Hanami escrita por Helgawood


Capítulo 9
Capítulo 8




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Era frio.

Não acreditava na vida após a morte, porque assim foi ensinada pelos pais. A morte era o fim de tudo. Nada havia nada depois dela. Seus inimigos não pagariam por seus crimes, seus amigos e amores não esperariam do outro lado, prontos para viver em algo desconhecido que ficava... além do céu?

Ou além do mar?

Bem, Hanami não sabia, mas definitivamente estava em algum lugar. Um lugar escuro, vazio e frio.

Deitada em posição fetal e de olhos fechados perguntava-se pelo o que estava pagando? Pela desobediência a seu pai e avô?

Desculpa...

Levou as mãos a garganta.

Por que fez isso, Indra...?

Chorou amargamente com as mãos a apertar mais e mais o pescoço.

Eu não queria sofrer! Eu não queria sofrer. Não queria... não queria sofrer.

— Você não está sofrendo, Hanami... — A voz, no silêncio da escuridão, a chamou.

 Abriu seus olhos e encarou com assombro o cenário a seu redor. A floresta. Ainda estava nela. Tremendo, soltou as mãos do pescoço e a passou pela grama, sentindo sua textura, sua vida.  Atordoada, ficou sentada olhando tudo minuciosamente.

Assustada e com medo indagou:

— O-o que aconteceu?

A resposta veio logo:

— Foi uma ilusão.

Se virou em direção a voz e encontrou Indra sentado numa rocha.  O olhar dela; ele pôde sentir o peso. Ele havia conseguindo matar os sentimentos dela. Quebrado como galho a conexão que tinham.

 Não era isso que queria.

Saiu da rocha e se aproximou dela. Hanami se arrastou no chão, se afastando dele como faria caso se deparasse com um monstro demoníaco. Mas depois do que havia feito não tinha tanta distinção entre os dois.

— Hanami...

— Sai! — gritou ela em plenos pulmões. Não conseguia pôr-se de pé, as pernas estavam fracas. Arrastou-se como pôde e parou ao bater na árvore.

Indra andava passo a passo até ela, com as sobrancelhas curvadas em um semblante de dor e tristeza. Hanami fechou os olhos com força, se encolheu e tremeu.

O Otsutsuki se agachou em frente a ela, colocou a mão sobre seu ombro e a sentiu recuar ainda mais, como se seu toque causasse dor.

— Jamais iria te machucar.

Os lábios dele tremeram.

— Você... tentou me matar! — disse ela, ainda com os olhos fechados.

— Nunca. Jamais faria isso com você — respondeu ele, tirando a mão do ombro e passando por seu rosto.

Hanami o afastou com um safanão, agora o encarando com ódio.

— Então por que fez isso? — perguntou entredentes. Seus olhos verdes miravam com força os ônix dele.

— Eu queria te ver. Precisava falar com você. — Confessou. Seus olhos desviaram para o risco de sangue no pescoço. — E o que é isso?

Estendeu a mão para tocar em seu ferimento no pescoço, mas Hanami, novamente. Espalmou sua mão.

— Se afaste!

O rosto de Indra ficou sisudo.

— Por que quis se matar?

— Por que não cuida da sua vida. — Retrucou. — Melhor, por que não me deixar em paz? 

Ele deu de ombros. Deu um suspiro e perguntou:

— Por acaso sua paz é a morte? — Ele ignorou sua expressão de espanto dela. — Eu vi aquele velho que escolheram pra você, o seu noivo. Era por causa dele que queria fazer aquilo?

— Não te interessa! — retrucou. Era contra sua vontade que seus olhos marejavam e os lábios tremiam.

O Otsutsuki pegou uma madeixa de seu cabelo rosado, levou a boca e beijou.

— Ou por minha causa? 

— Se acha demais, não acha? — retrucou. — Você nem sequer passou pela minha cabeça.

Não queria mentir, mas era a melhor opção. Ilusão ou não, se sentia ferida e qualquer coisa que houvesse sentido por ele estava minguando.

