Nightmare escrita por Usagi


Capítulo 1
Capítulo único - O pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Bem, todas as notas que eu tinha foram lá nas notas da história...
Só uma coisinha à ser dita:

Boa leitura!



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’ Eu caminhava por um corredor obscuro, onde alguém me chamava centenas de vezes. De todos os jeitos. Chamava-me pelos apelidos que eu tinha desde criança e que ninguém fora minha família conhecia. Chamava-me pelos apelidos, bons e ruins que recebi ao longo dos anos na escola. Chamava-me pelo nome completo. Chamava-me como ele o fazia.

Parei depois de um tempo. Aquele lugar... Não tinha fim, embora eu visse alguém parado no que se podia considerar o final daquele corredor. Eu sempre andava em linha reta, sem olhar ao meu redor, porque estava tudo escuro. Mal conseguia enxergar o que havia á minha frente. Comecei á querer ver o que me cercava, mas tinha certo medo. Não sabia onde estava então na sabia o que poderia ter ali.

Como que pelo poder da minha mente, as luzes se acenderam, e depois de alguns segundos, me acostumei com a claridade. E pude finalmente ver o que havia ali.

Era assustador. Era horrível.  ‘’

Dei um grito, acordando e sentando no colchão. Assim que meus olhos se abriram, comecei á chorar alto, tremendo.

Meu irmão bateu na porta com força, gritando meu nome, perguntando se eu estava bem, dizendo para eu abrir a porta, que estava trancada.

Não respondi. Não conseguia responder. Continuei chorando, cada vez mais, tremendo mais á cada segundo.

Ele bateu novamente na porta, e eu novamente não respondi. As batidas iam se intensificando, juntamente do meu choro. Logo ouvi o som de algo quebrar. Ele tinha quebrado a fechadura da porta. Não me importei, continuei ali, chorando.

- O que aconteceu Bill? Você está bem? – ele me abraçou, preocupado, passando as mãos nos meus cabelos.

Eu não conseguia falar nada. Os soluços eram agora minha voz.

- Calma... Conta pra mim o que aconteceu Billy... – a voz dele saía doce como açúcar, suave como uma brisa, e fez com que as palavras finalmente saíssem da minha boca.

- Eu tive um pesadelo... – minha voz saía rouca e baixa, como num sussurro. – Estava num corredor escuro... Alguém me chamava... Por todos os apelidos que eu tenho... Pelo meu nome completo... Chamava-me até de ‘’Bius’’, Tomi... Chamava-me igual á você... Do apelido que só você usa pra mim... De repente as luzes ligaram e... Eu vi sangue por tudo... E a morte... Ela estava lá... E o rosto dela... Era igual ao meu...

Ele me abraçou mais forte, e pude ver que seus olhos estavam com um brilho de preocupação.

- Já passou. Foi só um pesadelo, nada de mais. – ele beijou minha testa, ninando-me como uma criança. – Tente dormir ok?

Fiz que não com a cabeça. Eu não queria dormir. Não queria que tudo se repetisse novamente, como eu sabia que aconteceria. Tom sorriu de canto, e adentrou nas cobertas, deitando-se ao meu lado, segurando-me contra o peito.

Sorri timidamente. Tinha parado de chorar um pouco, mas continuava tremendo.

- Tente dormir. – ele murmurou contra meus cabelos – Eu vou estar aqui. Não tem o que temer. Enquanto eu estiver aqui o sonho não vai se repetir.

Fechei os olhos lentamente. Tom continuava passando a mão em meus cabelos. Agradeci internamente, por ter alguém tão bom feito ele para cuidar de mim.

Ele tinha razão. O sonho não se repetiu. Na verdade, não sonhei com nada específico. Eu acordei na manhã seguinte sem me lembrar de alguma coisa que eu pudesse ter sonhado fora aquele pesadelo.

Quando abri os olhos, Tom já estava acordado, mas não tinha levantado. Continuava abraçando-me contra seu peito. Mexi-me um pouco, para demonstrar que tinha acordado.

- Bom dia Tomi. – murmurei, sentando-me.

- Bom Di... – ele me olhou, e seus olhos se arregalaram – B-Bill... Você... Está... Bem?

Aquelas palavras me assustaram um pouco.

- A-Acho que sim... – virei pra ele, assustado – Por que Tomi? O que aconteceu?

Ele me guiou até o espelho, e então pude ver porque ele tinha se assustado.

Meus olhos estavam fundos, e minha pele pálida.

- O... Q-que aconteceu comigo? – pus as mãos no rosto, e pude ver que além de pálida, minha pele estava gelada. – Tomi... O que está acontecendo?

Ele disse que não sabia, e pude ver em seu olhar o quanto ele estava preocupado. Afinal, eu tinha ficado desse jeito da noite para o dia! Não era normal.

Ele pediu que eu me vestisse o mais rápido possível. Queria me levar no médico. Desci as escadas alguns minutos depois, e Tom me esperava na cozinha com o café da manhã. Não sentia tanta fome, mas comi tudo, sem tirar meus olhos dos dele. Quando levantei para irmos até o consultório, senti meu estômago revirar, e cobri a boca rapidamente, correndo em direção ao banheiro. Ajoelhei-me na frente do vaso sanitário, e coloquei tudo para fora, vomitando mais algumas vezes. Quando não havia mais nada sólido presente no meu estômago, pensei que tinha parado, mas logo, voltei a passar mal. Mas desta vez, eu não vomitava alimentos, eu tinha passado á vomitar sangue. Entrei em pânico. Isso nunca tinha acontecido comigo antes. Mais assustado do que nunca, comecei a chorar. Á essa altura, Tom já estava lá. Aliás, ele estava segurando meus cabelos, para não sujá-los.

- Tomi o que eu tenho? – solucei, fracamente. – Me ajuda, por favor!

Ele me levantou do chão, amparando-me. Olhou nos meus olhos e me abraçou.

