Not Alone escrita por Amelina Lestrange


Capítulo 1
Capítulo Único - Home


Notas iniciais do capítulo

Desde novembro do ano passado eu não escrevia uma AntWitchzinha marota e cá estamos nós!
Confesso que estava com saudades, sério. E AntWitch é muito fofo para que a gente fique sem fics deles! ♥
Espero que gostem de lê-la tanto quanto eu gostei de escrevê-la porque é a coisa mais otimista que eu escrevi depois Ultimato :v
Apreciem a leitura!



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Se aquiete, tudo se esclarecerá; não preste atenção nos seus demônios pois eles a enchem de medo

Os problemas podem te colocar para baixo; se você se perder, você pode sempre se encontrar

Apenas saiba que não está sozinha... porque eu vou fazer deste lugar o seu lar

— Home, Phillip Phillips

.

As paredes eram as mesmas ainda. A tinta descascando em alguns pontos nas madeiras, fios fazendo de conta que eram varais de fotografias tiradas nas vezes em que tinha estado ali com eles... eram tantas lembranças que o seu coração se apertava. Tocou uma fotografia em que ela estava vestida em um cardigã preto, com o cabelo já colorido de ruivo. Os pequenos momentos que passavam juntos precisavam ser os melhores momentos já vividos por eles, então a dor da partida que sentia agora era uma velha amiga.

Amava aquela casa e amava tudo o que tinha nela embora nunca tenha passado mais de três dias seguidos vivendo sob aquele teto durante todas as vezes que veio vê-los e, mesmo assim, tudo tinha o cheiro deles em todos os cantos. Percebeu uma lágrima caindo do seu olho quando olhou para fora. Era um novo mundo e tinha medo dele.

Ouviu uma batida na porta e não precisava usar as suas habilidades para saber que era Cassie.

“Eu ainda não me acostumei com você desse jeito”, riu um pouco.

Se virou e viu Cassie parada na porta. Os olhos dela ainda tinham doçura como se lembrava. “Eu pulei em cima dela porque ela era a Feiticeira Escarlate... e o meu pai estava namorando a minha heroína favorita”, ela piscou.

“Ela não é minha namorada, Cassie”, se lembrou. Apesar de tudo, ela e Wanda não tinham um rótulo e isso facilitou muito as coisas enquanto ela estava fugindo com o Capitão América e os outros, só não facilitou em todas as vezes que precisou se afastar dele e de Cassie para que não os colocassem em mais perigo ainda.

Cassie se aproximou e sentiu quando os braços dela lhe abraçaram pela cintura como ela havia feito tantas outras vezes quando era criança. “Agora eu consigo colocar a cabeça no seu ombro”, ela sussurrou e não pode deixar de dar uma risada gostosa, das que só conseguia com ela ou Wanda.

“Agora você consegue, sim”, tocou os dedos dela e sentiu a palma maior já que a sua garotinha havia crescido. “Ela já está se arrumando?”, perguntou silencioso.

“Sim, papai”, a voz veio e ele se sentiu, mais uma vez, como se o chão sob os seus pés estivesse faltando.

Sempre se lembrava de quando a viu pela primeira vez, no jornal, depois de ter saído da prisão. Programas sensacionalistas faziam dossiês sobre quem seria a terrorista chamada Wanda Maximoff, uma garota sokoviana que tinha sido apresentada como parte dos Novos Vingadores. Cassie a adorou quando a viu flutuando com aquela coisa vermelha nas mãos, então quando o Halloween chegou, ela quis usar uma calça preta e uma blusa vermelha dizendo que era a Feiticeira Escarlate enquanto soltava serpentinas coloridas pelas mãos na busca por doces na vizinhança.

