Quando Partir pro Paraíso me leve junto de voce escrita por RoberthaCosmos


Capítulo 1
Unico




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saírem da clínica médica, ambiente localizado no quinto andar do principal edifício da cidade, a Doutora Serelly conduz a sua paciente até a entrada do elevador.

Ao abrir a porta automática e ter acesso para o interior do elevador, apenas Serelly percebeu a presença de um homem muito sorridente e que possui uma imensa bolsa de viagem em mãos.

Por alguns momentos, a médica acha estranho o motivo deste homem sorridente olhar para a sua paciente, até que esta inquietação chega ao fim.

O desconhecido que já estava no interior do elevador, se solta da bolsa para abrir os braços e dizer para a paciente com um tom suave em sua voz:

— Robertha, não foi fácil sair de lá do Rio e até chegar aqui no sul. Finalmente conheço a autora da personagem que forma um casal nas minhas histórias!

A paciente tem o nome revelado por este homem ainda desconhecido. Robertha estava de costas e ouviu cada palavra. Ela retira os óculos e de forma rápida, pula sobre ele, que aguardava de braços abertos.

Robertha é o nome da paciente que a Doutora Serelly acompanha o seu estado clínico. No momento em que a porta automática do elevador se fecha, a médica ouve a voz emocionada de Robertha respondendo a este homem desconhecido:

— Ander, seu maluco. Você veio aqui na minha cidade pra me ver? Ah… Você sempre com essa mania de me surpreender de forma positiva. Eu gosto muito de você. Você apareceu no momento mais complicado da minha vida. Você é o meu amigão!

O desconhecido homem se chama Ander.  Ele se mantém abraçado à Robertha, transmitindo carinho e também recebendo a emoção do encontro. Ele responde com um sorriso, como se corrigisse a última frase de Robertha:

— Beta, você gosta de mim como amigo, mas eu vim até aqui porque gosto de você de outra forma!

Para a agradável surpresa da especialista médica, ela vê a sua paciente se encontrar de forma inesperada com esta pessoa muito importante. A doutora observa o encontro de Robertha com este desconhecido chamado Ander e fala consigo mesma em pensamento:

— Minha nossa, quem é esse cara? Ela nunca me falou que tinha um primo ou algum parente com tanta afinidade assim. Será que a Robertha conheceu esse sujeito pela internet? Acho melhor deixar os dois a sós e vou voltar pro meu consultório. Ela está muito feliz em encontrar com esse cara!

Enquanto isso, o elevador desce lentamente até o térreo. Este foi o tempo necessário para estas duas pessoas conversarem e se conhecerem pessoalmente, após muito e muito tempo de amizade pela internet:

— Poxa, Ander… Eu sempre acreditei em você e guardava no meu coração as suas mensagens de carinho. Não precisava sair da sua cidade e vir até aqui pra me ver! 

— Eu não vim aqui só pra te ver. Eu tô tentando alugar um apartamento aqui nesse prédio pra morar na sua cidade. Eu vim conhecer as deliciosas carnes, o frio e a dona desses olhos mais lindos do sul. Só não sabia que você tinha esse cabelão imenso!

— Você é muito bobo e gentil. Você é todo o jeito que imaginava. Você tem a pele clara, cabelo curtinho e cheio de fios brancos. A sua barba é quase grisalha. Ah… meu barbudinho, eu estou muito feliz!

— Beta, você também se encaixa na forma que eu imaginava, só não sabia que você era magrinha e tinha esse cabelo tão comprido. Ele é muito cheiroso, tem um cheirinho de limão!

— O meu xampu tem aroma de limão. Só você que percebeu isso, meu barbudinho. Agora vamos falar de coisa séria. Você veio morar aqui na minha cidade?

— Isso mesmo, Beta. Eu larguei tudo lá no Rio. Deixei emprego, casa, compromissos e até os meus pais só pra ficar com você!

— Meu barbudinho, não sei como te agradecer. Você sabe que tem um lugar muito especial no meu coração. Quando descobri a minha doença, todos os amigos me abandonaram. Apenas a minha médica e o meu pai estão me dando todo o apoio, mas agora tenho você. Você é o meu grande amigão!

— Beta, quando soube da sua doença, eu fiquei muito triste e peguei todo o meu dinheiro. Comprei um carro usado e vim pra cá tem poucos dias. Tá difícil encontrar um apartamento barato por aqui!

