O Temor do Luar escrita por absolutely smitten


Capítulo 1
O Temor do Luar


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa história para um trabalho da faculdade já faz dois anos e nunca tive coragem de postar. Bem, chegou o dia.



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Após mais uma caçada bem-sucedida Mira retornava a sua cabana, nas margens da Floresta de Brisingr, com seu saco de moedas agora cheio e um senso de satisfação no peito. Sua boa e velha cabana, construída na adolescência junto com seu agora falecido pai, era um dos lugares mais seguros do condado e o único onde ela conseguia uma boa noite de sono.

Estava já pensando no gosto que teria o cozido que faria, mas parou bruscamente quando viu uma carta em frente à sua porta. Uma carta com o selo significando que era uma caçada. Ao abaixar-se para pega-la, Mira já sentiu que sua paz não duraria; entrou, colocou a carta sobre sua grande mesa de cedro e foi preparar a janta, deixando para lê-la depois. Após finalmente saciada criou coragem para abri-la e terminar seu tempo de tranquilidade e solidão. Depois de alguns segundos tencionou seu corpo inteiro, era uma caçada a um lobisomem. Dentre das criaturas místicas era a que mais odiava, já que um deles matou sua família, deixando-a órfã e com desejo de vingança; assim começando sua jornada como Caçadora. A lua cheia estava a três dias de distância, teria que partir agora ou não conseguira acabar com a besta antes que esta causasse mais infortuno. Na carta lia-se que por enquanto suas únicas vítimas foram animais de fazendas de um condado próximo, mas quem sabe o que aguardava a próxima lua cheia? Não poderia permitir que histórias como a sua se repetissem, pegou seu arco com suas flechas de prata, uma adaga e algumas facas também de prata. Era o que bastava, lobisomens eram sua especialidade e não precisaria de mais do que duas noites para liquida-lo.

Ao chegar no vilarejo mais próximo recebeu a reação já esperada, olhares tortos e narizes erguidos, a população normal não gostava muito de quem exercia profissões que envolviam o místico, mesmo que fosse para acabar com ele. Conversando com o dono de uma das estalagens soube que um dos moradores partiria para a mesma direção que ela em breve, e por apenas 10 moedas de cobre e uma de prata conseguiu que lhe levassem até uma parte do destino. Ficou na traseira da carroça, então não teve que fazer conversa afiada e pode descansar por algumas horas. No alto da madrugada encontraram a encruzilhada em que se separavam e continuou sua jornada a pé, sem empecilhos em seu caminho não demorou muito para chegar em seu destino. Com os primeiros raios de sol tocando a terra e o canto de um galo ao longe bateu na porta de seu contratante, e após alguns minutos está foi aberta e em sua frente estava um fazendeiro com cara de sono e mau humor.

— Uh, o que você quer a essas horas garota? - Disse ele num tom rude.

— Sou a Caçadora que você contratou, senhor - disse Mira em um tom calmo, já tendo esperado essa reação. - Vim imediatamente após receber sua carta.

— Ah, certo, mas precisava ser tão cedo?

— Não perco tempo no trabalho senhor.

— Certo, certo, entre por favor e venha comer algo.

Comendo discutiram os detalhes do trabalho, incluindo hábitos já reconhecidos pelos locais até o preço cobrado. A expressão de mau humor nunca deixou a face do fazendeiro, então após terminarem Mira viu que esta era sua deixa para ir se alocar nos morros florestados onde se acreditava viver a fera.

Andando um pouco encontrou uma clareira onde achou tudo o necessário para se ter uma boa base e logo já estava juntando materiais para fazer uma fogueira e montar uma armadilha para algum animal que pudesse comer. Após isso, decidiu rondar a floresta em busca de sinais da besta. Arvores arranhada e quebradas estavam por toda a parte, como se a criatura tivesse lutado com algo, assim como pegadas do ciclo passado que não levavam a lugar algum. Quando se deu conta já estava anoitecendo e precisava voltar para sua base. Tinha se afastado mais do que achava, mas não se desesperou pois sabia se guiar em ambientes como esse. Ao avistar um grande arbusto teve a impressão de que este havia se movido e de que algo ou alguém a estava olhando, mas quando chegou perto não encontrou nada.

Chegando na clareira encontrou um coelho em sua armadilha, cozinhou-o e encostou em uma grande arvore para tentar dormir, tendo um sono leve e perturbado. Assim seguiram os dois próximos dias, com a proximidade da lua cheia aumentando e seu sono ficando mais inquieto e a sensação de estar sendo observada aumentando. No quarto dia não fez muito mais do que se alimentar, descansar, afiar e polir suas armas. Era lua cheia. Quando anoiteceu não demorou muito para ouvir uivos sofridos a distância, era o lobisomem tomando sua forma amaldiçoada; levantando em um pulo, foi atrás do som e não demorou muito para encontrar a criatura em sua frente. Encararam-se por alguns momentos, o sangue fervendo em suas veias, da mesma forma que ferveu quando decidiu que dedicaria sua existência a exterminar esse mal na terra. Estava prestes a mover sua mão para pegar sua adaga e atacar quando o grande lobo lhe deu as costas e saiu correndo. Em meio ao choque congelou por alguns segundos, mas logo já estava pegando seu arco e armando uma flecha. A fera ainda estava a vista e a garota disparou, ouvindo um chiado agudo ao acertar seu ombro. Procurou o resto da noite, mas não teve mais sinal da besta.

