De volta para você escrita por Bhabie


Capítulo 14
Capítulo 13 - Vish


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora, mas tá aí o PDV Edward que venho prometendo

Boa leitura



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PDV Edward

 

— Então, eu me reergui e fundei essa Igreja e logo depois, minha empresa. Tudo graças ao nosso bom Deus. Aleluia!

—Aleluia! - A Igreja repetiu em um coro.

Um ronco baixo ao meu lado desviou a atenção que eu tinha sobre Carlisle que ministrava o culto de domingo de manhã.

Rosalie tinha a cabeça tombada para a frente e um fio de baba pendia de sua boca ligeiramente aberta até o seu colo - tão coberto por seu vestido florido que me dava agonia apenas de olhar para o tecido colado até sua garganta.

— Rosalie! - A chamei baixinho, lhe dando uma cotovelada.

Ela apenas ressoou ainda mais em resposta.

Bom, então teria que ser no jeito difícil.

Levei meus dedos até o nariz de minha irmã, o pressionando por uma fração de segundo até que ela arfasse à procura de ar, o que a fez pular em seu lugar como se tivesse desperto de um daqueles pesadelos onde você cai.

O movimento repentino atraiu a atenção de alguns curiosos ao nosso redor, mas logo se voltaram novamente ao culto.

— Por quê fez isso, seu idiota? - Rose, agora totalmente desperta sussurrou irritada.

— Você estava dormindo! Se Carlisle a pegasse fazendo isso...

— Eu não estava dormindo, estava orando! - Ela limpou a baba de sua boca com a parte de trás da mão.

— Claro que estava! - Debochei - Aguente mais um pouco, já está acabando.

Rosalie se afundou na cadeira o quanto seu vestido a permitia e cruzou os braços.

— Ninguém merece estar aqui domingo de manhã! Eu deveria dormir até chegar a hora de dormir de novo!

— Tão fitness - Ironizei.

— Desde quando você virou a pessoa que responde tudo com sarcasmo? Essa sou eu!

— Fica quieta, Carlisle está olhando para nós - Sussurrei olhando para a frente, tentando mover os lábios o mínimo possível.

Rosalie bufou, mas calou a boca pelo resto do culto e surpreendentemente não dormiu de novo.

— Edward, venha aqui! Quero que conheça uma pessoa! – Meu pai/chefe meu chamou para a sua roda de conversa formada inteiramente por homens mais velhos.

Depois que o culto acabou, algumas pessoas ficaram até depois do horário, como era de costume, para colocar a conversa da semana em dia sobre como era a vida em suas mansões, os últimos lançamentos de carros, sobre seus funcionários que aparentemente não prestavam ou simplesmente para bajular o pastor, que no caso era meu pai.

— Olá senhores – Apertei a mão dos três homens desconhecidos que estavam presentes junto a Carlisle.

— Edward, é um prazer finalmente conhecê-lo! Sou William King – O homem do último aperto de mãos se apresentou. Era um senhor branco, alguns centímetros mais baixo do que eu e com os cabelos grisalhos perfeitamente penteados para trás, sua bíblia presente embaixo do braço, assim como as dos outros senhores – Carlisle me disse que é um ótimo profissional, gostaria de um dia poder trabalhar junto a você.

— Seria uma honra, senhor – Agradeci da maneira que me foi ensinado, mesmo que não conhecesse o homem ou seu trabalho.

— Certamente Edward iria adorar – Carlisle colocou uma mão em meu ombro, em um gesto de apoio, algo que só fazia em público na frente de pessoas realmente importantes para seus negócios.

E aquele cara parecia ter muito dinheiro para investir nas “causas nobres” do meu pai.

— Não irá precisar esperar por muito tempo, garoto, a filial da TeleCullen’s já está quase pronta. Precisa de apenas alguns pequenos ajustes para começar a operar! – William sorriu o tanto quanto podia, seu olhar entusiasmado indo de Carlisle para mim.

Franzi a testa e me virei para Carlisle.

— Filial? Eu sendo um dos gerentes não estava sabendo de nada disso. Onde irá abrir?

O sorriso perfeito de Carlisle vacilou por alguns segundos, mas ele logo se recompôs.

— Edward, filho, conversamos sobre isso já tem algum tempo, deve ter se esquecido – O aperto em meu ombro se tornou mais forte do que deveria.

O recado era claro: Não era o lugar ideal para discutir sobre isso.