Não imaginava que depois do acontecido no Complexo dos Novos Vingadores, quando Hank pediu que roubasse o prédio, o Falcão tivesse aberto o jogo para o Capitão América de que ele era o Homem-Formiga e que precisavam de ajuda. Assumia somente para si que também foi bastante vaidoso da sua parte aceitar com tanto entusiasmo, mas adorou quando o Gavião Arqueiro bateu na sua porta dizendo que tinha um assassino psicótico à solta e que eles precisavam de ajuda. Quando foi apresentado a todos e viu Wanda, pensou que nunca tinha visto uma garota tão triste na vida, como se fosse apenas a sombra do que via nas fotos. Ela tinha os mesmos olhos claros que sempre via, então notou que ela sorria com os olhos quando disse que ela era ótima.

Partiu o seu coração vê-la vulnerável em uma camisa de força e com um colar de choques ao redor do pescoço, fato esse que, apesar de fazer parte da história de quem ela é, sempre será uma marca dolorosa a mais. Talvez uma das mais dolorosas.

Aproveitem o tempo que têm enquanto ainda têm, não conseguia desviar das palavras do Capitão América quando conseguiu voltar para casa junto do Flecheiro. Tocou a mão de Cassie e se soltou do abraço dela para que pudesse vê-la. De fato, não se acostumaria tão cedo com a sua Cassie tão crescida.

Quando se lembrava das coisas, muitas sensações vinham ao seu peito e o faziam ficar esquisito.  Talvez desorientado fosse a palavra certa. O mundo tinha se tornado um caos sem tamanho quando o encontrou de novo e a ficha demorou um pouco a cair quando Cassie disse que já haviam se passado cinco anos. Na época não tinha um nome para isso, só tinha descoberto depois de um tempo que o que sobrou dos Vingadores tinham chamado de Dizimação, mas preferia chamar como tinha escolhido: O Blip. Quando se materializou de volta no mundo físico, não esperava estar dentro de um bunker com várias tralhas de pessoas que nem conhecia... deveria estar no terraço com Hank, Janet e Hope, deveria ter saído do Reino Quântico com as partículas que a Fantasma precisava. Foram tantas mudanças que estranhou não ter tido um derrame ou algo pior assim que viu a sua menininha, a sua filha, já uma adolescente. Se desesperou quando Cassie disse que Wanda havia se tornado cinzas assim como Maggie e Luis.  

Na sua cabeça haviam planos para o futuro, um futuro que nunca chegaria com Wanda ou porque ela era uma criminosa por não assinar um papel que dizia abertamente que ela era perigosa ou porque ela não existia mais. Ou porque simplesmente não poderiam ficar juntos.

“Eu detesto ver você assim, achei que nunca mais fôssemos passar por isso”, Cassie disse abraçando-o um pouco mais. “Eu já pedi, mas se você pedir, ela vai ficar”.

“Eu não tenho o direito de prender a Wanda aqui, Cassie”.

Apenas disse a verdade. Não tinha o direito de prender Wanda a ele. Tinha pesquisado o significado do nome dela: era germânico e significava peregrina. Entendia que ela era isso e que não era natural que fizesse algo para mudar. Em todas as vezes que se disseram até logo, sabia que ela tinha que ir embora, embora quisesse que ela construísse a vida dela ao lado da sua.

A primeira vez que ela os visitou, Cassie gritou tão alto que pensou que todos os vizinhos ligariam para a polícia imaginando que estava torturando a própria. Ela só pulou do sofá no colo de Wanda e as duas quase caíram no chão para baterem com as cabeças. Ela sempre dizia que estar com ele era como se estivesse de novo pertencendo a algo. Sabia que ela se referia aos Vingadores, sabia que ela sentia falta de ser uma Vingadora... e para não despontá-la, chamou o pequeno grupo de Vingadores Secretos numa tentativa de amenizar um pouco o peso do que eles faziam nas sombras.

Haviam dias melhores que outros, dias em que ela cantarolava coisas que não entendia e dizia que eram músicas da sua terra, Sokovia. Ela sentia saudades de casa e conseguia sentir que ela queria ir para casa porque, apesar de tudo, Novigrado era a casa dela. Se tinha uma coisa que nunca conseguiriam tirar de alguém era o seu lar. Às vezes o lar de alguém era uma casa, às vezes eram pessoas... sabia que Wanda queria o seu lar e parte disso era continuar procurando.

