel.

— Será que a única inglesa deste escritório vai perder a hora de pedir o almoço? – brincou Sousa, aproximando-se da mesa dela.

— Na verdade... – ela respondeu ainda olhando o papel, terminando de assiná-lo e entregando-o a Angela, em seguida – Eu estou pronta.

— Bem na hora, como sempre. E o que vai...

— Mas não vamos pedir almoço hoje. Vamos almoçar em algum lugar fora daqui. Preciso respirar um ar diferente.

— O que quiser, chefe.

— Sousa... – Peggy respondeu com olhar de reprovação, enquanto pegava sua bolsa – Sabe que não gosto que me chame assim.

— Mas devia. Você chegou aonde está por competência.

— Mesmo assim... Prefiro continuar sendo apenas a Peggy.

 

Saíram pela porta da frente e caminharam duas quadras até chegar à lanchonete que virou quase que extensão do escritório e da casa para Peggy, por muitas vezes.

— Olá Angie! Tem alguma mesa para dois?

— Olá, inglesa! – Angie cumprimentou, sorridente – Sempre tem vaga para você. Olá, agente Sousa! – falou simpaticamente, enquanto os direcionava para a mesa escolhida e pegava do bolso a caderneta com a caneta para anotar os pedidos – E então, o que será hoje?

— Bom, o meu será o de sempre. – respondeu Peggy.

— Acho que vou querer o mesmo. – respondeu Sousa, ajeitando-se melhor no assento e depositando a muleta de lado.

— Muito bem... – Angie anotava os pedidos e notava o olhar de Sousa para Peggy enquanto a agente tirava o chapéu e ajeitava os cachos. Era claro que ainda havia sentimento ali -  Vão querer alguma bebida para acompanhar?

— A bebida que eu gostaria de tomar agora não é apropriada ao horário. – Peggy sorriu – Então, não Angie, obrigada.

— Também não vou querer nada, obrigado.

Angie sorriu em resposta e se retirou.

Sousa olhava discretamente para Peggy que ajeitava o chapéu e a bolsa no assento ao lado de onde estava para que não fossem ao chão. Prestava atenção nos movimentos delicados mas ao mesmo tempo firmes que ela tinha. Era uma mulher forte, admirável e linda. A mais linda que ele já tinha visto. Suspirou e desviou o olhar para a janela, que dava para a rua, com receio que ela tivesse notado que ele praticamente se derretia por ela ainda. E blasfemava consigo mesmo por não ter coragem suficiente para tentar algo. Já tinha perdido chances antes e sempre prometia a si mesmo que da próxima vez seria diferente. Mas a próxima vez chegava e ele era tomado pelo medo mais uma vez. Passou a mão pelo cabelo e coçou a nuca, pensando no que iria dizer. E então, voltou à sua zona de conforto, tocando no único assunto no qual ele se sentia à vontade o bastante para conversar com ela: trabalho.

— Você conseguiu a descrição daquele novo aparelho que o Stark criou?

— Não, na verdade não o vi hoje... ainda.

— Ele não disse que iria te entregar logo pela manhã?

— Na verdade, ele disse que me entregaria assim que chegasse... e claro, também deduzi que fosse de manhã, mas... – Peggy respirou fundo antes de seguir – Você conhece o Howard. É um gênio, mas um irresponsável. Certamente perdeu o horário em algum rabo de saia. – ela completou revirando os olhos, enojada.

— Estranho vocês dois se darem tão bem, mesmo sendo completamente opostos. – riu Sousa – Se outra pessoa a visse falando dele, certamente deduziria que se detestam.

— Stark pode ser arrogante e até infantil, mas é uma boa pessoa. Aprendi a entende-lo e respeitá-lo com o tempo... – Peggy falou e olhou para o nada, como se estivesse pensando longe – Na verdade, só aprendi a respeitá-lo. Ainda não consigo entender como a cabeça dele funciona.

Os dois riram da forma como ela falou.

— E percebo que ele a respeita muito também.

— Hoje em dia, sim... Não foi fácil. Mas fiz com que ele me respeitasse.

— Assim como fez com todos os outros também...