— Você pode ficar na minha casa o tempo que for necessário. Como já disse, depois que surgiu a minha doença, todos foram embora. Eu vivo sozinha e o meu pai faz de tudo pra me agradar e pra ficar perto de mim, mas ele é muito ocupado. Vive viajando a compromissos!

Neste momento, o elevador chega ao térreo e a porta se abre. Ander e Robertha caminham juntos, quando a moça encontra um senhor de cabelos brancos e que possui uma imensa barriga.

Sorridente para este idoso, Robertha abre um sorriso e o chama de papai. Este senhor abraça a sua filha e pergunta quem é o rapaz que lhe acompanha.

Robertha chama Ander pelo nome e o apresenta para o seu pai. Um sincero e caloroso aperto de mão da parte de Ander, não conquista a confiança do pai de Robertha. 

Embora este senhor tenha conhecimento que Robertha possui uma forte amizade com uma pessoa tão longe, se torna natural que qualquer pai tenha desconfianças, ainda mais se tratando de uma filha que se encontra doente.

O clima quase amigável tem o seu fim. De forma inocente, Ander havia comprado no Rio de Janeiro uma camisa oficial do seu time de coração. Ander sabia que Robertha e o pai dela acompanham futebol e são torcedores do time gaúcho tricampeão da Libertadores.

Ander se abaixa, abre a mala de viagem e entrega a indesejável camisa do seu time carioca. O pai de Robertha abre o embrulho e a sua expressão facial é de reprovação. 

Ao analisar a camisa branca, que possui uma faixa preta em diagonal e uma cruz vermelha na altura do peito, Robertha dá uma leve cotovelada em Ander e lhe diz em voz baixa:

— Barbudinho, você tá maluco? Você não acompanhou o jogo de ontem à noite pela Copa do Brasil? O seu time eliminou com uma goleada o União, time aqui na nossa cidade, justamente o time do meu pai. Ele é tesoureiro do nosso Leão e ainda está muito aborrecido com a derrota!

Foi da pior forma possível que Ander e o pai de Robertha se conheceram. Mesmo assim, o senhor entendeu a situação e viu que o amigo de sua filha não possui nenhum tipo de má intenção. No fim, ele acha graça de toda a situação.

Felizmente o clima tenso dá lugar à alegria. O pai de Robertha precisa viajar com o time local para disputar alguns amistosos no interior do Paraná e para surpresa de Ander, este senhor põe as mãos sobre os seus ombros e lhe diz palavras sinceras, sentimentos do fundo do seu coração:

— Garoto, o pouco tempo que te conheci foi o bastante pra te aceitar. A Robertha sempre falou de você e das suas histórias. Ela precisa muito de uma amizade sincera de alguém que lhe dê alegria. Infelizmente ela possui uma doença terrível e vai precisar muito de você. Acredito que você não vai magoá-la e confio totalmente em você. Obrigado pela camisa do seu time!

Ander não conseguiu um lugar para morar na cidade. Robertha precisava de uma companhia, pois o seu pai viaja constantemente com o time local. Felizmente surgiu este amigo, que veio de tão longe e será a pessoa perfeita para ficar ao lado da adoecida Robertha.

O som da campainha informa a chegada de alguém. Robertha caminha lentamente até a porta, gira a maçaneta e recepciona o amigo Ander.

O visitante tem duas imensas sacolas, compras que ele fez no supermercado do centro da cidade. Robertha o chama até a cozinha e os dois conversam por um longo tempo:

— Barbudinho, pra quê tantas compras? Era pra ser um jantar simples, mas você é muito exagerado. Eu estava conversando com a minha médica Serelly pelo telefone, quando ouvi uma gritaria na rua!

— Ah, Beta. Eu vim do supermercado com as compras, quando dois moleques, dois pivetes chegaram até mim e me ameaçaram.

— O que aconteceu? Qual o motivo daquela gritaria? Você está bem? Você foi assaltado? Você está machucado?

— Que nada. Um deles encostou uma faquinha de merda, uma faca de cozinha no meu braço. Eu perguntei o que eles queriam e eles me pediram dinheiro e o celular. Eu disse que sou carioca e esses merdinhas não vão me roubar. Eu abri a mão, dei um tapão no meio da cara deles e disse pra pegar dinheiro lá do Bolsa Família, lá do PT, da Dilma e do Lula. Consegui tomar a faca deles e disse que ia enfiar a faca no meio da bunda deles. Criei o maior “rebuceteio”!

