— Você deveria arranjar um namorado! – Jason exclamou, e essa sua frase estava tão frequente ultimamente que não achei necessário repetir a mesma resposta que já havia dado todas as outras vezes e me contentei em continuar saboreando meu café, ignorando-o. – Vamos lá, aquele cara é bonito. – Continuou apontando para algum lugar atrás de mim.

Desde que havia me assumido para Jason, este vinha demonstrando um apoio bem entusiasmado tentando me arranjar para todo e qualquer cara bonito que ele via no campus. Acho que a novidade que eu não gostava de pessoas no geral, mas só de meninas o dava alguma esperança de que eu não ficaria sozinho o resto da minha vida tendo somente ele de amigo e a sua namorada Piper (mas esta vinha no pacote, e como eu não tinha me esforçado para ter uma relação social, aparentemente não contava como avanço).

— Jason, pela milésima vez, eu não preciso de um namorado, você que precisa parar de se meter na minha vida amorosa...

— Na falta dela! – Ele me cortou e eu o ignorei com um olhar que esperava ser intimidador.

— E pela primeira vez, e espero do fundo do meu coração que também seja a última, você tem um péssimo gosto quando o assunto são homens. – Terminei, realmente não acreditando que eu estava tendo aquela conversa.

Sua cara inconformada quase me enganou, mas ele não conseguiu segurar o riso que saiu pelo nariz.

— É, Piper disse a mesma coisa quando tentei arranjar um cara para você no tinder semana passada.

Quando ele terminou de falar foi a primeira vez na minha vida que eu fiquei sem palavras por me sentir todo e completamente incrédulo – e olha que meu pai já tinha tentado ter aquela conversa comigo após eu me assumir gay para ele, e de acordo com o mesmo ele tinha pesquisado para o melhor entendimento do que estava falando.

Eu só recuperei a voz quando ouvi o que parecia uma risada disfarçada de uma pessoa que não era o Jason e veio de trás de mim.

— Você fez o que? – Minha voz soou tão grossa que até eu me assustei com o quanto aquilo parecia um rosnado. – Jason Grace eu espero que Piper não tenha o sonho de ser mãe, porque ela vai ter que arranjar outra pessoa para isso depois que eu arrancar suas bolas com um alicate.

E dessa vez eu tive certeza que era uma risada e alguém estava se divertindo muito com o quão imbecil meu amigo conseguia ser as minhas custas. Decidi finalmente olhar para trás, ensandecido com uma mistura de raiva e vergonha, e dei de cara com um rosto conhecido da minha aula de genética. Will Solace estava sentado na mesa as minhas costas, perto o suficiente para ouvir toda a nossa conversa caso prestasse atenção, o que aparentemente ele estava.

Levantei uma sobrancelha, esperando que fosse o suficiente para ele entender como ele era um puto de um intrometido e que deveria no mínimo se desculpar.

— Foi mal! – Seria um bom começo se não tivesse o “mas”. – Mas eu estava pensando em como tudo agora faz sentido. Eu fiquei bem surpreso quando te vi no tinder, você nunca me pareceu o tipo de cara que usa um aplicativo de relacionamento.

Dessa vez a risada era definitivamente do Jason. Eu continuava sem reação, olhando para o menino bonito que vivia me tirando a atenção nas aulas de genética e me causando diversas situações constrangedoras uma vez que o professor era seu pai e uma pessoa muito boa em ler as outras.

— Não era eu. – Respondi me sentindo estúpido uma vez que só consegui esclarecer o que já estava esclarecido.

Eu era realmente péssimo em lidar com pessoas e agora teria que me acostumar a viver sem o Jason também, já que depois que saíssemos da cafeteria ele será um homem morto.

— Eu percebi. – Ele riu, e me senti ainda mais idiota ao perceber, pela nova risada de Jason, que eu não conseguia disfarçar nada bem o leve penhasco que tinha por Will. – Mas só para você saber – E ele frisou bem o “você” – Eu te dei um super like.

E sorrindo como se fosse filho de um deus grego de tão lindo que era – chegava a ser injusto com alguém com problemas sociais como eu que tinha problema em se comunicar com pessoas intimidantes – Will deixou um guardanapo na minha mão antes de sair. Cinco minutos depois – quando finalmente eu havia me recuperado do meu estado de choque e Jason do seu ataque histérico de quem tinha finalmente achado um casal para shippar – eu desdobrei o papel me deparando com um número de telefone e os dizeres:

“Eu não tenho problema em ser seu namorado.” — A palavra namorado frisada várias vezes como se já não fosse vergonha suficiente saber que ele tinha ouvido tudo mesmo, inclusive o apelo desesperado de Jason para que eu arranjasse alguém.

— Você vai ligar né? – Jason perguntou, quase mais esperançoso do que eu.

— Eu não sei o que te faz pensar, depois de tudo isso, que você tem o direito a dirigir a palavra para mim durante o resto do semestre. – Resmunguei mostrando o dedo do meio em sua direção e pegando minhas coisas para sair do café, deixando bem claro que não pagaria nada e a conta era só o começo para eu perdoá-lo por aquele vexame.

— Mas você vai ligar né? – Jason veio correndo para me alcançar após pagar a conta e recolher as suas coisas.

Eu continuei andando evitando olhá-lo para que ele não reparasse o sorriso gigante que tinha no meu rosto, o número de Will Solace bem apertado entre os dedos.