— Bem, não com todos... – Peggy falou olhando nos olhos de Sousa – Alguns homens sempre foram respeitadores, de modo que eu não precisei me impor. Estou olhando pra um deles.

Sousa engoliu seco com aquela encarada. Aquela seria uma ótima oportunidade para agir diferente e tentar mostrar a Peggy que ele a queria mais do que como simples companheira de trabalho. No entanto, Angie chegou com o almoço e acabou quebrando o clima do momento.

— Muito bem, aqui está. Um ótimo almoço para vocês!

— Isso parece delicioso! – Sousa comentou.

— Espere só até provar nossa sobremesa! Peggy sempre come e repete, muito me espanta que ainda caiba nas roupas após comer tanto. Acho que na Inglaterra não tem doces como os daqui.

— Angie! – Peggy a repreendeu, sem graça.

— Ela está ótima, segue linda. – Sousa falou, sem pensar – Quero dizer... bem... eu...

Angie riu do jeito tímido de Sousa que agora, já estava mais vermelho que um tomate.

— Me desculpe, Peggy... – ele falou desconcertado – Não quis ser inconveniente.

— E não foi... – ela respondeu, segurando na mão dele – Não foi grosseiro, eu... gostei. Não se preocupe com isso, agradeço pelo elogio. – e suspirando, com o olhar baixo, ela continuou – Já fazia muito tempo que eu não era elogiada dessa forma...

O olhar dela ficou triste e ele, que já tinha visto isso acontecer antes, sabia o que queria dizer: a cabeça dela estava novamente perdida na guerra.

++++++++++

Steve chegou em um local sem iluminação, que pelo cheiro de umidade e pelo tanto de pó acumulado, parecia estar abandonado há algum tempo. Isso não o surpreendeu, na verdade, ele já imaginava encontrar um cenário assim: estava novamente em casa, na sua casa. Estranhamente, no entanto, não se sentia em seu lar. Era como se aquele cenário fizesse parte da vida de uma outra pessoa, uma vida que já tinha deixado de ser a dele há muito tempo.

As coisas parecia estar exatamente da mesma maneira que ele as tinha deixado um pouco antes de embarcar para a viagem que mudaria a sua vida pra sempre. E isso tinha um tom melancólico. Embora sua vontade fosse a de abrir todas as janelas para que a luz do sol que começava a raiar tirasse as lembranças sombrias do lugar e os novos ventos que ele esperava para si arejassem o ambiente, não podia fazer isso. Ser visto com aquele traje quântico em 1945 seria uma tragédia. Ser visto sem ele e reconhecido seria ainda pior.

A calça escura que vestia se adequava aos padrões de roupa da época, assim como os sapatos. A camisa, no entanto, chamaria a atenção. Abriu o guarda-roupa e sorriu levemente ao certificar-se que de fato aquela não era mais a sua vida: todas as roupas ali eram do jovem Steve, aspirante a soldado, nenhuma lhe servia mais. Foi ao antigo quarto do pais e encontrou um casaco de seu pai, uma das poucas roupas que ele havia guardado do mesmo. E apesar do cheiro de guardado da vestimenta, não tinha outra opção: se não quisesse ser notado, teria que usá-lo. Limpou com a mão um pouco da poeira do espelho, apenas o suficiente para que pudesse ver levemente seu reflexo. Vestiu o casaco e se olhou. O pai era um soldado, então, a peça serviu-lhe bem. Encontrou um chapéu também, em uma caixa e colocou. Agora ele estava pronto para sair e encarar sua nova realidade.

Abriu uma fresta da cortina da sala e viu que a rua estava deserta. Não sabia que horas eram, mas deduziu que devia ser muito cedo, pois o sol ainda estava nascendo. Destrancou a porta e saiu vagarosamente, tentando não chamar a atenção de alguém que porventura estivesse passando por ali. Um barulho assustou-o e deixou-o em alerta. Escondeu-se atrás de uma árvore na calçada, aguardando e observando. Relaxou o semblante tenso e riu de si mesmo ao notar que o barulho era apenas o do jornal que um rapaz de bicicleta tinha jogado na casa ao lado.