Então apenas segui a dança.

— Oh, sim! Me desculpe, senhor William, o senhor deve imaginar com quantos números tenho que lidar por dia. Sabe, a empresa fatura muito então tenho que sempre manter todos os números em ordem – Fiz a propaganda e o aperto em meu ombro diminuiu.

Os olhos de William brilharam como o de um maníaco.

— Claro, claro, devem realmente ser muitos zeros.

Assenti, um sorriso forçado se formando em meu rosto.

— Edward é o melhor que temos, e não falo isso apenas por ser meu filho, mas ele realmente tem talento.

Engoli em seco. Nunca me acostumava com Carlisle me chamando de filho, dizendo que tinha orgulho de mim ou me tocando de forma carinhosa, mesmo que isso ocorresse em todas as reuniões com novos sócios ou investidores.

Afinal, como todos acompanhavam o trabalho de minha família da igreja, todos prezavam pela tradição, pela família perfeita e estável. Papel que a nossa desempenhava incrivelmente bem. Bom, exceto Jasper.

— Estou ansioso por isso – William se voltou para Carlisle que se mantinha ao meu lado – E Carlisle, talvez seja a hora de juntarmos nossos nomes de uma vez. Acredito que como meu filho está completamente apaixonado por sua filha, ele não irá demorar até fazer o pedido. Acho que concordamos que essa é a melhor decisão a ser tomada.

— Claro que concordo com isso, e eu faço questão de dar minha benção ao Royce, ele é um bom rapaz e a melhor escolha para Rosalie.

Carlisle olhou para a direita e todos nós seguimos seu olhar, encontrando Royce e Rosalie no canto da igreja conversando.

Bom, Royce estava conversando sozinho, Rosalie estava encostada na parede revirando os olhos a cada palavra que saia da boca de seu pretendente.

Eu já conhecia Royce, era um gerente de banco muito rico que veio de uma família já abastada e passou a ser frequentador assíduo da igreja logo após avistar Rosalie durante um culto em que veio obrigado por sua família. Ele era quase cinco anos mais velho do que Rosalie, mas perto dela se comportava como um adolescente na puberdade, sempre a rondando e lhe enviando rosas. Mesmo que Rose tenha lhe cortado diversas vezes e ateado fogo nas flores diante dele, o cara não a deixava em paz, o que me deixava morrendo de raiva e vontade de lhe dar uma surra.

Quando sugeri agressão de minha parte, Rosalie riu de mim durante vinte minutos, me deixando saber que ela sozinha poderia o matar, pois havia assistido temporadas suficientes de Bates Motel e Dexter.

Sinistro.

Minha irmã parecia estar odiando cada mísero segundo do monólogo que Royce mantinha. Me perguntei se ele estava se gabando de seu iate ou sobre seu último jogo de golfe, afinal esses eram os únicos assuntos que interessavam e cabiam na mente desprovida de inteligência de Royce.

A alguns metros e em uma roda composta apenas por mulheres mais velhas, Esme tinha o olhar enfurecido fixado sobre Rosalie, que não parecia notar toda a atenção que recebia enquanto fitava suas unhas demonstrando total desinteresse na fala de Royce.

— É, eles realmente parecem bem apaixonados – Sorri amarelo, mas felizmente ninguém pareceu notar meu sarcasmo.

— Formam realmente um belo casal, irão nos dar lindos netos! Aliás, Carlisle, você não tem outro filho? Irmão gêmeo de Rosalie, se não me falha a memória.

Carlisle enrijeceu ao meu lado.

— Oh...na verdade não. Acho que se refere ao Jasper, ele é filho de meu irmão, Eleazer. As pessoas se confundem muito pois ele e Rosalie são muito parecidos, mas isso é culpa dos genes – Ele deu uma risada nervosa – Quando criança passava dias em nossa casa brincando com Edward e Rosalie, por isso se davam muito bem. Mas acabamos perdendo o contato com ele depois que infelizmente se desviou do caminho divino. Mas eu oro por ele todos os dias.

Travei o maxilar com sua desculpa esfarrapada.

— Oh, entendo. Também irei colocá-lo em minhas orações. Esses jovens de hoje em dia se desviam fácil do caminho do Senhor, mas fico feliz que nossas famílias não sejam assim.

— Agradeço por sua preocupação com meu sobrinho, meu irmão realmente foi muito negligente em sua criação.