— Hahahahah… Ander, que horror! Não sei se fico rindo ou se fico nervosa. Você realmente não tem todos os parafusos na cabeça. Não sei de onde tirar essas palavras tão… ah, nem sei o que dizer!

Ainda sorridente, Robertha dá para Ander uma linda cuia de porcelana, pintada com as cores azul, branco e preto, uma clara evidência do seu time de coração.

Ander põe o canudo em sua boca e prova o conteúdo da cuia. No mesmo instante, os seus olhos se enchem de lágrimas, o seu rosto fica totalmente vermelho e lhe causa uma repentina transpiração.

Robertha se assusta com as estranhas expressões faciais de Ander. Ela fica preocupada e os dois voltam a conversar:

— Barbudinho, o que aconteceu? Você tá todo vermelho e todo suado. Você não gostou de provar o nosso chimarrão? Isso é apenas um mate quente!

— Caramba, Beta. Eu agradeço o seu carinho, mas eu não gosto de chá, principalmente quente. Bebida quente me dá piriri e dizem que mate é brochante, deixa o Malaquias dorminhoco!

— Mate quente deixa o quê?

— Ah, deixa pra lá. Eu fui no supermercado e comprei as coisas pra fazer a janta especial pra você. Lembra daquele sábado que a gente trocava mensagens pelo Zap, quando estava preparando uma carne seca com batatas? Vou fazer pra você!

— Meu barbudinho, eu tô doente e não posso comer coisas assim. A minha alimentação se resume apenas em legumes!

— Ah, Beta… me desculpa!

— Barbudinho, não se preocupa com isso. Eu vou morrer em poucos dias e vou comer a sua comida!

— Beta, não fala assim. Eu gosto de você e quero ficar com você pra sempre!

— Pra sempre… Ander, você sempre me dizendo coisas bonitas. Eu gosto muito de você, porque você é o meu grande amigo!

— Amigo… eu gosto de você de outra forma!

— Barbudinho, você tem razão. Eu não gosto mais de você como amigo. Eu a partir de agora gosto de você como um…

— Fala, Beta. Fala aquilo que tá preso no seu coração!

— Eu gosto de você como um irmão!

— Tá bom, Beta. É melhor isso do que nada!

— Como assim, eu não entendi!

— Beta, vamos preparar a janta. Eu só preciso de um socador de alho!

Neste instante, Robertha puxa a gaveta e retira o socador de alho. No momento em que ela oferece o objeto para Ander, um súbito mal estar lhe causa tontura e um princípio de desmaio.

Ander teve a rapidez e imediatamente lhe segurou, assim evitando a sua queda ao chão.

Após alguns segundos, Robertha se sente melhor e explica que estes sintomas são os resultados da forte medicação ministrados pela Doutora Serelly. Ander observa a triste cena e finalmente entende a gravidade da situação.

Ele consegue segurar as lágrimas de ver esta cena. Ander não imaginava que a doença era tão complicada e a partir deste momento, ele assume um importante papel na vida de sua tão querida Robertha.

Após o jantar, Ander recusa que Robertha cuide da cozinha desarrumada e ele mesmo organiza tudo. Gentilmente, ele guarda todos os pratos, talheres, os alimentos na geladeira e conversa com ela:

— Beta, olha como sou um cara feito pra casar. Já lavei a louça, as panelas, os pratos e os talheres estão guardados e acabou-se tudo!

— Minha nossa. Ander, olha a besteira que acabou de falar sem querer. Soletre sílaba por sílaba!

— A ca bou se tu do. Não vi nada demais!

— Exclui as duas primeiras e as duas últimas sílabas!

— Boucetudo. Eita, hahahahah… Beta, eu juro que foi sem querer!

— Eu sei, Barbudinho. Eu nunca ri tanto como agora. Você me faz muito feliz. Obrigada por estar ao meu lado!

— Beta, você não precisa agradecer. Estar com você na sua cidade, com certeza é a maior alegria da minha vida!

Um certo horário da noite, Robertha assiste na televisão o seriado médico chamado Doutor House. Ela chama Ander para assistir os episódios e curiosamente, ele também é fã do seriado.