- Eu não posso fazer nada Bius... Mas o médico pode. Vamos? – ele murmurou, acariciando meu rosto de leve.

Apenas assenti, fracamente. Maldita hora que eu escolhi para comer. Maldita hora em que meu estômago resolveu dar uma de fraco.

Enquanto escovava os dentes, Tom colocava alguns sacos de papel no banco do carona, caso eu voltasse á passar mal.

Desci os degraus devagar, e quando fechávamos a porta, senti uma coisa estranha. Algo sobrenatural. Seja lá o que fosse, fez meu sangue gelar e um arrepio percorreu minha espinha. Dei uma última olhada para dentro e jurei que havia visto um vulto nas sombras. Esse vulto murmurou algumas palavras, num tom de voz extremamente baixo, que eu consegui estranhamente compreender. Aquilo tinha dito: ‘’Este é o começo. Do seu fim, Bius. ’’

O médico disse que eu não tinha nada aparente. Concluiu que provavelmente fosse apenas uma virose. Disse para eu voltar com o Tom dali á uns dias.

Apenas assentimos e saímos do consultório. Tom me abraçava, como se eu fosse quebrar ou algo do gênero. Entramos no carro, e ele perguntou se eu não sentia fome. Neguei com a cabeça, o que era realmente estranho. Eu tinha passado mal daquela maneira, o mais normal era que eu estivesse com um apetite enorme. Mas não. Eu não o tinha. Eu não sentia vontade alguma de comer.

Chegamos a casa, e Tom me ajudou á subir as escadas até o meu quarto. Quando passávamos pelo corredor, uma imagem surgiu em minha mente. Eu olhava para tudo e parecia assustadoramente parecido com o corredor do meu sonho. De repente, tudo se transformou, e eu apenas enxergava aquele corredor obscuro. Era como se tivesse se tornado realidade. Uma terrível realidade.

Comecei á tremer, o ar passou á ser difícil de respirar e um pânico tomou conta de mim. Tentei me mover, gritar, mas não conseguia. Lágrimas escorriam por todo meu rosto, mas eu não soluçava. Eu estava preso, imóvel, sem ação.

A voz voltou á me chamar e depois de alguns segundos, passou á me chamar para algum lugar, que eu não sabia qual era. Prometia-me que lá tudo ia ficar bem, que lá eu encontraria tudo o que quero. Neguei a oferta, mas a voz disse, cinicamente, que eu iria para lá de qualquer maneira. Querendo ou não. Cedo ou tarde. Que não importava o quanto eu tentasse evitar. Eu iria para lá.

Logo que ela terminou de falar, tudo voltou ao normal. As paredes voltaram á parecer com as que tínhamos em casa, a luz parou de piscar, a voz sumiu. Era como se nada tivesse acontecido.

Caí de joelhos no chão, começando a chorar novamente, e Tom abaixou-se do meu lado imediatamente, perguntando-me o que tinha acontecido. Solucei fracamente, perguntando se ele não tinha visto o que tinha acontecido. De como de repente tudo mudou e ficou obscuro, com uma luz piscando e com uma voz me chamando para algum lugar. Minha surpresa e preocupação foi quando ele assentiu negativamente e disse ‘’Não Bill. Não tinha nada aqui. ’’

Levantei, secando as lagrimas com as costas das mãos. Caminhei em passos lentos até o quarto, fechando a porta e sentando na cama.

- Bill? Tudo bem? – Tom entrou no meu quarto, fitando-me.

- Não Tom... Eu estou enlouquecendo. Mais á cada minuto. – segurei as lágrimas que pediam para sair – Estou com medo.

Ele me abraçou, começando á deixar que algumas lágrimas escorressem pelo seu rosto.

Ficamos em silêncio. Não havia nada á ser dito no momento. Nada.

Meu celular começou á tocar, e peguei-o em cima da cômoda, atendendo rapidamente. Uma voz um tanto familiar cumprimentou-me com um tom cruel, declamando logo depois:

‘’A morte enlouquece

A morte é ingrata

A morte é certa

Não pode ser evitada

Não importa o quanto corra

O quanto tente se esconder

Não adianta, Não adianta!

A morte sempre pega você ’’

Dei um grito, lançando o celular para o outro lado da cama. Tom o pegou, colocando imediatamente no ouvido, arregalando os olhos ao escutar alguma coisa.

Desligou o celular, colocou-o em cima da cômoda novamente, e virou-se para mim, assustado.

- Acredito em você. Realmente está acontecendo alguma coisa.

Perguntei-lhe o que ele tinha ouvido. Ele respondeu como num sussurro:

‘’ Não importa quem te proteja

   Ou tente proteger

   Apenas morrerão junto

 Apenas seguirão

 O mesmo caminho

 Que guardamos para você ’’

Abracei os joelhos, sentindo minha pele arrepiar-se toda. Olhei nos olhos de Tom, que pareciam ter o mesmo pânico que os meus. Talvez mais. Eu iria morrer. Podia sentir. Que se não fizesse alguma coisa, morreria.

- Tomi, eu vou morrer. – murmurei, sentindo meus olhos embaçarem.

Ele me olhou, assustado, tentando entender minhas palavras, que para mim eram simples.

- C- Como? O que disse?

Suspirei, sentindo um vazio tomar conta de mim.

- Isso que você ouviu. Eu vou morrer Tom. Eu vou morrer. – aquelas palavras me machucaram muito.

- Não diga isso. Não diga isso.

A noite já começava á cair. O dia havia passado rápido. Rápido demais para conseguir entender o que estava acontecendo. Eu apenas sabia que... A morte estava atrás de mim.

Tom me trouxe uma sopa, dizendo que eu não podia ficar sem comer. E que sopas faziam bem para quem estava doente. Comi, ainda sem apetite, e quando o prato finalmente ficou vazio, meu estômago embrulhou, novamente. Cobri a boca e corri para o banheiro, repetindo tudo o que havia acontecido pela manhã. Quando finalmente parei de vomitar, bufei.