William assentiu.

— Bom, eu tenho que ir, foi um ótimo culto hoje. Irei mandar os últimos ajustes da filial para seu e-mail para podermos resolver mais tarde, Carlisle – William olhou para mim – Nós vemos em breve, rapaz.

E foi em direção à saída, sendo seguido pelos outros dois homens que durante a nossa conversa, se mantiveram quietos.

Assim que eles cruzaram a porta, me voltei para Carlisle que tinha retirado sua mão de meu ombro no momento em que William virou as costas.

— Quando pretendia me contar sobre essa filial?

— Não seja dramático, Edward, você não saber sobre um projeto não é o fim do mundo. E se eu não compartilhei com você, é porque não era da sua conta.

— Eu cuido da finança da empresa, os gastos dessa filial nova deveriam ter sido repassados a mim!

— Gastos? Porque acha que estou oferecendo Rosalie ao filho dele? Porque acha que fechei um acordo com ele para que meus fiéis invistam no banco dele? Você não cansa de ser burro, Edward? Pode ser bom com números, mas ainda tem muito o que aprender sobre negócios, garoto.

Mordi o interior de minha bochecha com força para controlar minha vontade de ir mandar meu pai ir se foder.

Abri e fechei minhas mãos algumas vezes para controlar minha raiva e notei que tremia um pouco, mas querendo passar confiança para que Carlisle não encontrasse outro erro em meu comportamento, decidi mudar de assunto antes de respirar fundo uma vez.

— Onde é a filial? – Minha voz saiu um pouco trêmula, mas meu pai tinha a atenção voltada para seu celular, então não pareceu notar.

— Phoenix. Mandei Garrett para lá para sondar a área já tem uma semana.

— Você o mandou para lá? Achei que ele tinha se mudado por vontade própria.

— Ele e Katrina estavam procurando um novo lugar para morar, então aproveitei a deixa e o mandei para onde eu mais preciso de homens no momento.

Assenti lentamente tentando absorver toda a informação.

Carlisle parou de digitar em seu celular e o guardou, voltando sua atenção para mim.

— Você viaja amanhã de manhã. Eu ia mandar Richard por hora, mas ele é um inútil que extrapolou o budget da nossa campanha, e como agora já sabe da filial, vai você mesmo. Ia te mandar daqui um mês, que é o prazo para a inauguração, para trabalhar com William, ele pareceu gostar de você. Você fica na casa de Garrett.

— Amanhã e manhã!?

O rosto de Carlisle endureceu.

— Por acaso já tem algum compromisso?

— Não senhor, apenas não esperava que fosse ser tão em cima da hora.

— Se quer ser um bom profissional, tem que aceitar as coisas que eu mando fazer de boca fechada. Só estou te dando essa oportunidade porque você ainda é um por cento menos imprestável que Richard, o que é um avanço vindo da sua parte.

Senti meu sangue ferver, mas permaneci quieto e com a expressão mais indiferente que consegui.

— Certo.

— Ótimo, irei chamar Esme para irmos embora. Por que não se despede de Lauren antes de irmos? Ela é uma boa moça e filha do senhor Thompson.

A família Thompson possuía uma empreiteira famosa no estado e eram milionários. Isso explicava o repentino interesse de Carlisle em fazer outra aliança através de casamento, já não bastando Rosalie com Royce.

— Na verdade, acho que irei chamar Rosa-

— Isso não foi um pedido – Carlisle me interrompeu rudemente.

Era uma ordem.

Engoli em seco.

— Sim, senhor.

Ele balançou a cabeça, aprovando minha fala e se afastou para posar de marido do ano ao lado de Esme.

Avistei Lauren sozinha sentada no último banco da igreja, olhando tediosamente para seus pais que agora conversavam animadamente com os meus pais.

Lauren tinha cabelos pretos e muito lisos na altura do queixo e usava um vestido florido cheio de babados que ia até dois palmos abaixo dos joelhos.

Me sentei silenciosamente ao seu lado.

— Oi – Cumprimentei.

— Oi – Ela respondeu mecanicamente sem tirar os olhos da roda de conversa e eu segui seu exemplo.

Nossos pais sorriam tanto que parecia que seus rostos iriam rasgar a qualquer momento. Esme e a mãe de Lauren trocavam falsos elogios sobre os vestidos e os sapatos que usavam enquanto Carlisle e o senhor Thompson falavam sobre números e davam batidinhas leves nas costas um do outro como se fossem velhos amigos.

