Na calmaria escrita por Artemis Stark


Capítulo 1
Parte 1




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Hermione entrou no Salão Comunal da Grifinória limpando as lágrimas com a mão esquerda. Estava quase alcançando os degraus quando ouviu uma voz a chamando, virou-se e encontrou com George Weasley. Não era muito comum encontra-lo sem a companhia de seu gêmeo e notou que havia pergaminhos ao seu redor. Ele estava descalço, usando a calça e a camisa do uniforme: a manga dobrada até o cotovelo e os primeiros botões abertos. Ele usava o cabelo mais longo que o normal e isso o deixava ainda mais bonito. Bonito? Hermione espantou esse pensamento.

— Estudando uma hora dessa, George? Aliás... estudando? – Perguntou com um pequeno sorriso.

— Voltando para o Salão uma hora dessa, senhorita monitora? Acho que Ron não vai gostar de saber desses seus passeios noturnos... – riu, até se atentar para os olhos dela – Você estava chorando? – perguntou, seu tom mudando drasticamente.

— Não. Não é nada – ela falou querendo retomar o caminho para os dormitórios e, involuntariamente, escondendo sua mão direita. George, como ótimo observador por precisar estar atentos aos balaços em seus jogos de quadribol, percebeu o discreto movimento.

— Hermione, aconteceu alguma coisa? Foi o Malfoy? Sei que ele sempre provoca você e seus amigos.

— N-não é nada... – a quintanista retomou seu caminho, mas foi impedida por George que pulou sobre o sofá e a alcançou. Ele estava prestes a puxar a mão dela, quando se deu conta que aquela garota sabe-tudo, que já tinha passado por muitas aventuras e perigos devido à sua amizade com Harry Potter, era pequena e parecia extremamente frágil perto de si.

— Hermione... - ele tocou delicadamente o cotovelo, puxando o braço para si. Então, viu a marca na pele clara. Puxou-a para o sofá – Umbridge?

— Sim – Hermione tirou a capa e colocou-a sobre o sofá.

— Sente-se aqui – George remexeu em sua mochila e pegou um frasco, abriu e começou esfregar essência de murtisco suavemente sobre o ferimento. Achou estranho que se estendia além do punho. Hermione fez um feitiço e a manga desapareceu por completo.

— Ela já... – Hermione começou a falar, mas foi interrompida.

— Semana passada. Separei-me de Fred e Lino na fuga, então a maldita Madame Nora encontrou-me – Não escondeu a raiva em sua voz.

— O que precisou escrever?

— Não devo pregar peças – George parou momentaneamente de passar o creme quando viu que ela tremeu levemente e contraiu um gemido de dor. Depois de alguns segundos, continuou.

— Precisará ir novamente? – Ele apenas negou com a cabeça, concentrado em seu trabalho e na mão de Hermione. George notou que ela tinha mãos delicadas, com pequenas manchas de tinta nos dedos finos.

— E você? – Dessa vez o grifinório encarava os olhos castanhos ainda segurando a mão dela sobre a sua. Hermione viu o crepitar do fogo, desviando dos olhos claros.

George ficou calado observando o perfil da garota diante de si. Nunca foi muito próximo dela, afinal Hermione Granger era amiga dos seus irmãos caçulas. Encontravam-se ocasionalmente no Salão Comunal, no refeitório e quando ela passava as férias de verão na Toca. Certo dia, a bruxa aproximou-se para saber que poção ele e Fred estavam preparando. Ou melhor, inventando. Os gêmeos repararam na atenção dela enquanto explicavam. George não pôde esconder que gostou de ser admirado por uma bruxa tão inteligente. No entanto, com a criação da AD, treinavam juntos com mais frequência, conversavam sobre feitiços, poções, caminhos para fugir da Brigada Inquisitorial.

— Vou até que fique marcado – respondeu, tirando-o de seus pensamentos.

— Como assim?

— Até que a mensagem fique marcada. Devo ir amanhã e depois e depois... – George sentiu seu punho fechando de raiva e murmurou entre seus lábios:

— Qual a mensagem?

— Não é nada, George – disse Hermione puxando sua mão de volta – Obrigada. Aliviou bastante. Acabei meu estoque de poção com Harry e não tive tempo de repor – no entanto, ele não permitiu que ela se afastasse.

— Qual a mensagem? – Tornou a perguntar, olhando-a fixamente.

— Não sou bruxa. Não devo roubar magia dos bruxos – respondeu, respirando fundo para que sua voz não saísse embargada pelo choro.