“Não estamos mais em guerra, mas velhos hábitos nunca mudam.” – pensou consigo. Caminhou até a casa onde o menino jogara o jornal e pegou o papel em suas mãos, apenas para certificar-se do dia exato em que tinha voltado. Ao olhar a data, no entanto, seu coração parou:

— 06 de agosto de 1948? 48? Eu vim parar em 48! – falou pra si mesmo, de forma nervosa – O que será que fiz de errado dessa vez?

A intenção de Steve era retornar em 1945, logo após o fim da guerra, quando ele achava que Peggy já estaria de volta à sua rotina normal. Mas estar três anos na frente do que pretendia poderia ser uma complicação: Peggy podia tê-lo esquecido, ou ainda pior, podia ter se casado. Uma mulher como ela não ficaria sozinha por muito tempo. O fato de não ter mais nenhuma partícula pym também era um problema.

— Bom, Rogers, não adianta lamentar. Você não pode mais voltar, então só tem uma opção: vamos encontrar a Peggy e rezar para que ao menos dessa vez você tenha um pouco de sorte.

Ele conhecia o histórico profissional de Peggy praticamente de cor e tinha lido alguma coisa sobre o início da Shield nos registros. Se bem se lembrava, a sede deles se manteve a mesma dos tempos de RCE, uma companhia telefônica de fachada. Não se lembrava de ter lido nada a respeito de mudança naquela época, então resolveu arriscar. Era sua única pista, começaria por ela. Levantou a gola do casaco e abaixou a aba do chapéu, de modo a esconder o rosto, enrolou o jornal e segurou-o embaixo do braço. Colocou as mãos no bolso e seguiu caminhando rumo ao centro, onde ficava o prédio.

Embora não fosse distante de sua casa, aquela caminhada demorou mais do que ele imaginava, provavelmente pela ansiedade e nervosismo que ele estava sentindo naquele momento. Ver aquela multidão de pessoas e carros o fez ficar ainda mais nervoso. Pensou consigo que estava sendo mais aterrorizante do que enfrentar titãs e alienígenas. Caminhou pelas ruas e praças e enfim, avistou o seu destino final, o prédio da telefonia, exatamente como ele se lembrava. Não podia arriscar ir até lá direto. E se não fosse mais o que ele imaginava ser? Decidiu que o mais prudente seria esperar alguém sair do prédio, o que provavelmente só aconteceria na hora do almoço; então, resolveu dar mais algumas voltas para fazer reconhecimento do local onde estava, ver se mais alguma coisa ali lhe era familiar.

Muitas voltas, lembranças e horas depois, lá estava ele de volta. A multidão parecia ainda maior àquela hora, mas ainda era incomparável à quantidade de sons e pessoas que ele viu a primeira vez que parou na Times Square. Era irônico fazer essa comparação ao contrário, agora. De certa forma, sentia-se estranho ali, como se o tempo que deixou pra trás fosse mais seu do que o que se apresentava agora diante dele, e que ele não teve a chance de viver.

Perdido em seus devaneios, ao passar na frente de uma lanchonete, seus olhos encontraram quem ele tanto buscava. Ele reconheceria Peggy há quilômetros de distância. Ela continuava linda, não havia mudado nada. Ele notou que tinha um rapaz com ela, eles pareciam estar conversando amistosamente. Em determinado momento porém, notou que ela pegou a mão dele e o rapaz pareceu sem graça. Aquilo foi uma facada em seu peito, porém, ele não tinha chegado tão longe para desistir agora. Caminhou até a pequena praça que se localizava na frente da lanchonete, escolheu um banco que ficava estrategicamente virado para a porta, abriu o jornal, colocou diante do rosto e aguardou até que ambos saíssem do local.

Steve seguiu Peggy e Sousa sem que ambos percebessem durante um certo tempo. E Sousa não notou nada em nenhum momento, no entanto, Peggy parecia desconfiada. Às vezes ela olhava pra trás, como se tivesse percebido que alguém a seguia. E o loiro seguiu os dois até ver que entraram no prédio da telefônica. Tudo continuava da mesma forma, nem tudo estava perdido. Ele resolveu encontrar algum local discreto, que lhe permitisse ter visão do prédio e aguardar, até que ela saísse novamente. Pra quem esperou mais de 80 anos por esse reencontro, algumas horas não seriam nada.

