A rosa mais linda escrita por Amystar


Capítulo 1
Oliver Crane x Violet Bridgerton


Notas iniciais do capítulo

Talvez fique um pouco difícil entender quem é quem, então, recomendo que consultem a árvore genealógica da família enquanto leem.



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Wiltshire, 1843 

Violet Bridgerton era uma moça em uma posição social extremamente bem-vista. Apesar de não ter um dote extraordinário, – mesmo que o que já tivesse fosse bem generoso. - suas influências eram mais que perfeitas. Era sobrinha de um visconde, de uma duquesa, de uma condessa, um baronete e um marquês, além de ter uma prima casada com um conde e uma com um visconde. Logo, para todos os efeitos, qualquer um que quisesse um bom relacionamento com pessoas influentes na sociedade não pensaria duas vezes antes de procurar a Bridgerton para cortejar.

No entanto, Violet era feia.

Desde que era pequena, seu primo, Oliver Crane, sempre fizera questão de implicar com ela e apontar todos os seus defeitos que, antes, nunca reparara. Mesmo sendo longos oito anos mais velho que ela, o rapaz nunca perdera seu jeito infantil e sempre que passava as férias em casa, fazia uma visita aos tios para ver os primos, nunca deixando a pequena Violet de lado. E, como consequência disso, a autoestima que a moça nunca construíra estava totalmente ruída. Então, mesmo que seus pais ou seus amigos lhe dissessem o contrário, ela sempre insistia em afirmar que era feia.

Ela era bem parecida com seu pai. Os mesmos cabelos castanho-avermelhados e os mesmos olhos azulados. No entanto, mesmo tendo herdado tais características, é como se toda a beleza que se pudesse herdar de Benedict e Sophie Bridgerton tivesse sido sugada por seus três irmãos mais velhos, três libertinos que gostavam de passar a maior parte do tempo se envolvendo com cantoras de ópera e indo em tabernas com Edmund e Miles beber até cair. Se eles não utilizariam sua beleza pra nada, por que justo ela tinha que ser o patinho feio da família?

Com seus dezenove anos recém-completos, acabara de passar uma temporada exaustiva em Londres e nunca teria imaginado o tamanho da felicidade que tivera ao finalmente pisar os pés em seu verdadeiro lar, no campo. A cidade era cheia demais, populosa demais e lá havia mais regras do que qualquer outra coisa. Não entendia como Charlotte e Agatha gostavam daquilo. Mas, enfim, o que tornara pior sua estadia era o fato de ter passado por todos aqueles bailes exaustivos e não ter recebido sequer uma proposta decente.

Ao todo, recebera duas propostas de casamento. Uma era de um homem que era mais velho que seu pai – e tinha uma barriga para lá de avantajada – e o outro sem dúvida não era muito certo da cabeça, todos sabiam disso. Então, quando a temporada acabou, retornou para casa de cabeça baixa e orgulho ferido.

— Não pode ter sido tão ruim. - Sophie disse pegando um biscoito amanteigado. Ela e a mãe tomavam o famoso chá da tarde na sala de hóspedes, uma vez que a sala particular da família estava sendo redecorada. - bailes são tão mágicos… A dança, a música…

— Os pés doendo, a dor de cabeça, pessoas desinteressantes. - Violet completou amargurada, lutando contra a vontade de revirar os olhos. - não foi nada mágico, disso tenho certeza. Sei que seu primeiro e único baile foi incrível, mamãe, mas eu estaria sendo muito sonhadora em achar que o meu também seria.

— Violet, não pode ter sido tão ruim assim. - atalhou a mãe. - Kate me mandou cartas sobre o seu desempenho e você parecia estar indo tão bem quanto Charlotte.

Sua mãe, Sophia Bridgerton, era a filha ilegítima de um Conde. Logo, como temiam que a sociedade não fosse recebê-la bem, ela e o pai optaram por viver no campo, e, além disso, deixaram a missão de guiá-la no mercado casamenteiro para a esposa do irmão de Benedict, a Viscondessa de Bridgerton, que era uma de suas tias preferidas.