O ruivo sentiu a veia de seu pescoço pulsar e isso não era um bom sinal. Balançou a cabeça, fazendo seu longo cabelo balançar. Seus olhos encaravam a marca vermelha, onde as palavras ainda não eram visíveis.

— Vá para cima descansar.

— George... – ela começou em tom de alerta percebendo a mudança na expressão do ruivo à sua frente – Eu aguento. Não faça nenhuma loucura. Falta pouco para o ano acabar.

— Vá descansar, Hermione – ele repetiu em um tom mais calmo com um sorriso nos lábios.

— George Weasley! Não faça que nada que possa causar sua expulsão! Eu posso lidar com isso! Você já passou, Harry também! Sua mãe ficaria maluca se você e Fred fossem expulsos! – Hermione disse, colocando a mão esquerda na cintura.

— Não serei expulso. Prometo – ele completou, ao vê-la tão preocupada. A garota o olhou desconfiada, no entanto, depois de um tempo, despediu-se e retomou seu caminho para o dormitório.

O ruivo juntou seu material de qualquer jeito, com certa fúria. Enfiou tudo na mochila e subiu ao quarto. Sentou-se na cama de Fred, fazendo com que o outro se afastasse rapidamente.  

— O que houve? – Fred perguntou ao ver a expressão irritada à sua frente.

— Precisamos acabar com a megera e sair de uma vez dessa escola – o gêmeo assentiu e sorriu para o irmão. Finalmente colocariam o plano que estavam elaborando em prática.

—--

De manhã, George observou com mais atenção a interação do famoso trio grifinório. Sem dúvida, Hermione era uma garota forte apesar de sua aparente fragilidade. Era como se não tivesse passado por nada na noite anterior.

— Ainda tenho essência de murtisco – ele ouviu Harry dizer.

— Para quê ela precisaria disso? – perguntou Ron com a boca cheia.

George rolou os olhos. Afinal, não era possível que ele não soubesse que Hermione teve detenção com a professora de DCAT na noite anterior.

— Por Merlin, Ronald! Ela teve detenção com a Dolores Umbridge! – George exclamou. Fred encarou o irmão como se, agora, pudesse entender a raiva dele na noite anterior. Ron olhou para os olhos de Hermione e depois para sua mão. Ficou vermelho rapidamente.

— Mione! Desculpe, eu havia esquecido! Como foi? – disse tropeçando nas palavras. Novamente George respondeu, antes que pudesse compreender sua atitude e ignorando os cutucões do seu gêmeo e o olhar interrogativo de Lino.

— Foi ótimo. Elas tomaram chá e conversaram sobre as últimas fofocas do mundo bruxo.

Gina ficou com a colher cheia de cereal parada no ar, Harry murmurou algo incompreensível, Hermione segurou a respiração e Rony... bom... Rony ficou ainda mais vermelho.

— Agora entendem porque adoramos pregar peças em você, Ronald? É um completo idiota – e saiu da mesa irritado pela falta de tato do irmão e pela própria explosão. Fred e Lino o seguiram.

— George, poderia me explicar o que está acontecendo? – Lino olhou para os gêmeos e desviou seu caminho, pois sabia quando os dois precisavam ficar a sós e não esperou que nada fosse dito. Os ruivos diminuíram o ritmo do próprio caminhar.

— Ela tem apenas 16 anos, está sendo torturada e a bosta do ministério realmente acredita que Umbridge é a melhor solução?

— Espere, espere! – Fred segurou o ombro do irmão e parou na frente dele. – Tem alguma coisa acontecendo entre vocês? Entre você e Hermione?

— Claro que não! Apenas acho injusto esse castigo, você não acha? – dizendo isso continuou a andar, enquanto Fred observava o irmão seguir pelo corredor a passos rápidos.

George assistiu às aulas sem prestar muita atenção ao que era dito, copiou o que estava escrito na lousa, mas sem saber o que copiava. Parecia que o tempo não passava, talvez porque olhasse o relógio a cada 5 minutos querendo que chegasse logo a hora do almoço.

Quando a aula chegou ao fim seu material já estava guardado e andou calado, imerso em seus pensamentos sendo seguido por Fred e Lino. Enquanto almoçava, olhava impacientemente para os lados esperando para ver Hermione, mas de maneira nenhuma admitiria isso. Fred apenas observava seu gêmeo calado, tentando entender o que estava acontecendo, lendo todos os sinais que queria não ler... Os sinais que diziam que...

— Lino vai nos ajudar – Fred falou ao seu lado em voz baixa, tentando fazer com que George olhasse para si, o ruivo apenas assentiu calado – Será que pode me contar o que está acontecendo?