- Odeio passar por isso. Não é uma virose Tom. Estou dizendo. Não é.

Ele baixou o olhar. Não queria acreditar nas minhas palavras. Mas depois do que ouviu hoje... É obrigado.

Levantei, e escovei os dentes, indo para meu quarto e pegando do mini frigobar uma latinha de refrigerante. Tomei um gole e me senti um pouco melhor. Dizem que açúcar faz bem nessas horas. Acho que é verdade. Dei um beijo na bochecha de Tom, que me perguntou dezenas de vezes se eu não queria nada. Se eu me sentia bem. Se eu queria que ele ficasse cuidando de mim. Sorri ternamente, e prometi que se precisasse o chamava na hora. Ele não pareceu muito convencido, mas acabou aceitando. Começou á fechar á porta e desejou-me boa noite.

Boa noite. Tudo que eu queria naquele momento era ter uma boa noite, mas parecia completamente impossível. Assim que ele fechou a porta, um pequeno medo tomou conta de mim. Um medo bobo, mas um medo.

Caminhei lentamente para a cama, atirando-me nela assim que me aproximei o bastante. Ajeitei-me nas cobertas, deitado de lado, para a janela, que tinha apenas o vidro fechado. Podia ver o quintal da frente, a rua, os carros, as poucas pessoas que ainda passavam na calçada. Tremi e suspirei, fechando meus olhos e adormecendo logo depois.

‘’ Eu caminhava por um corredor obscuro, onde alguém me chamava centenas de vezes. De todos os jeitos. Chamava-me pelos apelidos que eu tinha desde criança e que ninguém fora minha família conhecia. Chamava-me pelos apelidos, bons e ruins que recebi ao longo dos anos na escola. Chamava-me pelo nome completo. Chamava-me como ele o fazia.

Parei depois de um tempo. Aquele lugar... Não tinha fim, embora eu visse alguém parado no que se podia considerar o final daquele corredor. Eu sempre andava em linha reta, sem olhar ao meu redor, porque estava tudo escuro. Mal conseguia enxergar o que havia á minha frente. Comecei á querer ver o que me cercava, mas tinha certo medo. Não sabia onde estava então na sabia o que poderia ter ali.

Como que pelo poder da minha mente, as luzes se acenderam, e depois de alguns segundos, me acostumei com a claridade. E pude finalmente ver o que havia ali.

Era assustador. Era horrível. 

A morte estendia-me a mão. E a morte estranhamente se parecia comigo. Em um estralo de dedos dela, estávamos sentados na calçada, e então pude olhar bem para o ser parado á minha frente.

Parecia-se comigo, mas era uma mulher. Não parecia nociva, tirando o fato de que usava um capuz negro e carregava uma pequena foice na mão. Ela lembrava-me muito uma daquelas góticas lolitas. Olhou para mim e sorriu. Um sorriso pouco gentil.

- Então Bius, como vai ser? Por bem ou por mal?

Olhei novamente para ela. Seu olhar era cruel, e sua expressão demonstrava certo cinismo. Não respondi, apenas desviei o olhar.

- Não tenho todo o tempo do mundo querido. Outras pessoas devem morrer e não posso demorar tanto.

- Não quero morrer. – não vi que estava brincando com fogo.

- Ninguém quer não é? Mas eu não dou opção. É morrer, ou morrer.

Levantei e me preparei para sair correndo, mas no mesmo segundo ela já estava em pé, impedindo minha passagem.

- Não adianta tentar fugir. Eu sempre irei encontrar-te.

Comecei á chorar. Não queria morrer. Não queria.

Ela voltou á estralar os dedos, e agora estávamos na frente de um lago.

- Vamos.

- Não.

Seu olhar tornou-se assassino quando ela virou para mim, depois de ouvir o não.

- Vamos.

Voltei á negar, e então ela segurou-me pelo braço, com uma força brutal, que uma garota com a aparência dela não parecia ter.

- Não vou garota. Não. Vou.

Ela me apertou mais forte e então por reflexo, dei-lhe um empurrão, que a fez cair de cara no chão. Assustei-me. Embora ela fosse a morte, dava pena vê-la cair. Apenas por ela ter aquela aparência, penso eu.

Mas ela não podia mais contar com a aparência inofensiva. Ela levantou alguns segundos depois e me encarou com um olhar psicopata, o rosto machucado.

- Venha...

Ela sorriu cruelmente, e seu rosto começou a rachar e a perder pedaços, surgindo então um demônio aos poucos.

- Poucas são as pessoas que tem a ousadia de fazer isso. Raramente meu demônio realmente surge. E quando acontece... Não é bom. – o rosto terminava de cair, feito uma máscara de gesso que se partia, dando espaço ao dito demônio. – Você vai morrer Bius. Vai morrer agora!

Então ela avançou em mim, com garras e dentes afiados. Eu não tinha como fugir. Tentei me proteger e ela riu alto.

- NÃO HÁ COMO SE PROTEGER DA MORTE! ‘’

Gritei, acordando de repente. Tremia totalmente, e lágrimas silenciosas começavam a brotar em meus olhos. Tom abriu a porta no mesmo instante, correndo até mim e me abraçando fortemente. Solucei alto, afundando-me em seu peito.

- Tomi eu estava certo... – murmurei – Eu tinha razão Tomi...

Ele me olhou, preocupado, passando a mão em meus cabelos.

- Certo sobre o que Bill? Sobre o que? – perguntou ele, tendo um arrepio. Eu sabia que ele já sabia do que ele falava. Tinha certeza.

- Eu vou morrer Tomi. Eu vou morrer logo.

Tom suspirou assustado. Depois de alguns segundos libertou-me do abraço, levantou e foi até o interruptor acender a luz. O segui com os olhos, soluçando. Quando ele acendeu a luz, ficou imóvel, olhando para mim e depois para a parede. Segui seu olhar e dei um grito. Na parede havia um texto escrito. Mas estava escrito com sangue. Quando vi aquilo, senti uma queimação na perna esquerda. Levantei as cobertas, e uma poça de sangue se formava ao meu redor, por causa de um corte não muito grande na canela.

