Natal costumava ser a época preferida de Rose Weasley, quando pequena. Não somente pelos presentes que ganhava, ou pelos biscoitos e a ceia maravilhosa que a vovó Molly junto de todas as mulheres Weasley preparava, mas sim porque o feriado também era sinônimo de casa cheia e união; bem, pelo menos para a família ruiva.

Não conseguia se lembrar ao certo quando o Natal deixou de ter importância para ela. Talvez tenha sido depois de ter se formado em Hogwarts e decidido seguir carreira no mundo trouxa como jornalista. Após se graduar na universidade, eram poucos e quase raros os momentos em que tinha para descansar ou aproveitar, já que passava mais tempo na redação do que na própria casa.

E iria repetir aquilo mais uma vez pelo quinto feriado seguido, mas quando Hermione Weasley, sua mãe, lhe ligou pedindo para que comparecesse a'Toca naquele ano porque sua avó já não andava tão bem de saúde, Rose Weasley não pensou duas vezes antes de embarcar para Londres e depois aparatar, de volta para casa.

Com isso em mente e com uma saudade que quase não cabia no peito, a ruiva estendeu a mão, pronta para bater na porta d'a Toca. Mas não foi necessário, já que o barulho da aparatação pareceu ter chamado atenção dentro da casa, e antes que pudesse tocar a madeira, Molly Weasley, um pouco mais velha do que Rose se lembrava, abria a porta sorridente de encontrar a neta.

— Querida, como é bom ver você! — a mulher lhe deu um abraço caloroso, não dando tempo de Rose pensar muito, antes de jogar sua mala no chão e retribuir.

— Eu estava com saudades, vovó! — exclamou ao se separar, passando as mãos pelo braço da mais velha carinhosamente.

— Eu também, querida. — sorriu. — Vamos, entre!

Dando passagem para neta entrar, foi inevitável para Rose conter o sorriso. Tudo estava exatamente da mesma forma que se lembrava. O cheiro dos biscoitos, as agulhas tricotando sozinhas em frente a lareira, o barulho da agitação... Ah, como a Weasley sentia falta daquilo. Era tudo tão... mágico.

— Venham ver quem chegou! — chamou Molly e logo a sala estava cheia de cabeças ruivas e algumas poucas loiras e morenas.

— Rosie! — Lily correu em sua direção, a abraçando apertado e mostrando toda saudade que sentia da prima e melhor amiga.

— Lily, como é bom ver você! — sorriu abertamente, retribuindo o abraço. Lily Luna estava bem diferente da última vez que Rose a viu, os cabelos estavam mais curtos e agora a ruiva usava maquiagem. — Caramba, esse corte de cabelo ficou lindo!

— Obrigada! — exclamou alegremente, passando as mãos nas madeixas. — Estava precisando mudar! — sorriu, acompanhada da prima.

— Eu que sugeri esse corte! — Dominique dava pulinhos animada, e Rose não conseguiu conter a surpresa ao notar a barriga avantajada que a loira estava.

— Dominique, meu deus, você está...

— Grávida? — perguntou. — Pois é, desculpe não ter contado, queria fazer uma surpresa. — sorriu como se desculpasse e levou a mão direita a barriga, acariciando-a.

— Amor, entendo sua alegria ao ver a Rosie, e eu também estou feliz, mas por favor, não faça movimentos bruscos com meu bebê aí dentro! — James murmurou exasperado, arrancando risadas de todos ali.

Foi impossível para a ruiva não se sentir feliz ao ver os dois primos juntos, já que quando foi embora, a família ruiva estava em guerra por causa do relacionamento dos dois. Bill não aceitava o fato de um namoro entre primos — ainda mais esse primo em questão sendo James Sirius, cuja fama de conquistador era conhecida por todos — e Harry defendia seu filho e dizia que, independente dos casos, amor era amor e todos deveriam aceitar. Por conta dessa divergência na situação, os dois homens sempre que se encontravam travavam uma discussão e por conta disso, a família ficou um bom tempo afastada.

Era reconfortante saber que tudo havia sido resolvido e que agora os dois já estavam à beira de construir uma família própria.

Logo Roxanne veio ao seu encontro, também a abraçando apertado, assim como todos ali.

Sorriu ao saber que a morena havia assumido sua bissexualidade e que Louis estava namorando Eliot Richards, um garoto que estudou com ele nos tempos de Hogwarts.

Mas não conseguiu sorrir verdadeiramente ao ver que Albus Potter, seu grande amor de adolescência, estava de mãos dadas com Alice Longbottom, uma antiga amiga com quem dividia o dormitório da Grifinória.

— Você deve estar cansada, vamos subir! — Lily exclamou, ao notar a vacilação da prima.

Rose concordou silenciosamente, seguindo para as escadas com as primas ao seu encalço. Estava tão atordoada com a visão de segundos atrás, que só percebeu que havia alguém em seu caminho quando sentiu seu corpo se chocar com algo — ou, nesse caso, alguém.

— Continua com a cabeça nas nuvens, Weasley? — escutou a voz rouca e arrastada de Scorpius Malfoy soar, embora naquela situação fosse capaz de encontrar diversão em seu tom. — Você realmente não muda nunca.

— Malfoy? — foi inevitável a surpresa para a ruiva. — Não sabia que ainda vinha aqui nos feriados.

— É, fui adotado oficialmente por sua família quando você foi embora. — sorriu, vendo Rose revirar os olhos.

— Você é quem nunca muda. — murmurou, fazendo o garoto rir. Sentiu uma sensação estranha passando pelo seu corpo ao notar o olhar tempestuoso do rapaz sobre si. Incomodada, Rose pigarreou. — Bom, tenho uma mala para arrumar, com licença. — forçando um sorriso, a Weasley se afastou, deixando o Malfoy parado no meio das escadas, sobre os olhares curiosos da família ruiva e os divertidos de Lily e Dominique que seguiam a prima.

{...}

O quarto de Ginny — que agora era o dormitório oficial das meninas quando vinham a'Toca — também estava do jeito que lembrava. As paredes salmão, os pôsteres e a grande janela para o jardim. Sorriu ao ver que sua avó já havia mandado suas malas para lá, e que estavam em cima da mesma cama que costumava dormir antigamente.

— Me desculpe não contar de Albus. — Lily suspirou, se jogando em sua cama. — Você anda tão ocupada que não temos tempo para por o papo em dia, e eu não sabia que ainda possuía sentimentos por ele.

— Não possuo. — soltou rápida, fazendo Dominique e a Potter mais nova arquearem a sobrancelha.

— Você não precisa mentir para nós, Rosie...

— Não é mentira! — se defendeu. — Albus foi apenas mais um amor adolescente.

— Você até mesmo escreveu uma carta para ele, Rosie! — Dominique exclamou indignada. — E se lembra, não é? Você só escrevia quando realmente amava alguém...

— E não queria mais amar! — completou. — E foi o que aconteceu, eu não o amo mais.

Lily bufou com a teimosia da prima, se levantando e indo até o baú, onde costumavam guardar pedaços de suas melhores lembranças. Retirou uma caixa rosa de lá, entregando-a para Rose.

— Isso — apontou para a caixa, a abrindo e revelando as cartas de Rose. — não me parece de alguém que quer deixar de amar.

Rose não respondeu nada, pegando algumas das poucas cartas ali na mão. Aquelas em questão, eram destinadas a Albus e a outra a Scorpius. 

— Não precisa mentir para nós, Rosie... — Lily suspirou, fazendo um aceno para Dominique e se retirando junto com a loira, de modo que a ruiva ficasse sozinha com suas próprias lembranças.