Onde você me deixou escrita por A OLD ME


Capítulo 1
Prologo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bem com vocês?
Desde 2016 não publiquei mais nada aqui, sinto tanta falta, me fazia tão bem, entre tanto há uma razão para isso, escrever sempre foi algo que fiz por estar triste e deprimida, mas desde então tenho estado tão bem, minha vida mudou tanto que acabei perdendo o fio da meada, me parecia estranho escrever sem estar triste, foram três anos de um longo processo para entender que eu sentia falta de escrever e não fazia mal fantasiar mesmo que estivesse feliz, porque histórias as vezes não escrevemos para nós, escrevemos para os outros, escrevermos para ajudar alguém, mesmo que seja só uma pessoa e que essa pessoa não seja você. Por isso hoje estou aqui, escrevendo, publicando o meu primeiro prologo de uma história totalmente original, por favor, comentem no final e sejam sinceros, continuo? Despertou algum interesse? Você quer saber mais sobre essa história?



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O universo nunca para de nos surpreender. Sempre que acho que estou mais próxima de descobrir um de seus segredos, entender uma de suas fendas, milhares de outras se abrem provando que nunca chegarei a um ponto em minha vida que poderei dizer que o entendo. Sempre mudando, sempre em transformação, expandindo-se a cada amanhecer.

Há sete meses atrás eu riria sem piedade da pessoa que dissesse que eu largaria a cidade grande e a universidade para viver na velha – e aparentemente assombrada – propriedade da família Graham. Hoje, meus amigos riem com gosto de mim quando digo que estou aqui para ajudar uma tia muito velha e sozinha que está ruim de saúde.

De onde estou consigo ver o sol nascendo além da floresta densa que divide a cidade, iluminando primeiro o campo além dela, onde agricultores provavelmente estão sentados à mesa enquanto suas esposas lhes servem um café amargo com pão torrado, manteiga e queijo, afim de prepara-los para mais um dia de trabalho cuidando dos animais e das pequenas plantações que proverão o sustento pelo ano que se inicia.

Olho para a rua de paralelepípedos acinzentados e úmidos depois da noite de chuva intensa, sabendo que a essa hora, diferentemente dos moradores do outro lado da floresta, nenhum de meus vizinhos se quer sonha em acordar, nessa hora essa rua é só minha, como se o desejo daquela velha cantiga infantil estivesse sendo realizado.

Se essa rua,

Se essa rua fosse minha

Eu mandava

Eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas

Com pedrinhas de brilhantes

Para o meu

Para o meu amor passar.

Desço do telhado sujo com o máximo de cuidado possível, pois as probabilidades de cair com um passo em falso são bem altas, logo abaixo de mim Skye, uma grande pastora belga, observa atentamente enquanto escorrego e salto para o chão, ela solta um ganido assim que aterrisso e então late como se verificasse se estou bem.

— Para casa Skye! – ordeno ao animal que baixa as orelhas e corre atravessando o portal que a levará até a cozinha onde as chamas da ladeira provavelmente já se extinguiram.

Continuo o caminho pelo pátio enquanto os raios de sol parecem me seguir tentando iluminar toda a propriedade.

Nessa rua

Nessa rua tem um bosque

Que se chama

Que se chama solidão

Dentro dele

Dentro dele mora um anjo

Que roubou

Que roubou meu coração

Em minha direção, vindo da floresta, um homem alto de cabelos negros e músculos a mostra caminha despreocupado. Ele levanta a mão em um breve aceno e muda de direção indo para os estábulos, aceno de volta e continuo pela estrada de pedras com um pouco mais de pressa, meu tempo sozinha está acabando, olho para trás rapidamente antes que suma de vista, ele mudou tanto quanto eu desde que chegamos a Baía das Fadas, distraída com meus pensamentos demoro a perceber que ele também está olhando para mim, mais uma vez ele acena e faz um gesto com as duas mãos, trinta minutos, virá me encontrar em trinta minutos, volto a olhar para a frente e seguir o caminho de pedras. Chego finalmente ao penhasco, o segundo ponto mais alto da ilha, daqui quase consigo ver os campos além da floresta, e o mais interessante, o que há dentro dela. Lá embaixo, no mar, as ondas batem com força nas rochas, desgastando-as vagarosamente, formando fendas as quais me foram designadas estudar.

Sento-me a beira do penhasco e permito que meus pensamentos viagem para bem longe, que imagine o futuro que me aguarda, que relembre das coisas que aprendi no meu breve semestre em Edimburgo e que vá para o passado, quando minha avó contava histórias sobre um mundo magico e maravilhoso que se perdeu no tempo, enquanto a versão mais nova e cética de mim reclamava e dizia que aquilo era tudo besteira para iludir crianças, como se a morte repentina dos meus pais tivesse de repente me tornado alguém mais inteligente que minha velha avó que com tanto afinco cuidou de mim até seu último suspiro, como eu queria gritar para aquela menina tola que se preparasse para o futuro e prestasse mais atenção a sua louca avó. Como eu queria dizer o quanto ela estava errada e quanto tempo perderia de sua vida tentando provar esse erro, tentando acreditar que a fé em coisas maiores que você mesma é inútil, só para alguns anos mais tarde ser puxada para fora de sua pequena bolha de teimosia e sabedoria para um oceano de coisas inexplicáveis.

— Ela nunca foi louca, você que não entendia de nada.

Reviro os olhos para a voz ainda encarando o mar.

— Eu ainda não entendo nada.

— Entende sim... Você progrediu muito! – ele fala com certa empolgação. Principezinho irritante.

— Eu não sou irritante, você é quem não sabe se divertir! – ele retruca.

— Já disse para você parar de fazer isso, sabe que odeio quando entra na minha mente. – digo lançando um olhar de irritação em sua direção.

Ele levanta as mãos como se tentasse acalmar um animal feroz e se abaixa devagar ao meu lado, põe a mão em meu ombro e sorri suavemente. Aquele sorriso raro que vejo poucas vezes e geralmente somente quando ele acha que está sozinho, diferente do sorriso convencido que mantém diariamente em seu rosto diante dos outros.

“Desculpa, não consigo evitar as vezes, ficar perto de uma mente como a sua é muita tentação”.

Reviro os olhos mais uma vez sabendo que ele odeia esse meu péssimo habito e torno a encarar o mar. Longe dali o mesmo pescador de todas as manhãs passa em seu pequeno barco em direção a cidade, poucos minutos mais tarde ele some de vista e tudo que se enxerga é a imensidão azul com seus muitos segredos.

“O que será de você quando eu terminar o que me trouxe até essa ilha nos confins do mundo?”

Penso ironicamente e com o resquício de um sorriso que não permito que ele veja, pulo do penhasco.


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Notas finais do capítulo

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