No dia seguinte acordou cedo e foi a busca, confiava em sua pontaria, e uma ferida daquelas no mínimo incapacitaria a criatura por um tempo. Andou por horas, até chegar em uma parte desconhecida da floresta, onde havia uma clareira florida e no meio desta um corpo adormecido. Correu para ver quem era a besta, mas ao se aproximar parou bruscamente. Era uma garota, uma garota magra e surrada cuja idade parecia ser próxima à da própria Mira com uma grande ferida no ombro onde sua flecha havia acertado. Não conseguia se mexer, ficou paralisada por o que pareceram horas sem saber como prosseguir, até que em algum momento a garota acordou. Quando a viu sua expressão passou de calma para assustada em milésimos de segundos, e antes mesmo de Mira perceber ela está já estava correndo para a direção oposta.

— Espere! – Gritou Mira, mas não sabia como completar sua fala. Por que estava se comunicando com a besta? Teve todo esse tempo para liquida-la, mas apenas ficou olhando, o que estava acontecendo? Ela era uma lobisomem, merecia morrer, não é mesmo?

A garota a havia sumido a este ponto, e não lhe restava nada além de voltar a sua própria clareira. Quando chegou lá, não conseguia parar de pensar em sua reação ao ver a garota, como foi incapaz de terminar a caçada. Aquilo não era normal, Mira não era assim, fraca. Comeu ainda com aqueles pensamentos e logo decidiu buscar a garota novamente, mas ao olhar para a beira da clareira lá estava ela, ficaram se encarando, não de forma agressiva, e ninguém conseguia desviar o olhar.

— O-olá – falou Mira, alto para que a garota ouvisse.

Esta não respondeu, mas começou a dar passos lentos em sua direção. Quando chegou na metade do caminho parou novamente, e a Caçadora percebeu que era sua vez de andar. Se sentia puxada em direção a garota, não tinha outra opção além de se aproximar, não queria fazer nada que não fosse se aproximar. Ao chegar perto pode ver bem suas feições, como mesmo a beira da anorexia possuía belos traços, olhos castanhos quase pretos e um cabelo também castanho emaranhado, o que lhe causou uma enorme vontade de passar a mão e desfazer os nós nele.

— Olá – Disse novamente, desta vez quase um sussurro – Me chamo Mira e vim aqui com a intenção de te matar. Mas acho que não sou capaz.

A garota lhe observou por mais alguns momentos, sem dizer nada e com uma expressão serena.

— E-espere aqui, tenho bandagens para colocar em seu ombro.

O que Mira estava fazendo? Pensou, não era esse o plano. Era para matar a besta, não ficar encarando seus olhos e cuidando de suas feridas.

Sem dizer mais nada, Mira enfaixou o machucado e ambas dividiram um coelho.

A garota parecia morta de fome então Mira lhe deu a parte maior, e após terminarem ouviu uma voz fraca e rouca dizendo:

— Slava, me chamo Slava – disse a garota olhando para o céu.

— Belo nome, combina com você – respondeu a Caçadora, sentindo o rubor surgir em sua face.

Passaram o dia assim, sem conversar, mas uma ao lado da outra, perdidas em pensamentos. Quando a noite foi se aproximando ambas pareceram notar que sua paz estava prestes a acabar junto com o nascer da lua. Mesmo sem uma transformação completa estar perto do dia de lua cheia fazia algo com os licantropes, eles se tornavam mais animalescos e selvagens. Elas se encaram e chegaram num acordo mutuo e silencioso. Slava não sairia de seu lado, e Mira não a machucaria, e sim impediria que fizesse algo ruim.

— Você tem corda? - perguntou a licantrope.

— Sim – respondeu a Caçadora sem saber o porquê da pergunta

— Me amarre naquela arvore, assim não terei risco de lhe ferir.

— Mas...

— Por favor, não quero fazer nada de que me arrependa.

Mira fez o que lhe foi pedido, mas não conseguiu olhar enquanto a garota uivava e rosnava. Sentada a alguns metros de distância apenas olhava a outra com um aperto no peito até a chegada do nascer do sol.

Cada noite que passava o efeito da lua ia diminuindo, até que duas noites depois Slava já tinha total controle de si mesma. Mira estava em conflito, não seria capaz de machucar a garota nunca. Quando tudo estava bem, incertas do que fariam a seguir, a Caçadora sugeriu que Slava a acompanhasse até sua casa, onde decidiram o que fazer com relação aos ciclos seguintes. Não conseguiria se afastar desta garota, mas também não suportava a ideia de se aproximar de alguém como a fera que matou sua família.


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo pessoal (ou será?)
Realmente não sei quando irei continuar. Posso demorar semanas ou posso demorar meses. Mas alguma hora sai porque amo muito essas duas.
Obrigada por ter lido até aqui!



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