Após a sequência de capítulos, o sono atinge estes dois. Preparando-se para dormir, Robertha surpreende o seu amigo ao lhe fazer um convite inesperado:

— Barbudinho, nas suas histórias, o seu personagem sempre dorme no sofá da sala. Eu vou fazer diferente com você. Eu durmo numa cama de casal e você vai dormir comigo, porém um travesseiro vai separar nós dois. Nem pense de ficar com a barraca armada que não vai rolar nada!

— Que isso, Beta. Eu não pensei nisso em momento nenhum! 

— Não pensou? Te conheço muito bem, seu pervertido!

Minutos depois, Robertha e Ander observam o céu estrelado, através da janela aberta do quarto. Ander aponta uma estrela muito brilhante de cor branca. Ele diz que esta estrela é na verdade o planeta Júpiter, que se localiza na Constelação de Escorpião.

Robertha olha atentamente para o céu e percebe que há uma sequência de estrelas, formando o corpo de um escorpião no céu.

Logo depois, Robertha se vira para o lado, deseja boa noite para Ander e vai dormir. Ele continua olhando para o céu estrelado e diz que reservou um quarto de uma pousada, na cidade praiana de Torres.

Robertha imediatamente esquece a sonolência e não contém a felicidade. Ela se senta na cama e em voz alta, a dona do lar segura à mão de Ander e faz diversas perguntas:

— Você vai me levar na praia? Eu sempre quis conhecer Copacabana, Ipanema ou Leblon, mas dizem que a praia de Torres é linda. Eu aceito o seu convite e se dependesse de mim, nós partiríamos agora mesmo!

Ander sorri devido ao convite aceito. A viagem será muito longa, saindo da cidade do interior até o litoral. O relógio na parede marca onze horas da noite e ele precisa descansar bastante, pois vai dirigir por muitas horas.

Robertha se vira novamente para dormir, porém está muito feliz. Ela adormece com um sorriso no rosto e em sua mente surgem milhares de cenas de sua tão sonhada praia.

Assim que Ander desperta, ele observa o relógio da parede marcando sete horas da manhã. Ele lembra que no dia anterior, esteve no supermercado e havia comprado para o café da manhã, os pães, o queijo e as fatias de presunto.

Pensando em preparar o seu desjejum e o de Robertha, ele vê uma cena inesperada na sala da residência. A própria Robertha se levanta da cadeira, enquanto a sua médica Serelly havia cortado o seu cabelo.

Robertha que antes possuía longos cabelos loiros, agora decidiu fazer um corte diferente. Seus cabelos loiros estão curtos e partidos ao meio, isso provoca o instinto zombador de Ander, que imediatamente faz associações:

— Beta, você tá usando saia azul, blusa branca, tá com o cabelo curtinho e tem os olhos azuis. Se colocar uma tiara na testa vai ficar igual à Sailor Urano. Só não pode virar “sapatista”!

Ander falou tais palavras com um tom de ironia, mas o seu coração pulsa ainda mais acelerado. Ele admira a beleza de quem tanto gosta, como se estivesse hipnotizado.

A Doutora Serelly percebeu isso da parte dele. A médica caminha sorridente até ele e lhe dá um suave tapa no rosto. Ander não entende o motivo da humorada agressão e a doutora explica o motivo:

— Seu safado. A minha amiga acordou de madrugada e viu você dormindo com a coisa pra cima. Se fosse eu no lugar dela, com certeza jogava água fervendo!

Minutos depois, Serelly se despede de Robertha e Ander. Os dois estão no carro com destino às praias da cidade de Torres.

Quilômetros se passam. Cidades após cidades e muita estrada. Ander admira a beleza das montanhas, do céu azul e do ar puro do sul do Brasil. Robertha não larga o celular, pois assim ela se comunica com o pai e com a sua médica, sempre informando que está tudo bem.

Finalmente os dois chegam à pousada e estacionam o carro. Ander leva as malas, enquanto Robertha recebe as informações da balconista.

É neste instante que acontece um momento cômico e vergonhoso. A balconista observa que se trata de um casal, mas Ander havia reservado um quarto para solteiro. Robertha não aceita e exige um quarto para casal.