— Charlotte recebeu muitas propostas, eu não.

— Você também recebeu propostas.

— Deveria estar lá para ver os pretendentes… - murmurou com a xícara na boca, na tentativa de abafar o som.

— O que disse?

— Nada! - prontamente virou o líquido pela garganta, na esperança de que a mãe não insistisse no assunto, o que, por sorte, não fez. - mas voltando ao ponto inicial. - pôs a xícara vazia de volta ao pires. - foi uma temporada terrível e com certeza não pretendo repetir a experiência no ano que vem.

— Como pretende receber propostas de casamento aqui, no campo? - indagou a mais velha.

— Amanda conseguiu.

— Amanda teve sorte, e você sabe bem disso. - Sophie adquiriu um pose mais maternal, pegando nas mãos da filha. - ela pode ter conseguido achar o amor com Charles ficando onde está, mas às vezes é necessário erguer as mangas e lutar pelo final feliz. Você é minha única menina, e desejo que arrume o melhor marido que poderia querer.

Violet suspirou, desviando o olhar da mãe. Nunca poderia dizer a ela que se achava feia. Sophie achava que aquilo era uma fase que durou até a adolescência, que ela já havia superado aquilo, e insistir no assunto só traria mais dor de cabeça para si, já que as tentativas da mãe de fazê-la enxergar o que ela própria não conseguia ver acabavam em Violet subindo para o quarto e passando longos instantes na frente do espelho procurando a beleza que tanto queria ter.

Esse assunto tinha que ficar preso entre as quatro paredes de seu quarto, então apenas forçou um sorriso e assentiu com a cabeça.

— A senhora quer pra mim o mesmo conto de fadas que viveu, não é? - perguntou a filha, fazendo a mãe corar. Mesmo na idade avançada dos quarenta e nove anos, a mãe ainda conseguia ser encantadora quando embaraçada.

— Quero. - admitiu após alguns instantes, tentando se recompor. - por mais que ficasse bastante satisfeita se arrumasse um rapaz agradável e de bom coração, mesmo que não o amasse. Desde que, claro, você estivesse feliz com isso.

— Acho que eu ficaria, sim. - refletiu ela, mirando um biscoito meio comido por mais tempo que o normal. - não preciso de um grande amor, apenas desejo… - fez uma pausa por uns segundos, despertando mais curiosidade na Bridgerton mais velha. - na verdade, nem sei exatamente o que desejo. Não tenho grandes ambições, apenas queria viver em paz.

Foi a vez de Sophie dar um longo suspiro, após bebericar seu chá inacabado.

— Você precisa se casar, Violet. - insistiu. - não virá nada de bom se virar uma solteirona. Logo seus irmãos irão casar, ter filhos e você se verá desejando filhos iguais a eles.

— Posso ser perfeitamente feliz sendo tia de várias crianças.

— Sabe que não é verdade.

E não era mesmo, admitia isso. Violet, como a filha mais nova, sempre desejara ter um irmão mais novo o qual pudesse cuidar. Diferente das outras meninas de sua idade, adorava passar um tempo com os primos pequenos brincando e cuidando deles. Sentia saudades de quando Frederick era um bebê e passava horas na companhia dele. Agora, com quatorze anos, estava estudando em Eton e só se viam nas férias. Logo, desejava ter suas próprias crianças tanto quanto desejara ter irmãos mais novos no passado.

— Ora, mamãe, o que quer de mim? - explodiu ela. - esta temporada já passou, não posso fazer nada além de aguardar pelo ano que vem.

— Violet Bridgerton, modere seu tom. - advertiu a mãe, fazendo-a se encolher. - mas enfim, você pode se esforçar um pouco mais, mesmo que não esteja em Londres.