— Não pensou em mim? — ele arqueou as sobrancelhas. — Mas eu pensei em você. Desde aquele dia eu vivi pensando em você. Todos os malditos dias você esteve na minha cabeça! Eu vi você sentada ao lado daquele velho, mais velho até que seu avô — riu com desdém. — Não precisa ficar com ele.

— Não preciso ficar com ninguém — retrucou. — Nem com você.

A rosada virou nos calcanhares, mas Indra agarrou seu braço antes que desse mais um passo.

— Não consegue ver? — indagou, mirando-a. Ela franziu o cenho. — Eu a amo Hanami! — Aproveitou para segurar os dois braços dela, a impedindo de se soltar. — Eu te proíbo de tirar a própria vida. Te proíbo de ficar com outro homem. — Ele se inclinou sobre ela e, entredentes, disse: — Você é minha.

Hanami nada disse. Assim como a algumas horas atrás, não conseguia desviar dos olhos vermelhos e hipnotizantes do Otsutsuki.

Vendo-a dominada por seu doujutsu, Indra a abraçou e deitou seu queixo sobre o ombro dela. Ela estaria vendo o que ele queria; sua vida junto a ele. Os filhos, os netos e o futuro do ninshu.

— Não se preocupe, — sussurrou. — Vou te levar pra um lugar seguro...

*

 Primeiro, a vista turva identificava os tons dourados ao redor. Depois, conforme seu olho se acostumava a luz, Hanami se viu em pé em um corredor longo. Ao lado, um jardim meticulosamente cuidado era banhado pela luz forte do sol. Olhou ao redor surpresa, nunca estivera em tal lugar.

Mas sabia que era uma mansão.

Deu um passo e parou. Olhou para baixo e encarou espantada para o lindo quimono que trajava. Como era possível? Jamais teria dinheiro para compra tal peça. Levou a mão ao cabelo, no alto da cabeça sentiu um pingente. Como queria ter um espelho naquela hora!

Andou pelo corredor a passos lentos e parou ao ver uma porta aberta. Era um aposento amplo, de teto alto e tatame branco no chão. Não conseguia controlar a curiosidade. Com certeza estava numa mansão. Percebeu então um homem de costas e o reconheceu.

— Indra...? — Tão logo disse, o Otsusuki se virou. Carregava um bebê no colo, de cabelos negros como o dele e os olhos verdes. Hanami não pode deixar de reparar na semelhança.

O Otsustuki a olhou de cima a abaixo, então sorriu.

— Não precisa de tudo isso, querida, sabe que até sem roupa continua linda.

Ela enrubesceu. Como ele ousava falar assim com ela, jamais ficou nua na frente dele ou de qualquer outro homem.

— Você sempre fica vermelha. — Ele riu.

— Que lugar é esse? — indagou séria, pondo fim a risada dele.

O Otsustuki piscou curioso.

— Nossa casa — respondeu simples. Estendeu a mão para toca em rosto, mas ela desvencilhou. — Você está bem, querida?

Ela franziu o cenho e deu alguns passos para trás.

— Não sou sua querida, Indra. Acha que ficaria com você depois do fez?

Ele soltou um suspiro e acariciou os cabelos negros da criança.

— Você nunca me perdoou depois de tantos anos, não é? — Ele inclinou a cabeça. — Me desculpe.

— “Tantos anos”? — repetiu. Tinha certeza que de fora... quando? Por que não conseguia lembrar.

— Já faz oito anos, querida... Eu sei que pra você sempre será algo recente, por isso sempre vou pediri desculpas.

Oito anos, pensou assustada, mas como?

— E esse bebê. — Apontou. — É seu?

Ele sorriu.

— É nosso filho. — Foi até ela e estendeu a criança. — Você deu o nome de Hikaru.

Receosa, ela embalou o bebê no colo. Era tão pequeno e gorducho. Sorriu quando a mãozinha dele apertou sua bochecha.

— Hikaru... — repetiu, encantada. Ele tinha seus olhos esmeraldas, mas era Indra todo. Ergueu a cabeça para o Otsutsuki. — Então, somos casados?