O dia passou, e restavam no escritório apenas Peggy e Sousa.

— Vai dormir por aqui hoje, Carter? – brincou Sousa, enquanto preparava-se para ir embora.

— Na verdade estou terminando... apenas mais alguns relatórios e vou embora.

— Deixa eu adivinhar...as instruções dos equipamentos do Stark, não é?

— Não precisa ser um espião de elite para chegar a essa conclusão... – ironizou ela.

— E você, como sempre, tirando o atraso dele... – falou o rapaz balançando negativamente a cabeça – Precisa de ajuda com isso?

— Não, estou bem, obrigada. Vá descansar.

Sousa olhou-a ali, tão compenetrada no que fazia e inspirou profundamente, tomando coragem. Não tinha mais ninguém no escritório, então, se ela fizesse pouco caso dele, não havia plateia para tirar sarro ou sentir-se penalizada por ele. Aproximou-se mais alguns passos, até ficar bem próximo da mesa dela.

— Ahn... Carter?

— Sim... – respondeu ela, ainda sem tirar os olhos dos papeis que analisava.

— Eu estava pensando... bom, eu queria saber se....

Ele teria conseguido concluir seu convite para chama-la para jantar se ela não tivesse erguido o olhar, mirando-o diretamente. Aqueles olhos... ele sentiu-se novamente inferior e acovardou-se, recuando uma vez mais.

— Bom... deixa pra lá. Você está cheia de coisas, não vou te perturbar. Até amanhã.

— Espera, Sousa! Pode falar. Quero dizer, não será um incômodo... – ela disse enquanto caminhava na direção dele, que já estava virando para ir embora.

Ele sorriu pra ela tentando reunir algum resquício de coragem, mas não conseguiu.

— Não é nada que não possa esperar. Deixe para amanhã.

— Tudo bem, então... – Peggy falou decepcionada – Tenha uma boa noite.

— Boa noite... – sussurrou Sousa, praticamente em tom inaudível.

Assim que ele saiu, Peggy jogou a caneta na mesa e sentou novamente, encostando na cadeira, fechando os olhos. Ela sabia que ele queria dizer algo mais do que disse, mas por alguma razão, desistiu. Talvez, tenha lhe faltado coragem, o que era uma pena. Se ele a convidasse para sair, ela já tinha decidido que aceitaria. Ela tinha carinho por Sousa e sabia que era um homem de bem, que parecia ter afeto por ela. E ela sabia também que precisava deixar a história de Steve de uma vez pra trás. Tinha que seguir em frente. Sem cabeça para concluir o que estava fazendo, decidiu ir embora também. Juntou suas coisas, apagou as luzes e saiu.

Seu novo apartamento era próximo da Shield, então ela sempre ia e voltava caminhando. Mesmo quando estava tarde, ela não se importava: sabia se defender e não era uma dama frágil como a grande maioria. Caminhou por algumas ruas e novamente a sensação de estar sendo perseguida voltou. Ela tentou despistar, entrando em becos, mudando os caminhos, mas o vulto parecia ser persistente. Ela finalmente entrou um uma rua deserta e apertou o passo, tirando a arma da bolsa e mirando para a pessoa que estava à sua frente:

— Parado aí, ou eu vou atirar!

Apesar de estar embaixo de um poste de luz, a rua estava escura e ela não conseguia ver direito quem era, mas podia notar que a pessoa continuava caminhando em sua direção.

— Eu falo sério! Se der mais um passo eu vou atirar!

Ignorando seus avisos, a pessoa aproximou-se mais, sendo iluminada pela mesma luz. Peggy notou que era um homem, e ao vê-lo tirando o chapéu e mostrando seu rosto, sentiu o coração parar de bater. Não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.

— Você... não pode ser... isso... – falou ela enquanto segurava a arma com as mãos trêmulas e as lágrimas querendo escapar dos olhos. O coração agora parecia saltar do peito, pois o homem chegou perto o bastante para que ela pudesse ver seus traços de forma nítida.

— Olá, Peggy. Eu estou de volta.

++++++++++ CONTINUA ++++++++++


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Notas finais do capítulo

Muito bem! Minha pimeira fic de Avengers, espero que tenham gostado!



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