George dirigiu seu olhar do trio que ria para seu gêmeo e de volta para o trio. Hermione parecia disfarçar o medo do fim da tarde que se aproximava e, por fim, encarou Rony que comia desesperadamente.

— Depois... – foi a única palavra que conseguiu murmurar. Fred acompanhou o olhar de George e torceu para que fosse apenas um cuidado fraternal mesmo sabendo que não era nada daquilo. 

***

Dessa vez nem se preocupou em pegar pergaminhos para anotar suas ideias para os produtos da Loja que abriria com Fred. Não conseguiria se concentrar de qualquer forma: era impossível sabendo que Hermione estava em detenção com a Dolores. Ficava olhando fixamente para entrada do Salão Comunal esperando que ela aparecesse.  Estava sentado displicentemente no chão e, sobre a mesa de centro, a essência de murtisco.

Ouviu passos vindo do dormitório masculino. Encarou os olhos verdes. Ele também estava aqui por ela. Bufou. Afinal, Potter não estava a fim daquela corvinal?

— Também trouxe a essência?

— Sim. Passou pela detenção quando? – Harry perguntou sentando no sofá de frente para George.

— Um tempo atrás – respondeu, ainda olhando para a porta.

— Não podemos permitir que Umbridge continue usando esse castigo – o quintanista afirmou, sério. Sua mão indo à marca em sua pele.

— Vou cuidar disso – olhou para Harry – Em breve – ele levantou-se, mas Harry agiu primeiro.

— Fique. Sei que pode cuidar dela tanto quanto eu – refez o caminho para o dormitório – E não ligue para o Rony. Ele é... ele gosta mesmo dela... Só não sabe como expressar.

Se Harry achava que aquelas palavras ajudariam em alguma coisa, estava completamente enganado. George ficou novamente sozinho com seus pensamentos - pensamentos que queria negar a todo instante, viu-se com raiva do próprio irmão. Ainda por cima que dentro de poucos meses ele partiria de Hogwarts, enquanto Hermione ainda tinha mais de dois anos. As últimas semanas em que compartilharam conversas e risadas haviam mudado completamente sua visão sobre Hermione Granger. Sim, porque ela queria saber mais sobre os produtos, principalmente porque vinham causando problemas para Dolores Umbridge. Desde que começaram a conviver mais juntos por causa da AD, George vinha mudando completamente suas ideias sobre a estudiosa Hermione Granger.

Ouviu a porta abrindo e ela passou, andando de formar cambaleante, portanto, correu até lá e ajudou-a a se sentar. Dessa vez ele conseguia ver o contorno das palavras. Em silêncio, passou a essência sobre o ferimento

— Aguente, Hermione. Isso vai terminar. E nem adianta falar nada para protestar. Já está decidido – ele sabia o porquê dos seus pensamentos, mas continuava negando. Era tão bom sentir a pele dela. Como Umbridge poderia fazer algo desse tipo com uma pessoa tão delicada quanto Hermione?

Ele gostava de sentir e ver a pele dela sobre a sua. Algumas manchas de sangue apareciam na manga da camisa, denunciando até onde ia o ferimento – Farei uma magia para sumir com essa manga, ok?

Hermione apenas assentiu com a cabeça, fechando os olhos e entregando-se àquela essência que amenizava a queimação que o ferimento causava. E ao ameno toque da pele de George sobre a sua.

***

Observou quando Hermione saiu do Salão Comunal e foi atrás dela, seguindo-a silenciosamente a uma distância segura. Viu quando ela levantou a mão algumas vezes antes de bater na porta. Os dois sabiam o que esperava lá dentro, até que a porta foi aberta e Hermione entrou na sala.

Esperou alguns minutos, depois lançou uma bomba de bosta na porta da professora, saiu correndo, escondendo-se atrás de uma escultura e ficou esperando, pois sabia que dentro de instantes ela passaria por lá. Ouviu os passos rápidos, espiou e viu que Hermione andava de volta para torre. Quando passou perto de si, puxou-a e tampou a boca dela com suas mãos.

— Sou eu, Hermione.

Foi tudo muito rápido, mas podia sentir os lábios quentes contra sua pele. A respiração rápida.

— George! – Ela falou com a voz contida. O ruivo retirou a mão da boca dela – Você que jogou aquela bomba?! O cheiro invadiu a sala! Estava impossível ficar lá.

— Conte-me o que aconteceu.

— Eu estava escrevendo e ouvimos a explosão. Ela saiu e viu o que era. Chamou Filch por um dos seus quadros de gatos e voltou para sala, fechando a porta.

— Você escreveu mais algumas frases?

— Sim, escrevi.

