Delicate escrita por tardigrade j


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, essa é particularmente uma das minhas músicas favoritas da Era Reputation ♥



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D e l i c a d o

Você deve ter ouvido meu nome passear pelos lábios dos curiosos e dos mal-intencionados durante os últimos meses, derramando suas histórias detalhadas que iam mudando conforme cada esquina que você decidia virar. Você deve ter lembrado da vez em que comecei a gritar sob a luz falha do banheiro de um loft cuja pintura estava desbotando e algumas goteiras se aconchegavam sobre nossas cabeças, e você deve estar pensando que finalmente todos viram a louca que eu sou.

Mas às vezes, eu deito à noite e junto todas as partes mais otimistas dentro de mim e começo um diálogo amigável sobre como você não seria capaz de alimentar uma imagem dessas; minha memória brinca com a nossa história como se ela fosse um cubo mágico, e conforme seus dedos formam uma nova face de cores aleatórias uma lembrança agradável vai chegando perto de tornar-se uma cor unificada em nove pedacinhos fragmentados.

E, de minuto em minuto, eu vou segurando estes pequenos pedaços de nós depositados em copos que viramos em noites úmidas demais, depositados no catálogo de filmes que sempre abandonávamos antes de conseguirmos encontrar o que poderia nos entreter, depositados no aroma de lavanda que eu deixei no seu travesseiro pouco tempo depois da primeira vez que nos esbarramos neste ponto azul suspenso no espaço.

Algo deu errado no caminho e hoje você está sob a mesma luz avermelhada daquela boate que frequentávamos, e tudo que você sabe sobre meu atual estado vem de fontes que eu não considero confiáveis. Minha reputação nunca esteve pior, então se você ainda se lembra destes pequenos pedacinhos a única razão que você vai ter para gostar de mim essa noite é por quem eu sou.

Quando nos cruzamos após um período tão longo fora de nossos radares e seus olhos escuros tão difíceis de decifrar caíram sobre a minha figura relativamente menor que a sua, minha garganta travou uma batalha acirrada com minha sanidade porque eu gostaria de ter direito a ao menos uma pergunta. Eu gostaria de ter te puxado pelo braço e perguntado com uma ânsia palpável.

“Tudo bem eu ter dito o que eu disse naquela noite, naquele banheiro, no meio de dezembro? Ou... Ainda é delicado?”

É delicado demais para você me seguir até aquele beco há alguns metros desse bar, e colocar seu corpo tão próximo do meu que por um momento o mundo vai ficar tão silencioso a ponto de que nem a fofoca mais impiedosa vai conseguir ter espaço para se derramar pelas ruas? É delicado demais para eu colocar discretamente esse bilhete no seu bolso detalhando letrinha por letrinha aonde estou passando a noite? É delicado demais para eu não precisar compartilhar você com ninguém mais por pelo menos algumas horas?

E, então, porque eu lhe conheço com a graciosidade que apenas o tempo me concebeu eu imagino que você acenará com a cabeça de forma simpática e você ficará hesitante por algum tempo porque você não pode fazer nenhuma promessa à uma garota com essa ficha criminal. E, então, porque você sempre volta atrás quando me encara com cuidado e quando lembra que as garotas daquela cidadezinha que você nasceu nunca teriam a capacidade de te tocar da mesma forma que eu o faço, você vai ceder mais uma vez.

Não por pena, porque eu aguento todos os tijolos que quiserem atirar em mim. Não porque sou sua última chance de você entrar na saia de alguém nesta noite, porque eu e você sabemos que qualquer tola dançando naquela pista cairia pelo seu charme milenar num instante rápido demais para você sequer considerar-se à procura.

Quando eu fiz minha pergunta desesperada e você começou a seguir os exatos passos que minha mente havia previsto eu sorri de canto para todos os mentirosos chamando meu nome, eu olhei com ternura aos traidores que me serviam de plateia. As cobras queriam rastejar pelos nossos pés, enfurecidas por perderem aquela batalha, exaltadas porque não havia veneno no mundo que nos tornaria delicados demais a ponto de não rumarmos para meu quarto num sábado chuvoso e escuro.

 Você tinha acabado de me fazer um drink quando eu apoiei minha testa no seu ombro e puxei sua cintura para mais perto da minha, estou com mente afundada em perguntas envolvendo o tempo que separou a última vez que estive tão perto da sua pele e agora. Seus dedos brincavam com o dourado dos meus cabelos e eu fiquei pensando que talvez, quando você dormisse à noite, você também sonhasse com essa imagem tão bem estruturada – eu e você com essa visão da cidade na sacada de um hotel local.

 E, eu não admitiria em voz alta, mas quando eu olhei com devoção para o fundo dos seus olhos eu fingi que você poderia ser meu durante essa tempestade e durante todo o tempo que viria em seguida.

Minha reputação nunca esteve pior, mas ao menos você gostou de mim por quem eu sou.


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Notas finais do capítulo

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