Para provocar o amigo, ela põe a mão na cintura e lhe faz diversas provocações:

— Ander, eu tô te estranhando. Você reservou um quarto de solteiro, porque tá com medo de mim? Eu não vou te agarrar e não vou fazer nada! Se achar melhor, eu te empresto o meu ursinho e você dorme abraçado a ele!

A balconista sorri da situação e entrega para Robertha, a chave do quarto de casal. Ander abaixa a cabeça devido à situação vergonhosa e caminha com destino ao longo corredor, onde se encontra o polêmico quarto de casal.

Minutos depois, os dois saem da pousada e atravessam a rua, com destino à praia. Pisando na areia fofa, o vento faz esvoaçar o cabelo curto de Robertha, que respira fundo e sente o inédito cheiro de maresia.

Ander dá a mão para ela e lentamente, os dois amigos caminham em direção às ondas, que se espalham e tocam nos seus pés.

Robertha se abaixa e faz algo que deixa Ander curioso. Ela apanha um pouco da água do mar com as mãos e toca a ponta de sua língua. Ander observa a curiosa cena e decide fazer uma pergunta:

— Beta, por que você fez isso?

— Barbudinho, eu nunca acreditei que a água do mar era salgada. Eu sempre quis provar e agora vejo que é verdade, a água é muito salgada!

Ander percebe que as pernas de Robertha não estão firmes, pois as suave onda lhe provoca desequilíbrio. Ele não larga a mão de sua amiga e ela mesma fala o que sente neste momento:

— Ainda bem que você está me segurando, porque tô sentindo um pouco de fraqueza. Você pode me suspender no seu colo e me levar mais pra frente? Eu quero ir um pouco mais pro fundo da água!

Ele aceita o seu pedido. Robertha abraça o pescoço de Ander com muita delicadeza, ele a suspende em seus braços e caminha para a dentro do mar, numa profundidade segura.

Ander é sempre humorado e não deixa de perder os cuidados necessários. Ele deixa a onda bater no corpo de Robertha e em todo o momento ameaça soltá-la. A bela moça adoecida não sente medo, ela dá altas gargalhadas por estar realizando um sonho de conhecer a praia, principalmente ao lado de alguém tão especial.

Depois do mergulho, os dois estão sentados na areia saboreando os lanches debaixo de uma imensa árvore. Ander observa incansavelmente cada detalhe do rosto de Robertha e os dois conversam por um longo tempo...

— Beta, o seu cabelo tá cheio dessas florzinha. Essa árvore não produz nenhuma fruta, mas deixa cair dezenas dessas flores pequenas em cima da gente!

— Ai, que susto. Pensei que eram formigas ou algum tipo de inseto!

— Que nada. Por falar em flor, esse sol amarelo do entardecer faz os seus olhos azuis ganhar um tom transparente. Beta, eu admiro muito a sua beleza!

— Obrigada, Ander. Você é muito gentil!

— Beta, por acaso você faz cocô? Você é tão perfeita que desconfio que nunca foi no banheiro!

— Nossa, hahaha. Ander, que cantada mais esdrúxula, hahaha!

— Beta, não me atrapalha. Tô tentando jogar um charme pra você. Tô tentando conquistar o seu coração!

Assim que o sol desaparece no nível do mar, Robertha sente um desconforto e pede para voltar para a pousada. Ela quer retirar a areia e a água salgada de seu corpo.

Na verdade, Robertha está se sentindo muito mal e inventou estas desculpas. Com muita dificuldade, Ander auxilia na caminhada até o quarto de casal onde estão hospedados.

Robertha não consegue ficar de pé por muitos minutos. Ela pede que Ander lhe conduza até o banheiro para fazer simples necessidades.

Robertha olha para Ander e vê que o seu grande amigo está muito envergonhado. Ela entende o sentimento da parte dele, mas é necessário que Ander seja firme e ela lhe faz um pedido:

— Meu Barbudinho, você tem que tirar a minha roupa e abaixar o meu maiô. Eu preciso fazer xixi e não posso fazer com roupas. Até parece que você nunca viu uma… entendeu, né!

— Beta, menos detalhes, por favor. Eu assumi esse compromisso com o seu pai, com você e comigo mesmo. Eu estarei ao seu lado em qualquer situação. Vou retirar a sua roupa e prometo não olhar!