— Ótimo! Shiuuu – ele disse voltando a pressionar a mão sobre a boca dela, abaixou-se e sussurrou – retome seu caminho. A gente se encontra no Salão Comunal. Vá.

Hermione demorou a agir. A respiração dele dobre seu rosto não ajudava, assim como o perfume que usava: ele tinha um cheiro forte. Amadeirado.

— George...?

— Vá logo, Hermione! – ela obedeceu e retomou seu caminho.

O rapaz continuou parado. Ouviu o miado da maldita gata, antes de ouvir os passos arrastados de Filch. Silêncio. Os passos novamente.

— Reviste tudo, seu maldito aborto! Quero que o estudante que fez isso seja pego. Ainda hoje.

— Quero ajudar no castigo. – Filch falou, irritado.

— Pode deixar que do castigo cuido eu! Vá por esse lado, eu vou pelo outro. Tive que deixar a porta aberta! Nada parece remover aquele cheiro!

Novamente o silêncio. Antes de sair do seu esconderijo lançou em si mesmo um feitiço de desilusão e usou o protetor de nariz especial para não sentir o forte odor. Entrou na sala da professora e viu que o pergaminho de Hermione ainda estava sobre a mesa juntamente com a pena. Apontou sua varinha para o objeto, murmurou um rápido, mas complicado encantamento.

***

No dia seguinte, Hermione estava lendo um livro enquanto “esperava” o horário de sua detenção. Alguns estudantes conversavam. Harry e Ron jogavam xadrez bruxo, enquanto Ginny assistia à partida.

Sentiu o sofá mexer-se ao seu lado, mas não precisava olhar para saber quem chegara. Desde a noite anterior, desde que ficaram tão próximos o cheiro dele estava impregnado em sua mente. George falou:

— Você é uma grifinória, Hermione.

— Obrigada, George – havia linhas finas nas costas de sua mão – Acho que devo ir. Se eu me atrasar...

— Depois de hoje ela nunca mais fará algo como isso com qualquer outro estudante. Hoje você terá uma detenção bem curta – o ruivo viu quando Hermione inclinou a cabeça. Ele adorava quando ela fazia isso.

Sabendo que não teria respostas, ela despediu-se dos amigos que a olharam entristecidos.

— Por que você anda olhando desse jeito para Hermione? - Ron perguntou tirando George de seu devaneio.

— Está falando comigo?

— Sim, estou falando com você, George. Você e Fred sempre pregaram peças na Hermione e nunca a respeitaram como monitora. Que olhar é esse agora?

— Olhar? Do quê está falando? E nós nunca pregamos peças nela! – ele tentou disfarçar o seu nervosismo. Não era para ninguém perceber.

— Você fica acordado até tarde esperando para curar a mão dela, você está sempre de conversinha com ela aqui, nos encontros da AD,... Não sou tão idiota. Não devia ser você a cura-la após as detenções!

— Ah não? Deveria ser quem, então? Você? Harry pelo menos apareceu uma noite, mas você... estava mais preocupado em roncar do que em cuidar de Hermione!

— Eu me preocupo com ela! – Ron disse em um tom mais alto e todos pararam o que faziam para olhar para a discussão.

— Pois não parece! – Os dois estavam em pé – E quer saber? O modo como eu olho ou deixo de olhar para ela é problema meu! – Ele disse empunhando sua varinha. Ron fez o mesmo, mas nisso Harry levantou-se junto com Ginny.

— Ei, ei... se acalmem!

— Não, Harry! Tenho certeza que ele está planejando alguma coisa! As coisas têm andado muito calmas!

— Volte para seu jogo! Você precisa crescer muito, Ronald, para entrar em um duelo comigo. Abaixe essa merda de varinha.

— Só depois que você abaixar a sua!

— Abaixem a varinha ao mesmo tempo ou serei obrigada a desarmar os dois! – Ginny falou levantando sua varinha também. Nesse instante, Hermione entrou e olhou curiosa para cena.

— O que está havendo aqui? – Isso bastou para que ambos parassem de se encarar com raiva e guardassem a varinha em suas vestes.

— Não é nada, Mione­— Ron enfatizou o apelido, como se fosse um tratamento que o irmão não poderia aplicar na grifinória.

— Você voltou cedo da detenção. O que aconteceu? – Harry perguntou. A quintanista olhou para George sorrindo.

— Não sei o que você fez, mas... muito, muito obrigada, George – ela se aproximou do rapaz, ficou na ponta dos pés e depositou um rápido beijo na bochecha dele, depois disso, saiu correndo para o dormitório com sua amiga seguindo-a rapidamente.