Meu irmão aproximou-se da parede, tocando-a de leve. Logo depois olhou para mim e deu um grito, correndo até onde eu estava. Perguntou se eu estava bem, tocando no meu ferimento, mas não me causou dor. Parecia mais um daqueles esfolados que você ganha quando cai da bicicleta, que sangram um monte, mas raramente doem. Finalmente resolvi ler o que estava escrito na parede.

‘’ A morte esperada

  A morte inconsciente

  A morte conhecida

  A morte surpreendente

  A morte não tem pena

  Não tem dó de ninguém

  Mata quem tem de ser morto

  No final leva todos para o além. ’’

Tremi ao terminar de ler. Eu a irritei, então iria ter que pagar por isso. O preço era... Minha vida.

- Não quero morrer Tomi. – solucei, afundando o rosto nas mãos - Não quero.

- Você não vai morrer.

- Como não?! – gritei estupefato – Eu vou morrer Tom! Ela vai me buscar mais cedo do que imaginamos e não há como evitar isso!

- Vamos dar um jeito. – sussurrou ele – Vamos sim.

Quando voltei meu olhar para a parede novamente, as manchas e o texto não estavam mais ali. O machucado da minha perna, agora era apenas uma marca leve. O sangue presente nos lençóis não era mais tanto. Quase era nulo. Ela estava brincando com a pouca sanidade que me restava.

Deitei novamente, olhando para o teto. Tom me encarava de soslaio, tristemente.

- Eu... Eu tenho medo. – sussurrei, fechando os olhos por um segundo.

- Eu também. – respondeu Tom, mexendo as mãos uma na outra.

- Não vai... Por favor, Tomi. – supliquei, com os olhos brilhando.

- Nunca falei que ia. – ele sorriu, deitando comigo novamente.

Fiquei olhando para o nada até adormecer. Antes de fechar os olhos, pude jurar que tinha visto a morte novamente.

[...]

Acordei em um pulo na manhã seguinte. Tom me olhava espantado, enquanto levantava devagar. Seus olhos estavam fixos em meu rosto, então fui até o espelho comprovar o que eu já imaginava.

- Você empalideceu mais ainda. – murmurou ele, surgindo atrás de mim.

- Sei disso. – respondi – Eu já entendi tudo.

- Tudo o que? – perguntou ele, olhando-me nos olhos.

Não respondi. Fui até a escrivaninha, onde peguei algumas folhas pautadas e algumas canetas. Sentei na cadeira, começando á pensar.

- O que está fazendo?

- Eu vou morrer Tom. Você sabe, então não adianta discutir. – murmurei, escrevendo as primeiras linhas. – E como não vou poder me despedir corretamente, estou escrevendo cartas para todos. E quando minha hora finalmente chegar, quero que as entregue. Posso contar com você?

Ele não respondeu durante alguns segundos. Parecia estar digerindo o que eu tinha dito, mastigando cada palavra centenas de vezes. Não parecia ser tão difícil para mim, mas já para ele... Eu sabia que a dor que ele sentia era enorme. Que quase o matava, mas... Era verdade. Apenas isso. Verdade.

- Tom? Posso ou não? – perguntei, olhando-o de canto.

Mais uma pausa de segundos, então pude ouvi-lo respirar fundo, soltando o ar lentamente.

- P-pode Bill... Pode sim. – suas palavras eram relutantes, e podia ver que lhe custava muito dizê-las.

 Sorri docemente, e um sorriso triste formou-se em seus lábios lentamente.

Terminei tudo duas horas depois. Eu tinha chorado enquanto escrevia essas cartas. Como eu conseguiria forças para me despedir de todo mundo? Como eu diria adeus á esse mundo tão facilmente? Á cada minuto que passava eu sentia mais vontade de me matar. Afinal, sabendo que ia morrer, doía olhar para os meus amigos e fingir que estava tudo bem.  Doía saber que logo você não estaria mais perto deles. Eu preferia não saber que ia morrer. Para não ter de passar pelo que estava passando.

Levantei da cadeira lentamente, sentindo todo meu corpo amolecer, e minha visão se embaçar. Apenas tive tempo de murmurar:

- Tomi... Ajude-me... Acho que vou... – no segundo seguinte, pude sentir meu corpo desmoronar em direção ao piso. – Desmaiar...

(...)

- Bill? Bill? – senti alguém tocando meu rosto, preocupado. – Por favor, Bill, responde!

Abri um pouco os olhos, e vi Tom sobre mim, chamando-me incessavelmente. Seus olhos estavam presos no meu rosto, como se ansiassem por um movimento meu.

- Tomi...? – perguntei, enquanto abria meus olhos totalmente. – O que... Aconteceu?

- Você desmaiou Bius. – seu semblante era de alivio, e enquanto me respondia, saia de cima de mim – Está tudo bem com você?

Apenas assenti, timidamente. Não estava, mas... Eu pensava que se achasse que estava tudo bem, ficaria tudo certo no final das contas.

- Você está bem Bius?  - ele tornou a perguntar, olhando para mim, seriamente.

- Acho que... Acho que sim. – falei, levantando com um pouco de dificuldade.

- Quer ir ao médico?

- Não! – falei, na hora, fazendo ele me olhar desconfiado. – Não Tomi!

Ele me encarou, esperando por uma explicação. Suspirei, procurando as palavras certas para me explicar.

- Tomi... Se eu for ao médico, ele vai dizer que eu não tenho nada, mas vai procurar! E quando não encontrar nada, vai achar muito estranho! Só que eu tenho alguma coisa! Eu sei disso, você sabe, ela sabe! Não quero passar por centenas de exames que não vão levar á nada! No final eu vou morrer, e nós sabemos disso!

Ele me olhou por poucos segundos, desviando o olhar instantes depois.

- Você... Que sabe... O que quer. – sussurrou ele, sentando-se na cama.