Ele aquiesceu.

— Estou surpreso de que tenha se esquecido até disso.

— Eu... — balbuciou. A apertou seu Hikaru contra o peito, como podia te ser esquecido de um filho? Seus olhos lagrimejaram. Aquela mansão, o jardim e Indra eram seus. As lagrimas molhavam seu rosto. — O-obrigada.

Indra colocou a mão sobre o ombro dela.

— Está agradecendo o quê? Lembra o que disse quando casamos? — Ela aquiesceu, mas sequer se lembrava do dia. — “Eu passarei a vida toda te agradecendo”.

Com a mão livre enxugou as lagrimas do rosto e sorriu.

— Eu não acredito que isso tudo é meu. Parece um sonho.

— Mas não é, eu lhe garanto. — Ele a puxou para um braço. Hikaru que estava no meio dos dois deu um leve gritinho animado.  

— Mamãe! — um grito infantil a fez se afastar de Indra e olhar para uma porta até então fechada. Ela foi aberta bruscamente e duas crianças descalças, um menino e uma menina, entraram. Suas roupas estavam sujas e a menina tinha o cabelo bagunçado e cortado.

— Mamãe, olha o que Daisuke fez! — a menina gritou apontado para o próprio cabelo.

— Fui eu não, mãe — disse o menino. — Ela fez isso aí sozinha.

— Mentiroso! — Mentirosa!

— Sarada! — Esbravejou Indra. — Daisuke!

Os dois imediatamente ficaram quietos e olharam assustado para Indra. Hanami os assistia boquiaberta. Eram lindos e pareciam gêmeos. Ambos tinham a mesma altura, o mesmo rosto, o cabelo preto e os olhos ônix.

— Como ousam fazer barulho dentro de casa? — indagou Indra, fitando os dois. — A mãe de vocês não está tão bem hoje, deveriam mostra respeito por ela.

Os dois olharam preocupados para Hanami ao perceberem o rosto molhado e o olho vermelho pelo choro, ambos foram até ela. Sarada, abraçou sua cintura e encostou a cabeça em sua barriga. Daisuke fez o mesmo.

— Mamãe, o que você tem? — perguntou ele.

— É dor de cabeça? — perguntou Sarada. — Desculpa a gente, mãe, não queríamos grita tanto. Mas olha, Hikaru grita bem mais alto que nos dois.

— É verdade, mãe.

Hanami riu e se agachou para ficar na altura dos filhos.

— Eu estou bem, não é nada de mais. — respondeu.

— Mas por que estava chorando? – Daisuke passou a mão no rosto da mãe, secando-o. — Olha, tá molhando aqui.

— Estava chorando de felicidade.

— Felicidade? — perguntou Sarada. Ela então fechou o rosto. — Não está gravida de novo, não né?

— Sarada — repreendeu Indra. A menina murmurou um pedido de desculpa.

Ela riu. Eles eram tão espertos e lindos, nem sequer pareciam reais.

— Estava chorado de felicidade por vocês existirem. — disse, deixando as lagrimas voltarem. — Me abracem.

Estava feliz demais. Estava se sentindo amada, estava sentindo seu lugar que pertenciam. Anos e anos fugindo da guerra, perdendo amigos e parentes até chegar à vila de Hagoromo e agora tinha sua própria família, sua própria casa.

Era algo tão sublime e tão irreal.

 *

— Senhora, já faz dois dias devemos fazer alguma coisa! — disse uma mulher de hakama vermelho ajoelhada sobre um futon.

Uma senhora com a mesma vestimenta em pé atrás dela deu de ombros.

— Aquele garoto disse que ela acordaria, então vamos esperar.

Virou nos calcanhares para sair, mas o comentário da mulher a fez parar.

— Ela está chorando... Que sonho horrível ela deve estar tendo.

A senhora de rosto enrugado e de semblante sério deu um suspiro.

— Deixa-a quieta, Rin, temos enfermos para cuidar.

— Sim, Senhora Momo.


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