— O que você fez? – perguntou Harry, já que Ron tinha as orelhas vermelhas e não conseguia articular as palavras.

George sabia que poderia falar o que havia feito em voz alta. Aquilo só transformaria a si mesmo e Fred em uma espécie de heróis. Muitos ali já tinham pegado detenção com Umbridge.

— Eu e Fred pensamos em uma vingança. Aquela pena não poderia mais continuar a ser usada, então, inventamos um feitiço que eu joguei na pena ontem.

— Que tipo de feitiço? – Dino perguntou.

— Quando alguém escreve, a marca também é feita na pele dela.

A sala ficou em silêncio antes de vir abaixo com uma explosão de gritos e aplausos.

***

Snape não daria mais aulas de oclumência e aquilo o pegou de surpresa, porém, ao mesmo tempo, não era realmente uma surpresa. Sabia que Rony, Hermione, Gina e os gêmeos diziam que aquilo era um absurdo, afinal, fora a pedido de Dumbledore.

— Preciso falar com Sirius.

— Sabe que é impossível! – Hermione exclamou, preocupada com a ideia do amigo.

— Umbdrigde inspeciona as lareiras – Rony afirmou.

— Podemos dar um jeito – Fred disse, olhando para o irmão.

— Sim! Depois da pena não fizemos mais nada – George continuou – Podemos afastar Umbridge da sala dela, dessa forma...

— Usar a lareira dela? Vocês enlouqueceram? – Hermione ficou em pé, porém logo sentou-se ao notar que chamara atenção de outras pessoas.

— Já temos o plano perfeito para tirá-la da sala... – Fred iniciou novamente.

— Vinte minutos é suficiente? – Harry assentiu em silêncio – Amanhã, depois das aulas – George finalizou, depois ele e Fred sentaram-se um pouco afastados, falando em voz baixa.

— Vou descansar. Boa sorte amanhã, Harry – Gina despediu-se e subiu em direção ao dormitório.

— Rony, você não vai falar nada? – o ruivo deu de ombros e respondeu:

— Ele sabe decidir por si só. Preciso deitar também – Harry seguiu o amigo, pois não queria ouvir Hermione tentando fazê-lo mudar de ideia. Decidida, foi até os gêmeos. Ao notar a aproximação de Hermione, Fred despediu-se rapidamente dos dois e sumiu pelas escadas.

— Depois se diz grifinório... – George brincou, observando o irmão.

— Desistam dessa ideia. Vocês acabarão sendo expulsos! – antes de responder o ruivo observou que o salão estava praticamente vazio.

— Não vamos desistir, pois não podemos nos calar diante dessa megera. Não é por isso que existe a A.D.? – falou em um tom mais baixo.

— Sim! Só que estão falando de entrar na sala dela e usar a lareira!

— Vai dar certo, Hermione. Não precisa se preocupar com Harry – dizendo isso, afastou-se.

— Não é só com ele que estou preocupada – falou num murmúrio que não passou despercebido por George, que parou e seu coração adquiriu outro ritmo, mais acelerado. Virou para ela, mas Hermione permaneceu no lugar imersa em seus pensamentos.

—--

Acordou pensando na frase que dissera e agradecendo por não ter sido ouvida por George, pois nem ela sabia o que sentia. Respirou fundo e preparou-se para o café-da-manhã, as aulas do dia, treinos... sem querer pensar no que aconteceria durante a noite.

Do outro lado do salão, no dormitório masculino, um rapaz mal dormira e, aos seus pés, o malão pronto. Empurrou para baixo da cama e sentou-se, a cabeça repousando em suas mãos.

— Mudou de ideia? O que aconteceu ontem a noite quando eu subi?

— Hermione tentou fazer com que desistíssemos do plano de ajudar Harry a entrar na sala de Umbridge. Não mudei de ideia, Freddie.

— Eles passaram por muita coisa esse ano. É normal ficar preocupada com o amigo – Fred terminou de se vestir e colocou a varinha em suas vestes, contudo, parou seu movimento quando seu irmão compartilhou a frase de Hermione – E o que pensa sobre isso? Será...?

— Não sei o que pensar! – levantou-se abruptamente.

— Não sabe? – Fred repetiu – Você quase entrou em um duelo com seu irmão caçula no salão comunal sobre a forma que olha para a garota e realmente não sabe o que pensar?

Perante àquela informação, George colocou as mãos nas vestes e saiu do quarto.

—--

— Ainda dá tempo de desistir dessa ideia maluca – Hermione tentou, pela última vez. Harry negou com a cabeça, decidido a levar seu plano adiante. Um pouco mais afastados, os gêmeos terminaram de jantar rapidamente e levantaram-se, no entanto, estancaram quando viram Dolores aproximar-se da mesa indo em direção...