— Fazendo o que? - retrucou em tom zombeteiro. - quase não há cavalheiros aqui no campo, e não é como se um deles fosse bater à porta agora e…

Uma batida na porta interrompeu a moça, e as duas mulheres olharam na direção da porta. E, para a surpresa dela e como ironia do destino, um cavalheiro perfeitamente bem- educado – na opinião de toda a sociedade – passou pela porta com seu sorriso estonteante, que fazia as mocinhas desmaiarem só de vê-lo.

Oliver Crane, seu tão amado e odiado primo.

(…)

Oliver Crane era sobrinho de Benedict Bridgerton desde que seu pai e a irmã dele se casaram, quando o próprio tinha oito anos. Junto com a nova mãe, uma horda inteira de primos e tios se tornaram parte da família dele, e não poderia ter ficado mais feliz. E, em especial, os primos os quais tinha mais proximidade eram, obviamente, os que moravam não muito longe dali, filhos de seu tio pintor.

Tinha a fama de libertino, assim como todos os outros primos, por mais que isso tivesse sido muito mais assíduo durante seus vinte e poucos anos, quando achava que já era um homem. Agora com vinte e sete anos, formado e mais maduro, a fama ainda permanecia com ele, mesmo que não fizesse mais jus ao título tanto quanto os outros.

Logo, a primeira coisa que pensara em fazer assim que pôs os pés em Romney Hall foi visitar a prima preferida, que herdara o nome da avó, Violet Bridgerton.

— Oliver? Desde quando está aqui? - sua tia Sophie foi a primeira a se levantar, indo até ele e esticando a mãe para que o sobrinho pudesse beijá-la.

— Cheguei hoje de manhã, o mordomo me deixou entrar sem ser anunciado. - ele sorriu simpático. - fui para casa na esperança de me encontrar com Penelope e Georgiana, mas elas ainda estão na casa do tio Anthony, em Londres. Romney Hall fica muito vazia sem elas e Frederick. - comentou, então esticando a cabeça para ver melhor Violet, que acabara de se levantar e parecia se esforçar para não cruzar os braços e fazer uma careta.

Desde pequena, ela não gostava dele.

— Olá, Oliver. - cumprimentou-lhe azeda, sem fazer a menor menção de esticar a mão ou abraçá-lo.

— É bom vê-la também, Violet. - ele se virou para ela, provocativo. - soube que acabou de chegar de uma temporada em Londres. Como foi a caça?

— Muito boa. - retrucou prontamente, segurando-se para não voar no pescoço do primo. - recebi duas propostas de casamento.

— Ah, que ótimo. - deu um sorriso leve, com um toque de ironia que só a Bridgerton mais nova conseguia perceber. - aceitou alguma?

— Não, nada que tenha despertado meu interesse. - respondeu por fim, satisfeita com a própria resposta.

— Entendo. - ela achou que o assunto tinha se encerrado por ali, até que ele acrescentou: - a barriga do Sir Davies realmente não costuma despertar interesse em ninguém.

— Como você…?! - ela quase gritou, mas segurou o tom para que a mãe, que se distraía solicitando ao mordomo mais uma leva de chá com biscoitos, não escutasse. - não sabia que era tão atento a mexericos.

— Não foram mexericos. Edmund que me contou. - deu ombros.

Charlotte certamente devia ter comentado com o irmão, pensou. As notícias rolavam rápido entre a sociedade londrina, mesmo para alguém tão “ninguém” como ela.

— Sente-se, querido. Faz tempo que não conversamos, estou com saudades da sua companhia. - a sra. Bridgerton se voltou para eles. - Mandarei um empregado chamar Benedict, ele está numa caminhada pelo campo procurando por alguma referência para desenhar.

— Com todo respeito, não será necessário, tia. - avisou o futuro baronete, alternando o olhar entre a Bridgerton mais velha e a mais nova. - na verdade, eu vim mais porque queria conversar com Violet. Ela estaria disponível para um passeio?

