Cheguei em casa derrotada por não ter conseguido voltar a espionar o pessoal da aula de esgrima. A minha vergonha falou mais alto e me impediu.

— Que cara de perdedora é essa?

— Não enche, Kim! – passei pelo meu irmão e fui direto para o meu quarto. Ouvi a risada dele e logo notei que ele vinha atrás. – O que você quer?

— Não vi você no intervalo hoje.

— Fui almoçar com a Alya, o Nino e o Adrien. – Kim sempre ficava na quadra jogando, era óbvio que ele não iria me ver.

— Hum! – exclamou com um sorrisinho sugestivo.

Ele sabia da minha queda por Adrien, afinal, tinha uma foto ou outra do modelo no meu quarto. Eu dizia para todos que era porque eu sou fã das criações do pai dele, que é estilista – o que não é uma mentira, inclusive sou fã de outras criações de Gabriel Agreste, como o filho dele –, mas Kim sabia a verdade.

Apesar de sem noção, meu irmão não contaria pra Adrien. Nós brigávamos e discutíamos, mas éramos muito unidos. Muita gente diz que é por conta de não sermos irmãos de sangue – Kim Le Chien na verdade é filho dos meus falecidos tios, eles morreram em um acidente logo depois que ele nasceu. Então meus pais o criaram como se fosse o seu filho –, mas não sei se é por isso.

— Para de fazer essa cara! – joguei uma almofada nele.

— É ele que você tá namorando escondida, né?

— Não. – senti minhas bochechas corarem apenas com a ideia.

Kim estuda comigo e desconfia que eu saio escondida para namorar, sendo que na verdade eu saio escondida porque sou a Ladybug, a super-heroína de Paris. Nem contesto as suas teorias, pois infelizmente não tem como esconder muitas das minhas saídas e eu não posso contar para ele a verdade.

— Então quem é? Me conta!

— Existem coisas da minha vida que você não precisa saber. – respondi tentando parecer madura.

Meu celular vibrou, indicando uma mensagem. Provavelmente Alya ou Chat.

— Falando no cara...

— Provavelmente é a Alya. – olhei no visor e era Chat – Viu, é ela. – menti.

— Kim? Você está aí? – ouvimos a voz do meu pai chamando.

— Sim pai, o que foi?

— Me ajude a colocar os pães no forno, por favor!

— Ok, já vou! – ele ajeitou o topete de um jeito engraçado e saiu.

— Não sabia que o contato da Alya estava salvo como “Chat Noir”! – Tikki saiu da minha bolsa risonha.

— Imagina se eu dissesse a verdade para ele? Kim nunca mais ia me deixar em paz! – sentei na cama e desbloqueei o celular.

Finalmente terminei meu compromisso. Agora sou todo seu, my lady.

Bati o celular no meu queixo de leve, formulando uma ideia na minha cabeça. Chat Noir estava livre e eu também. Podia inventar uma patrulha e assim poderia analisá-lo mais e talvez concluir de vez que ele não é o Félix.

O que acha de uma patrulha?

Agora?

Sorri, decidindo provocar.

Sim. Você não disse que agora era todo meu?

Nos encontramos aonde?

Dei risada ao notar que havia dado certo.

Em frente à Torre Eiffel.

Até logo, Bugaboo.

— Que sorriso é esse de quem acabou de aprontar? – Tikki questionou e eu mostrei o celular pra ela. – Sério isso? – ela riu enquanto eu fechava a porta do quarto – Bem, então diga as três palavras.

— Tikki, spots on!

Me transformei e saí pela janela, com um sentimento de ansiedade. Engraçado, nunca tinha ficado assim antes de encontrar Chat Noir.

— Você já chegou? – questionei assim que pousei no prédio ao lado do meu parceiro.

— Sim. Gatos se locomovem rápido quando querem. – piscou e beijou a minha mão – Como vai? Não nos vimos hoje.

— Vou bem e você?

— Também. Só estou todo dolorido. – se remexeu, segurando o ombro.

— E o que você fez pra ficar assim? – cruzei os braços e lancei um sorriso sugestivo.

— Treino. Acha que esse corpo incrível surgiu do nada? – flexionou o braço, mostrando seus músculos. Era disso eu falava para Alya, Chat Noir é convencido e bobo. Félix é arrogante e chato. Com certeza não eram a mesma pessoa.

— Claro, claro. Vamos patrulhar a cidade agora?

— Primeiro as damas. – se curvou e eu passei por ele, em seguida joguei o meu ioiô no prédio e saí me pendurando com Chat Noir ao meu lado.

Durante a patrulha interagia com ele e tentava descobrir qualquer coisa. Mas infelizmente não conseguimos falar muito, pois tivemos que enfrentar o Mr. Pigeon. O que não foi difícil, já que ele não é um vilão necessariamente mau, nem perigoso.

— Infelizmente preciso ir. – disse Chat Noir, apontando para o seu anel que agora estava com duas patinhas.

— Tudo bem, estou quase na mesma.