— Senhorita Granger, venha comigo, por favor – na mesa dos professores, Minerva levantou-se e começou a andar rapidamente.

— Estou jantando, professora.

— Venha comigo imediatamente, pois sua detenção não acabou e precisamos conversar sobre aquele dia. Acho que está envolvida.

— Hermione? Envolvida com bombas de bosta? – Rony perguntou, ficando em pé do outro lado da mesa.

— Está tudo bem, Ron. Eu não fiz nada, certo?

— A senhorita Granger tem um compromisso comigo, Dolores – Minerva interviu. A estudante se levantou e postou-se ao lado da professora de DCAT. Sorriu para McGonagall, afinal, estava mentindo.

Harry trocou um rápido olhar com os gêmeos, pois aquilo fora inesperado e, pelo olhar da amiga, aquela exigência a surpreendeu também. George tentou se aproximar, só que Fred o segurou e acenou com a cabeça para continuar com o plano.

— Venha, senhorita Granger – as duas começaram andar em direção à sala da professora, enquanto, no Grande Salão, Harry, Rony e Gina corriam para o dormitório – Que feitiço utilizou na pena?

— Não sei do que a senhora está falando.

— Sei que voltou para minha sala e lançou algum feitiço na minha pena, mas tudo bem porque eu tenho a solução para que revele a verdade – Hermione sentiu medo das palavras dela e teve um leve sobressalto quando a porta fechou atrás de si. A figura magérrima e rabugenta de Filch estava em pé segurando um pergaminho só então, Hermione notou que ele tinha o que parecia ser um sorriso.

— Consegui! Consegui! Aqui está! – Umbridge leu o pergaminho, também sorria.

— Entregue sua varinha, senhorita Granger – Hermione demorou alguns segundos, no entanto, fez o que era pedido – Agora, tire sua capa.

— Minha capa? Por quê?

— Não estamos em sala para fazer suas perguntas irritantes. Tire sua capa – Hermione ficou parada, porém Dolores fez um gesto de varinha, fazendo com que a capa de Hermione voasse até suas mãos.

— Professora, isso é totalmente inadequado!

— Vocês, estudantes, precisam ser disciplinados e Dumbledore é muito frouxo para realizar um castigo adequado. Esse pergaminho ainda é válido e permite que uma professora açoite estudantes que não cumpram as regras.

— C-como? Você não pode fazer isso – olhou para o zelador e notou que ele, agora, sorria abertamente. A grifinória andou para trás, tentando sair da sala.

— Está trancada, senhorita Granger e, por favor, não dificulte para mim – a jovem sentiu o corpo ser paralisado e depois puxado para frente – Fale quem adulterou a pena.

— Não sei do que está falando – num movimento rápido da varinha, Dolores atingiu as costas de Hermione que não conteve um grito.

— Fale quem adulterou a pena.

— Não sei do que está falando.

Outra marca nas costas de Hermione, a camisa branca manchada de sangue.

Do lado de fora, Harry, oculto sob a capa não sabia o que se passava lá dentro. Pegou sua varinha e decidiu que era hora de mudar o plano, pois não podia continuar permitindo que Hermione sofresse seja lá o que fosse. Algo o deteve, aquele poderia ser a única oportunidade de conversar com Sirius... Balançou a cabeça, a prioridade era ajudar sua amiga.

No outro andar, o pântano criado pelos gêmeos começou a atrair a atenção. Pessoas estavam cobertas por algo fedido, enquanto Pirraça, dava gargalhadas.

Harry segurou a capa para retira-la, quando um jovem da Brigada apareceu e começou a bater na porta violentamente.

— O que está acontecendo?

— Venha comigo! Acho que vamos pegar os gêmeos Weasley pregando alguma peça.

Filch recuperou o pergaminho e saiu da sala, gargalhando. Logo foi seguido por Dolores, que puxava uma Hermione trôpega. Harry quase as seguiu quando notou que a amiga sangrava, porém não podia perder aquela oportunidade e, seja lá que estivesse acontecendo, acabara.

Fred e George saberiam o que fazer.

—--

— Estão acham isso tudo divertido? – os gêmeos deram de ombros e concordaram em silêncio. Grande parte dos estudantes estava lá, vendo aquela cena. Os membros da Brigada com suas varinhas erguidas.

— Na verdade, temos certeza que foi excepcionalmente divertido – Fred disse, sem temer o que poderia acontecer. George repousou os olhos em Hermione e notou que ela estava pálida, apoiada contra a parede.