— Claro! - a mãe respondeu antes que ela pudesse discordar. - acho um passeio ótimo! O clima hoje está perfeito, sem qualquer indicação de chuva, perfeito para um passeio bem longo pelo campo.

— Mamãe, a senhora não estava com saudades da companhia de Oliver? - Violet disse entre-dentes, forçando um sorriso angelical.

— Bobagem, eu posso esperar. - espantou o argumento no ar. - vocês, crianças, vão e se divirtam.

E, como se tivesse sido praticamente arrastada pela mãe, Violet Bridgerton saiu para uma caminhada com seu temível primo Oliver Crane.

(…)

O futuro baronete e prima eram muito próximos durante a infância, mesmo que não tanto. Violet havia nascido no mesmo ano em que o pai e sua nova mãe se casaram, assim, tendo uma diferença de oito anos com a garota. E, da mesma forma, quando voltava nas férias e passava dias na casa de Benedict, era impossível brincar com Charles e os demais e ignorar a pequena flor no meio de um campo cheia de ervas da ninha – os garotos.

Então, como todo bom garoto de 12 anos, a única forma que encontrava para chamar a atenção da garotinha era implicando com ela. Nunca se atreveu a machucá-la, – fazia isso com Amanda quando pequeno, mas com Violet parecia um pecado – porém constantemente a ofendia e pregava peças nela, que eram sempre aplaudidas por Charles, Alexander e William. Se essa era a única forma de fazê-la olhar para ele, ora, era assim que faria.

Mas agora, com 27 anos, via que o método que usava era bem falho. Fizera a prima odiá-lo, mesmo depois de muitos anos.

— Vai ficar emburrada mesmo estando num passeio agradável com seu primo preferido? - ele sorriu provocativo, sem tirar os olhos do caminho que faziam.

— Não estou emburrada. - retrucou ela, também sem desviar o olhar. - e você não é o meu primo preferido.

— Quem seria, então? - ele não resistiu em perguntar.

— Frederick. - ela respondeu de imediato, projetando o queixo para frente.

— Meu irmão tem 14 anos. - ele bufou, rindo de leve. - o que ele fez para receber o posto de primo preferido?

— Sempre o amei como se fosse meu próprio irmão mais novo. - ela deu um sorriso caloroso, se lembrando da época em que corria pelos campos atrás de Fred, que não se importava nem um pouco em brincar com uma menina.

Oliver franziu o cenho, invadido por uma raiva súbita do irmão.

— Acho que David também. - Violet olhou para o céu sorrindo, de repente se sentindo mais leve por conversar sobre os primos. - nossos caminhos não se cruzam muito, mas desde que me lembro ele sempre agiu como um perfeito cavalheiro comigo. Nunca esqueci quando ele beijou a minha mão pela primeira vez, quando eu tinha quatro anos. - ela sentiu as bochechas coradas.

— David? - cuspiu ela, antes de um ataque de risos. Conhecia bem David Basset, que era apenas um ano mais novo que ele. David era, de fato, muito bem-educado, tinha que admitir, mas nem de longe era perfeito da forma como Violet idealizava. - ele não é assim tão perfeito.

— Ninguém é perfeito. - atalhou ela.

— Mas foi o que você disse.

— Eu?

— Sim, disse que ele era um “perfeito cavalheiro” - ele fez as aspas com os dedos, para frisar a ironia. - está se contradizendo.

— Quis dizer que David é perfeito como um cavalheiro, mas que não existe pessoa perfeita, em si. - Violet explicou se virando para ele. - e por que está tão determinado a acabar com minha imagem sobre David?

— Não é era intenção. - ele olhou para baixo. Violet segurava no braço dele, e a diferença de altura se fazia óbvia. - apenas não gosto de vê-la colocando outro homem num pedestal.

