A cerveja gelada não trazia o conforto que ele buscava, não quando estava sozinho olhando para o nada como se naquela parede escura estivesse a resposta à cada uma de suas dúvidas.

Precisava de companhia, e algumas pessoas ele poderia riscar de sua lista, como Valkyrie, que provavelmente estaria sentada bebendo a tanto tempo, que não conseguiria mais mover as pernas, e pelo pouco que notou, Loki estaria com ela. Então tomado por um impulso, pôs-se de pé, levando consigo a bebida, a mesma que por sorte tinha em quantidade razoável. Seguiu pelos corredores daquela nave ampla, deixando os pés guiarem-no, notando onde eles o levavam. Sorriu antes de bater na porta, dois toques com os nós dos dedos, ouvindo os passos arrastados do lado de dentro, e tão logo aquele rosto já muito bem conhecido.

—  Thor? —  Banner estava com óculos, um tanto tortos mas nada que o atrapalhasse a ler um dos livros que haviam naquela nave extensa. As vestes simples de um jeans básico e blusa de manga reforçavam o ar ‘nerd’ do doutor. 

—  Posso? —  segurando a caneca com força, usou o indicador da outra mão para apontar o cômodo às costas de Bruce. 

—  Cl-claro! —  Dois passos para o lado, fora mais que o suficiente para que Thor entrasse, logo se acomodando aos pés da cama. Banner arrumou o óculos no nariz, quando virou rápido para acompanhar o deus do trovão a passear por seu aposento temporário. 

—  Cerveja?

—  Estou evitando o álcool! —  não era nem de longe mentira, após ficar tanto tempo sem o controle de seu corpo, perdendo a luta interna para o ‘outro cara’, ele optou por manter-se no controle agora. Por isso próximo à cama havia uma caneca de chá. Não era dos melhores, não dos que Bruce estava acostumado a beber quando na Terra, mas supria sua necessidade de algo, e lhe aquecia o corpo. 

Sentou-se próximo à Thor, mas não sem antes pegar o chá, como se reforçasse o que acabara de dizer. 

—  Evitando que o outro cara tome o controle de novo? —  a pergunta veio entre pequenas pausas para que ele pudesse saborear a bebida em sua caneca de carvalho.

—  Sempre que possível. 

Ainda era estranho, para Bruce. Não saber que por muito tempo havia perdido o controle de seu corpo e parte de sua consciência ao ponto do Hulk tê-lo tomado por inteiro. O que era estranho era estar ali, tão próximo de Thor depois do último acontecimento. 

Era uma comemoração, por mais que Asgard terminasse em ruínas, eles haviam conseguido. E no calor do momento num abraço ridiculamente forte quando o cientista deixava de ser a montanha de fúria esmeralda, houve o beijo. Nada mais que um singelo selar de lábios, algo desengonçado e que Banner juraria de pés juntos ter sido apenas um descuido. Um “erro de cálculo”. 

Thor havia achado também, não com essas palavras, não mesmo. Achava que fora apenas algo sem querer. Mas quais eram as chances? Havia uma diferença de altura entre eles, e isso o deus do trovão constatou quando sozinho em seus aposentos. Notou tanto, por tanto tempo que quando precisou de companhia, seus pés guiaram-no até o gigante esmeralda, em sua forma tão dócil que agora deliciava-se com chá. 

Banner notou o olhar, mas permaneceu com a caneca colada aos lábios, sentindo a fumaça lhe tocar a tez e trazer arrepio. Ou o arrepio era pelo olhar que lhe era descaradamente desferido? Notou quando Thor inclinou-se para colocar a caneca já vazia ao chão, e quando acomodou-se melhor na cama, encarando-o de frente, enquanto ele mesmo mantinha-se com os olhos na porta. Não bebia, mas não afastava-se da caneca. 

Não por vontade própria, ao menos. Não teve como deter quando Thor tocou-lhe o dorso da mão, tomando a caneca para dar à ela o mesmo fim da sua; o chão. 

Até mesmo ali havia diferença de tamanho entre os dois. E mesmo que agora Thor tivesse apenas um olho, Bruce sentia-se observado como nunca antes por ele. Houve o momento onde os olhos ficam vidrados um no outro, e então nos lábios, e nos olhos de novo. Como um ciclo vicioso. Bruce notou naquele momento que o beijo de outrora não havia sido um equívoco, não quando lhe proporcionava de novo a maciez daqueles lábios aos seus, o toque da barba que fazia a pele arrepiar porque era algo que não estava habituado a sentir. A força daquela mão em sua nuca, muito embora viesse de modo suave contra sua pele. 

Um beijo, propriamente dito e sem ressalvas. Sem reservas. Línguas que buscavam acariciar a outra, buscar na boca alheia um abrigo quente e úmido, que lhes excitava e instigava à mais, e um pouco mais. 

—  GRANDÃO, VAMOS! —  a voz de Valkyrie os despertou do momento onde, ofegantes, separaram-se. Thor sorria, Banner estava tão vermelho quanto era possível.

—  Meu coração não aguenta essas emoções!

Quando a porta se abriu, a guerreira vinha carregada por Loki. 

—  O que estão fazendo aí?

—  Nada! Apenas… tomando uma xícara de chá! —  No calor do momento e de sua vergonha fora tudo o que Bruce conseguira pensar. Não notando, claro, que Thor o deus do trovão não bebia chás.