— Trouxe o documento, senhora ilustríssima diretora. Você usou a varinha, só que posso usar as chibatas – disse, sorrindo perversamente.

— Assim como a senhorita Granger, serão devidamente disciplinados. Venham aqui.

— Não, não iremos – Fred falou novamente, olhou para seu irmão, mas a atenção dele estava em Hermione que parecia cada vez mais pálida, então notou alguns pingos de sangue no chão – Hora de encerrar nossos estudos, não acha, George? George?

— O que fez com ela? – a pergunta fez com que diversos olhos repousassem em Hermione. Rony passou rapidamente por todos, chegando ao lado dela e exclamando um palavrão. A garota falou algo para o amigo, em seguida, ele sustentou seu corpo.

— Disciplina, senhor Weasley.

— Accio vassouras! – Fred exclamou, notando que o plano estava dando errado. Harry apareceu nesse momento e teve tempo apenas de se abaixar, como os outros quando duas vassouras passaram voando. George subiu naquela que ainda carregava uma pesada corrente usada por Dolores quando as confiscou. Alçaram voo, sob os protestos da diretora, porém, logo os dois saíram voando. George ainda tinha os olhos em Hermione, Fred disse para continuar.

—--

— Como poderemos impedi-la? – Pomfrey perguntou, administrando poções nas costas de Hermione que dormia profundamente.

— Fiz uma reclamação formal no ministério, mas duvido que resolva. Avise-me quando ela acordar, Pomona. Potter, Weasley, sei que querem fazer companhia para a amiga de vocês, porém, não deem motivos para mais punições. A senhorita Granger precisa dos dois. Voltem para os dormitórios.

Ron pensou em protestar, porém calou-se perante o olhar severo da professora. Saíram em silêncio e passaram por Snape que entrara na enfermaria.

— Precisamos detê-la, Severus.

— Eu sei. Eu sei disso, Minerva – os dois professores ficaram mais alguns instantes conversando com Pomona e depois todos se recolheram.

Harry deitou em sua cama, sentindo-se culpado, pois poderia ter impedido tudo aquilo. Poderia ter impedido que Hermione fosse torturada.

—--

— É loucura! – Fred tentou impedir seu irmão que vestiu a capa e jogou o capuz sobre a cabeça – Fugimos de lá ontem!

— Preciso saber sobre Hermione. Gina falou que ela ainda está na enfermaria e sabe que consigo entrar pela Casa dos Gritos.

— George, escreva para ela.

 - Não, Fred – dizendo isso, saiu do flat andando pela noite fria. Chegou sem problemas até o Salgueiro Lutador e, com um feitiço, passou por ele sem correr perigo. Seguiu com cautela em direção ao castelo, mas não para entrada principal. Contornou-o até chegar perto das estufas e empurrou alguns tijolos, mentalizando um feitiço. Uma porta apareceu, sorriu e empurrou-a com cuidado. Fazia tempo que não utilizava aquele caminho que estava repleto de teias, porém era o mais seguro e o mais próximo da enfermaria.

Quando terminou de atravessar o corredor, lançou outro feitiço e viu a parte de trás de uma tapeçaria antiga. Ficou atento, esperando pelo completo silêncio, olhou o relógio e logo seria a hora de recolher. Depois que esperou dez minutos e não ouviu mais nada, arriscou sair de trás da tapeçaria.

Agora estava próximo da enfermaria, soltou o ar aliviado, porém muito cedo. Do outro lado, Minerva e Snape conversavam. Murmurou um palavrão e virou de costas para voltar por onde veio.

— Ei! Nenhum estudante pode circular essa hora por aqui! – a voz de Snape fez com que parasse no lugar. Outro palavrão, então um som agudo fez com que olhasse para cima.

— Quer chegar na enfermaria? – assentiu e Pirraça soltou um grande grito, depois saiu voando e começou a jogar comida em todas direções, entrando por outro corredor e fazendo com os professores fossem atrás dele. Correu até lá e entrou discretamente.

Abriu as cortinas, procurando por Hermione até encontra-la deitada de bruços, um livro numa mesa mais baixa. Sorriu.

— Pomfrey, você acabou de... George? – ele deitou-se no chão, empurrando a mesa e Hermione sorriu – O que faz aqui? – perguntou em voz baixa – Se te encontrarem... Eu... – sorriu novamente – Obrigada por correr esse risco.

— O que ela fez com você? – com um floreio lançou um feitiço – Agora podemos conversar sem medo de alguém ouvir. Que horas Pomfrey volta?