Violet recuou um pouco com a cabeça, surpresa. Estaria Oliver com ciúme? Ele parecia bem emburrado, e deixara bem claro que não gostava de vê-la elogiando David Basset daquela forma. Mas afinal, por que ele estava irritado? Mesmo se fosse irmã dele, não era comum um irmão ficar ciumento por algo assim.

— Por que veio para cá? - Violet não resistiu em perguntar. - digo, para o campo.

Oliver voltou a olhar para frente, costume que adquirira com tempo quando precisava de tempo para inventar alguma coisa. Logo o flashback de alguns dias atrás, quando conversava com Edmund, lhe veio à mente.

— Parece que Violet recebeu duas propostas de casamento. - o primo contou-lhe após virar uma dose de rum. - foi Charlotte quem me informou, mas todos já estão comentando, de qualquer forma.

— É mesmo? - Oliver disse sentindo o sangue gelar, mas tentando manter a pose indiferente. - posso saber de quem?

— August Harrison.

— Harrison?! - ele praticamente gritou, atraindo olhares de algumas pessoas que estavam no bar. Após perceber que se alterara, encolhera os ombros e voltara a falar num tom normal: - aquele Harrison? O louco?

— O próprio. - Edmund assumiu com o copo nos lábios. - ele foi a primeiro a propor casamento, e ela obviamente não aceitou.

— E os outros? - questionou, deixando Edmund confuso – os pretendentes.

— Ah, só houve mais um: o viúvo sir Davies Campbell, mas não preciso nem mencionar que ela não aceitou o pedido. Por Deus, o homem é mais velho que o meu pai. Além do mais, eu mesmo não permitiria que Violet se casasse com ele, pois muitos dizem que o homem batia na ex-mulher. - informou-lhe.

— Violet não vai se casar com um homem que pode bater nela! - Oliver rosnou. - ainda mais com uma barriga daquele tamanho.

Edmund mirou-o por alguns segundos, com divertimento no olhar.

— Seria interessante se eu me casasse com ela. - Edmund disse após alguns segundos, com o olhar cravado no Crane. - seríamos como a segunda geração do casal Edmund e Violet Bridgerton. - ele terminou a frase com mais emoção que o normal. - nossos pais fariam gosto da união, certamente. Mamãe vive me enchendo os ouvidos para procurar uma esposa.

— Você… - a voz de Oliver falhou, enquanto piscava. Edmund estava interessado em Violet? - você quer se casar com a prima Violet?

— Já estou na idade de casar, mais cedo ou mais tarde terei que arrumar uma esposa para dar continuação ao título. - deu ombros, como se fosse algo banal. - Violet é bonita, simpática…

— Vocês é primo dela, além de ser fisicamente parecido. - Oliver argumentou. Edmund era o retrato de Anthony, que era muito parecido com Benedict, a quem Violet havia puxado. - isso seria muito esquisito.

— Não se esqueça de que também é primo dela, Oliver.

— Não sou filho biológico de sua tia. - lembrou cruzando os braços. - apesar dela ter sido a melhor mãe que eu poderia querer.

— Mas é filho biológico de uma prima de nossos pais.

— Uma prima distante.

—Não deixa de ser primo.

Oliver nunca sentiu tanta vontade de socar o olho do Bridgerton.

— Me desculpe, Oliver. - ele sorriu de repente, de repente ficando mais acolhedor e com um tom mais fraternal. - não tenho a mínima intenção de me casar com Violet, só estava provocando você.

— É mesmo? - retrucou entredentes, irônico.

— Acho que deveria ir atrás dela. - Ed aconselhou recostando-se na cadeira. - ela voltou para casa hoje de manhã.

— Por que eu deveria-

— Vai.

O futuro lorde parou e mirou o amigo. Ele estava sério, com o tom que costumava usar quando tinha certeza de que algo precisava ser feito. E, se Edmund Bridgerton dizia que ele precisava ir...

É porque ele precisava ir.