- Entenda, por favor. – sibilei suplicante.

- Eu estou tentando Bill. – suspirou ele – E me esforçando para conseguir.

- Obrigado. – murmurei, movendo os lábios lentamente.

Saí do meu quarto, mas logo que chegue ás escadas, decidi voltar para lá.

- Tomi? – chamei baixinho, parado na porta.

- Sim Bill? – falou ele, levantando o olhar lentamente.

- Amo você. – sussurrei, com um fraco sorriso nos lábios.

- Também amo você Bius. – respondeu ele, retribuindo meu pequeno sorriso.

[...]

Eu estava sentado na grama do jardim, acariciando o Scotty, que não saía de perto de mim já havia certo tempo. Ele devia ter notado que algo estava errado, porque olhava para mim com seus olhos carregados de tristeza.

- Ei Scotty, não fique assim. – falei, afagando-lhe o rosto – O Tom vai cuidar muito bem de você quando eu não estiver mais aqui. Eu juro.

Em resposta ele apenas ganiu, baixando a cabeça. Naquele instante, um vento surgiu do nada, carregando consigo um papel, que acabou por cair em meu colo. O peguei, lendo-o lentamente.

‘’ Depois de tempos em um túnel

  Carregado de escuridão

  A morte está no final

 Estendendo-lhe á mão

 A morte é a luz

No meio da escuridão

Te salva da dor

Ameniza, suaviza

A dor de qualquer partida

Entenda, no túnel escuro da vida

A morte sempre é a luz do final’’

‘’ Não sei você, BIUS, mas isso está me cansando. E está machucando seu irmão mais do que nunca. Não seja egoísta. Ponha um fim nisso logo. Hoje á noite. Saia para a rua. Seus pés te guiaram até o local certo. E tudo irá acabar finalmente. Aproveite bem suas ultimas horas Bius. Aproveite-as. ’’

Amassei o papel, jogando-o longe. Levantei da grama, correndo para dentro de casa, com Scotty logo atrás. Quando cheguei á sala e o vi sentado ali, joguei-me ao seu lado.

- O que houve? – perguntou ele, olhando-me de canto.

- Nada! Por que haveria de ter acontecido alguma coisa? – respondi, colocando a cabeça em seu colo – Só estou pensando...

- Pensando? No que? – perguntou ele, sorrindo.

- Tom, como você vai ficar depois que eu morrer?

Aquela pergunta o acertou em cheio. Eu fui rápido demais. Ele não estava pronto para essa pergunta. Mas bem... Acho que ele nunca ficaria.

- Eu... Eu... Eu não sei. – falou ele, com um pequeno soluço – Eu não vou viver da mesma maneira. Eu não vou conseguir fazer mais nada do jeito certo. Não vou conseguir nem respirar sem sentir dor.

- Vai passar com o tempo. Eu prometo. Pode tentar esquecer que eu existi, se for melhor. Pode se mudar, pode recomeçar tudo. Pode queimar todas minhas coisas e fotos. Pode fingir que nunca teve um irmão gêmeo.

- Não! – falou ele, com lágrimas impiedosas escorrendo – Não é isso que eu quero! Não quero esquecer que você é meu irmão. Não quero que você vá... Não quero ficar sozinho.

Pisquei os olhos por alguns segundos. Jamais imaginei ouvir isso dele. Logo o Tom, que sempre me pareceu tão forte. Ouvi-lo dizer que não queria ficar sozinho era... Destrutivo.

Derrubei algumas lágrimas silenciosas, encarando o chão.

- Bill. Eu não sou tão forte como você acha. Pode parecer, mas as coisas não são bem assim. Não seria capaz de fazer nada sem você por aqui. Eu seria mais indefeso do que qualquer um. É VOCÊ que me dá forças. É você, que faz eu me sentir dessa maneira. Não sou nada sem você. Nada.

Abracei meu irmão com força, sabendo que em apenas poucas horas, teria de abandoná-lo.

[...]

Já eram oito horas da noite. Eu caminhava pelo quarto olhando para tudo pela última vez. Eu iria sair quando Tom fosse dormir, para que ele não desconfiasse de nada.

Sentei na cama, abraçando meus joelhos e soluçando. Eu iria mesmo. Eu ia morrer. Eu não tinha nem atingido a maior idade e iria morrer. Quantas coisas eu não faria? Quantas coisas eu não veria?

Eu não teria filhos. Não me casaria. Não veria o Tom se casar. O que eu mais queria era poder ver o Tom em um terno, para poder tirar fotos e mostrar ao mundo inteiro que se ele quisesse tomava jeito. Mas eu não faria isso. Eu estaria me decompondo em um caixão á sete palmos do chão á essa altura.

Só então me dei conta de que não tinha deixado nada escrito para o Tom. Levantei e escrevi uma carta para ele, rapidamente. Li a carta algumas vezes. Era isso. Tudo que eu queria dizer á ele era isso. Ao terminar, fiz um pequeno furo no dedo com uma agulha, deixando que uma gota de sangue pingasse no papel, ao lado da minha assinatura.

Sequei as lágrimas e desci para jantar, fingindo que nada tinha acontecido. Milagrosamente, eu não passei mal depois de comer daquela vez. Era minha ultima refeição. Minha ultima vez vendo Tom comer uma pizza inteira de uma vez só. Eu olhava para o relógio á cada tempo, e parecia que ele se movia cada vez mais rápido. Balancei a cabeça, levantando.

- Boa noite Tomi. – falei, abraçando-o como nunca. – Amo você.

- Também te amo. – murmurou ele

- Promete que vai ser forte? Que não vai fazer nenhuma idiotice? – eu olhava em seus olhos, seriamente.

- P-Prometo, mas... – começou ele, mas eu não deixei que ele terminasse.

- Você me desculpa por qualquer coisa que eu possa ter feito? – perguntei

- Claro, mas... – eu não podia o deixar fazer essa pergunta.