— Daqui umas duas horas. Umbridge achou que eu estava envolvida no feitiço que lançou na pena – ao ver a expressão dele, emendou – Não se preocupe com isso George. O que você e seu irmão fizeram ajudaram muitos estudantes. Como ouviu, Filch achou um documento que permitia chibatadas.

— Hermione... – a mão dela estava ao lado da cama, para virar as páginas do livro e George segurou entre as suas, levando-a até seu peito – Desculpe. Eu não imaginava.

— A culpa não foi sua. Minerva está cuidando para que não se repita – fechou os olhos de dor, quando se mexeu – Talvez precisa de Pomfrey antes...

— Posso ajudar? – Hermione corou, porém, assentiu e George levantou-se.

— É esse creme analgésico que está sobre a estante – pegou o creme indicado e o abriu, depois ficou parado – Quando passar eu posso me sentar por alguns instantes.

— É... bem... Licença, Hermione – ele abaixou o lençol com delicadeza e sentiu a raiva o dominar – Eu não posso acreditar em uma coisa dessas. Como o ministério não faz nada?

— Em uma semana estarei melhor – George colocou a luva e passou o produto sobre as costas de Hermione que suspirou aliviada. – Pronto. E agora?

— Lance um feitiço para fixar o remédio e depois coloque o lençol novamente sobre mim – fez o que ela orientou.

— Vire-se para que eu possa sentar – pediu e o ruivo inclinou-se para olha-la, os cabelos caindo de forma bagunçada.

— Mesmo?

— Mesmo – respondeu sorrindo, ele virou-se e Hermione percebeu que não era tão fácil assim mudar de posição sem ajuda – George, na verdade...

— Posso te ajudar, Hermione – quando estava sentada e o lençol sobre o corpo olhou-a com ternura. Estavam quase da mesma altura – Desculpe.

— A culpa não foi sua – não sabiam como continuar e o jovem sorriu, levemente tímido – A fuga de vocês será assunto por muito tempo.

— Os berradores de minha mãe também – Hermione riu.

— Verdade, mas Hogwarts é muito pequena para vocês, não? – ele levantou as sobrancelhas e piscou – Quando chegar as férias vou conhecer a sua Loja.

— Será uma cliente especial, Hermione – o silêncio caiu entre os dois novamente – Posso te perguntar uma coisa?

— Claro – ajeitou o lençol sobre o ombro e George deu um pequeno passo aproximando-se da cama.

— Eu ouvi o que disse no nosso salão. Antes de ontem, eu ouvi quando disse que não estava apenas preocupada com Harry.

— Oh.. – Hermione desviou seu olhar e depois voltou a encará-lo – Você e Fred estavam se arriscando por Harry, claro que também estava preocupada com vocês.

— Claro – ficou de costas para Hermione e esfregou o rosto. O que estava pensando?

— George, George? – havia um pequeno sorriso triste ao se verem novamente.

— Quer ajuda para deitar novamente? Acho melhor eu ir embora.

— Por que veio até aqui? – ela perguntou novamente e George aproximou ainda mais.

— Estava preocupado com você, infelizmente não é do mesmo modo que a sua preocupação.

— Como? – perguntou, atônita. O ruivo passou as costas da mão de forma delicado no contorno do rosto dela.

— É inteligente o suficiente para entender, porém, eu quero dizer que... Que estou apaixonado por você. Compreendo que... – ele soltou o ar e afastou a mão do rosto dela – Preciso ir.

— George? – a mão dela segurou-o pelo punho – Eu menti.

— Mentiu?

— Estava pensando quase que... Quase que exclusivamente em você – Hermione puxou-o pelo punho e George colou seus lábios ao dela. A outra mão foi até a nuca, para ter certeza que ela estava lá, beijando-o.

— Como faremos? – ele indagou, segurando o rosto dela com delicadeza.

— George, não podemos. Não até a guerra acabar, não até tudo isso estar resolvido.

— Não, Hermione. Podemos tentar, mesmo sendo à distância. Eu dou um jeito, como hoje. Ou... – a grifinória colocou o indicador sobre os lábios dele.

— Não é seguro. Depois da guerra, George. Nós dois já somos alvos e se souberem que estamos juntos...

— Mas, Hermione... Eu... Sei que somos jovens, mas o que eu sinto... – Hermione o puxou para um beijo e murmurou contra os lábios dele:

— Vá. Logo Pomfrey estará aqui... Vá. Entendo se não puder esperar por mim, George, mas... – ele beijou-a.

— Deite-se, Hermione. Precisa descansar – ela ajeitou-se novamente de bruços e o ruivo deu um beijo na têmpora dela antes de partir. Saiu com uma certeza: não esperaria pela calmaria para tê-la consigo.


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