— Amanda e Charles farão uma festa de aniversário para o pequeno Samuel. - o rapaz explicou-lhe após uma longa pausa, pensando que não era uma total mentira. - vim celebrar o primeiro ano de meu sobrinho.

— Ah, havia me esquecido, mamãe comentou sobre. O tempo passou muito rápido, parece que nasceu ontem e agora já está fazendo um ano. - ela sorriu. - as bochechas dele são as mais fofas que já vi.

— Gosta mesmo de crianças, não é?

Ela se calou, um tanto surpreendida pela pergunta de Oliver. Ele estava mais calmo, educado e simpático aquele dia, e estranhou quando ele demonstrou interesse pelos gostos dela.

— Gosto sim. - confessou em voz baixa, mirando o chão, pensativa. - queria muito ter as minhas próprias. - sussurrou, logo depois suspirando. Tinha essa mania de reproduzir os próprios sentimentos em voz alta, na teoria de que ninguém conseguiria escutar ou compreender.

Mas Oliver Crane era um homem com a audição impecável.

— Por que fala como se nunca fosse tê-los? - ele perguntou realmente interessado, mirando fundo nos olhos dela, de forma a deixá-la desconcertada.

— Não sou Violet Bridgerton. - ela soltou com dor na voz, como se aquilo tivesse preso na garganta há anos. Como ficou claro que ele não entendeu, explicou: - ora, sou, sim, mas não sou uma Violet Bridgerton como nossa avó.

— Não estou entendendo, Violet. - Oliver parou de andar, e se virou de frente para ela, pousando as mãos enluvadas nos ombros da garota. - o que lhe difere tanto da vovó?

— Ela era linda. - explicou com o olhar morto. - você já viu os retratos dela na minha idade. Ela era linda, e eu, não sou.

Violet se soltou das mãos dele e virou de costas, voltando pelo caminho que tinham feito. Havia falado demais, não deveria estar conversando sobre sua condição com ninguém, muito menos com Oliver Crane, por isso deu meia volta e decidiu voltar para o aconchego do próprio lar, onde podia ser repulsiva à vontade.

Depois de alguns segundos paralisado pelas palavras da mais nova, Oliver voltou a si e correu atrás dela, alcançando-a em questão de instantes.

— Por que está dizendo essas coisas de si mesma? - ele fez parar ficando em sua frente. - você não é feia, Violet.

Então ela fez o que ele menos esperava: riu. Mas não era uma gargalhada normal, que se dá após uma bela piada. Era uma risada doía, debochada e claramente forçada, que o fez serrar os punhos.

— E é você quem me diz isso, Oliver? - ironizou após recuperar o ar. - logo você? Que sempre deixou bem claro a dimensão da minha feiura?

Ele não entenderia. Um garoto nunca entendia como aquelas palavras machucavam uma moça, independente de sua idade. E logo ela, que, apesar de ter suas diferenças, sempre achou-o o primo mais bonito. Não havia como Oliver conseguir compreendê-la.

— Ora, Violet… - ele suspirou, parecendo cansado. - era coisa de criança.

— Coisa de criança? - ela soltou um grito estridente, desacreditada. - mexer com minha autoestima é coisa de criança?

— Eu só fazia isso por que… Ahh! - ele grunhiu passando as mãos pelos cabelos, nervoso. - eu também fazia isso com Amanda.

— Não tanto quanto comigo. - respondeu friamente. - ela própria já comentou isso.

— Me desculpe por ter feito isso com você, tudo bem? - ele esticou os braços para tocar nas mãos dela, mas ela recuou. - eu só quero que fiquemos bem.

— Eu quero voltar pra casa. - ela avisou olhando para o chão.

— Não. - ele balançou a cabeça. - não vou deixá-la ir enquanto não nos resolvermos.