Depois de uns vinte minutos, eles pareceram se despedir, e então, antes que voltassem para nós, decidi me antecipar para sair daquele lugar o mais rápido possível. Não suportava ficar depois do culto para pagar de filho perfeito ao lado de Carlisle.

— Tchau.

— Tchau – Lauren respondeu, ainda sem olhar para mim.

Ela odiava isso tanto quanto eu e em nossa primeira conversa – uma que tivemos de verdade, semanas antes de entrarmos nesse diálogo monossilábico que tínhamos adotado para fingir que conversávamos para agradar nossos pais – ela tinha deixado claro que era apaixonada por outra pessoa e que definitivamente não ia acontecer nada entre nós; o que me deixou completamente aliviado, pois a última coisa que eu queria era ser praticamente vendido para a filha de algum sócio de Carlisle.

Não que ele não fosse tentar arranjar novamente outras alianças e um casamento cheio de benefícios para mim – quer dizer, para a empresa dele -, mas eu estava livre por hora.

Encontrei Rosalie de braços cruzados parada na porta da igreja, o olhar perdido em uma árvore qualquer do outro lado da rua.

— Está pensando em quê?

— No quanto eu queria um cigarro agora mesmo – Suspirou pesadamente.

— Achei que era no Royce – Apertei meus lábios para não rir de sua careta.

— Eu não aguento mais aquele imbecil. Ainda bem que já foi embora. Ele ficou trinta minutos falando sobre como era a forma correta de pegar no taco de golfe! Sério, na próxima eu mesma enfio o taco no rabo dele.

Dei uma risada, mas logo voltei a ficar sério de novo.

— Por que ainda vem aqui?

Rosalie suspirou.

— Você sabe que tenho que puxar o máximo de saco possível de Carlisle se eu quiser aquela academia.

— Ainda nisso? Acredita mesmo que ele vai montar uma academia para você?

— Sim. Ele pode ser um monte de bosta, mas ele cumpre suas promessas e ele me prometeu isso. Além do mais, ele não pode nem sonhar que eu fui demitida do SPA!

— Não acho que ele vá cumprir com isso.

— Como é?

— Rose, pense bem, você sempre foi mais rápida do que eu. Ele prometeu isso porque sabia que assim te manteria na linha. Ele está se aproveitando, te usando para pagar de família perfeita e como uma isca para Royce King. Acorde!

Rosalie piscou várias vezes, boquiaberta.

— E-eu...não tinha visto por esse lado.

— Carlisle apenas não quer ter que inventar outra desculpa para a “perda” de outro filho.

— O que ele falou sobre Jasper dessa vez?

— Disse ao pai do seu namoradinho que Jasper era filho do tio Eleazer e que ele se desviou.

Rosalie riu amargamente.

— Ele não mentiu quando disse que Jasper se desviou, apenas escondeu que se desviou para algo melhor. Diferente de nós ele foi inteligente o bastante para se afastar desse ninho de cobras.

Desde de que se formara na faculdade, Jasper tinha cortado todos os contatos com Esme e Carlisle, deixando de comparecer ao eventos na igreja, nas festas da família e negando toda a ajuda financeira que eu e Rose o oferecíamos, arrumando empregos que pagavam o suficiente para ele manter um loft em uma área afastada da cidade. Jasper até mesmo ocultava o “Cullen” do nome, sempre se apresentando por “Jasper Whitlock”, um nome tirado de um livro de história sobre algum soldado.

— E você? – Rose perguntou depois de um tempo de silêncio.

— Eu o que?

— Me perguntou o por quê de eu inda vir aqui. E você? – Ela me olhou nos olhos.

— Eu trabalho com Carlisle, eu...- Não sabia como continuar.

— Você é uma marionete nas mãos de Carlisle, assim como eu acabei de descobrir que também sou. A diferença entre nós, Edward, é que você vê suas cordas, mas não faz nada para cortá-las. Eu tinha um objetivo vindo até aqui e fazendo as vontades deles, montar minha academia. Mas e você? Qual seu objetivo? Por que ainda permite que Carlisle o comande?

— Rose, não é bem assim...- Novamente deixei minha voz morrer e desviei meu olhar

— Ed, olhe para mim – Hesitando, fiz o que ela pediu – Você se lembra como éramos antes de entrar na faculdade? De nossas vidas? Como ansiávamos pela liberdade?