- Obrigado Tomi. – o abracei de novo, dando um beijo estalado em sua bochecha. – De novo. Amo você. Obrigado por estar sempre comigo.

Subi as escadas correndo, e bati a porta do meu quarto. Fui até a cama e peguei o envelope que continha minha carta. Andei até o quarto do Tom, e coloquei a carta por baixo de seu travesseiro. Suspirei, voltando para o meu e trancando a porta.

Esperei duas horas até ouvir o costumeiro grito que o Tom dava antes de dormir, ‘’ Boa noite Bill!’’.

Vinte minutos depois, eu já atravessava a sala, em direção á porta. Olhei para meu relógio de pulso, e vi que eram onze horas.  Respirei fundo.

- Bem... Adeus. – murmurei, saindo para a rua.

Atravessei o jardim, indo até o portão, mas antes que o alcançasse, Scotty parou na minha frente, com aquele brilho triste nos olhos

- Scotty garoto... Eu vou sentir sua falta... – murmurei, segurando seu rosto entre as mãos. – Mas o Tom vai cuidar bem de você. Até logo amigão.

Levantei, mas Scotty não me deixou passar.

- Garoto, me deixa ir.

Ele apenas ganiu em resposta, e uma pequena lágrima escorreu de seu olho.

- Não vou demorar. Logo estarei de volta, você vai ver.

Ele então saiu da minha frente, e eu pude atravessar o portão de casa pela última vez.

Fechei os olhos e comecei a caminhar. Algum tempo depois, abri os olhos e vi que estava em frente á uma floresta. E havia algo muito estranho.

‘’ Apenas siga em frente. ’’

Assustei-me com a voz, mas obedeci.

Caminhei mata adentro, apenas com a luz do luar auxiliando minha visão. Não conseguia ver praticamente nada, mas me esgueirava onde podia. De repente, vi um pequeno feixe de luz, que entrou em direto contato com meus olhos, me cegando. Nesse exato momento, pisei em falso em uma raiz e caí no chão, rolando a pequena ladeira que eu descia á baixo.

Dei um grito, cobrindo o rosto com os braços para não machucá-lo muito. Quando parei de rolar, vi o feixe de luz se tornar um enorme círculo branco, com a morte parada em frente á ele. Olhei bem ao meu redor. Só agora eu notara que estava na floresta do meu sonho. O lago estava lá, e parecia muito mais sombrio quando visto ao vivo. A morte estava com a aparência de garota, mas podia ver algumas pequenas rachaduras em seu rosto. Torci para não ter que vê-la como no sonho. Torci para que a ‘’máscara’’ não se rompesse.

- Finalmente chegou! – falou ela, impaciente. – Vamos acabar logo com isso, sim?

- E por acaso tenho opção? – resmunguei, fitando-a

Ela acenou negativamente, e soltou uma risada. A risada era de uma menina, mas tinha aquele ar cruel, insensível. Aquele ar terrível. Aquele ar de morte.

- Bem Bius, – ela soltou uma risada fraca – sabe que estou me acostumando á chamá-lo assim? Ver a dor em seus olhos, á cada vez que pronuncio o apelido que seu amado irmão gêmeo lhe deu quando tinham cinco anos, é tão... Maravilhoso.

- Vá para o inferno. – falei, por entre os dentes.

- Bem, meu colega mora lá... – ela sorriu cruelmente – Visitei o inferno algumas vezes sabe? Não foram muitas, afinal, eles decidem para onde você vai ao purgatório, e quando deixo alguma alma lá, não é mais meu negócio.

- Morra. – rosnei.

- Já morri Bius. Como acha que posso ser a morte? – ela soltou uma gargalhada, mas ficou séria instantes depois. – Tudo bem, está na hora. É simples, passe pelo círculo, que sua alma sairá de seu corpo, e com um estalar de dedos, você terá morrido por ter caído e batido com a cabeça. Eu poderia fazer mais, mas não. Estou com preguiça. Vamos logo, quero ir para o purgatório Bius.

Olhei para o bosque ao meu redor, e lembrei-me de tudo que se passou na minha vida. Todos os momentos que vivi vieram à tona. Duas lágrimas escorreram do meu queixo para o chão.

- Ah, por favor, pare de drama e vá de uma vez! – falou ela, cruzando os braços.

Suspirei, e mentalmente falei ‘’Adeus’’ para tudo e todos. Ergui a cabeça e dei dois passos para frente, preparando-me para dar o ultimo. O passo que me faria morrer. Quando ia colocar um basta em tudo, ouvi a morte dar um grito.

Virei-me para trás e vi que ela caía no chão com tudo. Não foi de cara, mas o tombo criou mais rachaduras nela, dessa vez em seus braços e pernas.

Vi que Tom arfava, enquanto olhava para ela e depois para mim, aliviado.

- Ainda... Bem... Que... Você... Não... Entrou... Ali. – falou ele, entrecortadamente.

- É só uma pena que não vai adiantar NADA! – falou a morte, levantando e retomando aquele olhar assassino.

Tom se parou na frente do círculo, ao meu lado, sério.

- Você não vai levar meu irmão. Só vai conseguir isso depois que ME matar!

- Nossa, um ato de heroísmo... – ela bateu palmas, rindo ironicamente. – Garoto, ao menos que queira se meter em sérios problemas, saia daí agora e deixe-me fazer meu serviço.

- Não. – respondeu ele, sem mover um músculo sequer. – Bill. Saia daqui.

- T-Tomi... – murmurei, tremulo.

- Vai. – falou ele, sem me olhar nos olhos.

Quando fui me afastar daquele círculo horrível, a morte me fuzilou com o olhar.

- Não ouse se mover fui clara? Seu irmão pagaria caro por isso.

Tom me olhou, e acenou com a cabeça para que eu o obedecesse. Apenas assenti, e me afastei dali o mais rápido que pude. Ela sorriu cruelmente.

- Eu avisei.