— Ah, seu bobo. Eu tô muito magrinha. Essa doença fez murchar os meus peitos, a minha bunda e me fez ficar com as pernas finas!

— Beta, apesar disso, a beleza que admiro em você está nos seus olhos e também no seu coração!

Robertha se acomoda sobre o sanitário, enquanto Ander está abaixado e retira cuidadosamente cada peça de roupa. Robertha olha para baixo, em direção a ele e vê cada gesto de carinho e de um profundo sentimento.

Enquanto Ander está abaixado retirando as roupas de Robertha, ele diz uma palavra que toca profundamente o coração da amiga adoecida:

— Beta, você não pode olhar pra mim, porque uma rainha quem que manter a cabeça em pé, senão a coroa pode cair!

Robertha ouve esta frase, a mesma pronunciada por ele há muitos anos. O seu sorriso é acompanhado do balançar de cabeça de forma positiva.

Após o uso do sanitário, é necessário que cada um tomem banho para jantar e dormir. Robertha não possui saúde e condições físicas para realizar estas funções. Será necessário que Ander lhe conduza até o chuveiro e que lhe dê o banho necessário.

Logo em seguida, é necessário que Ander conduza Robertha até o box do banheiro. Ele percebe que as mãos de sua amiga estão trêmulas e também havia percebido a fraqueza dos joelhos. Ander abre o registro do chuveiro e deixa a água cair sobre Robertha.

Em nenhum momento ele olhos para o corpo de forma maliciosa. Ander observa atentamente o rosto de Robertha e os dois voltam a falar por muito tempo:

— Beta, se precisar de mim, eu vou estar ali na pia. Caso sinta alguma coisa, você me chama!

— Barbudinho, eu tô muito fraca e você precisa me segurar e me dar banho. Você pode pegar aquela esponja e passar sabonete líquido em mim?

— Beta, eu farei isso sim, mas peço que sempre acredite em mim. Embora eu goste de você e que sinto muita atração por você, eu não vou…

— Barbudinho, para de problematizar tudo. Eu preciso de você pra me dar banho, inclusive ensaboar lá em baixo!

— Hahahahah… Beta, você me deixa em cada situação!

Após o banho, Ander caminha com Robertha, enrolada numa toalha até o quarto de onde estão hospedados.

Robertha se deita sobre a cama e Ander comenta que a pele dela está muito ressecada, devido os efeitos da água do mar.

É neste momento que acontece algo inédito entre estes dois. Uma cena que marcará para sempre e que ambos guardarão consigo por toda a eternidade.

Ander segura um recipiente contendo óleo de corpo e pede que Robertha se deite de bruços sobre o lençol. A própria Robertha retira a toalha que envolvia o corpo e expõe mais uma vez a sua nudez.

Ander não desvia mais o seu olhar. Ele espalha o óleo perfumado sobre os ombros, as costas e as pernas de Robertha, enquanto ela lhe surpreende com uma revelação:

— Barbudinho, quando te vi na praia sem camisa usando sunga preta, eu percebi que você contraiu a musculatura do abdômen pra encolher a barriga. Você fez isso só pra me impressionar. Você não precisa disso, porque eu gosto de você! 

— Gosta de mim com um amor de amigo, de irmão. Isso eu já sei, Beta. Você fala isso sempre!

— Não, meu barbudinho. Gosto de você com o mesmo sentimento que você tem por mim. Além da sunga preta e da sua barriguinha encolhida, eu também olhava pra outros detalhes. Eu acho o seu sotaque muito… atraente! Barbudinho, eu sempre imaginei as cenas românticas nas suas histórias e chegou à hora de viver tudo aquilo que você escreve!

— Beta, eu sonhei e imaginei com isso tantas vezes. Eu não sei se vou resistir à tamanha emoção!

— Barbudinho, não é pelo fato de eu estar doente que você vai ter limites. Eu quero que você realize as suas maiores fantasias. Uma pena que tô vivendo essas coisas com você só agora. Queria que você estivesse comigo muitos anos antes!

— Beta, a “gente estaremos” juntos pra todo sempre. Eu prometo!

— Não, meu barbudinho. Eu vou partir e você vai continuar. Vai conhecer outra moça e viverá feliz com ela!

— Eu já disse. Abro mão disso pra viver apenas com você. Não gosto quando fala assim. Pra mim, você será eterna!