— Sim.

— Nós tivemos a chance de ter essa liberdade para sempre, mas nos assustamos com ela, então voltamos para baixo das asas daquele idiota que eu me recuso a chamar de pai, voltamos para o conforto do Alabama. Sabe o quanto evoluímos desde que entramos na faculdade? Nada. Aqui estamos nós, exatamente como há dez anos. Jasper foi o único corajoso o suficiente para enfrentá-los.

O lábio inferior de Rosalie tremia, eu sabia que ela estava com vontade de chorar, mas não o faria, não na minha frente e duvidava que também fosse fazer estando sozinha.

Inspirei fundo, sabia que minha irmã tinha razão.

O que me mantinha ali?

E tinha estudado durante anos da minha vida para trabalhar para Carlisle. Eu amava o que fazia, era bom com os números, mas nunca havia imaginado outra possibilidade de vida ou de trabalho.

Eu ainda era um adolescente dependente que tinha medo de dizer “não” aos pais.

Eu precisava mudar isso.

— Eu vou para Phoenix amanhã de manhã.

Rose me olhou confusa.

— Para quê?

— Carlisle vai abrir uma filial lá em parceria com William King e me pediu para ir cuidar da parte do orçamento. Mas depois que voltar eu vou embora dessa empresa, e talvez dessa família também, ainda não decidi essa última parte.

— Phoenix? Kate não se mudou para lá semana passada?

— Sim, Garrett foi a pedido de Carlisle, aparentemente não é possível nem mesmo escolher onde você quer morar quando se trabalha para ele.

— Argh! Ele é um manipulador ridículo e...- Rosalie se calou ao olhar sobre meu ombro e eu soube que Carlisle estava vindo até nós.

— Os Thompsons foram embora. Por mais que tenham permanecido até mais tarde hoje, ainda sim houve muito defeito de ambos.

— Principalmente da parte de Rosalie. Todos notaram sua cara de inquietação enquanto conversava com Royce, da próxima vez tenha modos e se comporte como uma dama! Não nos envergonhe mais! – Esme ralhou.

O olhar de Rosalie ficou duro e ela deu um sorriso que não combinava nem um pouco com sua feição raivosa.

— Sim, mamãe – Rose respondeu com uma pitada de sarcasmo na última palavra.

— Tudo bem, vamos embora agora. Vocês estão livres pelo resto do dia, mas aconselho a estudarem seus modos pelo resto do domingo.

Até parece.

Murmuramos um “sim senhor” e nos afastamos de cabeça baixa, saindo da igreja e entrando no meu carro.

— Para o loft do Jazz, não quero ver nada que tenha alguma mínima relação com aqueles dois – Ela grunhiu já com um cigarro entre os lábios e eu acelerei para longe dali.

Eu e Rosalie morávamos juntos em um apartamento ao lado da empresa comprado por Carlisle. Depois que eu já tinha terminado a faculdade, voltado para o Alabama e conseguido um emprego – na empresa do meu pai, mas continuava sendo um emprego - decidi sair de casa e Rosalie foi junto comigo.

Ela queria uma casa só para ela, como uma adulta normal, mas Esme bateu o pé e reprovou, dizendo que mulher decente nenhuma morava só e enquanto ela não casasse, ou morava comigo ou permanecia na mansão.

Obviamente ela veio morar comigo, o que era até animado e me alegrava, me fazendo rir quando eu chegava esgotado do trabalho, depois de tanta pressão psicológica do meu pai.

Parei o carro na rua estreita cheia de prédios velhos que pareciam ligeiramente tombados para o lado, a maioria era de um vermelho opaco e descascado que se misturava às várias pichações e grafites.

Por mais que fizesse um dia bonito com o sol á pino, os moradores se mantinham em suas casas e os únicos turistas que se arriscavam sozinhos na rua suja, eram Rosalie e eu.

Entramos no prédio que por dentro lembrava um cortiço, era possível escutar as conversas altas e abafadas pelas várias portas presentes no corretor sem luz.

Batemos na porta de número 33 que tinha a maçaneta grudada com fita isolante, o que não era muito seguro.

Jasper gritou um "Entra" e abrimos a porta.

Jasper estava plantando bananeira no meio da sua minúscula sala, usando apenas uma bermuda verde de tactel.

