Vestia lavanda e trazia o mundo no olhar.

Lembro-me muito pouco do cortejo até o santuário, das palavras do sacerdote ou dos rostos cheios de esperança que preencheram o templo naquela fria manhã de março. O que me  restou na memória foi o cheiro suave e adocicado que vinha de seus cabelos, tão frescos como aquela manhã de primavera. O som de sua voz decidida e apaixonada quando pedimos aos Deuses para que nos dessem suas bênçãos. Meu desejo silencioso e desesperado de que a purificação que aquele ritual representava, que iniciaria nossa nova vida como uma família, fosse mais do que meras palavras… Lembro-me do roçar de seus lábios, do descompasso de meu coração ao abrir os olhos e encontrar a pálida luz do sol  emoldurando seu sorriso como se fosse feito de ouro, do juramento secreto que traria embaixo da minha própria pele e do qual me lembraria por todos os dias da minha vida.

Talvez eu não tenha entendido totalmente quando meu irmão me mostrou suas memórias antes de partir tantos anos atrás, mas a verdade é que quando encontramos o fim, a gente se lembra do começo...