— Tem razão. Não devo falar isso. Mudando o assunto, você está passando esse óleo de corpo em mim pra me envolver no clima?

— Beta, eu não vou te responder com palavras. Vou te responder com ação e com o coração!

Ander observa Robertha sorridente e deitada sobre a cama. Ele permanece ajoelhado ao seu lado e lentamente espalha o óleo de corpo sobre a suave pele branca de Robertha.

Seguido de suaves massagens, Ander observa que Robertha recebe o carinho através de sorrisos e pelo relaxamento muscular. 

Em seguida, Ander provoca uma leve mordida na orelha e elogia o cabelo de Robertha, que possui o aroma do xampu de limão. Logo em seguida acontece o primeiro contato corporal entre estas duas pessoas, que esperaram por muito tempo para viverem esta emoção.

Os olhos de Robertha brilham como dois diamantes azuis, exatamente como Ander descreve em suas histórias. O seu cabelo loiro, agora curto e partido ao meio, parece ganhar um tom dourado e o seu sorriso evidencia que a noite já se tornou marcante para a vida do casal.

O volume baixo do rádio reproduz uma antiga música de muito sucesso da década de noventa. O refrão do grupo musical repete várias a frase:

“No mel do seu beijo sinto o gosto do amor. Me leva junto com você. Me leva junto com você!”

Cinco horas da manhã do dia seguinte. Robertha se sente desconfortável outra vez e acorda Ander, que está deitado ao seu lado.

Ela pede para ir embora, pois sente claramente que os suas últimas horas estão chegando ao fim. Ander ouviu estas palavras e conteve a emoção.

Um pouco antes de saírem do quarto, Robertha olha para o lençol manchado pelo óleo de corpo e mentalmente diz:

— Adeus. Levarei pra sempre esse momento e esse perfume em minha memória e em meu coração!

Malas arrumadas, os dois entram no carro e deixam o estacionamento da pousada. Robertha olha para trás e visualiza entrada do local. Ela segura as lágrimas e mentalmente volta a falar consigo mesma:

— Adeus. Levarei pra sempre esse momento em minha memória e em meu coração! 

Com o GPS ligado, Ander volta as suas atenções para a estrada com destino ao norte do estado. Robertha olha para trás e vê o sol amarelo surgindo entre as montanhas da cidade. Os raios solares refletem nas águas do mar, se formando um extenso lençol dourado. Tudo isso faz Robertha fechar os olhos e abrir um sorriso.

Mentalmente, ela se despede do local e de tudo que viveu em poucos dias através de sua repetida frase: 

— Adeus. Levarei pra sempre esse momento em minha memória e em meu coração!

Enquanto prossegue a longa viagem de retorno à cidade do interior, Robertha não abandona o celular. Ander percebe que a sua companheira respira de forma acelerada e que envia diversas mensagens para o seu pai e para a Doutora Serelly. 

Após a longa viagem de retorno, finalmente o casal chega à cidade do interior. Ander conduz a frágil Roberta até o interior de seu quarto. 

Logo depois ela se deita na cama de casal e olhando para Ander lhe faz um pedido: 

— Meu amado barbudinho, essa será a última vez que você vê o azul dos meus olhos. Não precisa se preocupar, porque já comuniquei o que vai acontecer em poucas horas pro meu pai e pra minha doutora. Eu só quero me despedir do mundo ao seu lado. Me abraça bem forte até eu dormir pra sempre! 

— Beta, eu farei isso se você me prometer uma coisa! 

— Ander, o que você quer? 

— Beta, assim que você partir pro paraíso, me leva junto com você! 

A resposta de Robertha não foi em palavras, e sim com a expressão facial de um sorriso e de uma lágrima. 

O dia amanhece e os dois permanecem abraçados e imóveis sobre a cama de casal. O pai de Robertha e a Doutora Serelly observam os dois e ouvem a equipe médica informar que Robertha se foi devido à doença e que Ander também partiu de causa desconhecida, talvez de forma natural. 

Apenas a doutora e amiga Serelly sabe o que levou Ander a deixar este mundo. Ela sorri e observa duas nuvens brancas no céu. Serelly olha atentamente para esta nuvem e fala consigo mesma em pensamento: 

— Vocês dois estão no paraíso. Esse foi o desejo dele de viver pra sempre ao seu lado. Neste momento, isso está acontecendo!


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