— Olá, irmãos!

Murmuramos um "Oi" e um "E aí" e Rose seguiu para a cozinha aberta enquanto eu me jogava no sofá, observando meu irmão que sorria de cabeça para baixo.

— Sempre fala isso a todos que batem na sua porta? Deveria ter mais cuidado, aqui é perigoso.

— Eu já estava esperando vocês. Além do mais, eu tenho um olho mágico na minha porta.

— Aquilo é um buraco de bala.

— Buraco de bala, olho mágico...tudo a mesma coisa - Ele disse serenamente e fechou os olhos.

— Aí, não tem nada que preste para comer nessa casa não? - Rose voltou segurando um plástico transparente com círculos marrons e duros dentro - Que porra é essa, Jasper? - Sacudiu o saco em sua direção.

Jazz abriu apenas um olho para ver do que se tratava.

— Banana desidratada.

— Banana desidratada!? Você quer me matar!? Para quê desidratar uma banana? Ela já é natural! Inferno! Eu poderia bater na cara de alguém com isso de tão dura que é! Eu quero bacon, eu preciso de bacon!

— Frutas e outros alimentos desidratados fazem bem a alma, a mente e ao corpo - Jasper suavemente saiu de sua posição enquanto falava.

Bufei.

— Ainda nessa onda de vegano?

— Ser vegano não é uma onda, é um estilo de vida - E se curvou em minha direção com as palmas das mãos coladas e esticadas e os olhos fechados - Matastê.

Franzi o cenho e olhei para Rose sem saber como responder.

Ela revirou os olhos para a esquisitisse e jogou a embalagem de bananas desidratadas na nuca de Jazz.

— Ei! Eu estou transcendendo aqui! Mais respeito!

— Você desrespeitou a natureza no momento em que desidratou uma pobre banana.

— Parem de falar de bananas! Rose, pegue a banana do Jasper que você jogou no chão.

— Eu não vou mais pegar nessa coisa feia, chega a ser triste de olhar!

— Minha banana é deliciosa, ta bom?- Jazz retrucou ofendido pegando o pacote do chão é o jogando em cima da mesinha de canto.

— Vocês dois são impossíveis - Resmunguei jogando minha cabeça para trás.

— Não precisa se vestir do Edward mandão e chato, não está trabalhando - Rose se jogou ao meu lado no pequeno sofá surrado.

— Ah, falando nisso, como foi o encontro da kkk*? Queimaram muitas cruzes**? - Jasper deitou de barriga para cima no chão, com os braços cruzados atrás de sua cabeça.

— Não teve graça.

— Não era para ter. Teve alguma novidade? Meu querido papai disse que sente minha falta e mamãe me mandou um beijo? - Perguntou divertido.

Dei um meio sorriso.

— Claro que sim, oras, logo após Rosalie declarar seu amor a Royce King!

— Oh, Rose, sempre desconfiei - Ele cantarolou.

Minha irmã revirou os olhos.

— Nem brinquem com isso, credo!

Rimos um pouco mas logo fiquei sério.

— Carlisle contou aquela velha desculpa sobre você ser filho do tio Eleazer.

Jazz soltou um risinho.

— Relaxa aí, maninho, eu estava apenas brincando. Não quero saber nada sobre eles. Tudo na paz.

— Não sei como consegue ser assim. Você sabe que eles irão te tirar do testamento, não sabe? Se já não tiverem tirado - Rose interveio indignada.

— Não ligo para o dinheiro podre deles e vocês também não deveriam ligar. Vivo bem com o que tenho.

— Bom, já eu penso diferente: Se eles querem gastar com nós e deixar um pouco dessa fortuna no meu nome então não irei reclamar. Os idiotas são eles, não é como se o dinheiro fosse amaldiçoado, apenas tenho que saber usar.

— Estou com Rose nessa.

— Vocês estão sendo superficiais, temos que aprender a viver apenas com as coisas que a natureza dá pra gente.

— Dinheiro é papel.

— Papel vem de árvores.

— Árvores vêm da natureza.

Jasper bufou para nossas frases complementadas.

— Não sei porquê ainda tento mudar o pensamento de vocês.

— Porque é idiota.

— Obrigado pela sensibilidade, Rose.

Jazz jogou uma almofada em direção a nossa irmã que o xingou.

— Aí, vamos a um pub hoje a noite? Estou com vontade de sair.