“Pai...”, Cassie falou novamente. “Fala com ela”.

Olhou para a sua filha.

Nunca havia pedido a Wanda para ficar, mas agora eram outros tempos.

Deixou o cômodo sabendo aonde a encontraria. Era tardinha, então era o horário do chá de camomila que ela gostava de preparar. Ao chegar no corredor, sentiu o aroma da infusão e sabia que estava certo. Parecia que os seus passos ficavam mais pesados em cada centímetro que faltava para vê-la.

A primeira vez que ela havia feito chá foi contando sobre a estada em Istambul, Turquia, rastreando uma carga de tecnologia alienígena furtada dos destroços do Triskelion já que ainda havia muito a ser retirado de lá. Wanda contou que muita gente ainda estava contrabandeando tecnologia chitauri desde a Batalha de Nova York e que já tinham uma pista sobre os restos de Ultron em Sokovia. Ela parecia ambígua nos sentimentos ao retornar para lá mesmo que a maior parte deles fosse ver o seu lar uma última vez.

Wanda estava de costas, mexendo o líquido da caneca com uma colher plástica colorida, já tinha tomado banho e já havia tirado as roupas que tinha usado no velório de Tony Stark. Havia barulho na cozinha com ela ali, ouvia o murmúrio de uma música que já a tinha ouvido cantar. Se sentou na cadeira perto da mesa e a viu colocar mel e um pouco de gengibre em uma segunda caneca já que era assim que gostava do seu próprio chá. Talvez já tivesse sido notado.

O sorriso dela quando se virou era o mesmo que via há dois anos. Bom, cinco anos haviam se passado desde a última vez em que se viram, mas só pareciam alguns meses porque para eles tinham sido apenas isso, apenas alguns meses. Wanda colocou uma caneca à sua frente e se sentou também, já bebericando o seu próprio chá.

Se lembrava da primeira vez que a viu com o cabelo ruivo. Não era um ruivo como o da Viúva Negra, era mais suave, como se alguma tivesse dado errado com a coloração que estava usando e que tinha ficado ruiva por acaso. Estavam fugindo, tinham que se disfarçar de algum jeito. Wanda controlava mentes e isso ajudava por um lado, mas o resto teria que ser assim. Não negava que adorava os cabelos escuros dela contrastando com os olhos claros, olhos esses que ainda tinha dificuldades em nomear de azul ou verde quando eles dependiam da luz para mudar de cor.

Puxou a caneca e sentiu o vapor tocar o seu rosto, estava quente do jeito que gostava.

“Isso ainda é um bom chá”, disse a ela. Wanda sorria com os olhos, então não precisou de mais para saber que ela estava sorrindo. “Para onde você vai dessa vez?”

“Eu não sei”, Wanda colocou a caneca na mesa e brincou um pouco com a alça. “Sam é o novo Capitão América agora, o Steve não é mais o mesmo. Enquanto eu tinha o Steve era uma coisa, agora eu já não sei mais. Talvez eu fique com o Clint um tempo antes de viajar novamente. Talvez eu veja Sokovia de novo”.

Wanda amava Steve. Não amor físico no sentido de uma mulher amar um homem, muito menos platônico onde estaria apaixonada por ele. Sabia que o Capitão América tinha sido uma figura muito importante no crescimento dela depois da Batalha de Sokovia assim como o Gavião Arqueiro, e ela seguia o Capitão por ser a coisa certa a se fazer. Não havia mais Complexo, não haviam mais Vingadores apesar da mídia estar pronta para montar uma nova equipe de Vingadores a torto e à direito com cada um dos heróis que aparecesse nos jornais. Conhecia Wanda e sabia que ela estava se sentindo sozinha.

“Eu achei que você fosse ficar um pouco mais dessa vez”, disse a ela como também havia dito da última vez.