Resolver? Não havia nada para resolver. Ele estragara a imagem que ela tinha de si própria, não era bonita suficiente e nem tinha personalidade suficiente para atrair a atenção de um bom cavalheiro, e tudo o que ele sabia dizer sobre isso era “me desculpe”? Queria argumentar, queria gritar com ele sobre a raiva que tinha, sobre como ela subia e chorava debaixo das cobertas perguntando-se porque Deus havia feito-a daquela forma.

Mas ela sentia que se pronunciasse qualquer palavra, por mais monossilábica que fosse, cairia em lágrimas e a última coisa que queria fazer era chorar na frente de Oliver. Logo, percebendo que ele não daria passagem para que ela retornasse, virou-se subitamente e talhou a correr em uma direção qualquer, sentindo as lágrimas quentes começando a descer e embaçando-lhe a vista.

Desesperado, Oliver começou a correr atrás dela, achando que a alcançaria rápido. Ficou surpreso ao ver que Violet era muito atlética, e acompanhá-la estava sendo uma tarefa difícil até mesmo para ele, que sempre foi reconhecido em Eton por sua capacidade física invejável.

— Violet! - berrou, preocupado com ela, que não fez menção alguma de parar. - Droga! Essa mulher vai me matar! - praguejou. - Violet!

Seu coração quase parou quando viu-a tropeçando e rolando em um pequeno morro, que ficava bem acima de um campo enorme de rosas muito conhecido naquela região. Sentindo o peito queimar, o rapaz disparou na direção da garota, que se levantava um tanto atordoada em meio a tantas flores.

— Violet! - ele gritou, atirando-se ao lado dela e examinando seu rosto. - você está bem? Quebrou alguma coisa? - ele fiscalizou o resto do corpo dela e viu que, apesar do vestido sujo, ela parecia bem. - está sentindo dor em algum lugar? - levantou o rosto dela com as mãos, vendo que ela ainda chorava. - oh, Violet… - ele puxou-a para um abraço, sem se importar com qualquer etiqueta.

— Meu cabelo… Está bagunçado… - ela soluçava, enquanto aproveitava ao calor do abraço dele. - vou ficar feia…

— Você é linda, Violet! - ele disse fervorosamente, fazendo-a se separar dele e encará-lo de olhos arregalados. - você é, sem dúvidas, a garota mais linda que eu já vi em toda minha vida.

Ele… Estava chamando-a de linda? Ela? Violet Bridgerton?

Ficou de pé, desacreditada.

— V-Você… Me acha bonita? - questionou. - mas você sempre…

— Eu mentia. - ele se levantou também, aproximando-se dela mais que o prudente. Mas, afinal, estavam no campo, a probabilidade de alguém vê-los era praticamente nula. - desde que mal andava… Eu sempre a achei linda, mas você nunca ligou muito pra mim. A única forma que achei de ter sua atenção era te chamado de feia, mas entenda, por favor, de uma vez por todas, que você é…

Então se deu conta que estavam no lugar perfeito, na hora perfeita. Sempre sonhara, desde o dia em que tivera uma certa conversa com seu tio Benedict, sobre como seria e faria naquele dia. E então, de repente, estavam no lugar certo.

— Você é linda. - repetiu, arrancando uma rosa com delicadeza. Olhou-a nos olhos com uma profundidade assustadora, como se seus obres fossem a visão mais fascinante do mundo. - você não é como a Violeta – riu de leve do próprio trocadilho. - você é especial. E, apesar do seu nome, você é uma rosa. - ele estendeu a flor para ela, que pegou com as mãos trêmulas. - a rosa mais linda que já vi em toda minha vida, e não deixe que nem eu e nem ninguém tente convencê-la do contrário.

Quem era aquele? Oliver Crane? Desde quando ele tinha mudado tanto? Continuava com a mesma beleza de sempre, mas… Por que mexia com ela de uma forma tão diferente? Por que fazia seu estômago revirar apenas com palavras? Será que era por causa da queda?

