Na quela manhã você simplesmente acordou vestiu seu sobretudo preto e foi atrás de uma cafeteria em qualquer esquina daquela cidade,que não importasse quantos anos você morasse lá sempre iria dar um jeito de se perder.Então você achou uma e comprou dois copos de café,um de amêndoa e outro puro,você sempre gostou de misturar o amargo com o doce.
        Depois você simplesmente decidiu entrar em uma loja de discos que quase ninguém frequentava,e por fim acabou levando um disco do The Cure.Passou por aquele rio que dava uma bela vista do por do sol e seguiu de volta para casa.
         Eu vi o sobretudo pendurado no cabide perto da porta,os dois copos no lixo da cozinha,o disco encima da mesa e sabia que você gostava de pegar o caminho que passase por aquele rio logo de manhãzinha.
            Eu terminará de pintar um quadro e estava tirando o avental com as mãos cheia de respingos de tinta,que logo tratei de limpar assim que te avistei.
              Você me abraçou e fiz um leve carinho nos seus cabelos castanhos claro,quase que avermelhado.Você me dizia que se sentia como uma criança sempre que eu fazia isso.
            A  gente nem sabia se o toca discos ainda funcionava,mas por sorte parecia novinho em folha,se não fosse pela aparência de velho quase enferrujado.
                Começou a tocar Friday I'm In Love e puxei você para uma dança enquanto cantava a música animadamente.
               Quando a música acabou caímos no sofá e começamos a rir (meu Deus como eu amo sua risada,pensei) e nos beijamos.
            Nossos olhos se encontraram e você passava as mãos pelo meu cabelo,ficamos ali deitados olhando para o teto,quando percebi que sua visão estava voltada para o quadro que eu pintara durante o mês inteiro.
           "O que foi?Você não gostou?"-Perguntei
          "Eu achei lindo,é só que esse tom meio mórbido da garota se afogando me lembra " Me salve de mim mesmo, Não me deixe afogar"—Você citou.
           "Eu imagino que ela tenha pedido isso antes de se afogar em sua própria solidão"—Disse olhando para o quadro.
           "Porque você não pode ficar?Morar aqui comigo.Você poderia continuar pintando e vender os seus quadros"—Você me pedia aquilo quase como uma súplica.
            "Vou pensar nisso,juro que vou pensar,por você"—Disse e lhe dei um beijo.
              Eu podia escrever poesias,mas você era a única pura e simples poesia presente em minha vida na qual eu nem sequer pensava em descrever.
              Antes mesmo que pudesse te rever ,você já se tornará uma lembrança naquela rosa Vermelha que manchará minha mão por estar molhada.
              Eu poderia ouvir qualquer coisa naquele momento,mas você deixou um disco do Nirvana tocando Do re Mi....e eu jamais voltaria a "brincar" com a morte sobre o fato de eu querer morrer.

               Eu mal sabia que aquele seria o seu,
               o nosso último dia.