Ele se despediu com um aceno e saiu saltando. Logo saí também e fui direto para casa. Assim que entrei pela janela, minha transformação se desfez.

— Eu disse que ela não estav... – Kim parou de falar assim que entrou no meu quarto e me viu parada. – Ué! Mas eu vim aqui há pouco e você não estava no quarto.

— Estava no banheiro. – apontei para o banheiro do meu quarto.

— Oi filha. – minha mãe surgiu atrás do meu irmão – Seu pai pediu pra você ajudar ele a atender os clientes enquanto seu irmão ajuda ele na cozinha. Preciso sair e pagar algumas contas.

— Tudo bem. Já estou indo.

Desci junto com eles e rapidamente peguei um avental e fui para o balcão da padaria. Quando passei pela cozinha, roubei um cookie e coloquei dentro da bolsa para Tikki.

— Sim, eu acho que podemos melhorar a melodia. – Luka e Juleka entraram na padaria. – Ah, oi Marinette. – ele parou de falar e olhou para mim com um sorriso.

— Oi Luka, oi Juleka. – cumprimentei os irmãos e minha amiga apenas acenou sorrindo. – O que vão querer?

— Viemos buscar a torta que a nossa mãe encomendou ontem. – Luka se escorou no balcão. – Ela já deixou paga.

— Ah sim, aqui. – retirei o papel com o nome da mãe deles da caixa e entreguei a torta nas mãos dele.

— Muito obrigado. – piscou e saiu.

— Tchau, Marinette. – Juleka acenou e eu retribuí.

— Tchau.

— Hum! – dei um pulo ao ouvir a voz de Kim atrás de mim.

— Que susto, garoto! – me virei e vi ele escorado no batente da porta.

— Então esse é o seu namorado secreto?

— Não. Claro que não.

— Não sei... Eu vi vocês trocando sorrisinhos.

— Para de tentar descobrir sobre o meu namorado e vai ajudar o papai. – ele riu e voltou pra cozinha. Assim que ele saiu eu suspirei – Garoto chato. – murmurei rindo da situação.

***

Respirei fundo aliviada por ter terminado o dever de física e me atirei na cama. Comecei a mexer no celular e vi que tinha uma mensagem não lida de Alya.

E aí? Teve sucesso no seu plano com o Agreste pra espionar Félix?

Não muito.

O professor dele nos viu em baixo da escada e disse que era para nós namorarmos outra hora.

Quase morri quando ele disse isso!

Todos ficaram nos olhando.

HAHAHAHAHA!

Fiz uma careta pela mensagem da minha melhor amiga e apenas mandei um emoji com uma expressão irritada – por mais que não estivesse irritada de verdade.

Bloqueei o celular e fiquei olhando para o teto, até ouvir batidas na porta do quarto.

— Pode entrar.

— Tá, é o Nathaniel? Tá na cara que ele gosta de você e...

— Não, não é ele. – revirei os olhos com Kim teorizando novamente sobre o meu namoro que nem existia.

— É o Max?

— Não! – coloquei o travesseiro sobre o meu rosto.

— Ah, é o Nino então!

— Ele é o namorado da Alya! – tirei o travesseiro de cima de mim para poder lançar um olhar indignado para ele.

— Ivan?

— Ele é o namorado da Mylene!

— Que seja! – deu de ombros – No momento estou sem mais suspeitos, mas quando eu tiver mais, volto para perguntar.

— Não precisa voltar. – ele colocou a língua para mim e saiu. – Me sinto mal mentindo pro Kim e fazendo ele elaborar várias teorias, mas sei que não é seguro dizer a verdade. – falei baixo para Tikki.

— Ser uma heroína traz responsabilidades. A maior delas é guardar o seu segredo até das pessoas que ama. – assenti.

— Sei disso. – peguei o meu celular novamente, abrindo a nova mensagem de Alya.

Era um meme. Respondi com uma risada.

— O que você planeja fazer para provar que o Félix não é o Chat Noir?

— Não sei. – coloquei a mão no queixo, fazendo uma pose pensativa – Acho que preciso rever a estratégia com o Adrien. Amanhã converso com ele sobre isso.

Depois de dar boa noite para Tikki, me deitei e comecei a refletir sobre a teoria de Alya.

Apesar de que tivemos que lutar contra um akuma hoje, tive uma tarde agradável ao lado do meu parceiro. Ele era uma pessoa agradável, na verdade. E é por isso que eu tenho certeza que Chat Noir não é o Félix.

Tudo bem que a personalidade do portador sofre algumas mudanças com o Miraculous, Tikki havia me explicado isso. Só que eu não imagino uma mudança tão drástica que possa tornar Félix alguém legal.

Meu celular vibrou e então eu o peguei para ver a mensagem recebida antes de tentar dormir.

O golpe que você usou hoje pra capturar o akuma foi incrível!

Como tudo que você faz.

Tenha uma boa noite, Bugaboo.

Bons sonhos, de preferência comigo.