— Não posso, amanhã de manhã vou viajar.

— Vai para onde?

— Carlisle vai me mandar para Phoenix para abrir uma filial juntamente com os King.

— Hum, lá é bem legal.

— Já esteve em Phoenix? - Perguntei.

Jasper deu de ombros.

— Tenho uns negócios por lá.

— Que tipo de negócios? - Rose estreitou os olhos em sua direção.

— Nada que importe para vocês. Agora: Só eu que achei estranha essa história de filial? Ainda mais quando ele terá que dividir os lucros com William King.

— É, eu achei bem estranho. Mas vou mesmo assim, lá eu vejo isso melhor.

Jasper gargalhou de repente.

— O quê? O veganismo derreteu seu cérebro?

— Não...É só que...- Ele enxugou as lágrimas de risada em seus olhos - É que agora que o Edward vai viajar, o Carlisle vai dar total atenção à Rose. Imagina ela tendo que ir a todos os eventos e ter que suportar o Royce em todo canto!

Rose arregalou os olhos e empalideceu.

— Eu não tinha pensado nisso.

— Pois é maninha, eu avisei para você fugir enquanto ainda era tempo.

— Rose? Está bem? - Perguntei preocupado a observando mudar de cor.

— Eu...eu vou com você Ed.

— O quê?

— Eu vou com você para Phoenix, não vou ficar aqui com Royce me rodeando, sabendo de toda a minha rotina e com Carlisle fazendo chantagem emocional comigo!

— Rose você...o que vai falar para Carlisle? Ele acha que você ainda está trabalhando no spa.

Jasper se ajeitou no chão, interessado em nossa conversa. Rosalie tinha o olhar perdido enquanto formulava um plano, me remexi em meu lugar, nervoso pelo o que viria.

— Nunca que vou dizer que fui demitida, vou dizer que me demiti porque recebi uma proposta de emprego melhor em Phoenix, é isso! Aí eu procuro um emprego lá e recomeço minha vida longe dessa igreja! Kate não vai se importar de me receber também, não é? - Ela tagarelou.

— É um bom plano, devo admitir - Parabenizei-a e Jasper complementou com palmas.

Rose sorriu brilhantemente e colocou os braços sobre meus ombros.

— Vamos recomeçar nossas vidas juntos, maninho.

 

— Vamos logo, Edward, você parece uma mocinha! – Rose gritou no meio do aeroporto e eu quis me esconder quando muitos rostos se viraram em minha direção.

— Rosalie! É que minha mala está pesada! – Cochichei quando cheguei perto o bastante dela, empurrando minha mala com dificuldade.

— Pelo amor de Deus, até eu trouxe menos coisa que você. Vem, nosso uber já chegou.

Ela me arrastou para fora do aeroporto e entramos em um carro preto que nos esperava.

— Eu estou tão ansiosa para ver os meninos! Apertar aquelas bochechas até eles gritarem pela mãe e saírem correndo de mim!

— Me lembre de nunca deixar meus futuros filhos perto de você.

Mas eu entendia Rose, aqueles meninos eram especiais para nós, não apenas por serem as únicas crianças da família, mas também por serem serzinhos mágicos, que faziam todos perto deles felizes.

O carro parou na frente de uma grande casa branca com uma arquitetura moderna e saí do carro, tirando as malas do porta-malas e deixando Rose pagar o motorista.

— Tio Ed! – Ouvi um grito fininho e me virei para ver Dimitri correndo em minha direção.

Abri os braços a tempo, antes do pivete se jogar em mim.

— Como você está pesado! – Gemi o erguendo do chão.

— Você que tá velho!

— Velho, é? Um velho conseguiria fazer...ISSO? – Deitei Dimi sob meu braço, como uma bola de futebol americano e nos rodei.

O garoto gritou alegremente e eu o soltei no chão.

— Onde está Noah?

— Hãn...lá dentro – Respondeu tonto, se concentrando para não cair no chão graças a brincadeira.

— Beleza – Fechei o porta-malas e Rose finalmente saiu do carro.

— Tia Rose! – Dimi foi correndo em sua direção.

— Garoto, se me chamar de tia de novo eu enfio um brócolis na sua boca – Rose ameaçou, mas logo se abaixou para apertar as bochechas da pobre criança que ria sem ter noção do perigo que corria.