Houve uma chance para ela uma vez, quando o robô vermelho descobriu que ela lhe fazia visitas algumas vezes. Tony Stark chegou a oferecer um acordo por baixo dos panos para que ela voltasse para o Complexo em prisão domiciliar, mas sabia que isso não era possível. Não para alguém como ela e ela nunca teria paz enquanto o Acordo de Sokovia fosse válido. Atualmente, não era como se não fosse mais válido, só não era mais necessário. Os Vingadores tinham salvado a humanidade depois de metade dela ter sido blipada, era o jeito certo de agradecerem.

“Eu sei, Scott”, foi a única coisa que foi respondida.

Não terem um rótulo não significava que esses momentos fossem menos difíceis. Sabia que ela também detestava despedidas. Se não se despedissem, não iria doer tanto, ela disse uma vez. Teria dito que a amava na primeira vez que ela veio, mantendo viva a promessa de se manter em contato. Se o tivesse feito, teria sido platônico, claro, mas ainda teria sido verdadeiro. Ela com certeza teria dito que ele amava a imagem que tinha dela de longe, da Feiticeira Escarlate, da Vingadora, não da Wanda Maximoff. Tinha visto Wanda se transformar em uma mulher incrível e ficava feliz de parte desse amadurecimento ter sido ao seu lado já que também havia amadurecido com ela.

Wanda terminou o chá e se levantou, levando a caneca para a pia. Já a havia visto chorar inúmeras vezes, fosse depois de um pesadelo, fosse depois das lembranças ruins quando vinham, mas ela não gostava de chorar na sua frente quando tinham que se despedir. Deixou o seu chá esfriando na mesa e se levantou, fazendo o mesmo caminho de Wanda até aonde ela estava.

Tocou a mão dela e depois o rosto, sentindo os seus dedos úmidos por conta de uma lágrima que já havia caído. Beijou a têmpora e sentiu que ela fechou os olhos.

“Eu amo você”, sussurrou no ouvido dela como já tinha feito outras vezes. “Eu amo você demais para não prender você”.

“Eu sei disso”, a ouviu sussurrando de volta. “Eu também amo você”.

“Eu nunca pedi para você ficar, eu respeito demais você para pedir para você ficar só por mim. Mas eu não consigo não fazer isso dessa vez”, falou.

Tocou o rosto de Wanda novamente, dessa vez com as duas mãos. Acarinhou as bochechas rosadas e a beijou. Só Deus sabia como gostava de beijá-la! Sentia o gosto do chá nos lábios dela assim como o do mel e do gengibre que ela também gostava no chá, e algumas notas de limão siciliano. As mãos de Wanda tocaram a sua cintura e logo a pressão dos dedos dela no seu corpo foi sentida. Ela se sentia confortável e amada, sabia que sim, então podia ser o lar dela.

“Fica comigo, você não precisa ir”.

 “Eu nunca quis ir, Scott, não de verdade. Mas eu precisava ir, você e a Cassie são importantes demais para que alguma coisa aconteça. Eu não me perdoaria nunca”.

“Você não precisa mais se preocupar com isso, Wanda. Acabou, nós já podemos viver livres”, suspirou. Se lembrou de uma música que tinha ouvido uma vez em um comercial de refrigerantes.

Era um comercial natalino, no último Natal em que Wanda havia passado com eles... era de um carinha de um reality show de música, não se lembrava do nome dele, mas se lembrava da música. E sabia que Wanda também se lembraria.

“Você não está sozinha... eu vou fazer deste lugar um lar. O seu lar”, prometeu e sabia que poderia cumprir esta promessa. Ali já era o seu, poderia ser o dela também.

Wanda riu entre as lágrimas que ainda derramava enquanto as enxugava na sua camisa. “Eu... eu não tenho que ir... eu acho que já estou em casa”.


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Notas finais do capítulo

Me deixem saber se gostaram ♥
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Links da música em diferentes plataformas:
Spotify: https://open.spotify.com/track/6RM5RZ6HF1pxQLCaJgMcuQ?autoplay=true&v=T
Deezer: https://www.deezer.com/track/67446814?autoplay=true
Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=HoRkntoHkIE



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