A morte moveu uma das mãos, como se arranhasse o ar, e um corte formou-se no braço de Tom. Um corte que deixava um pouco de sangue escorrer.

- É tudo que sabe fazer? Acha que isso vai me derrubar?

- Sei isso não é nada perto do que você agüenta. Mas não é essa minha intenção, caro Kaulitz mais velho. Eu estou apenas me aquecendo. Você não vai querer ver do que REALMENTE sou capaz. Do quanto posso te machucar, sem ao menos tocar em você.

Estremeci. O que ela ia fazer com o Tom? Ela ia feri-lo por minha causa? Eu não podia ser tão covarde á ponto de permitir isso. Não podia ser tão egoísta á ponto de dar a vida dele pela minha.

- Tom. – eu estava tentando fazer com que minha voz não parecesse tão tremula como estava na verdade. Estava tentando não deixar transparecer pela minha expressão, quanto medo eu sentia. E esperava estar conseguindo, caso contrário, seria muito pior. – Saia já daí.

Ele me encarou, completamente perplexo. Nem eu acreditava que estava conseguindo simular tão bem. Não acreditava que eu estava com tanta coragem assim.

- Bill... – sibilou ele, olhando dentro de meus olhos, enquanto eu ficava bem á frente daquele círculo.

- Obedeça. É a mim que ela quer. Não quero que você morra para me salvar. Não quero que como sempre, eu acabe sendo o fraco e oprimido que precisa ser salvo. – minha voz tomava cada vez mais um tom decidido. E eu queimava por dentro com uma sensação de extrema força. Que me dava à certeza de que não importava o que acontecesse (e eu já sabia o que ia acontecer), eu estaria fazendo o certo. E isso me dava toda a confiança de que eu precisava. – Pela primeira vez na vida, mesmo que seja instantes antes de minha morte, quero saber que também te protegi.

- Não Bill. – falou ele, olhando-me com tristeza. – Se for para você morrer, escolho morrer junto.

- Entenda que não vai ser assim! – gritei, com lágrimas brotando em meus olhos. – Que EU que vou partir hoje! Você consegue superar a dor da minha perda, mas acontece que se eu chegasse a perder você, enlouqueceria!

Ouvimos aplausos, juntos de uma risada. Olhamos para a dona das palmas, e vimos que ela estava sentada em uma pedra, divertindo-se ás nossas custas.

- Essa cena de amor de irmão e todas essas coisas que me deixam com vontade de vomitar, ou reviver só para poder morrer de novo, foi ótima, mas eu não tenho todo o tempo do mundo sabe? – falou ela, levantando. Nesse momento fez um sinal e a foice materializou-se em suas mãos, ao mesmo tempo em que sua voz ganhava um tom assustador. – Vim aqui para levar alguém para o outro lado, e é exatamente isso que vou fazer!

Ela apontou a foice em minha direção, e foi como se tivesse dado um disparo, pois senti todo meu corpo indo para trás, como se tivessem empurrado com toda força.

Olhei para meu irmão e de repente tudo parou. Tom se jogara para frente, segurando-me pela mão. A morte jogara a foice longe, e praguejava. E eu tentava me equilibrar para não cair lá dentro. Se eu caísse, Tom iria junto. E era isso que eu estava tentando evitar.

Tom puxou-me para frente, conseguindo evitar que nós dois caíssemos círculo adentro.

Ela sumiu, logo depois surgindo atrás de mim. Tinha me paralisado, e tentava a todo custo me empurrar.

Seria cômico. Se não fosse trágico.

- Larga ele! – gritou Tom, tentando avançar nela.

A morte passou as unhas no rosto do meu irmão, arranhando-o feio. Tom parou onde estava, e olhou bem para mim. Ela apertava meu braço com tanta força, que eu pensei que ele ia quebrar. Respirei fundo, e libertei um dos braços, e usando-o o para dar o maior soco que pude no rosto dela. O impacto fez com que ela me soltasse, enquanto dava passos para trás.

- A vadia da sua mãe... Não te ensinou que não se bate em uma garota? – falou ela, fulminando-me com os olhos.

- Ela ensinou sim, mas acontece, que todo caso tem sua exceção! – disse Tom, chutando a barriga dela, fazendo com que ela voasse para trás e batesse contra uma árvore. – Para começar, você não é uma garota!

Então meu pesadelo se tornou realidade. Tudo que eu não queria aconteceu. Seu rosto começou á rachar mais, perdendo alguns pedaços, parecendo como eu tinha dito antes. Com uma máscara de gesso. O rosto de garota estava dando lugar á um rosto pálido, frio. As roupas eram totalmente pretas, mas continham alguns detalhes em vermelho sangue. Ela estava mais demoníaca do que nunca. Mais do que nunca eu estava com medo dela.

- Você sabe como eu sou realmente desde aquele sonho não é? E lembra-se do que eu disse. Não há como se proteger da morte. E agora verão como eu falo a verdade!

Ela simplesmente saiu corpo da garota, como se tirasse uma fantasia. Sua verdadeira imagem era horripilante. Ela era um demônio. Seu olhar, seu rosto, até a cor mais avermelhada que sua pele tinha era horrível. Ela ainda mantinha a forma de uma garota, mas agora... Não há como descrever o que eu via. Ela simplesmente era a morte. Isso já basta.

Recuei dois passos e ela avançou em minha direção. Encravou a unha no meu braço, e esta o atravessou como se fosse uma faca muito bem afiada. A dor que me causou era similar.

- Você vai vir ou não, Bius? – falou ela, sussurrando no meu ouvido.

- Sinto informar que não! – falou Tom, dando-lhe uma pancada na cabeça. A pancada a fez desmoronar no chão, mas por poucos segundos. Logo ela já estava de pé, e agora falava contra o pescoço de meu irmão, mordendo-lhe o ombro, de onde começava a escorrer um pequeno fio de sangue. Não ouvi o que ela lhe dizia, mas fez com que os olhos dele perdessem todo o brilho. Foi como se ele tivesse ficado cego por alguns instantes. No meio disso, Tom deu um grito, caindo de joelhos no chão, enquanto soluçava. A morte ria como nunca, olhando o sofrimento dele.