Lentamente, ele foi se aproximando, e Violet não podia fazer nada senão ficar parada e esperar pelo que viesse a seguir. Poderia tentar se enganar dizendo a si mesma que era inocente, que ele estava seduzindo-a e que não sabia que ele faria a seguir. Mas ela não gostava de mentiras, e sabia exatamente que o que ele faria: a beijaria.

E assim ele o fez, ao mesmo tempo em que uma brisa forte desatou seus cabelos que já haviam sido desfeitos do coque pela queda que levara. Todas as rosas se mexeram, balançando de um lado para o outro, e Oliver soube que aquele era o momento certo.

— Violet Bridgerton… - ele encostou a testa na dela após se separarem, ainda recuperando o ar. - aceitaria… - ele se pôs de joelhos, e pegou as mãos dela. - Se tornar a minha esposa? Se tornar a mais nova Lady Crane?

Ela mal podia crer no que estava escutando. Oliver, a pessoa que ao mesmo tempo que odiava, sempre amara desde a infância, estava propondo casamento? Era maluquice, ele não podia estar falando sério. Ela tinha que recusar, tinha que responder que não e lhe dar um terrível sermão sobre brincadeiras de mal gosto.

Mas…

Por que sentia tanta vontade de gritar que sim?

— V-Você… - ela balbuciou com a voz trêmulas, sentindo as bochechas arderem. - d-deve pedir o meu pai primeiro, e…

— Eu já fiz isso.

— Fez? - ela piscou, três vezes. - quando?

— Quando fiz 18 anos, eu propus a ele que nos casássemos. - ela recuou, levemente assustada. Se ele tinha 18, ela tinha… 10 anos? - claro que não naquele momento, mas quando você fizesse 19 anos. Ele nos deu sua benção.

— Por que? - ela questionou-o, confusa. - por que 19 anos, e não 18?

— Era o que eu pretendia, inicialmente. Mas minhas irmãs falavam sobre como Londres era incrível, sobre como ansiavam por crescer e debutar logo, então supus que você se sentiria da mesma forma. Queria que aproveitasse sua primeira temporada, mesmo correndo o risco de alguém tirá-la de mim, já que você é tão bonita. - confessou, levantando-se. - seria egoísta da minha parte.

— É por isso que você nunca cortejou outras damas? - ela se aproximou dele. - é por isso que nunca procurou por uma esposa, mesmo com tia Eloise insistindo no assunto?

— Eu não precisava procurar. - Oliver sorriu, puxando-a mais para perto pela cintura. - sempre soube que minha esposa estava aqui. - pegou uma mecha do cabelo dela e pôs atrás da orelha.

— Mas eu… - ela se interrompeu, confusa sobre o que dizer. - você tem certeza? Eu sou muito sem graça, sou horrível com contas, não sei desenhar como meu pai, e toda planta que eu toco morre…

— Não ligo pra nada disso. - ele riu. - o que mais quero nessa vida é que seja a mãe dos meus filhos, e tenho certeza que desempenhará esse papel muito bem.

Violet sorriu com a última fala dele, imaginando-se casada com ele e mãe e de pelo menos cinco crianças. A cena fez seu coração palpitar. Era aquilo que queria. Queria se tornar a Lady Crane, e não uma solteirona. Queria ser dona da própria casa, fazer viagens com ele e lhe dar muito mais do que um herdeiro.

— Eu aceito.

Oliver ficou estático. Não esperava que ela aceitasse assim. Achava que Violet, ao menos, pediria um tempo para pensar, mas…

Ora, se ela queria, ele a receberia de braços abertos. Então, inundado por uma felicidade tremenda, ele a colocou em seus braços e rodopiou, sentindo-se o homem mais feliz no mundo.

E, talvez, ele fosse mesmo.


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Notas finais do capítulo

E fim ♥ Aguardo ansiosa pelos comentários, aceito elogios e críticas construtivas :)



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