Por mais que fossemos primos de segundo grau, os meninos tinham aprendido a nos chamar de tio e tia, pois dizer nossos nomes era muito complicado quando ainda estavam aprendendo a falar.

— Vem, a mãe e o pai tão lá dentro – Dimi correu na nossa frente e entrou na casa e nós o seguimos entrando na grande sala de estar carregando nossas malas.

— Ed, Rose! Estávamos esperando vocês! – Kate apareceu vindo do que achei ser a cozinha e veio me abraçar.

— Obrigado por nos receber, Kate – Agradeci quando nos afastamos.

— Eu vou adorar ter vocês por perto! Ainda mais porque os meninos precisam se adaptar com a nova casa e com vocês aqui isso vai facilitar muito – Ela abraçou Rose forte e ficando sem graça pelo contato exagerado, minha irmã deu dois tapinhas nas costas de Kate – Senti sua falta! Mas olha, sem fumar perto dos meninos ou dentro de casa!

— Ok, ok – Rose revirou os olhos e respirou aliviada quando Kate a soltou.

— Onde está Noah? – Perguntei olhando em volta.

Kate suspirou.

— No quarto dele. Ele está chateado por a gente ter se mudado de novo.

— Eu vou ir vê-lo.

— Ok, o quarto dele é subindo as escadas, segunda porta à esquerda.

— Valeu – Agradeci já correndo para lá.

— O que foi? – A vozinha de Noah soou abafada quando bati em sua porta.

Abri uma fresta e coloquei minha cabeça para dentro, o encontrando deitado na cama olhando entediado para o teto.

— Ei amigão, será que posso entrar?

Os olhos de Noah se iluminaram quando pararam em mim.

— Tio Ed! – Se sentou rapidamente na cama e eu fui até ele lhe dando um abraço apertado.

— Por que está triste assim, garotão?

Noah abaixou o olhar para seu colo.

— Eu não estou triste, só com medo. Mamãe disse que amanhã vou ter que ir para a escola e eu nunca gosto de quando isso acontece.

Eu sabia que ele estava se referindo a mudar de escola quando as aulas já tinham começado. Isso era desconfortável para todos, principalmente para um menino de apenas sete anos que tinha que lidar com isso de meses em meses, já que Kate e Garrett estavam sempre se mudando.

Suspirei pegando em sua mãozinha.

— Olha, sei que isso é bem chato, mas pensa só em quantos amigos irá fazer! – Tentei animá-lo.

Noah revirou seus olhos verdes.

— Até parece! Dimitri rouba toda a atenção sempre, aí eu acabo ficando sozinho!

Franzi o cenho buscando uma solução.

— Então vamos fazer assim: Eu falo com o Dimi sobre isso, mas com apenas algumas condições.

— Quais condições?

— Que você não fique mais aqui enfurnado nesse quarto, desça comigo para a gente jogar videogame e que tente fazer pelo menos uma amizade amanhã na escola.

Ele sorriu brilhantemente, deixando à mostra a falta do dente da frente.

— Eu topo!

Sorri de volta, bagunçando seus cabelos.

— Então vem, vamos descer.

— Ok, vou ir ligar o videogame! – Ele saltou da cama e saiu do quarto correndo.

Rindo da sua animação, me levantei para segui-lo, mas fui interrompido por meu celular vibrando no meu bolso de trás.

O liguei e encontrei uma mensagem de Jasper.

Era um print de um tweet de duas semanas antes de um cara com a foto do Chris Rock que dizia: “Olha só quem eu encontrei hoje ultrapassando o limite de velocidade: Ele mesmo, o Mc Emmett!”

E logo abaixo uma foto de um cara obeso dentro de um carro.

A mensagem de Jasper logo depois da imagem dizia:

“Ei, esse cara não estudou com a gente em Darthmouth? Lembro dele de umas festas.

Cara, ele ta enorme!”

Dei zoom no rosto do homem dentro do carro.

Minha boca se abriu em choque e digitei exatamente o que estava pensando.

“Caralho”

“É o irmão da Bella”

A resposta que ele deu logo em seguida seria um resumo informal dos acontecimentos dos próximos dias:

“Vish”


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Notas finais do capítulo

*kkk - Ku Klux Klan, organização terrorista que promove atos de violência contra negros, judeus, LGBT's, mulçumanos, latinos e etc.

**Um dos símbolos dessa organização é uma cruz em chamas


Não percam o próximo capítulo por NADA nesse mundo



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