- Maldita! – gritei, olhando para meu irmão, e logo depois para ela, explodindo de raiva ao ver o quanto ela ria. – O que fez com ele?!

- Apenas provei que o que eu tinha dito era verdade. Eu posso machucá-lo muito sem ao menos por um dedo meu nele. Eu o fiz ver algumas coisas que ele não gosta, e veja o resultado. – sua voz saia descontraída, como se fazer isso ás pessoas fosse a coisa mais comum de todo o mundo.

- O que quer para deixá-lo em paz? – perguntei, apertando os punhos com força.

- Ah Bius... Você sabe muito bem o que eu quero. – falou ela, saltitando ao redor de Tom, estalando os dedos e o fazendo soltar mais um grito. – Basta me ajudar a terminar o meu serviço.

Suspirei e baixei a cabeça, relutante. Era isso que ela queria, era isso que isso que ela teria.

- Você venceu. – sibilei. – Está feliz? Agora deixe meu irmão em paz.

- Nunca serei feliz. Felicidade, e esses sentimentos idiotas não me pertencem. Mas estou satisfeita. Por enquanto. – ela voltou a estalar os dedos, e os olhos de Tom voltaram ao normal. Suspirei de alívio, ao ver nossos olhos se encontrarem.

- Agora você sabe o que tem que fazer, não sabe?

- Sei. – respondi, e Tom franziu a sobrancelha, logo depois compreendendo tudo. Seus olhos se arregalaram ao ver que eu assentia com a cabeça.

- Então vamos. Já perdi tempo demais aqui. – ela foi me empurrar com força para dentro, mas não sei como, esgueirei-me para o lado, fazendo com que ela fosse à direção do círculo. A morte ainda tentou me puxar pela camisa, mas me debati, e esta acabou rasgando onde ela segurava. Um corte se formou em meu peito, culpa das unhas de faca que ela tinha.

Quando ela caiu dentro do círculo, começou a ter convulsões.

- Maldição! – gritou ela, ficando pálida. Não me manifestei, continuei tremendo, enquanto a olhava. Uma forte ventania começou, enquanto o tempo se fechava. Ouvi trovões e vi relâmpagos. Foi como se a pior tempestade do ultimo século estivesse para acontecer. As convulsões aumentavam, e de repente um raio caiu exatamente sobre ela. Caí para trás, e tudo foi tomado por uma neblina com cor e cheiro de sangue. Onde ela estava antes, havia um buraco. Dali era de onde a neblina sangrenta surgia. Logo ela surgiu na minha frente, mas estava transparente. Eu enxergava através dela, e isso me assustou.

- Você demonstrou grande coragem hoje, me enfrentando para poder salvar seu irmão. Graças á você, meu trabalho como guardiã termina aqui. Este cargo, por direito é seu. Você pode aceitá-lo. Ou não. – neguei com a cabeça, pois da minha boca não saia uma única silaba. Eu estava em choque por causa da mudança repentina. – Esse cargo será ocupado em pouco tempo. E quem o receba, será o guardião pelos próximos cem anos. As normas dizem que se uma pessoa desafia a morte e sai vitoriosa, tem direito a juventude eterna. Nesse caso, seu irmão também me desafiou, e receberá a mesma coisa. Vocês apenas partirão daqui no momento em que desejarem. Parabéns, Bill Kaulitz.

Ela sumiu, e a neblina vermelha baixou. Arrastei-me até Tom, que olhava tudo perplexo. O abracei com força, derrubando algumas lágrimas.

- Tudo bem. Acabou. – murmurou ele, respirando fundo. – Você mesmo ouviu.

- Eu sei, mas... Ainda não consigo acreditar. – fiz uma pequena pausa e olhei em seus olhos. – Como me encontrou?

- Eu achei o papel onde ela escreveu o último poema com o Scotty. Depois fiquei na janela até te ver sair, e cuidadosamente te segui.

- Obrigado. – murmurei.

- Eu que devia agradecer. Você salvou minha vida! – ele riu. – Aliás, acho que pudemos tirar alguma coisa boa de tudo isso. Você mudou. Está mais corajoso, decidido, forte. Foi demais.

- Verdade? Jura? – perguntei, com um sorriso tímido.

- Juro. Quase não te reconheci Bius. – ele abriu um sorriso cúmplice enorme para mim.

Vi que quase amanhecia. Em tão pouco tempo, passei por tudo aquilo. Em apenas algumas horas, fiz o que até agora não acredito que eu possa ter feito. Mudei.  Olhei bem para o primeiro ‘’corpo’’ da morte. Aquele que eu acreditei ser parecido comigo. Agora que tudo tinha terminado, não parecia. Acho que foi o medo que me fez pensar isso.

Então, levantei, ajudando Tom a caminhar, enquanto fazíamos o caminho de volta para casa.

Olhei para trás prometendo que não voltaria ali tão cedo. Na minha mão surgiu um bilhete que dizia:

‘’O impossível se tornou real

Ele fez o que ninguém acreditava

Provou que para conseguir vencer a morte

Bastava querer, ter garra. ‘’

Sorri e coloquei o papel no bolso.

Eu podia estar com centenas de machucados. Podia sentir uma dor infernal. Podia ter feito o que fizesse. Não me importava. Eu tinha vencido que era considerado invencível. Eu tinha salvado meu irmão. Enfim...

Eu tinha conseguido.

Fim

 


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Notas finais do capítulo

Então gostaram?
Se sim, deixe um review, se não, deixe de qualquer jeito! Não importa se for pra elogiar, criticar, chutar o balde... Só quero saber a opinião de vocês, ok? #sorri#

Bem, obrigada por ler mesmo assim!
Beijoos!
E se der, deixe um review pra mim, por favor! #carinha de filhote de labrador em vitrine de pet shop#



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